Chimpanzés e humanos: "de mãos dadas"

E dando continuidade ao processo de humanização do macaco, divulgou-se recentemente mais uma pesquisa, cujo objetivo é reforçar a velha tese de semelhança entre os chimpanzés e o homem.

O estudo realizado por cientistas da “Fundación Mona”, “Universitat Rovira i Virgili”, “Institut Català de Paleoecologia Humana i Evolució Social” e “Universitat de Barcelona” revelou que tanto os chimpanzés como os humanos compartilham da mesma preferência pelo uso da mão direita. O resultado, como sempre, mostrou que ambas as espécies possuem “um funcionamento cerebral parecido”.

O trabalho, que foi publicada na revista “American Journal of Primatology”, baseou-se na observação de 114 chimpanzés alocados nos Centros de Recuperação de Primatas da Fundação Mona (em Girona e Zambia). O experimento centrou-se em tarefas que exigiam o emprego das duas mãos. Na observação constatou-se que os chimpanzés deram preferência pela mão direita ao pegar comida dentro de um tubo: “Sapiens e chimpanzés possuem um funcionamento cerebral parecido, e tem sido sobre esta base que os humanos construíram uma tecnologia altamente complexa, e um sistema de comunicação flexível e potente”, afirmou a equipe de cientistas.

Pois bem. O fascínio dos devotos de Darwin pelo macacos tem sido de tal monta, que não vai demorar muito, e logo encontrarão também alguma semelhança entre o pum dos chimpanzés e o pum dos humanos. Haja similitude!

É isso!

O "nascimento" da Eugenia

Nasce a ciência dos bem nascidos...

"A Eugenia como ciência, “nasce” na Inglaterra pautada nos estudos das leis de hereditariedade humana, o que ocorreu a partir de meados do século XIX. O termo Eugenia, datado de 1883, foi utilizado para denominar o uso social do conhecimento da hereditariedade, a fim de por em prática o objetivo da “boa” prole e, apesar de ter sido cunhado, apenas, em 1883, as discussões sobre o melhoramento da espécie não eram novidades naquele tempo.

Por volta de 1869, Francis Galton, publica o primeiro livro sobre o assunto, “Herditary Genius”, obra que teve grande influência das teorias evolutivas de seu primo, Charles Darwin. Pode-se dizer que os primeiros ensaios de Galton se deram por volta de 1865, após ler “Origem das espécies”. Seus conhecimentos matemáticos somados à inspiração dos escritos de Darwin, o fizeram propor um padrão original da raça:

Me PROPONHO mostrar neste livro que as habilidades naturais do homem são derivadas de sua herança... Assim, como é fácil... obter através de seleção cuidadosa uma raça permanente de cachorros ou cavalos, talentosos com poderes peculiares de correr, ou de fazer qualquer outra coisa, poderíamos utilizar disto para produzir uma raça altamente talentosa de homens através de matrimônios judiciosos durante várias gerações sucessivas.”(grifos do autor; tradução livre, GALTON, 1892, p. 1)

Galton conclui, então, que a sociedade poderia fazer depressa o que a natureza fazia lentamente; em outros termos, poderia selecionar deliberadamente o homem em prol da evolução de sua espécie. Neste sentido, a Estatística desponta como importante elemento dentre os muitos mecanismos que o levariam a pensar a melhoria da raça.

Autor da teoria da Regressão Estatística, ele propunha, a partir deste tratamento, estimar um padrão original da raça. A regressão indicaria o caminho a ser perseguido, no sentido de depurar a raça com o suceder das gerações. Para tanto, deveriam ser introduzidas modificações no corpo e no intelecto dos indivíduos, no sentido de retorno ao padrão original racial (BIZZO, 1995).

Na primeira edição do “Herditary Genius”, datada de 1869, Galton traz como parte integrante de seu estudo a teoria pangenética de Darwin, dizendo que todas as características presentes no indivíduo sejam elas herdadas, adquiridas ou latentes, são transmitidas a seus descendentes. Partindo deste pressuposto, o exame físico e o estudo genealógico dos indivíduos poderiam constatar o que seria perpetuado. Na segunda edição de “Hereditary Genius”, em 1892, já eram evidentes as críticas em relação à teoria pangenética; no entanto, o livro foi reeditado com o mesmo conteúdo (BIZZO, 1995).

Galton nesta reedição de “Hereditary genius”, se desculpa por não ter tido oportunidade para rever o conteúdo e ainda diz que se o tivesse feito reveria o capítulo final, o qual se refere à “teoria provisória da pangênse”. (GALTON, 1892). É interessante ressaltar que este autor opta por adotar algumas idéias da teoria pangenética de Darwin, em detrimento da então em voga teoria Lamarckiana e mesmo assim não assume a pangênese por completo em função de algumas críticas a esta teoria. Mesmo Darwin, ao debruçar-se mais detidamente sobre a hereditariedade, começa a repensar a pangênese e passa, então, a atribuir valor as teorias do uso e desuso de Lamarck. Em carta a Galton, datada de 1875, Darwin escreve: “A cada ano chego a atribuir sempre maior importância a esse fator [modificações ‘por uso e desuso durante a vida do indivíduo’]” (MAYR, 1998, p.770).

Cabe ressaltar que no período, entre 1890 e 1925, no qual foram reeditadas e reimpressas algumas obras de Galton, várias foram as mudanças ocorridas no cerne das ciências biológicas (BIZZO, 1995). Mais do que isso, no próprio período que vai de 1850 a 1900, no qual Galton sistematiza suas primeiras impressões sobre a Eugenia, as discussões sobre a Hereditariedade se desencontravam.

A crença de que era o meio ambiente ou o “uso e desuso” que afetariam as qualidades hereditárias era quase universalmente aceita, até o final do século XIX e, por numerosos biólogos, também no século XX. A aceitação desta teoria começou a ser questionada por alguns cientistas, a partir de 1850, quando passaram a experimentar a teoria de Lamarck, para justificá-la. Neste sentido, Darwin, dentre outros passam a ocupar-se desse assunto.

Darwin não se vê contemplado pela teoria da herança dos caracteres adquiridos e toma a seleção natural como causa das variantes evolutivas, assim, nas primeiras edições de “A Origem das Espécies”, o autor considera ser de pouca relevância o efeito da influência externa na produção da variabilidade. Neste momento, ele não tem claras as noções distintivas entre genótipo e fenótipo. Entretanto, como dito, após ter completado o primeiro volume de “Varietion” (1961), volta a repensar a importância das leis do uso e desuso (MAYR, 1998).

Além de Darwin, Galton também propôs alguns ensaios sobre a Hereditarieade, sobretudo na década 1970, após lançada a primeira edição de seu “Hereditary Genius (1969)”. Apesar de não atingir grandes vultos, os ensaios de Galton chegam a alguns pontos que faz pensar similaridades à idéia de plasma germinal que somente em períodos posteriores Weismann desenvolveria. Cabe ressaltar que muitas das idéias originais de Galton sobre a hereditariedade não foram publicadas (MAYR 1998)

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Fonte:
André Luiz dos Santos Silva. "A perfeição expressa na carne: A educação física no projeto eugênico de Renato Kehl – 1917 a 1929". (Dissertação apresentada ao Programa de Pós-Graduação em Ciências do Movimento Humano da Escola de Educação Física da Universidade Federal do Rio Grande do Sul, para obtenção do título de Mestre em Ciências do Movimento Humano. Orientadora: Prof ª. Dr ª Silvana Vilodre Goellner. Porto Alegre, 2008.

A maior descoberta de todos os tempos ((rs))

Uma empresa americana que trabalha com pesquisa de mapeamento genético, conseguiu a estrondosa façanha de mapear o DNA do cantor Ozzy Osbourne.

Os sábios pesquisadores darwinistas descobriram, para o bem da humanidade, que
o líder da banda Black Sabbath possui fragmentos do homem de Neandertal, uma espécie de hominídeo desaparecida da face da terra há cerca de 30 mil anos.

A extraodinária descoberta revelou ainda que o dito cujo também é parente do czar russo Nicolau II, do rei George I e ainda dos antigos habitantes da cidade de Pompéia”
. O roqueiro, nada bobo, aproveitou-se desse besteirol científico para justificar alguns de seus bizarros comportamentos: "Sempre tive curiosidade devido às piscinas de álcool em que eu me esbaldei ao longo dos anos - isso sem mencionar toda a cocaína, morfina, calmantes, xarope para tosse, LSD, rohypnol (um ansiolítico)... não há nenhuma razão médica plausível para que eu ainda esteja vivo" (O Globo).

Eis aí o lado besta da ciência! ((rs))

É isso!

Os animais e suas singularidades

O que realmente se passa na cabeça dos bichos? Há alguns que possuem autoconsciência? Qual deles pode ser considerado o mais inteligente?

Espantados com a semelhança genética e morfológica com os humanos, um darwinista deslumbrado não hesitaria em bradar imediatamente: - Os macacos! Ora, seu DNA não é 99% semelhante ao nosso?

Seria realmente os macacos os mais inteligentes entre todos os bichos? Que indícios podem atestar que um chimpanzé seja mais inteligente do que, por exemplo, o golfinho, a baleia, o cão, o elefante, o polvo e algumas espécies de pássaros? O que um macaco faz que um outro bicho não seja capaz de realizar?

Ora, o fato é que a eleição dos macacos como os mais inteligentes, é pura subjetividade dos devotos de Darwin. Provas ao contrário não faltam. O que dizer do “novo oráculo de Delfos”, o polvo Paul? (in memorian)

Os animais são maravilhosamente surpreendentes em suas peculiaridades. O jegue com sua humildade filosófica, o rato na sua peculiar malandragem, o gato e sua exímia capacidade de dissimular etc. O macaco é apenas mais um bicho que, entre tantos outros, é capaz de nos causar espanto e admiração. Só isso.

É isso!

O "dente de coelho" da evolução

Ora, vejam só!
Alguns simples dentes de macacos, datados de 38 milhões de anos, trouxeram novos questionamentos acerda da verdadeira origem do homem: África ou Ásia?

As recentes pesquisas realizadas na Birmânia e na Tailândia por Jean-Jacques Jaeger, da Universidade de Poitiers (França), colocam em xeque as tradicionais explicações sobre a origem africana do homem.

Bom. Levando em conta a história pregressa da paleontologia, não se deve dar muito crédito a este tipo de especulação, afinal já é notório o famigerado caso do Hesperopithecus, cujo “personagem” principal foi exatamente um dente!

Se o homem se originou na Àsia ou na Bahia, isso pouco me importa. O fato, porém, é que a origem do homem na África serviu muito bem aos interesses ideológicos dos antigos defensores da eugenia. A avançada Europa dos brancos contrastava com a “incivilizada” África dos negros, o que, na mentalidade daqueles imbecis segregacionistas, significava que o africano ainda precisava “evoluir muito” para alcançar o “grandioso” progresso do europeu. O apartheid tipifica muito bem isto.

Mas, afinal, que mudanças haveria na estrutura social dos povos africanos, caso se encontrasse uma prova definitiva de que aurora da humanidade teve seu início na África? Isso acarretaria em algum benefício prático para os etíopes, por exemplo? Haveria um movimento mundial a favor do perdão da dívida para os países daquele continente? As grandes nações traçariam um plano para completa extinção da miséria entre seus habitantes?

Definitivamente, não!
A questão é puramente especulativa e apenas serve para manter a boa vida daqueles que fazem da “evolução” o seu “pão-nosso-de-cada-dia”.

É isso!

Monteiro Lobato: Eugenia, ou a bela raça

"A eugenia está presente nas reflexões filosóficas desde Platão. Podemos ler na República que os casamentos se farão entre os melhores indivíduos, a fim de manter a pureza da raça e que as crianças defeituosas serão sacrificadas: “— Estes prepostos hão de conduzir ao lar comum os filhos dos indivíduos de elite, confiando-os a nutrizes residentes à parte num bairro da cidade . Quanto aos filhos dos indivíduos inferiores, e mesmo os dos outros, que apresentarem alguma deformidade, escondê-los-ão em local proibido e secreto, como convém.“ (PLATÃO, 1965, v. 2, p. 22). Explica-se a eugenia em Platão pelas necessidades da guerra, pois o soldado tinha de ser perfeito.

Os procriadores serão escolhidos entre os melhores, os que estiverem na flor da idade, com o fito de se chegar, um dia, a se ter apenas cidadãos bons e belos: “[...] formar uniões ao acaso, ou cometer falta do mesmo gênero, seria impiedade numa cidade feliz e os chefes não a suportarão.” (PLATÃO, 1965, v. 2, p. 19). Os magistrados procurarão melhorar a raça e controlar as relações entre os indivíduos inferiores, mediante casamentos escolhidos, pois os maus casamentos dão origem a uma prole inferior.

Comum nos escritos dos utopistas depois de Platão, a eugenia foi sistematizada como disciplina de estudo pelo primo de Darwin, Francis Galton, que, em 1885, criou a cadeira Eugenia, no University College de Londres. A eugenia prevê a existência de indivíduos indiscutivelmente superiores e outros, inferiores, admitindo que se deviam propagar apenas os superiores. Os tipos indesejáveis seriam objeto de esterilização, sob controle do Estado. Muitos estados americanos, no início do século XX, criaram leis nesse sentido. A esterilização é a proposta do romance de Lobato, O Presidente Negro (1926), como mecanismo susceptível de exterminar os negros americanos.

As idéias eugênicas reaparecem em vários momentos da obra lobatiana, em especial no livro O Presidente Negro (1926) e na carta aberta “O voto secreto”, anexada ao livro América (1932). Neste último livro, o personagem Mr. Slang assevera: “Temos de chegar à Eugenia. Esta sim. Esta será o grande remédio, o depurativo curador das raças. Pela Eugenia teremos afinal o homem e a mulher perfeitos — perfeitos como os cavalos e éguas de puro sangue.” (v. 9, p. 208).

Embora com algumas exceções (“A violeta orgulhosa”, de Histórias Diversas, por exemplo), o negro na obra de Lobato é sempre representado em posição subalterna. Apesar da libertação dos escravos em 1888, Tia Nastácia é uma doméstica em tempo integral, o que pouco a distingue da escrava que fora quando moça, como aparece em Geografia de D. Benta (1982, p. 1079): “— Tia Nastácia conta que a mãe dela veio da África, dum lugar chamado Angola — lembrou Narizinho. — Também conta que foi escrava sua, quando moça, vovó.”

Em Reinações de Narizinho, podemos ver a comparação da negra com um animal de estimação: “Na casa ainda existem duas pessoas — Tia Nastácia, negra de estimação que carregou Lúcia em pequena, e Emília, uma boneca de pano bastante desajeitada de corpo”.

Em vários momentos da obra, a etnia negra é desqualificada, pelas intervenções de Emília, desqualificações que poderiam se converter num Leitmotif, tal sua recorrência. Citemos, ao acaso, o assombro de Tia Nastácia ao ouvir Peter Pan falar do mundo das fadas. Emília insinua-se, agressivamente:

— Cale a boca! — berrou Emília. — Você só entende de cebolas e alhos e vinagres e toicinhos. Está claro que não poderia nunca ter visto fada porque elas não aparecem para gente preta. Eu, se fosse Peter Pan, enganava Wendy dizendo que uma fada morre sempre que vê uma negra beiçuda... — Mais respeito com os velhos, Emília! — advertiu Dona Benta. — Não quero que trate Nastácia desse modo. Todos aqui sabem que ela é preta só por fora. (LOBATO, 1982, p. 591)

Como se observa, a emenda ficou pior que o soneto. Nesse mesmo trecho, o Visconde de Sabugosa, com a sua cientificice, põe-se a falar dos pigmentos que deixaram os negros retintos. E Emília, mais uma vez, retoma suas agressões, terminando por botar a língua a Tia Nastácia, no que representa bem o menino filho de senhor de escravos, que estabelece uma relação s ádica com os negros, como retrata Machado de Assis e Gilberto Freyre: “Quer dizer — observou Emília — que se os pigmentos de tia Nastácia fossem cor de burro quando foge, ela não seria negra e sim uma burra fugida...” (LOBATO, 1982, p. 591).

Assinalemos certo prazer sádico em Emília em sempre trazer sempre à baila a discussão sobre a cor da sociedade brasileira.

Em carta a Rangel, de 3/2/1908, Lobato escreve o seguinte trecho, censurado em edições ulteriores da correspondência
, aqui computado em extenso, por tratar-se de documento de difícil acesso: “Que diferença de mundos! Na Grécia, a beleza; aqui, a disformidade. Aquiles lá; Quasímodo aqui. Esteticamente, que desastre foi o cristianismo com sua insistente cultura do feio!”. A seguir, o trecho censurado:

Estive uns dias no Rio. Que contra-Grécia é o Rio! O mulatismo dizem que traz dessoramento do caráter. Dizem que a mestiçagem liquefaz essa cristalização racial que é o caráter e dá uns produtos instáveis. Isso no moral — e no físico, que feiúra! Num desfile, à tarde, pela horrível rua Marechal Floriano, da gente que volta para os subúrbios, perpassam todas as degenerescências, todas as formas e má-formas humanas — todas, menos a normal. Os negros da África, caçados a tiros e razidos à força para a escravidão vingaram-se do português da maneira mais terrível — amulatando-o e liquefazendo-o, dando aquela coisa residual que vem dos subúrbios pela manhã e reflui para os subúrbios á tarde. E como vão apinhados como sardinhas e ha um desastre por dia, metade daquela gente não tem braço ou não tem uma perna, ou falta-lhes um dedo, ou mostram uma terrível cicatriz na cara. “Que foi?”. “Desastre da Central”. Como consertar essa gente? Como sermos gente, no concerto dos povos? Que problemas terríveis o pobre negro da África nos criou aqui, na sua inconsciente vingança! Talvez a salvação venha de S. Paulo e outras zonas que intensamente se injetam de sangue europeu. Os americanos salvaram-se da mestiçagem com a barreira do preconceito racial. Temos também aqui essa barreira do preconceito racial. Temos também aqui essa barreira, mas só em certas classes e certas zonas. No Rio não existe. Há tempos assisti em Taubaté a uma cena muito ilustrativa do que é essa defesa na América do Norte. Um americano desceu do trem e foi ao restaurante Pereira comer qualquer coisa. Sentou-se e pediu. Nisto entra um guarda-freio de boné na orelha, gaforinha e senta-se-lhe ao pé. O americano ergue-se de impulso, atira a cadeira e some-se no trem. O país equiparava-o ao guarda-freio, mas ele não aceitava o presente. Filosoficamente me parece horrível isto — mas certo do ponto de vista racial. (LOBATO, 1944, p. 133).

Como podemos notar, de acordo com essa carta, na ótica do autor, o sujeito das transformações esperadas para o novo Brasil seria o imigrante branco. É certo que essa carta é de 1908, data ainda próxima à escravidão, quando os negros estão em uma situação difícil. Convém não esquecer, porém, que desde a extinção oficial do tráfico, com a Bill Aberdeen, o governo imperial decretou a Lei de Terras, proscrição da propriedade pela simples ocupação, obrigando o posseiro à compra ou legitimação da posse. Essa lei teve efeitos perversos, pois previa o acesso à terra através da compra por preço elevado, visando destiná-las prioritariamente aos grandes proprietários (e assim recompensá-los pela extinção do tráfico) e negando o acesso à terra aos alforriados e futuros colonos. Quando foi proclamada a República, ao mesmo tempo que Rui Barbos a queima todos os documentos relativos à escravidão, os negros, os únicos que até então tinham trabalhado no país — são sumariamente impedidos de trabalhar e substituídos pelos imigrantes. Como afirma Carrion (2002): “Em sintonia com a Lei de Terras, foi elaborada uma legislação de colonização que subsidiava com recursos públicos a vinda de imigrantes europeus para substituir os escravos que não mais viriam.”

As mesmas idéias sobre a imigração reaparecem em carta de 1946, dessa vez com referência à Argentina: “Semear homens europeus de boa qualidade nas terras desertas da América é criar mundos. Com os músculos do imigrante entra também cérebro — e o r endimento de um cérebro importado é muitas vezes fabuloso.” (LOBATO, 1986a, p. 120). Ao falar em “contra-Grécia”67, nota-se o eurocentrismo de Lobato, cujo parâmetro é o mundo helênico clássico, em detrimento da miscigenação americana. É o lado “apolíneo” do pensamento de Lobato, que em termos de arte se expressou no artigo sobre a pintura de Anita Malfatti. Segundo Nelson Werneck Sodré, o eurocentrismo é uma das faces da ideologia do colonialismo, que utiliza a supremacia racial como justificativa para a dominação e exploração econômica.

Convém notar que a campanha pelo saneamento levada a cabo por Lobato traduziu-se no livro Problema Vital, que trazia, em sua primeira edição, a informação de que era patrocinado pela Sociedade Eugênica de São Paulo e pela Liga Pró-Saneamento do Brasil. Ess e tipo de agr emiação floresceu no início do século XX, principalmente nos Estados Unidos e na Alemanha, espalhando-se por toda a Europa e alcançando o Brasil. Os artigos jornalísticos de Lobato participam da eugenia em seu caráter positivo, ou seja, o esforço para melhorar geneticamente o ser humano, enquanto em O Presidente Negro verifica-se a eugenia negativa, isto é, a que visa à exterminação dos indesejáveis, controlando cientificamente os mecanismos de reprodução da raça.

O fragmento de carta acima é de 1908. Lobato, porém, continua com as mesmas idéias raciais no final de sua vida, conforme podemos ler numa carta de 1935, dirigida ao interventor da Bahia, Artur Neiva, onde Lobato fala de sua visita a Bahia, para divulgação do seu programa de petróleo. Referindo-se ao povo baiano, escreve:

Sua Bahia, meu caro Dr. Neiva, possivelmente enfeitiçou-me. [...] Como é caleidoscópica!
Mas que feio material humano formiga entre tanta pedra velha!A massa popular é possivelmente um resíduo, um detrito biológico. Já a elite que brota como flor desse esterco tem todas as finuras cortesãs das raças bem amadurecidas. [...] (LOBATO, 1986a, p. 191).

Essas idéias são repassadas também para as crianças. Em Histórias do Mundo para as Crianças (1982, p.1574) pode-se ler:

— Qual a principal dessas raças, vovó? — perguntou a menina.
— A ariana, evidentemente, embora eu seja um tanto suspeita para afirmar isso. Se eu fosse semita, é possível que tivesse uma opinião diversa. Em todo o caso os arianos foram os primeiros a domesticar o cavalo selvagem, o boi e o carneiro.
Conseguiram assim criar as bases da civilização pastoril.

É isso!

Fonte:
SUELI APARECIDA TOMAZINI BARROS CASSAL. "O BRASIL VISTO VERTICALMENTE: UMA CONSTELAÇÃO CHAMADA MONTEIRO LOBATO". (Tese apresentada ao Programa de Pós-Graduação em Letras da Universidade Federal do Rio Grande do Sul, como requisito parcial para obtenção do grau de doutora em letras. Orientadora: PROFª. DRª. ANA MARIA LISBOA DE MELLO. Porto Alegre, 30 de setembro de 2003.

“Mais cedo do que se pensava”

Está para ser publicado um estudo na revista "Science" com descobertas relacionadas ao domínio das técnicas de afiar pedras por parte dos homens pré-históricos do sul da África. O estudo realizado na caverna de Blombos, África de Sul, chegou à inusitada conclusão de que este importante evento deu-se há pelo menos 75 mil anos, ou seja, “50 mil anos mais cedo do que se pensava até o momento”.

Segundo a curadora do Museu de História natural da Universidade de Colorado, Paola Villa, a descoberta é importante porque mostra que os humanos modernos daquela região tinham um repertório sofisticado de técnicas para afiar ferramentas de pedras desde bem cedo. Para a realização do estudo, os pesquisadores analisaram 159 pontas e fragmentos de silcreto, além de 179 peças trabalhadas e 700 escamas (placas) esculpidas por amolação.

As oscilações observadas neste tipo de estudo são simplesmente fantásticas. Um dente, uma mandíbula, um fio de cabelo etc. podem ser decisivos para mudar o rumo da história da evolução humana. Com isso, ganham as editoras, que terão de reeditar os livros com as novas estimativas, e os professores de Darwin, que terão muito mais assunto para continuar enchendo suas “linguiças evolutivas”.

Bom, mas como diz o ditado: “antes tarde do que nunca”. ((rs))

É isso!

A "suavidade" explicativa da Teoria da Evolução

Jeremy Atkinson e seus colaboradores da Universidade de Albany (Nova York) realizaram um estudo com 60 estudantes universiárias por meio do chamado “morphings” (modificações ou distrções de fotografias feita no computador), com o qual “comprovaram”, entre outras cousas, que os homens preferem mulheres com pés pequenos.

O estudo foi apresentado há algum tempo num congresso sobre comportamento humano e evolução social, em Eugene (
Oregon, EUA). Segundo Atkins o gosto masculino pelas formas “suaves” da mulher também pode ter uma explicação evolutiva, ligando-se a eventos relacionados à Seleção Sexual.

As proezas do darwinismo não tem limites. Como, afinal, uma teoria com tamanha abrangência explicativa pode ser considerada cientificamente legítima? Ou seja, na ausência de uma explicação razoável ou lógica, bota-se a "evolução" no meio, e pronto, acabaram-se todos os problemas!

É isso!

A vantagem evolutiva do “pé-de-cana”

A capacidade intelectual, quem diria, esta diretamente relacionada ao ato de beber!

Bom, pelo menos é o que andou dizendo o psicólogo evolucionista
Satoshi Kanazawa. Segundo ele, os mais capazes intelectualmente são também excelentes bebedores.

Estudos realizados
pelo National Child Development Study (Reino Unido) e pelo National Longitudinal Study of Adolescent Health (Estados Unidos) apoiam esta tese evolutivamente bizarra:
Os pesquisadores mediram os hábitos alcoólicos de cada uma conforme elas iam envelhecendo. E eis que as crianças avaliadas como mais inteligentes em ambos os estudos, quando cresceram, bebiam com mais frequência e em maiores quantidades do que as menos inteligentes. No caso dos ingleses, os “muito espertos” se tornaram adultos que consumiam quase oito décimos a mais de álcool do que os colegas “muito burros”. E isso mesmo levando em consideração variáveis que poderiam afetar os níveis de bebedeira, como estado civil, formação acadêmica, renda, classe social etc. Ainda assim, o resultado foi o mesmo: crianças inteligentes bebiam mais quando adultos” (Abril).

E o mais importante desta belíssima descoberta, é que essa relação entre o álcool e a inteligência , acredite, também é um traço evolutivo, ligando-se ao romance (Psychology Today).

A Teoria da Evolução é, como costumo dizer, um verdadeiro espetáculo. Nada há debaixo da terra que não possa passar pelo rígido crivo de Darwin: dor-de-cotovelo, verruga no nariz, orelha de abano, pés-de-galinha, celulite, enfim, “Darwin” só não explica como um australopiteco se transformou num australiano. De resto, pobre Freud! ((rs))

É isso!

Novas espécies na Amazônia:
"Descobertas na Amazônia são extraordinárias. Segundo o relatório Amazônia Viva: uma década de descobertas 1999-2009, da Rede WWF, mais de 1.200 espécies novas de plantas e de animais vertebrados foram descobertas no bioma entre 1999 e 2009." Aqui alguns belíssimos exemplos:

É isso!

Enfeitando o pavão, ou melhor, as vespas

O site Ciência Hoje divulgou recentemente uma pesquisa sobre a agressividade das vespas-caboclas. O estudo realizado pelas biólogas Elizabeth Tibbetts e Amanda Izzo, ambas da Universidade de Michigan (Estados Unidos), e que foi publicado no fim de setembro na revista Current Biology, constatou que a valentia apresentada por este belo inseto fica somente na aparência.

E como sempre acontece nas pesquisas realizadas por darwinistas, no fim eles sempre acabam dando um jeitinho de enfiar a evolução goela abaixo: "Mas qual a vantagem de ter sinais de agressividade se a rival vai encarar essa falsa fêmea de qualquer modo?”

E aqui a esclarecedora resposta:
"Para as autoras, ao longo da evolução, a punição social pode ter se desenvolvido para manter a honestidade da sinalização.”

Este “honestidade da sinalização”, é impagável. O darwinismo é realmente um verdadeiro "espetáculo!"

É isso!

Evologismos ((rs))

Um pouco humor, porque hoje é segunda. E como bem dizia o gato Garfield, "segunda-feira é o sovaco da semana" ((rs)):

Evoluficção – O ato ou efeito de se imaginar histórias mirabolantes a partir de eventos relacionados à Teoria da Evolução.
Evolatria – Amor ou paixão exagerada pela Teoria da Evolução e por todo o penteão naturalista.
Evomaníaco – Diz-se de um darwinista obstinado, teimoso e obcecado pela Teoria da Evolução.
Evomania – Superestima patológica que alguns evolucionistas tem por tudo o que se relaciona à Teoria da Evolução.
Evologia – Estudo das questões referentes à Teoria da Evolução, de seus atributos e relações com o mundo, com os homens e com a verdade.
Evofilia - Arte de colecionar coisas relacionadas à Teoria da Evolução.
Evódromo - Local onde os evolucionistas se reunem para falar da Teoria da Evolução e exaltar os grandes feitos do naturalista Charles Darwin.
Evocracia - Sistema ou regime político baseado nos princípios que norteiam a Teoria da Evolução.
Evoalgia - Dor paroxística, que alguns darwinistas sentem quando tem seus dogmas evolutivos contestados.
Evogogia - O estudo dos ideais de evolução, segundo uma concepção puramente naturalista.
Evocatombe – Situação em que ficaram os evolucionistas quando foi lançado o livro “A Caixa Preta de Darwin”.
Evocida – Evolucionista disposto a morrer pela causa da Teoria da Evolução.
Evomancia – Adivinhação por meio dos fósseis e outros objetos evolutivos.
Evografia - Ciência que tem por objeto a perfeita descrição dos fatos relacionados à Teoria da Evolução.
Evofobia – Horror à Teoria da Evolução.
Evotarquia - Forma de governo na qual o poder supremo é exercido por um monarca oriundo da linhagem das famílias Wedgwood e Darwin.
Evopéia - Poema de longo fôlego acerca dos grandiosos e heróicos eventos macroevolutivos.
Evodoxo - Que é sectário do evolucionismo ortodoxo.
Evômetro - Instrumento utilizado para distinguir um evento microevolutivo de um macroevolutivo.
Evópolis – do grego “cidades dos evos”.
Evoterapia - Tratamento ou terapia que se faz à luz das descobertas evolutivas.
Evótono - Darwinista que limita sua conversa a um só assunto relacionado à Teoria da Evolução.
Evosofia - Conjunto de doutrinas ateísticas-filosóficas que têm por objeto a refutação dos deuses por meio da Teoria da Evolução.

É isso!

"Brigam-se as comadres, e aparecem as verdades"

Richard Dawkins que costumeiramente se aproveita dos escandalos religiosos a fim de promover o ateísmo ao “patamar da moralidade plena e racionalista” está provando do próprio veneno. Ele está acusando um ex-funcionário da “Fundação pela Razão e Ciência” (da qual é dono) de ter desviado cerca U$ 375.000,00, dinheiro esse obtido da venda de “santinhos” ou “quinquilharias” relacionados à Teoria da Evolução e ao ateísmo. Em consequencia disso, o suposto usurpador, Josh Timonen, está sendo processado por Dawkins em U$ 950.000,00, inclusive por danos morais.

Josh Timonen, por sua vez, acusa Dawkins de traição, afirmando ainda que está sendo perseguido. Segundo ele, “a verdade prevalecerá”.

Moral da história.
Suspeitas e suspeitos existem em todos os lugares: nos templos religiosos e nas instituições dos ateus.

É isso!

Capitalismo: a matriz lógica do darwinismo *

“Quanto à outra forma histórica do positivismo, o evolucionismo de Herbert Spencer (1820-1903), esse também se baseava na negação da metafísica e na afirmação das ciências positivas como únicas fontes de conhecimento. Declarava, do mesmo modo que o positivismo de Comte, que, ao homem, caberia investigar apenas o mundo dos fenômenos. Todavia, enquanto para o teórico francês o método era essencialmente descritivo, visando às relações constantes entre os fatos, às leis que permitiriam previsões, para Herbert Spencer, o método tinha por sentido mostrar a gênese evolutiva dos fatos mais complexos a partir dos mais simples. Enquanto Comte defendia a Ordem por base e o Progresso por meta, Spencer falava em uma lei evolutiva, segundo a qual a sociedade passava de um estado social homogêneo – os primeiros agregados humanos não apresentavam divisão de classes, divisão de trabalho nem diferenciação entre dirigentes e dirigidos – para um estado mais heterogêneo e complexo (id., p. 46). Assim, na acepção de Spencer, o Estado é um organismo que tende a evoluir do estado militar, dominado pela arbitrariedade dos governantes, para o estado industrial, civil e liberal, fundado na lei. Mas, para que isso aconteça, é imprescindível que seu poder se restrinja a funções essenciais como, por exemplo, garantir a segurança da nação e as liberdades individuais. De outro modo, o Estado se constitui em obstáculo para a evolução natural e a diferenciação da estrutura social, que são condições para o progresso. Nesse contexto, o spencerismo se traduz como darwinismo social, ou seja, a luta pela vida e a seleção natural são vistas como princípios que governam a evolução da humanidade:

Em concorrência com os membros de sua própria espécie, em luta com os de outras, o indivíduo debilita-se e morre, ou prospera e se multiplica, segundo esteja dotado. [...] Se os benefícios recebidos por cada indivíduo, fossem proporcionais a sua inferioridade; se, por conseguinte, a multiplicação dos indivíduos inferiores fosse favorecida e obstada a dos superiores, o resultado seria uma degeneração progressiva da espécie; e depressa a espécie degenerada não poderia subsistir ante a q ue estivesse em luta e em concorrência com ela. [...] Uma sociedade humana em luta, ou em concorrência com outras sociedades, pode ser considerada como uma espécie, ou melhor, como uma variedade de espécie; e se pode afirmar que, da mesma forma que outras sociedades ou variedades, sucumbirá se favorecer suas u nidades inferiores à custa das superiores (SPENCER, 1930, p. 104-5).

Para esse teórico, a seleção natural eliminaria os mais fracos, quer dizer, os pobres. Spencer adotava, pois, as mesmas premissas, fundadas no etnocentrismo e no capitalismo, das quais partiu a teoria de Darwin.

A hipótese de que a dimensão social, política e econômica tenha exercido um papel decisivo na elaboração dos conceitos expostos, por Charles Darwin (1809-1882), em Origem das Espécies (1859), parece ter sido ainda pouco estudada (REGNER, 1988, p. 7). Contudo, é inegável que as relações travadas pelos membros da sociedade capitalista em muito se assemelham às relações naturais entre seres vivos, descritas por Darwin.


Conforme Nélio Marco (MARCO, 1993), a missão do Beagle, navio a bordo do qual o jovem Darwin fez sua viagem de estudos, não era, como ele próprio pensava, filantrópica, porém movida a interesses capitalistas. Sua tarefa seria mapear regiões economicamente rentáveis, atendendo às pretensões coloniais da Inglaterra que, em plena revolução industrial, precisava ir, ao redor do mundo, em busca de novas fontes de matérias-primas.

Conquanto o nascimento do capitalismo seja bem anterior à teoria darwiniana, é cabível a hipótese de que Darwin tenha incorporado a sua teoria elementos ideológicos da sociedade em que vivia:

[...] a imagem que se produziu da natureza como sendo um campo de batalha, competição por toda parte e, justamente devido a isto, em evolução, nada mais é do que a transposição involuntária para o plano das idéias de relações sociais muito concretas (id., p. 46).

O darwinismo teria como matriz a lógica capitalista de estruturação social, assumida como sinônimo de progresso e de bem-estar social a despeito da multiplicação da miséria às expensas da qual o modelo se mantém. Vejamos o que diz Darwin, na Origem do Homem:

No que toca às nações altamente civilizadas, num nível subordinado, o contínuo progresso depende da seleção natural: com efeito, tais nações não se sobrepujam e exterminam mutuamente como fazem as tribos selvagens. Não obstante isto , os membros mais inteligentes no seio da mesma comunidade, terão mais êxito com o correr do tempo do que os menos inteligentes, e terão prole mais numerosa; e isto não deixa de ser uma forma de seleção natural. As causas mais eficazes do progresso parecem consistir numa boa educação [...] e num alto nível de excelência, imposto pelos homens mais capazes e melhores, incorporado nas leis, costumes e tradições da nação e reforçado pela opinião pública (DARWIN, 1982, p. 172).

E na conclusão da mesma obra:
Como qualquer outro animal, o homem sem dúvida chegou a sua atual condição elevada através de uma luta pela existência, [...] se deve progredir ainda mais, teme-se que deva estar sujeito a uma dura batalha. [...] Deveria estar aberta a competição para todos os homens; e com as leis e os costumes não se deveria impedir que os mais capazes tivessem melhor êxito e que criassem o maior número de filhos (id., p. 7 11)."

É isso!

Fonte:
SEMÍRAMIS DEUSDEDITH TEIXEIRA BASTOS. ESTRATÉGIAS COMPOSICIONAIS DE UM AUTOR BRASILEIRO: UM ESTUDO SOBRE A IRONIA, A PARÓDIA E A SÁTIRA EM CONTOS DE MACHADO DE ASSIS. (Tese de Doutorado em Literatura Comparada, apresentada como requisito parcial para a obtenção do título de Doutora pelo Programa de Pós-Graduação em Letras da Universidade Federal do Rio Grande do Sul)
. Porto Alegre, 21 de julho de 2006.

* O título é meu.

Professores de Biologia e crença religiosa

Em sua tese de doutorado Ser (animal) humano: evolucionismo e criacionismo nas concepções de alguns graduandos em Ciências Biológicas, Acácio Alexandre Pagan entrevistou vários graduandos em Biologia. Dentre os resultados apresentados por ele, um versava sobre a crença religiosa professada por esses futuros professores de Ciências Biológicas. Segundo Pagan: “Apenas 5,7% dos discentes não acreditam ou não pararam para pensar sobre a existência de forças divinas. Dentre aqueles que acreditam, há um grupo que afirma não ter religião e, dentre os que se denominam religiosos, a maioria são católicos. Uma pequena parcela (3,8%) se apresenta como espíritas. Não houve qulaquer menção a religiões afro-brasileiras ou a outras grandes religiões não-cristãs:É isso!

Preparado com a colaboração de vinte especialistas, o livro “The Natural History Book: The Ultimate Visual Guide to Everything on Earth” (“O Livro da História Natural: O Guia Visual Essencial para Tudo na Terra”), publicado pela editora DK, mostra as espécies de bichos mais estranhas e bizarras. Aqui vão alguns exemplos (não é Photoshop):

É isso!

Uma desculpa chamada “diabo”

O racismo e o preconceito às vezes se manifesta por meio das mais inusitadas formas. Uma delas diz respeito à associação que se faz entre determinados grupos de pessoas com a tradicional figura do demônio. Os judeus, por exemplo, já foram considerados espécies de agentes secretos a serviço do diabo. Durante a Segunda Guerra Mundial o regime nazista se utilizou desta arma a fim de colocar a população contra a comunidade judaica. O filme holandês “O Judeu Eterno”, exibido naquele período, é um bom exemplo disso.

Outro grupo também estereotipado neste aspecto são os negros.
Uma noticia divulgada hoje vem confirmar esta assertiva. Segundo o jornal Folha de São Paulo:
Onze pessoas pularam pela janela de um apartamento em Versailles, subúrbio de Paris, após acreditarem ter visto o diabo, em um incidente ocorrido neste sábado e que terminou com a morte de um bebê de quatro meses, informou a polícia.”

E quem era o “diabo”?

“Treze pessoas estavam no apartamento do segundo andar e por volta das três da manhã um dos ocupantes ouviu o filho chorar", explicou à AFP Odile Faivre, da promotoria de Versailles. "O homem em questão, de origem africana, se levantou para alimentar o filho e como estava totalmente nu, foi confundido com o diabo".
O grupo atacou o homem e o feriu com uma facada na mão, antes de expulsá-lo do apartamento, mas ele tentou voltar e foi aí, que tomados pelo pânico, pularam pela janela."

Agora, aquela perguntinha que não quer se calar: será que, se em em vez de um negro, fosse um branquinho francês que estivesse ali, seria ele confundido também com o diabo?

O preconceito aqui parece escandalosamente óbvio.

É isso!

Nazismo, darwinismo e cristianismo

Quando escrevo que o conteúdo ideológico arraigado nos ideais de evolução como progresso de Charles Darwin influenciaram na constituição do regime nazista, muitos me acusam de omitir propositalmente a influência da religião na política racista do ditador Adolf Hitler.

Não há dúvidas de que o conceito de evolução como progresso impregnado em Darwin realmente exerceu influência nos ideais eugenistas do regime nazista. O fato do ditador alemão ter se utilizado da “Teoria da Evolução” ao seu modo, deturpando-a segundo seus próprios critérios eugênicos, não exime Darwin de ter idealizado uma “raça superior e civilizada”.

Todavia, Darwin e os demais darwinistas sociais não foram os únicos a exercerem ideologicamente influência sobre o nazismo alemão. Hitler bebeu em muitas fontes, e uma delas veio da própria tradição cristã em que ele estava iserido, especialmente da linha protestante do luteranismo. O mesmo Hitler faz menção de Lutero como um dos três grandes reformadores (os outros, escreveu, foram o imperador Frederico o Grande e o músico Richard Wagner):

“Q
uanto maiores forem as obras de um homem pelo futuro, tanto menos serão elas compreendidas pelo presente; tanto mais pesada é a luta tanto mais raro é o sucesso. Se em séculos esse sorri a um, é possível que em seus últimos dias o circunde um leve halo da glória vindoura. É verdade que esses grandes homens são os corredores de Maratona da História. A coroa de louros do presente toca mais comumente às têmporas do herói moribundo.
Entre eles se contam os grandes lutadores que, incompreendidos pelo presente, estão decididos a lutar por suas idéias e seus ideais. São eles que, mais tarde, mais de perto, tocarão o coração do povo. Parece até que cada um sente o dever de no passado redimir o pecado cometido pelo presente. Sua vida e sua ação são acompanhadas de perto com admiração comovidamente grata, e conseguem, sobretudo nos dias de tristeza, levantar corações quebrados e almas desesperadas. Pertencem a essa classe não só os grandes estadistas, como também todos os grandes reformadores. Ao lado de Frederico o Grande, figura aqui Martinho Lutero, bem como Ricardo Wagner
.” (“Minha Luta”).

No que concerne propriamente à influência cristã, a historiadora Maria Luiza Lucci Carneiro, a sintetiza da seguinte forma:

“O extermínio dos judeus pelos nazistas deve ser avaliado como uma progressão lógica nas relações entre cristãos e judeus ao longo da história ocidental. Desde que o cristianismo se tornou a religião do Ocidente, o tratamento dado aos judeus tem se caracterizado por três etapas que se alternam: conversão, expulsão e eliminação. O nazismo nada mais fez do que recorrer a esta prática secular, valendo-se de novos conhecimentos científicos e de nova tecnologia. Até mesmo a imagem estereotipada do judeu foi inspirada em textos que remontam ao século XVI. A grande inovação está, realmente, nos argumentos pseuocientíficos e na invenção da Solução Final.

Se retrocedermos no tempo verificaremos que muitos dos decretos anti-semitas promulgados pelos nazistas têm modelos equivalentes nas decisões ds concílios e sínodos cristãos do século IV (quando o cristianismo se tornou, em Roma, a religião do Estado) ao século XV. Por exemplo: as Leis de Nuremberg (1935), que proibiam casamentos e relações sexuais entre judeus e arianos, foram antecipadas por uma interdição semelhante por ocasião do Sínodo de Elvira, no ano 306. Medidas similares foram adotadas na Espanha, a partir do século XV, e, com base nas leis de limpeza de sangue, proibiam os cristãos-novos de exercerem funções públicas, freqüentarem universidades, receberem títulos de honra, ingressarem em corporações profissionais. Em diferentes momentos, os descendentes de judeus foram obrigados a pagar impostos diferenciados dos cristãos e a viver reclusos em guetos. A mesma prática pode ser observada em Portugal, onde, a partir de 1536, os cristãos-novos foram perseguidos e levados à fogueira pelo Tribunal do Santo Oficio.

Na Idade Média os judeus foram considerados culpados por terremotos, pela peste negra e pelo envenenamento de poços de água; da mesma forma que, séculos depois, Hitier os responsabilizaria pela Segunda Guerra e pelas epidemias de tifo que atingiam a Alemanha.

Em pleno século XIV, judeus foram queimados numa ilha do Reno pelos habitantes de Basiléia (Suíça) sob a acusação de terem envenenado a água. Até o século XIX — momento de eclosão das teorias raciais e biológicas que iriam caracterizar o anti-semitismo moderno — persistiu a crença de que os judeus assassinaram Cristo. Esse pensamento deicida pode ser considerado a essência do anti-semitismo tradicional, cujas raízes são identificadas no cristianismo" (p. 17-18).

Segundo a autora, embora muitos judeus tivessem se convertido ao catolocismo e ao luteranismo, isso em nada fez diminuir o ódio contra eles:

"A partir de 1890 aumentaram as pressões dos grupos de direita (Liga Agrária, Liga dos Empregados de Comércio, Liga Pangermánica, etc.) que identificavam o judeu com o socialismo internacional e o liberalismo. Por outro lado, os judeus apresentavam-se como eminentes nacionalistas procurando se integrar à sociedade alemã, havendo inclusive muitas conversões ao catolicismo e ao luteranismo. Lembramos que a religião luterana (do Estado) constituía, ao lado da língua, um dos elementos da identidade alemã: ser luterano significava ser alemão.

Com a publicação do Tratado de Marr, o anti-semitismo ganhou força, sendo reativado no governo de Otto von Bismarck. Por motivos puramente políticos, o movimento foi deflagrado usando os judeus como “bodês expiatórios”. Parte da classe média, sentindo-se atingida pelo alegado poder econômico e financeiro dos judeus, formulou queixas (ao Reichstag (Parlamento).

Adolf Stoecker, agente do governo e capelão protestante da corte imprial, fundou a União Social Cristã dos Trabalhadores Anti-Semitas com o objetivo de combater o “socialismo judaico”. O pastor Stoecker, representante do pensamento conservador, foi aplaudido por um público de pequeno-burgueses (lojistas, comerciantes e artífices) interessados em expurgar os judeus que, segundo eles, faziam-lhes concorrência. Com o tempo, esse movimento ganhou adeptos e fanáticos. Na Áustria surgiu um partido com características semelhantes: o Partido Cristão- Social Austríaco, liderado pelo político católico Karl Lueger, eleito prefeito de Viena e por quem Hitler tinha grande admiração" (p. 19).

Já especificamente em relação a Martinho Lutero, o grande reformador protestante, é notório que ele nutria de um ódio avassalador pelos judeus. É de autoria dele o tratado "Dos Judeus e de suas Mentiras", com o qual conclama os cristãos a queimar suas sinagogas, tirar-lhes os livros e impedi-los de louvar a Deus sob pena máxima.

Quando teço críticas ao darwinismo por sua postura historicamente favorável a ideais racistas, não o faço por conivência a qualquer outra ideologia. A ênfase ao darwinismo deve-se ao óbvio fato de que realmente ele colaborou em todo esse processo e de que aqui, neste blog, discute-se exatamente questões relacionadas.


É isso!

Fonte:
Maria Luiza Lucci Carneiro. "Holocausto, Crime contra a humanidade". Editora Ática, 2000.