"Um australopithecus no meu quintal"


"Ócio Literário"

Tinha acabado de me levantar e, como diria Bandeira, tomado o café que eu mesmo preparei. Abrir e a porta, e, surpresa! Um australopithecus sentado sobre um velho muro na mesma posição do “Pensador” de Auguste Rodin.

"E agora", ponderei: "Telefonar para a polícia ou contatar um darwinista especializado nesse tipo de bicho?"

Não era a primeira vez que via um australopithecus. Quando tinha cinco anos e morava no meio do mato, me lembro de ter visto um ser igualzinho a esse, com a diferença de que o outro não estava assim tão introspectivo.

"Não, não irei acionar a polícia. Talvez seja o caso de convidá-lo para tomar café e, quem sabe, saborear mais tarde um bom churrasco ao som de “a
Conquest of Paradise. Os australopithecus devem ter um gosto muito especial por churrasco. Mas, e se ele, no seu instinto ainda animalesco arremessar contra mim suas garras afiadas? Meu Deus!"

Um turbilhão de idéias aflorou minha mente confusa. Criei coragem e pus-me em sua direção:

- Bom dia, senhor australopithecus!

Ele permanecia estático e extático, assim tão excêntrico quanto os velhos filósofos. Insistir:

- Bom dia, senhor australopithecus! Encarando-o ergui minha mão para cumprimentá-lo. Ele, porém, não mostrava disposto a monólogos ou cortesias. "Que fazer?", pensei aflito.

Neste instante um pardal que disputava com os pombos os restos de um pão sobrevoou-lhe:

- A
vida do homem é como a sombra de um pássaro que nos sobrevoa, balbuciou introspectivamente.

Fiquei atônito. Estava bem diante de um australopithecus filósofo!

Perguntei-lhe então se tinha lido isso no Talmude ou se havia extraído sua sábia ponderação de algum dos antigos filósofos gregos. A partir daí entramos no mundo dos livros, e muitos nomes foram citados. Estranhamente, porém, em nenhum momento ele fez menção de Charles Darwin e de seu “A Origem das Espécies”. Curioso, indaguei-lhe:

- E Charles Darwin, o que tens a dizer deste eminente filósofo?

Neste instante ele ergue-se e caminha na direção do vento, desaparecendo em seguida como um zumbi numa noite sexta-feira.

É isso! ((rs))

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