Charles Darwin e Friederich Engels: confronto ideológico

Ao ler "A Origem das Espécies", de Charles Darwin, Karl Marx escreveu para Friederich Engels: “neste livro se encontra o fundamento histórico-natural de nossa idéia". Mas, afinal, o que exatamente Marx e Engels encontraram em Darwin que oferecesse respaldo à ideologia socialista?

Grosso modo, uma poderosa arma contra os dogmas religiosos. Lembrando que, para Marx "a religião era o ópio do povo" e, igualmente, um instrumento a serviço da manipulação capitalista. Ao "transformar" o homem num animal, ou seja, ao lhe tirar o mérito de ter sido uma criação especial divina ("o homem descendeu de alguma forma menos orga­nizada" - "A Origem do Homem"), Charles Darwin abriu as trincheiras para uma nova forma de "pensar" o ser humano, oferecendo como substituição às especulações metafísicas, o seu mais absoluto materialismo filosófico. Darwin, ao contrário de Alfred Wallece, que não admitia a mente humana como resultado da Seleção Natural, aplicou resolutamente seu materialismo à teoria da evolução de todos os fenômenos da vida, inclusive ao que ele mesmo denominou "a própria cidadela", ou seja: mente humana: "Muitas de suas declarações mostram que esposava mas temia expor princípios de algo que sabia ser muito mais herético que a própria evolução: o materialismo filosófico — o postulado de que a matéria é tudo na existência e de que todos os fenómenos mentais e espirituais são subprodutos dela. Nenhuma noção poderia ser mais inquietante para as arraigadas convicções do pensamento oci­dental do que a declaração de que a mente — por mais complexa e po­derosa que seja — é um simples produto do cérebro" (GOULD, "Darwin os Grandes Enigmas da Vida", p. 14).

Em suas muitas obras, Engels, especificamente, sempre faz menção de conceitos darwinistas com os quais busca "enfeitar seu pavão socialista".

Em
"A Origem da Família, da Propriedade Privada e do Estado", por exemplo, citando as "fases do progresso humano", escreveu:
"Estado selvagem:
Infância do gênero humano. Os homens permaneciam, ainda, nos bosques tropicais ou subtropicais e viviam, pelo menos parcialmente, nas árvores; só isso explica que continuassem a existir, em meio às grandes feras selvagens. Os frutos, as nozes e as raízes serviam de alimento; o principal progresso desse período é a formação da linguagem articulada. Nenhum dos povos onhecidos no período histórico estava nessa fase primitiva de evolução. E, embora esse período tenha durado, provavelmente, muitos milênios, não podemos demonstrar sua existência baseando-nos em testemunhos diretos; mas, se admitimos que o homem procede do reino animal, devemos aceitar, necessariamente, esse estado transitório."

E, mais adiante:
"Talvez a
evolução superior dos arianos e dos semitas se deva à abundância de carne e leite em sua alimentação e, particularmente, pela benéfica influência desses alimentos no desenvolvimento das crianças. Com efeito, os índios "pueblos" do Novo México, que se vêem reduzidos a uma alimentação quase exclusivamente vegetal, têm o cérebro menor que o dos índios da fase inferior da barbárie, que comem mais carne e mais peixe. Em todo caso, nessa fase desaparece, pouco a pouco, a antropofagia, que não sobrevive senão como um rito religioso, ou como um sortilégio, o que dá quase no mesmo".

E, por fim:
"Como vimos, há três formas principais de matrimônio, que correspondem aproximadamente aos três estágios fundamentais da evolução humana. Ao estado selvagem corresponde o matrimônio por grupos, à barbárie, o matrimônio sindiásmico, e à civilização corresponde a monogamia com seus complementos: o adultério e a prostituição. Entre o matrimônio sindiásmico e a monogamia, intercalam-se, na fase superior da barbárie, a sujeição aos homens das mulheres escravas e a poligamia".

Já em "Sobre o papel do trabalho na transformação do macaco em homem", discorreu: "O trabalho é a fonte de toda riqueza, afirmam os economistas Assim é, com efeito, ao lado da natureza, encarregada de fornecer os materiais que ele converte em riqueza. O trabalho, porém, é muitíssimo mais do que isso. É a condição básica e fundamental de toda a vida humana. E em tal grau que, até certo ponto, podemos afirmar que o trabalho criou o próprio homem. Há multas centenas de milhares de anos, numa época, ainda não estabelecida em definitivo, daquele período do desenvolvimento da Terra que os geólogos denominam terciário provavelmente em fins desse período, vivia em algum lugar da zona tropical - talvez em um extenso continente hoje desaparecido nas profundezas do Oceano Índico - uma raça de macacos antropomorfos extraordinariamente desenvolvida. Darwin nos deu uma descrição aproximada desses nossos antepassados. Eram totalmente cobertos de pelo, tinham barba, orelhas pontiagudas, viviam nas árvores e formavam manadas".

E, para finalizar, faço menção ainda deste trecho de "Do Socialismo Utópico ao Socialismo Científico", com qual pinça superficialmente a razão porque toma de empréstimo a Darwin: "Aqui é necessário citar Darwin, em primeiro lugar, quem, com sua prova de que toda a natureza orgânica existente, plantas e animais, e entre eles, como é lógico, o homem, é o produto de um processo de desenvolvimento de milhões de anos, assestou na concepção metafísica da natureza o mais rude golpe. Até hoje, porém, os naturalistas que souberam pensar dialeticamente podem ser contados com os dedos, e esse conflito entre os resultados descobertos e o método discursivo tradicional põe a nu a Ilimitada confusão que reina presentemente na teoria das ciências naturais e que constitui o desespero de mestres e discípulos, de autores e leitores".

Para Engels, portanto, Darwin assestou (assestar: apontar ou dirigir para atirar - com arma) um golpe fulminante nas ideais daqueles que viam na Natureza nada mais do que o resultado da atuação das mãos divinas.

É isso!

Um comentário:

  1. O BOLIVARIANISMO DE BUTIQUE DE ABRAMOVAY. OU: SOMOS TODOS OBRIGADOS A FAZER AS VONTADES DOS FINANCIADORES DE UMA ONG MULTINACIONAL?
    http://cinenegocioseimoveis.blogspot.com.br/2013/03/o-bolivarianismo-de-butique-de-abramovay.html
    .
    Abraço a Todos
    Osvaldo Aires

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