Bertrand Russell: "o darwinismo aplicado à política"

Segundo Bertrand Russel, ao ser estendido para a esfera política, o darwinismo perdeu seu “status” de ciência. Em um outro texto que farei menção em uma outra ocasião, Russel enfatiza como o grande mérito darwinista o fato de ter tirado da religião o “monopólio” sobre os assuntos ligados às origens. Por enquanto, vamos com esse, com o qual ele tece crítica ao uso do lema “sobrevivência do mais apto” no o âmbito social:

“A aplicação da ciência às questões sociais é ainda mais recente do que as suas aplicações à Psicologia. É bem verdade que, desde o início do século XIX, já se pode reconhecer nos estudos sociais vários campos em que há indícios de uma atitude científica. A teoria da população de Malthus, seja ela considerada falsa ou verdadeira, é, seguramente, científica. Os argumentos de que ele se serve para sustentá-la não são pontos de vista pessoais, mas baseiam-se em estatísticas demográficas e em dados a respeito dos recursos agrícolas. Adain Smith e Ricardo também demonstraram atitude científica nos seus trabalhos de Economia Política. Não quero, com isto, afirmar que as teorias por eles expostas sejam sempre verdadeiras, mas apenas que os seus pontos de vista e os seus raciocínios apresentam as características do método científico. Influenciado por Malthus, apareceu Darwin e, com Darwin, o darwinismo que, ao ser aplicado à política, perdeu o seu caráter científico. A frase “sobrevivêneia dos mais aptos” é empregada pelos intelectuais que especulam a respeito de questões sociais, muito mais freqüentemente do que seria justo. Essa expressão “mais aptos” parece ter implicações éticas, seguindo daí que a nação, a raça e a classe a que um escritor pertence deve ser necessariamente “a mais apta”. Assim, sob a égide de uma filosofia pseudo-darwinista chegamos às doutrinas do Perigo Amarelo, da Austrália para os australianos, da superioridade da raça nórdica etc. Por causa dessas implicações éticas, devemos encarar com muita suspeita as aplicações do darwinismo às questões sociais. Isto não se aplica somente às diferenças entre raças, mas também as diferenças entre as classes de uma nação. Todos os escritores darwinistas pertencem às chamadas classes intelectuais, e, por causa disso, a afirmação de que essas classes são as mais desejáveis biologicamente falando constitui um postulado da politica darwinista. Segue daí que os filhos dessas classes devem receber, às expensas públicas, uma educação melhor do que a que é dada aos filhos dos assalariados. É impossível reconhecer em todos estes argumentos uma aplicação da ciência às questões práticas. Há, apenas, o emprego de certa linguagem científica, com a finalidade de dar respeitabilidade a um ponto de vista pessoal” (p. 147, 148).

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É isso!

Fonte:
Bertrand Russel: “A Perspectiva Científica”. Tradução: José Severo de Camargo Pereira. Companhia Editora Nacional. São paulo, 1977.

Um comentário:

  1. Caro Iba,

    O pensamento de Rusell é muito simples:

    Se os mais aptos somos nós, boas-vindas a teoria. Se são os outros, então não vale, não há teoria.

    E Isso!!!!!!!

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