Lamarck e a teoria da progressão dos animais

"Para Lamarck, Deus criou a natureza que ele definiu como um “um conjunto de objetos metafísicos, constituído por leis e movimento”. Estes objetos metafísicos “podiam ser observados nos corpos que existiam”. A partir das leis da natureza, sem intervenção divina, e de forma progressiva é que surgem todos os seres vivos.

Os primeiros seres vivos, os mais simples, segundo Lamarck, surgiram por geração espontânea em ambientes aquáticos ou úmidos. Esta geração foi um fenômeno físico regido por duas forças opostas, a força de atração (como atração universal) e a de repulsão (calórico e eletricidade).

Com o passar do tempo e circunstâncias favoráveis, os primeiros seres deram origem aos outros s eres. Estes foram aumentando sua complexidade e deram origem às escalas animal e vegetal com as grandes “massas” (termo que Lamarck dava para os grandes grupos de animais) dispostas em ordem crescente de perfeição. No limite inferior da escala, estão os animais inferiores como os infusórios e no superior está o homem. Este processo aconteceu no passado e continua acontecendo no presente, s egundo o naturalis ta francês.

A natureza, em todas as suas operações, procedeu gradualmente; não pôde produzir todos os animais de uma só vez: primeiro formou os mais simples, passando destes aos mais compostos ; estabeleceu neles sucessivamente diferentes sistemas de órgãos particulares, multiplicou-os, aumentou sua energia pouco a pouco e, acumulando essa energia nos mais perfeitos, fez existirem todos animais c onhecidos, com as faculdades que neles observamos.

Para Lamarck, a progressão, de um nível para outro na escala animal está sempre acontecendo, ou seja, tantos animais e vegetais continuam aumentando sua complexidade. Estes não fazem parte de uma única cadeia, mas sim de duas cadeias distintas, separadas pela origem, que apresentam semelhança na forma inicial.

O animal mais simples para Lamarck seria o Monada termo. Desse modo é a partir deste que os outros animais surgem. Para os vegetais, é provável que Lamarck considerasse o Mucor viridescens o vegetal mais simples.

As causas da progressão dos animais
Para Lamarc k havia duas causas para a progressão dos seres. Estas seriam duas forças opostas. A primeira seria uma tendência a um aumento de complexidade relacionada ao próprio “poder da vida”. Essa tendência dependeria do movimento dos fluidos no interior dos animais. Quando esse movimento era acelerado, haveria mudanças internas nos organismos, que levaria a um aumento de complexidade. Como exemplo Lamarck diz que isso pode ser observado na passagem de uma “massa” para outra, no caso do sistema branquial dos peixes e do pulmonar dos répteis.

A segunda força ou causa é chamada por Lamarck de acidental ou modificadora. Esta força resultaria da ação do meio ambiente que levaria a “interrupções e desvios agindo sobre as partes externas e internas dos animais e vegetais, modificando-as ”. Como exemplo Lamarck comenta que há “raças” de caracóis que apresentam antenas por terem necessidades diferentes em relação às outras.

As causas que fazem um órgão se desenvolver e aumentar, fazem surgir um órgão novo que não existia antes no indivíduo.

As leis gerais da progressão dos animais
Lamarck propôs quatro leis, nas duas últimas versões de sua teoria, para explicar a evolução dos animais. A primeira lei diz que “há uma tendência na natureza para o aumento de complexidade”. Esta lei foi apresentada na Histoire naturelle des animaux sans vertèbretes por Lamarck da seguinte forma,

A vida, pelas suas próprias forças, tende continuamente a aumentar o volume de todo o corpo que a possui, e a estender as dimensões de suas partes, até um limite que lhe é próprio.

A tendência ao aumento de complexidade, que Lamarck expôs acima, é inerente a vida. Essa tendência resulta de um movimento dos fluidos no interior do indivíduo, os quais irão desenvolv er os órgãos e aperfeiçoá-los. Como exemplo Lamarck cita a transformação de um animal, desde o zigoto até a fas e adulta.

Outro exemplo que Lamarck forneceu para a primeira lei é com referência ao aumento de complexidade das espécies observadas na natureza, que se dá dos mais simples para os mais organizados,

A natureza, produzindo sucessivamente todas as espécies de animais e começando pelos mais imperfeitos e mais simples, terminando pelos mais organizados, complicou gradualmente sua organização; ess es animais, tendo se espalhado geralmente por todas as regiões habitáveis do globo, cada espécie recebeu pela influência das circunstâncias nas quais se encontrou, seus hábitos que conhecemos e as modificações em suas partes que a observação nos mostra.

Na segunda lei Lamarck explicou o surgimento de novos órgãos em “função das necessidades que se fazem sentir e que se mantêm”. Lamarck esclareceu:

A produção de um novo órgão em um corpo animal resulta de uma nova necessidade que surgiu e que continua a se fazer sentir e de um novo movimento que essa necessidade faz nascer e mantém.

Lamarck relacionou a segunda lei com a terceira lei já que a produção de um novo órgão está associada os seus hábitos e c ircunstâncias nas quais ele vive. Segundo o naturalis ta francês:

Não são os órgãos, quer dizer, a natureza e as partes do corpo de um animal que originam seus hábitos e suas faculdades particulares, mas são ao contrário seus hábitos, sua maneira de viver e as circ unstâncias nas quais se encontram esses indivíduos que, com o tempo, constituem a forma de seu corpo, o número e o estado de seus órgãos – enfim, as faculdades de que gozam.

A terceira lei de Lamarck refere-se aos efeitos do uso e desuso, que estão relacionados respectivamente ao desenvolvimento ou atrofia dos órgãos. Nas próprias palavras de Lamarck: “O desenvolvimento dos órgãos e sua força e ação estão em relação direta com o emprego desses órgãos”.

Entre os exemplos da terceira lei, Lamarck fornece para o caso do desuso, os seguintes: “olhos vestigiais em animais que não os usam, como na toupeira”; “as patas das serpentes, que teriam desaparecido pelo hábito de se arrastarem e se esconderem sob ervas”. Para o uso os seguintes: “membranas entre os dedos de aves aquáticas, formadas pelo exercício de esticar esses dedos, na água, para nadar”; “os dedos recurvados de pássaros que pousam sobre as árvores, desenvolvidos pelo hábito de segurar-se nos galhos com eles”.

A quarta lei de Lamarck refere-se a “herança dos caracteres adquiridos”, na qual características adquiridas ou perdidas durante a vida dos organis mos eram transmitidas à prole. Uma das formas que Lamarck anunciou esta lei é a seguinte,

Tudo aquilo que a natureza fez os indivíduos adquirirem ou perderem através das circunstâncias a que sua raça se encontra exposta há muito tempo, e conseqüentemente pelo emprego predominante de tal órgão ou pela constante falta de uso de tal parte, ela o conserva pela geração de novos indivíduos que dela provém, desde que essas mudanças adquiridas sejam comuns aos dois sexos, ou àqueles que produziram es ses novos indivíduos."

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É isso!


Fonte:
Marcelo Akira Hueda: “As concepções evolutivas no Vestiges of the natural history of creation (1844) de Robert Chambers e a proposta de Lamarck: um estudo comparativo “. (Dissertação apresentada à Banca examinadora da Pontifícia Universidade Católica de São Paulo, como exigência parcial para obtenção do título de Mestre em História da Ciência sob a orientação da Prof. Doutora Lilian Al-Chueyr Pereira Martins). Pontifícia Universidade Católica de São Paulo. São Paulo , 2009.

Nota:
O título e a imagem em destaques no texto não se incluem na referida tese.

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