Design, Desenho ou Planejamento Inteligente?

Bem. É sabido que todas as línguas do mundo sofrem influências de outras línguas. No português isso não é diferente. São abundantes as palavras e expressões estrangeiras presentes em nosso idioma. Algumas por puro modismo. Por exemplo: menu (em vez de cardápio), corner (por escanteio), back (no lugar de zagueiro ou beque), enquête (em substituição a pesquisa), premier (em vez primeiro-ministro), teens (por adolescentes) etc. Outras, entretanto, são indispensáveis, por não haver equivalentes em nosso vernáculo. Por exemplo: dumping, rush, iceberg, pizza, hippie. Há também algumas palavras que já foram aportuguesadas e incorporadas à língua de Camões, tais como: abajur, bife, clube, futebol, judô, lanche, tênis etc.

Para os gramáticos, os empréstimos lingüísticos só fazem sentido quando não houver palavras para substituí-los. Quando usados por mero subdesenvolvimento ou colonialismo cultural, são completamente desnecessários e inúteis.

A partir disso e levando em conta os aspectos puramente lingüísticos, qual seria o termo mais adequado aos padrões da Língua Portuguesa: Teoria do
Design Inteligente, Teoria do Desenho Inteligente ou Teoria do Planejamento Inteligente?

Para início de conversa, faz-se necessário realçar que tal expressão é oriunda da língua inglesa:
Theory of Intelligent Design. O termo inglês design traduzido ao pé da letra para o português fica mais próximo de planejamento (ou projeto). A Editora Zahar, que traduziu e publicou o famoso livro de Behe (“A Caixa Preta de Darwin”) para a Língua Portuguesa, fez uso exatamente do primeiro termo, e não do design ou desenho. Por exemplo: “
O elefante é rotulado de "planejamento inteligente". Para uma pessoa que não se sente obrigada a restringir sua busca a causas não-inteligentes, a conclusão óbvia é que muitos sistemas bioquímicos foram planejados” (p. 195) / “Por falar nisso, se você encon trasse, no meio de uma floresta, flores que formassem claramente o nome "lehigh", não teria dúvidas de que a organização delas era resultado de planejamento inteligente(p. 197). / O planejamento inteligente de sistemas bioquímicos é, na realidade, muito comum nestes dias” (p. 203). / “A ideia de planejamento inteligente também é uma ideia simples, fecunda, óbvia, que foi desviada de seu caminho pela concorrência e contaminação de ideias estranhas” (p. 212) etc.

Não vingou, porém, a palavra
planejamento. A forma inglesa design, por sua vez, encontrou no Brasil terreno fértil (o brasileiro adora os termos estrangeiros), daí ser mais frequentativo o uso dessa palavra na mídia de um modo geral. Na verdade, a palavara design já era de uso comum em nossa lingua, e designa “a c
oncepção física, formal e funcional de um produto”. Por exemplo: Design gráfico, que é o conjunto de conceitos estéticos, técnicas e processos usados na criação e desenvolvimento de representações visuais de ideias, mensagens, entidades etc., por meio de textos, vinhetas impressas, de cinema ou de televisão, logotipos, signos, publicações impressas etc. (Aulete).

Os franceses, os italianos e os espanhóis rejeitaram anglicizar tal vocábulo. Os franceses dizem
dessein intelligent; os italianos: disegno intelligente (ou progetto intelligente); os espanhóis: diseño inteligente e por aí vai. Mas nós que somos “chiques” e “amamos de paixão” as palavras inglesas, aplicamos elegantemente o nosso indisfarçável tupiniquim dizáin. Que Maravilha!

Um dos argumentos a favor do
design recai sobre a questão do “uso”, que realmente é importante. Creio que ninguém nos dias atuais, por amor ao purismo, vai dizer “toucador” em vez de “toalete”. Contudo, ainda não há um consenso (na literatura que versa sobre o assunto) pelo emprego do termo inglês. A própria tradução portuguesa do livro de Behe não me deixa mentir (vide referências acima).

Não que eu tenha aversão ao inglês ou seja anglófobo, longe disso, mas convenhamos, se podemos fazer uso de um termo “nosso”, por que cargas d’água recorrer ao Tio Sam para "enfeitar o pavão"? Lembrando que o movimento é historicamente recente no Brasil, e podemos muito bem começar a “educar” o povo, que não deve envergonhar-se em dizer, por exemplo,
desenho no lugar de design, assim como naturalmente dizemos “bangalô” em vez de “bungalow” etc. e tal.

Não sou purista, mas ainda prefiro um “acarajé” em vez de “hot-dog”. Minha terra é minha língua. E viva Luiz Gonzaga, rei do baião!

É isso!

Um comentário:

  1. Iba, os proponentes do Design Inteligente no Brasil nem existiam quando o livro A Caixa Preta de Darwin foi traduzido para o português e publicado pela Zahar, RJ, em 1997. A partir de 1998 é que surge o primeiro núcleo do DI em Piracicaba, SP.

    Quem basicamente 'batizou' o DI de Design Inteligente foi Laura Teixeira Motta, tradutora do livro O Relojoeiro Cego, do Dawkins, Companhia das Letras, SP em 2001, que assim traduziu: "A biologia é o estudo das coisas complexas que dão a impressão de ter um design intencional." p. 198

    Intencional é teleologia, e o Design Inteligente é uma teoria teleológica. Daí, graças a Dawkins, nosso movimento acolheu termo consagrado de design. Verifique que na literatura especializada quem usa "planejamento" geralmente o faz ironicamente ou associando, erroneamente, o DI com o criacionismo.

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