A fragmentação da identidade negra

"A publicidade tende a reproduzir os estereótipos presentes na sociedade, que colocam o negro como trabalhador desqualificado, objeto de consumo e diminuído enquanto consumidor. As telenovelas fortalecem o mito da democracia racial, o racismo simbólico e reforçam o imaginário de servidão e inferioridade do negro na sociedade brasileira.

Um interessante estudo é oferecido por Xavier (1995) a respeito dos conteúdos e
imagens sobre o negro nos programas televisivos, em que se encontra uma imagem de negro deformada, estereotipada, ligada à irresponsabilidade e feiúra. Nas telenovelas, os negros aparecem apenas como suporte para a heroicização do branco, não têm história, procedência, família; o negro olha e não se encontra. (Soligo, 2001)

No quadro da democracia racial e da ideologia do embranquecimento, constrói-se a
fragmentação da identidade negra, pois assumir a negritude parece conspirar com a decantada democracia racial, ao mesmo tempo em que dificulta o processo identitário, uma vez que distancia o negro do padrão branco e o coloca como desviante em relação ao modelo, em um pólo desvalorizado da sociedade. O branco é ao mesmo tempo odiado, temido, porque discrimina, e desejado, porque aufere a maioria dos bens sociais, materiais e simbólicos, e porque encerra os modelos valorizados socialmente (Costa, 1983; Pereira, 1996 apud Soligo, 2001)

Ao longo do processo de socialização, notadamente o que ocorre no contexto escolar e
o que é veiculado na mídia, o negro vai internalizando imagens negativas atribuídas ao seu grupo racial, relacionadas à pouca capacidade intelectual, problemas de caráter, pouco esforço e feiúra (Santos, 1988; Bento, 1999). Segundo Cândido (1992), o negro desenvolve um sentimento de insegurança, que é reforçado pelas concretas situações de humilhação a que é submetido. (Soligo, 2001)

Pelé pode ser considerado um exemplo de negro que incorporou a ideologia branca
dominante, com todos os seus valores. O sucesso o afastou dos outros negros e “o problema nunca foi seu”... Essa é uma característica da maioria dos poucos negros que obtiveram sucesso profissional e/ou econômico. Por questão de preferência, comodidade ou por não querer sofrer, o problema racial “nunca foi seu”. (Valente, 1987)

Por sua vez, a inexistência de conflito racial aberto impede que muitos negros se
identifiquem como tais e partam, juntamente com outras pessoas comprometidas com a causa negra, para a ação política. (Valente, 1987)

Bernardino (2002) diz também que o que é fundamental para a construção do
sentimento de pertencimento a um grupo racial e de uma identidade racial não são simplesmente fatores físico-biológicos, mas uma dimensão sócio-política, que tem como ponto de partida o reconhecimento da discriminação não como algo pessoal, mas coletivo.

As explicações das desvantagens dos negros fazem referência constante ao racismo, e
concentram-se em três categorias integradas: o mito da democracia racial, a ideologia do embranquecimento e a fragmentação da identidade negra. (Almeida, 1995 apud Soligo, 2001)"

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É isso!

Fonte:
Karina Maria Zylewicz dos Santos: "Cotas para negros em universidades públicas". (Trabalho apresentado como requisito para conclusão do Curso de Pedagogia, sob orientação da Profª Dra.Ângela Fátima Soligo). Universidade Estadual de Campinas Faculdade de Educação - Graduação em Pedagogia. Campinas, Agosto de 2007.

Nota:
A imagem inserida no texto não se inclui na referida tese.

2 comentários:

  1. Isto e totalmente errado, agora o home branco heterosexual e quem esta totalmente marxinado pelos midios. Isto que escreves só naquelas peliculas velhas, as NOVAS som antibrancas.

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  2. Talvez o seja em outras partes do mundo. Aqui no Brasil, por exemplo, geralmente as personagens que fazem o papel de empregadas domésticas nas telenovelas são negras. Sim, é verdade que a pressão da comunidade negra, os interesses dos marketeiros por esta parcela da população, trouxeram melhorias sociais neste aspecto, porém, o negro aqui no Brasil ainda continua estigmatizado. Raramente vemos um "galã" que não seja branquinho etc e tal.
    Saludo!

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