O impacto do evolucionismo no Brasil

"Após a publicação de A origem das espécies (1859), além do início de uma mudança de paradigma que levaria em poucas décadas à hegemonia do evolucionismo nas ciências naturais, houve também um processo de apropriação das idéias de Darwin para teorias sociais e políticas. “Conceitos como ‘competição’, ‘seleção do mais forte’, ‘evolução’ e ‘hereditariedade’ passaram a ser aplicados aos mais variados ramos do conhecimento[...]”(Schwarcz, 1993:56).

Neste contexto, o evolucionismo social de Herbert Spencer influenciou significativamente o pensamento brasileiro. Seu raciocínio traduzia uma mistura de influências do liberalismo clássico, do evolucionismo e cientificismo. Segundo Cruz Costa:

A doutrina evolucionista de Herbert Spencer(...) negando a metafísica e afirmando que todo o conhecimento está contido nas ciências positivas, o evolucionismo, como o positivismo, declarava que o homem pode apenas investigar o mundo dos fenômenos
. (Cruz Costa, 1967:229)

Esta teoria de visão organicista considerava que as sociedades seriam sujeitas às mesmas leis que regiam organismos dos corpos vivos, e que evoluiriam do estado mais simples para estágios evolutivos mais complexos. Desta forma, as sociedades (e por extensão, as raças) estariam em diferentes estágios de progresso. Sendo assim, as diferenças adviriam do resultado do maior ou menor progresso dos povos.

Influenciados por estas idéias, muitos intelectuais adotaram doutrinas racistas para explicar o atraso brasileiro: a miscigenação, o grande número de negros e mulatos na sociedade, nos impediriam de alcançar o “progresso”, a “civilização”. Intelectuais como Nina Rodrigues, Sílvio Romero e Euclides da Cunha consideraram o mestiço racialmente inferior. Em uma memória apresentada à Academia Imperial de Medicina em 1869, o Dr. Nicolau Moreira escreveu:

Na Europa oriental, o cruzamento da raça branca com a amarela dá uma progênie fraca, pouco inteligente e de vida curta. Os mestiços do branco e do negro são de fecundidade limitada (...) (Moreira, 1869a:362).

Aceitar a inferioridade do mestiço, seria aceitar que o Brasil fracassou como nação. No Brasil do final do século XIX, na difusão de teorias evolucionistas como as de Jean Baptiste Lamarck, Charles Darwin e Herbert Spencer, fora encontrada a “solução”, na chamada tese de branqueamento. Na realidade, o branqueamento não era uma tese única. Representava muito mais um desejo das elites do que uma teoria fechada, explicada por vezes com idéias diferentes, e com práticas diferentes.

Uma das formas de branqueamento era a defendida por Nicolau Moreira, evitando a miscigenação com o negro ou com o mestiço, trazendo imigrantes brancos (norte-americanos, alemães, italianos). Moreira, influenciado pela teoria poligenista, acreditava na pouca fertilidade do mulato. Com o tempo o mulato se extinguiria, ficando no Brasil apenas as raças puras e um mestiço “superior” (fruto da miscigenação das raças brancas).

Embora tenham diferenças essenciais, os discursos de branqueamento têm algo em comum: a necessidade de imigração em massa de europeus e norteamericanos brancos.

Sobre a imigração, Joaquim Nabuco escreveu:

(...) onde atraída pela franqueza das nossas instituições e pela liberdade do nosso regime, a imigração européia traga sem cessar para os trópicos uma corrente de sangue caucásico e vivaz, energético e sadio, que possamos absorver sem perigo. (Nabuco, apud Skidmore, 1976: 40)

As idéias raciais, juntamente com as idéias evolucionistas, foram usadas por parlamentares em seus discursos contra a imigração chinesa, ou de outro grupo não-branco; ou ainda fazendo apologia à vinda de imigrantes europeus, que pudessem ser cultural e racialmente absorvidos. Tornava-se envidente, portanto, o objetivo: branquear o Brasil.

No contexto em que surgiu o interesse pela interpretação racialista da sociedade brasileira, Nicolau Moreira foi um dos primeiros a discutir o assunto em locais de saber privilegiados, como a Academia Imperial de Medicina e a Sociedade Auxiliadora da Indústria Nacional. Para compreendermos melhor as concepções racialistas deste médico, é fundamental conhecer aspectos de sua vida."

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É isso!

Fonte:
SILVIO CEZAR DE SOUZA LIMA: “Determinismo Biológico e Imigração Chinesa em Nicolau Moreira - 1870 – 1890". (Dissertação de mestrado apresentada ao Programa de Pós-raduação em História das ciências da Saúde, da Casa de Oswaldo Cruz / Fiocruz, como requisito parcial para obtenção do Grau de Mestre. Área de Concentração: História das Ciências). Orientador: Prof ª Dr ª LORELAI BRILHANTE KURY. Rio de Janeiro, 2005.

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Nota:
O título e a imagem não se inclem no referido trabalho.

Um comentário:

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