A grande façanha de Darwin

O grande mérito de Darwin não foi o de ter descoberto a “evolução” (tal conceito já existia remotamente entre os antigos gregos); também não foi o de ter trazido à tona o conceito de “seleção Natural” (em 1931 Patrick Matthew já havia publicado sua versão da seleção natural); nem muito menos foi o de ter legado ao mundo uma invenção ou descoberta que culminasse em melhoria na condição humana.

A grande façanha de Darwin foi ter oferecido à sociedade inglesa e, consequentemente, à Europa e o resto mundo, uma alternativa ao fixismo bíblico que imperava no âmbito acadêmico até então.
Em seu livro “A Origem do Homem e a Seleção Sexual” o próprio naturalista confessa ter prestado um bom serviço ao “colocar por terra o dogma das criações separadas”:

"Alguns daqueles que admitem o princípio da evolução, mas rejeitam a seleção natural, ao tecerem críticas ao meu livro parecem esquecer que eu tinha pelo menos dois objetivos em mente. Com efeito, se me equivoquei ao atribuir à seleção natural uma excessiva importância, a qual hoje estou bem longe de admitir, ou se lhe exagerei o poder que em si mesmo é provável, pelo menos espero ter prestado um bom serviço, ajudando a pôr por terra o dogma das criações separadas." (Hemus Editora, p. 76).

Sobre isso, comenta Bertrand Russel, em “A Perspectiva Científica”:

Deixando de lado os detalhes científicos, podemos afirmar que a importância de Darwin reside no fato de ele ter levado os biólogos e, através deles, o público em geral, a abandonar a sua crença anterior na imutabilidade das espécies, e a aceitar o ponto de vista de que todas as diferentes espécies de animais se desenvolveram, por variação, a partir de um ancestral comum. Exatamente como qualquer outro inovador dos tempos modernos, Darwin teve de lutar contra a autoridade de Aristóteles. É preciso que se diga que a existência do estagirita constituiu uma das grandes infelicidades da humanidade. Atualmente, o ensino de Lógica em muitas universidades está cheio de incongruências, que são devidas ao sábio grego.
Antes de Darwin, os biólogos acreditavam que um gato ideal, um cão ideal etc, tinham sido concebidos no céu, o que significaria que os nossos gatos e cachorros atuais deveriam ser considerados como cópias mais ou menos imperfeitas desses protótipos celestiais. Cada espécie correspondia a uma idéia diferente na mente divina, e, portanto, não poderia haver nenhuma transição de uma especie a outra, porque cada espécie tinha resultado de um ato de criação separado...” (Companhia Editora Nacional, p. 38).

Embora ele não tenha sido o único a contestar a posição religiosa sempre vigente, ao menos foi aquele que buscou aplicar integralmente o materialismo filosófico ao conceito de “evolução”. Em “Darwin e os Grandes Enigmas da Vida”, Gould trata a questão da seguinte forma:

As notas provam que Darwin se interessava por filosofia e que es­tava ciente de suas implicações. Sabia que a principal característica a distinguir sua teoria de todas as outras doutrinas evolucionistas era seu inflexível materialismo filosófico. Outros evolucionistas falavam em força vital, dirigismo histórico, luta orgânica, e na irredutibilidade essencial da mente — uma armadura de conceitos que a cristandade tradicional podia aceitar como meio termo, já que permitia a um Deus cristão trabalhar pela evolução, e não pela criação. Darwin falava apenas em va­riação ao acaso e seleção natural.
Nas notas, Darwin aplicou resolutamente seu materialismo
à teoria daa evolução de todos os fenômenos da vida, inclusive ao que ele próprio chamou de "a própria cidadela" — a mente humana..." (Martins Fontes, p. 14, 15).

É isso!

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