Teoria da Evolução VS Teoria da Criação

Entre muitos outros sentidos, um simples dicionário da Língua Portuguesa define TEORIA da seguinte forma:
1. “Princípios básicos e elementares de uma arte ou ciência.
2. Sistema ou doutrina que trata desses princípios.
3. Conhecimento especulativo.
4. Conjetura, hipótese.
5. Noções gerais, generalidades.
6. Opiniões sistematizadas.

No âmbito específico da ciência, embora o termo TEORIA seja bastante distinto daquele usado linguisticamente, não se pode precisar uma definição que seja única ou definitiva. O filósofo da ciência Karl Popper, por exemplo, ao distinguir ciência de não-ciência fez uso do que ele denominou de “falsificacionismo”. Por este critério, para que uma teoria seja realmente considerada científica, ela tem de ser experimentalmente "refutável". Daí porque o mesmo Popper não reconheceu em suas obras o darwinismo como uma teoria de fato científica. O motivo, segundo ele, era por não ser ele suscetível de provas. Todavia, como bem escreveu Pierre Thuillier, em seu livro “De Arquimedes a Einstein”, o próprio Darwin não afirmava que sua teoria estivesse "comprovada", contentando-se em dizer que ela apenas tomava inteligível grande número de "fatos", o que seria muito diferente...”. (ZAHAR, 1994, p. 12).

Isso vem ao encontro do próprio objetivo de Darwin, que era o de lançar por terra aquilo que ele chamou de “teoria das criações independentes” (ou "especiais"). Sobre isso escreve o ainda Thuillier: “Darwin repetiu muitas vezes: seu objetivo era demolir a teoria das "criações especiais", segundo a qual as diversas espécies haviam sido criadas separadamente. Nos nossos dias, por motivos evidentes, os criacionistas têm uma péssima reputação. Mas, na época de Darwin, sua teoria não era uma divagação reservada a marginais ignorantes; nume­rosos cientistas (e mesmo naturalistas eminentes como Richard Owen e Louis Agassiz) a encaravam com toda a seriedade. O fato não é tão absurdo como se pode pensar. Pois a crença nas criações separadas não excluía a ideia de uma sucessão de formas vivas segundo séries proressivas. É o que se chama progressionisrno, e consiste em admitir que organismos cada vez mais complexos foram aparecendo no curso da história do planeta” (ibdem, p. 161).

Os devotos de Darwin de hoje talvez fiquem lá constrangidos ao saberem que o próprio naturalista tratou a crença bíblica como uma “teoria”, uma “teoria”, aliás, que "concorria" filosoficamente com aquela elaborada por ele. Isso pode ser observado, por exemplo, nos seguintes textos de seus livros:

“O sistema urogenital apresenta várias estruturas rudimentares, mas por um aspecto importante estas diferem dos casos anteriores. Neste caso não se trata do resíduo de uma parte, que não pertence à espécie em nível eficiente, mas de uma parte que num sexo é eficiente, ao passo que no outro não constitui senão um mero rudimento. Não obstante isto, como nos casos anteriores, a presença destes rudimentos é igualmente difícil de se explicar com a teoria da criação separada de cada uma das espécies” ("A Origem do Homem". Hemus Editora, 1974, p.35).

"M. Herbert Spencer, numa memória (publicada pela vez primeira no Leader, Março de 1852, e reproduzida nos seus Essays em 1858), estabeleceu, com um talento e uma habilidade notáveis, a comparação entre a teoria da criação e o desenvolvimento dos seres orgânicos. Tira os argumentos da analogia das produções domésticas, das transformações que sofrem os embriões de muitas espécies, da dificuldade de distinguir espécies e variedades, e do princípio de gradação geral; conclui que as espécies têm sofrido modificações que atribui à mudança de condições. O autor (1855) estudou também a psicologia partindo do princípio da aquisição gradual de cada aptidão e de cada faculdade mental” (p. 11).

"Consagramos este capítulo à discussão de algumas das dificuldades que apresenta a nossa teoria e das objeções que se podem levantar contra ela. Muitas são sérias, mas creio que discutindo-as projetamos alguma luz sobre certos fatos que a teoria das criações independentes deixa na obscuridade mais profunda” (p. 224).

“Estes exemplos de parentesco íntimo entre espécies que habitaram ou habitam ainda os mares das costas ocidentais e orientais da América do Norte, do Mediterrâneo, dos mares do Japão e das zonas temperadas da América e da Europa, não podem explicar-se pela teoria das criações independentes. É impossível sustentar que estas espécies receberam logo na sua criação caracteres idênticos, em razão da semelhança das condições físicas dos meios; porque, se compararmos por exemplo certas partes da América do Sul com outras partes da África Meridional ou da Austrália, vemos países de que todas as condições físicas são exatamente análogas, mas de que os habitantes são inteiramente diferentes” (p. 436).

"Indiquei já as razões que me fazem por de lado a hipótese da extensão dos continentes durante o período das espécies atuais, ou, pelo menos, uma extensão tal que as numerosas ilhas dos diversos oceanos tivessem recebido os seus habitantes terrestres devido à sua união com um continente. Esta hipótese tira muitas dificuldades, mas não explica qualquer dos fatos relativos às produções insulares. Não me deterei, nas notas que vão seguir-se, apenas na questão da dispersão, mas examinarei uns outros fatos, que têm alguma relação com a teoria das criações independentes ou com a da descendência com modificações” (p. 452).

“Não é às condições físicas que se pode atribuir esta ausência geral de batráquios num tão grande número de ilhas oceânicas, porque parecem particularmente próprias à existência destes animais, e a prova é que as rãs introduzidas na Madeira, nos Açores e na Maurícia aí se multiplicaram a ponto de se tornarem um flagelo. Mas, como estes animais, e bem assim as ovas, são mortos imediatamente pelo contato da água do mar, à exceção todavia de uma espécie indiana, o seu transporte por esta via seria muito difícil, e, por conseqüência, podemos compreender a razão de não existirem em nenhuma ilha oceânica. Seria, pelo contrário, bem difícil explicar porque, na teoria das criações independentes, não teriam sido criados nestas localidades” (p. 456).

“Não poderia sustentar-se, contudo, que as ilhas pouco extensas não são próprias à existência pelo menos dos pequenos mamíferos, porque estes se encontram em diversas partes do Globo em ilhas bem diminutas, quando estas estão na vizinhança de um continente. Não se saberia, além disso, citar uma só ilha na qual os nossos pequenos mamíferos não estejam naturalizados e abundantemente multiplicados. Não poderia alegar-se mesmo, segundo a teoria das criações independentes, que o tempo não fosse suficiente para a criação dos mamíferos; porque um grande número de ilhas vulcânicas são de uma tão remota antiguidade, como o provam as imensas degradações que têm sofrido e os jazigos terciários que aí se encontram; demais a mais, o tempo foi suficiente para a produção de espécies endêmicas pertencendo a outras classes; ora sabe-se que, nos continentes, os mamíferos aparecem e desaparecem mais rapidamente que os animais inferiores” (p. 457).

“Ora, como a soma das modificações que os animais de todos os gêneros podem sofrer, depende sobretudo do lapso de tempo decorrido, e como as ilhas separadas do continente ou das ilhas vizinhas por águas pouco profundas, devem ter provavelmente formado uma região contínua numa época mais recente que as que estão separadas por estreitos de uma grande Profundidade, é fácil compreender como deve existir uma relação entre a profundidade do mar que separa duas faunas de mamíferos, e o grau das suas afinidades; relação que, na teoria das criações independentes, fica inexplicável” (p. 458).

”Por outro lado, há na natureza vulcânica do solo, no clima, na altitude e na superfície destas ilhas, uma grande analogia entre elas e as ilhas do arquipélago de Cabo Verde; mas que diferença completa e absoluta no ponto de vista dos habitantes! A população destes últimos tem as mesmas relações com os habitantes da África como os habitantes das Galápagos com as formas americanas. A teoria das criações independentes não pode fornecer explicação alguma para fatos desta natureza” (p. 461).

“Todas as relações que acabamos de examinar, isto é, a maior disseminação das formas inferiores, comparativamente à das formas superiores; a distribuição considerável das espécies fazendo parte dos próprios gêneros muito largamente espalhados; as relações que existem entre as produções alpinas, lacustres, etc., e as que habitam as regiões baixas circunvizinhas; o íntimo parentesco que liga os habitantes das ilhas aos da terra firme mais próxima; o parentesco mais estreito ainda entre os habitantes distintos das ilhas que fazem parte do mesmo arquipélago, são outros tantos fatos que a teoria da criação independente de cada espécie não permite explicar; torna-se fácil compreendê-los se admitirmos a colonização pela fonte mais vizinha ou mais acessível, junta a uma adaptação ulterior dos imigrantes às condições da sua nova pátria” (p. 467).

“Como explicar estes fatos pela teoria das criações? Porque está o cérebro encerrado numa caixa composta de peças ósseas tão numerosas e tão singularmente conformadas que parecem representar vértebras? Assim como o fez notar Owen, a vantagem que apresenta esta disposição, permitindo aos ossos separados flectir-se durante o ato da parturição nos mamíferos, não explicaria de modo algum porque a mesma conformação se encontra no crânio das aves e dos répteis. Porque têm sido criados ossos similares para formar a asa e a perna do morcego, se estes ossos são destinados a usos tão diferentes, o vôo e a marcha?” (p. 498).

“A variação correlativa, isto é, a lei em virtude da qual a modificação de uma parte do corpo arrasta a de diversas outras partes, parece também ter desempenhado um papel importante nas variedades e nas espécies; numas e noutras também os caracteres desde há muito perdidos estão sujeitos a reaparecer. Como explicar, pela teoria das criações, a aparição ocasional das riscas sobre as espáduas e nas pernas das diversas espécies do gênero cavalo e seus híbridos? Quão simplesmente, ao contrário, este fato se explica, se se admitir que todas estas espécies derivam de um antecessor zebrado, da mesma forma que as diferentes raças do pombo doméstico derivam do torcaz, com plumagem azul e listrada!” (p. 537).

”Na hipótese de emigrações seguidas de modificações subseqüentes, torna-se fácil compreender a causa de as ilhas oceânicas serem apenas povoadas por um número restrito de espécies, e porque a maior parte destas espécies são especiais ou endêmicas; porque não se encontram nestas ilhas espécies pertencendo aos grupos de animais que não podem atravessar largos braços de mar, tais como as rãs e os mamíferos terrestres; porque, por outra parte, se encontram nas ilhas muito afastadas de todo o continente espécies particulares e novas de morcegos, animais que podem atravessar o Oceano. Fatos tais como a existência de todas as espécies de morcegos nas ilhas oceânicas, com exclusão de todos os outros animais terrestres, são absolutamente inexplicáveis pela teoria das criações independentes” (p. 541).

“Encontramos a prova nas relações marcantes que se notam entre quase todos os animais e quase todas as plantas do arquipélago de Galápagos, de João Fernandes e outras ilhas americanas e as formas que povoam o continente americano vizinho. As mesmas relações existem entre os habitantes do arquipélago de Cabo Verde e das ilhas vizinhas e os do continente africano; ora, é necessário reconhecer que, segundo a teoria da criação, estas relações ficam inexplicáveis” ("A Origem das Espécies". Lello & Irmão, 2003, p. 542).

É isso!

Um comentário:

  1. "Encontramos a prova nas relações marcantes que se notam entre quase todos os animais e quase todas as plantas"
    e que se reforça com a leitura genética

    Permita-me acrescentar a "árvore da vida" com base na leitura do ARN do ribossoma de diversas espécies.
    http://www.zo.utexas.edu/faculty/antisense/DownloadfilesToL.html

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