O que é Placebo

“Segundo o dicionário Aurélio, a palavra placebo deriva do latim, do verbo “placere”, que significa “agradar”. Pode-se dizer que o placebo é qualquer tipo de tratamento que não tem ação específica nas doenças ou sintomas do paciente, mas, de qualquer forma, pode causar um efeito no paciente.

O placebo é sempre um tratamento não nocivo. Por efeito placebo entende-se o resultado que acontece a partir da aplicação de um placebo. Nas experiências para avaliar os resultados de um remédio universal é aplicado um placebo para um grupo de pacientes. Depois, os resultados são comparados por outro grupo que recebe a medicação ativa. Quanto maior a diferença nos resultados entre o grupo que recebe medicação ativa e o grupo que recebe o placebo, maior será a eficácia farmacológica da substancia que está sendo estudada. Renato Sabbatini, e Julio Rocha do Amaral, especialistas em Neurofisiologia do Comportamento pela Faculdade de Medicina de Ribeirão Preto, no artigo sobre o efeito placebo, diz que nestes estudos os placebos tinham muito mais efeitos sobre a doença estudada do que poderia se esperar.

Em alguns casos, os efeitos colaterais (indesejados) dos placebos chegavam a ultrapassar os do medicamento ativo... Em conseqüência, houve um aumento grande nas pesquisas científicas com a finalidade de esclarecer melhor o que é esse efeito, porque ocorre, qual a sua base fisiológica, etc. O efeito placebo pode ser útil na prática clínica. Isso é inclusive permitido pelo código de ética médica.

Segundo Renato Sabbatini Julio Rocha do Amaral, os placebos são classificados de duas formas: os placebos ativos e os inertes. Placebos ativos são aqueles que têm ação própria sobre o paciente, embora, às vezes, não sejam específico para a doença para a qual estão sendo administrados. Placebos inertes são medicamentos carecidos de qualquer influência farmacológica ou cirúrgica.

Para Sabbatini e Amaral os placebos têm efeito positivo quando o paciente relata alguma melhora e efeito negativo quando eles demonstram que houve piora ou surgimento de algum tipo de efeito colateral desagradável.

Neste caso o placebo é chamado de Nocebo, palavra que deriva do latim nocere, ou provocar dano. Uma conclusão interessante é a seguinte: toda medicação administrada, além do seu efeito real farmacológico, tem também um efeito placebo, e eles dificilmente podem ser separados um do outro.

A pergunta que podemos levantar é de que forma surge o efeito placebo? Será que esta ação é feita a partir de um estado mental do próprio paciente ou um efeito orgânico?

Muitas pesquisas são feitas e existem muitas teorias a respeito mais nenhum fato pôde ser comprovado com exatidão. Sabbatini e Amaral seguem a corrente mais provável que é do reflexo condicionado. Esta corrente segue a teoria do fisiologista russo Ivan Pavlov, que é premio Nobel de Medicina. Ele parte do pressuposto que o efeito placebo surge do organismo do próprio paciente a partir dos reflexos condicionados.

Segundo a teoria de Pavlov, podemos compreender o funcionamento do sistema nervoso como dependente de reflexos, ou seja, respostas a estímulos provenientes do meio externo ou do interno. Um estimulo sensorial, venha de dentro ou de fora do organismo, atinge um receptor e provoca modificação das condições orgânicas e, em conseqüência, uma resposta que pode ser motora, secretora ou vegetativa.

Desta forma, existem dois tipos de reflexos condicionados. Pavlov relata que, segundo a sua teoria, o funcionamento do sistema nervoso sempre depende de reflexos, ou seja, de estímulos provenientes do meio externo ou do meio interno. E explica a dinâmica de fixação desses reflexos:

Os reflexos condicionados são aqueles que os animais adquirem durante suas vidas, ou ontogênese. Eles são um dos tipos de aprendizado do que o sistema nervoso é capaz. À medida que determinados estímulos ambientais vão agindo sobre eles, suscitam respostas condicionadas a esses estímulos. Logicamente, para que essas respostas condicionadas surjam, elas têm que se basear em respostas incondicionadas. No experimento clássico de Pavlov, tocar o sino não causava nenhuma salivação no cão, mas depois de lhe apresentar o sino repetidamente em conjunto com o estímulo incondicionado (a comida), o cão começou a salivar em resposta ao sino, apenas.

Pavlov assim define o reflexo condicionado do cão como: “Uma conexão nervosa temporária entre um dos inumeráveis fatores do ambiente e uma atividade bem determinada do organismo”.

Isto quer dizer que o reflexo é uma conexão temporária entre um estímulo qualquer do meio ambiente e uma reação do próprio organismo, que, desta forma, passa a ser condicionado por um fator de origem ao estimulo ambiental que era primeiramente diferente.

É importante termos em mente que a teoria de Pavlov contribuiu de forma significativa para o avanço das experiências de efeito placebo. Mas o reflexo condicionado de Pavlov deixa em aberto esta questão: um processo de cura que envolve a fé pode ter uma relação com o placebo e seu efeito?

Billy Graham e Oral Roberts desenvolveram pesquisas tratando deste assunto. Uma das pesquisas consiste em um caso hipotético:

Um homem deprimido que se sente inútil e considera sua vida desprovida de um significado e um certo dia vai ouvir seu líder espiritual. De repente, ele, juntamente com outras pessoas na platéia, descobre Deus, vê um novo sentido para a sua vida e sua existência foi transformada integralmente. Ou então ele vai ao consultório de um psicanalista, deita-se no divã e se levanta 5 anos mais tarde, ainda deprimido e certo de que fora sua mãe quem o deixou naquele estado.

A pergunta que Granham e Roberts fazem é a seguinte: qual dos dois é o melhor terapeuta? Granham e Roberts acreditam que a cura pode ser creditada através da própria fé.

O agente curativo é a própria fé e não Deus. Em outras palavras, o agente curativo é a própria fé e não um ser transcendente. E se assim for, a psicologia poderá contribuir significativamente para o refinamento e aplicação da cura pela fé.

Cumpre observar que a posição desses dois autores suscita esta questão: a fé que cura é sempre fé em algum ser transcendente. E Deus age sempre pelas causas segundas. Portanto, a cura pela fé tem sempre por trás o próprio Deus ou algum ser intermediário que age como instrumento dele.”


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Fonte:
Marcelo da Rocha Fé ou placebo? Os efeitos milagrosos das pílulas de Frei Galvão (Dissertação apresentada à Banca Examinadora como exigência parcial para obtenção do Título de MESTRE em Ciências da Religião na Área de Concentração Fundamentos das Ciências da Religião pela Pontifícia Universidade Católica de São Paulo - PUC, sob orientação do Prof. Doutor José J. Queiroz). São Paulo, 2009.

Nota
:
A imagem inserida no texto não se inclui na referida tese.
As referências bibliográficas de que faz menção o autor estão devidamente catalogadas na citada.

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