Um pouco da histórria da ALIMENTAÇÃO

Um breve histórico da Alimentação

Uma certa história da alimentação faz parte da cultura de base de todos. Diz-se que as massas alimentícias surgiram na China; que Marco Polo as trouxe de Veneza, de onde se difundiram por toda a Itália e, depois, por diversos países da Europa. Que o melão foi trazido para a França por Carlos VII, de volta da expedição de Nápolis, exatamente em 1494; que Catarina de Médicis, que adorava fundos de alcachofra, os introduziu no reino e pôs em voga; que os próprios fundamentos da boa cozinha francesa se devem a seus cozinheiros italianos; que a massa folhada, porém, foi inventada um século mais tarde por Claude Gellée, cognominado O Loreno (1600-1682), que foi pasteleiro antes de se tornar um grande pintor francês; que o pâte de foie grãs foi inventado em 1788, em Estrasburgo, pelo marechal de Contades, governador da Alsácia, ou por seu cozinheiro, Jean- Pierre Clausse, a quem ele enriqueceu... (FLANDRIN E MONTARINI, 1998:15).

Esta, entre outras histórias, é contada em lugares comuns e, muitas vezes, contradizem-se, não sendo possível provar a história de fato. Fidedignamente, sabe-se que os gregos e, depois os romanos comiam deitados; já outros povos passaram a comer sentados. Na história, desde tempos remotos, encontram-se diferenças nos hábitos alimentares das civilizações, e isto, possui raízes nas diferenças culturais, econômicas, sociais e tecnológicas, refletindo a identidade de cada população.

Os séculos XIX e XX, considerados como a “época contemporânea”, influenciou diretamente os dias modernos. Sequentes a Revolução Industrial, ao êxodo rural e a expansões das cidades, esta época foi responsável pela adoção dos moldes da economia de mercado e da expansão do comércio mundial. Segundo Flandrin e Montarini (1998), a Revolução Industrial incide, principalmente, no surgimento e na expansão das indústrias de alimentos. As mulheres se tornam um ponto forte na economia, com a Revolução, passaram a trabalhar nas indústrias e fábricas e, por isso, a oferta de serviços domésticos é reduzida.

Outro elemento marcante da época é a transferência dos restaurantes que, apenas, cozinhavam comidas sofisticadas e passam a produzir um novo tipo de alimentação. Surgem novos estabelecimentos com o intuito de oferecer refeições para homens e mulheres que as faziam em casa.

Neste momento, época contemporânea, há a revolução da alimentação, mais propriamente do consumo alimentar. Em termos históricos, começam a surgir soluções mais radicais para os problemas de abastecimento das populações européias, concomitante com o rápido processo de industrialização da Inglaterra e de outros países da Europa ocidental (PEDROCCO, 1998).

Uma expansão demográfica progressiva subverte o equilíbrio já precário, não só entre os recursos alimentares e a população nas regiões em vias de industrialização, mas também entre a distribuição geográfica desses recursos e a repartição da população pelo território. As condições de vida das classes trabalhadoras que vivem nas cidades tornam-se, então, particularmente penosas porque os alimentos são insuficientes e muito caros, sobretudo por causa das carências do sistema de abastecimento: os matadouros e os mercados não estão em condições de acolher o excedente de gado e mercadorias que é o corolário do aumento de consumo (p:763).

Com relação à indústria de alimentos, essa passa a adotar um novo sistema para o acondicionamento dos produtos, inicialmente com o pão e o vinho, com o objetivo de aumentar a produtividade. Além disto, empenham-se para que as técnicas de conservação dos alimentos, muito perecíveis, modernizem-se, através das conservas, que visavam também lançar no mercado, produtos menos cotidianos a preços mais acessíveis.

Por sua vez, a partir da segunda metade do século XIX, a economia americana descobriu o sucesso da produção em massa (primeiros sinais dos fast foods), técnica que foi sendo aperfeiçoada nos tempos seguintes. De acordo com Capatti (1998), esta revolução acabou por interferir não apenas no tipo de produção dos alimentos, mas desviou a atenção também para as embalagens. Em duas ou três décadas esta contribuição foi difundida pelo mundo. Coincidentemente, ou não, passou-se a observar que os americanos eram “nutridos demais” (LEVENSTEIN, 1998), numa referência ao grande número de obesos naquele país.

No final do século XIX assistiu-se o surgimento dos primeiros indícios da reação burguesa contra os exageros na alimentação. Pouco além, a classe média unia-se com o objetivo de rever seus hábitos alimentares. De modo geral, o século XX foi marcado pela revolução no consumo alimentar (SORCINELLI, 1998).

A primeira reforma dietética apoiava-se em idéias científicas que, supostamente, deveriam contribuir para a melhoria da saúde. Foi privilegiada a classe operária, composta em grande parte por imigrantes que procuravam tirar proveito das fabulosas riquezas de suas mesas. De acordo com Levenstein (1998), nesta época, as teorias científicas com relação à dietética foram completamente alteradas com a descoberta de que a energia dos alimentos se media por calorias e que estes, por sua vez, eram compostos por diferentes elementos (proteínas, hidratos, gorduras).

Com base nas diferentes necessidades fisiológicas do organismo, no início de 1917, já tinham sido descobertas as primeiras vitaminas, que logo passariam a ditar um novo modelo alimentar, conhecido como Newer Nutrition. A “vitaminomania” desencadeou efeitos particularmente precoces nos Estados Unidos. Em meados dos anos 20, a moda transformou-se numa indústria altamente rentável no país. Chegou se ao ponto de alguns fabricantes de munições afirmarem que a produtividade de seus operários havia aumentado com a ingestão das vitaminas.

Passadas as guerras, após 1948, as preocupações com a qualidade da alimentação voltam a ficar em segundo plano, com vistas à fartura. Entre 1946 e 1963, a chamada era baby boom, foi marcada pela comodidade, inserindo-se no plano de consumo dos produtos prontos-a-servir. As indicações da dietética tornam-se menos importantes em relação ao aspecto prático, ao preço e, inclusive, a saúde.

Contrariamente ao que se passava no resto do mundo, os sabores alimentares tinham deixado de ser um verdadeiro sinal de distinção social. A população inteira parecia unida em sua inclinação irresistível pelo bife-batata-frita, frango assado, hambúrgueres na grelha, sopas já prontas, confeccionados com peixe ou carne em conserva e caldos enlatado, além dos famosos Jell-O, esses flãs gelatinosos de cores vivas (LEVENSTEIN, 1998:836).

Para Fischler (1998), nos últimos tempos, principalmente após 1960, a alimentação passa por uma nova revolução. A particularidade desta época situa-se no fato de que as modificações introduzidas nos gêneros alimentícios não correspondem somente a uma demanda dos consumidores. Pensa-se na praticidade para os distribuidores (incluindo-se embalagens fáceis de estocagem, por exemplo) e adotam-se as estratégias do marketing. A beleza senta à mesa.

No momento em que a alimentação torna-se um mercado de consumo, passa-se a investir nos fornos de microondas e comidas congeladas (para alimentações no lar) e o comércio – representado pelos restaurantes – adota, muitas vezes, o estilo fast food difundido nos Estados Unidos, desde os anos 50. Sob a forma de franchising, são oferecidos alimentos rápidos – pizzas, hambúrgueres, batata-frita, entre outros.

A grande questão que se coloca atualmente, quando se refere à alimentação corresponde aos sentimentos associados ao ato de comer. Alguns autores (COELHO, 1996; SANTOS, 2001) apontam para o prazer deslocado para a comida.

Coelho (1996) cuja dissertação de Mestrado realizada junto a PUCSP intitula-se “Fome de ser Feliz”9, antecipa a discussão. Observa-se o “ganho de presentes”, sob a forma de brindes em redes mundiais fast food como Mc Donald’s e Habib’s, na compra de lanches para as crianças. Nota-se o crescimento de confrarias de apreciadores da cozinha, bem como da relação que se estabelece entre paladar e encanto, através de chocolates e sexo (chocolates em formatos eróticos, por exemplo), remédios e pastas de dentes infantis com sabores uva, morango ou chiclete (SANTOS, 2001). A cada dia, a alimentação distancia-se da função de necessidade básica para tornar-se fonte de prazer minimizando as frustrações do dia-a-dia. Como reflexo desta situação, acompanhamos o crescimento dos casos de obesidade entre a população.”


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Fonte:
Andréia Mendes dos Santos: “SOCIEDADE DO CONSUMO: Criança e propaganda, uma relação que dá peso”. (Tese referente ao Curso de Doutorado em Serviço Social da Pontifícia Universidade Católica do Rio Grande do Sul, orientado pela Profª Doutora Patrícia Krieger Grossi). Porto Alegre, 2007.

Nota
:
O título e a imagem inseridos no texto não se incluem na referida tese.
As referências bibliográficas de que faz menção o autor estão devidamente catalogadas na citada.

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