A causa profana de Darwin


Dentre os muitos eventos que estão ocorrendo neste ano em que se comemora 200 anos do nascimento de Charles Darwin, um deles refere-se ao lançamento de vários livros referentes à vida e obra do naturalista inglês, dos quais se destaca: “A Causa Sagrada de Darwin” ("Darwin's Sacred Cause"), dos evolucionistas Adrian Desmond e James Moore, conhecidos por seus muitos trabalhos acerca do autor de “A Origem das Espécies”. Segundo o site de notícia Reuters:
“Um novo livro sobre Charles Darwin diz que um ódio passional à escravidão foi fundamental para que ele desenvolvesse a sua teoria da evolução. A teoria foi contra a suposição de muitos à época de que negros e brancos eram de diferentes espécies.
[...]
Os autores do livro, Adrian Desmond e James Moore, também acreditam que ele será um dos mais polêmicos, porque explora o que chamam de humanitarismo de Darwin e contesta a noção de que suas conclusões tenham sido resultado apenas da busca científica.

"Deve haver razões para ele ter chegado a imagens da origem comum da evolução quando não havia precedentes para tanto na zoologia de seu tempo", disse Desmond à Reuters. "Isso vem do antiescravagismo."

"Ninguém duvida que as ilhas Galápagos, os tentilhões, as preguiças gigantes e as tartarugas gigantes tenham sido absolutamente fundamentais para seus pontos de vista e para o que ele estava interessado."

"Mas é preciso observar um certo princípio norteador. Cada navio levava mais de um naturalista naqueles tempos -- por que nenhum deles chegou a essa idéia da origem comum, ainda que a maioria deles tivesse exatamente a mesma evidência?"

Moore disse que o livro não pretendia simplificar o argumento para "sou contra a escravidão, portanto sou evolucionista". E acrescentou: "Esse não é um argumento reducionista. Estamos ressaltando que era preciso que Darwin acreditasse em uma 'ciência da fraternidade' para ver a origem comum. Não podemos descobrir de onde mais ele teria tirado isso."
[...]
Desmond e Moore argumentam que o seu ponto de vista é importante porque mostra que Darwin foi movido por desejos e necessidades humanas, e lança nova luz sobre trabalhos atacados até hoje por serem considerados moralmente subversivos”.


Embora a galera de Darwin tenha comemorado com muitos "vivas!" este lançamento, o fato é que, pela simples análise de um de seus livros, "A Origem do Homem", é possível no mínimo desmontar esta ficção. Se não vejamos...


DARWIN E A ESCRAVIDÃO
Segundo Nélio Bizzo, um profundo conhecedor dos originais do naturalista inglês, "Darwin era um cidadão orgulhoso de sua nacionalidade”. O mesmo Darwin constantemente se refere à sua nação, a Inglaterra, como um verdadeiro exemplo civilização. Até aí, nada demais, afinal, não poderia esperar outra postura de um inglês naquela era vitoriana. Todavia, como é amplamente conhecido, os ingleses mantinham uma postura firme contra o tráfico negreiro, obviamente por ser isso um impedimento à sua expansão industrial:
"Para o Brasil, a extinção do tráfico negreiro não foi um fato isolado na sua vida econômica: : ao contrário, ela correspondeu às exigências da expansão industrial da Inglaterra”
("História do Brasil": Elza Nadai e Joana Neves, p. 164).

Levando em conta, portanto, o nacionalismo de Darwin e a postura de sua pátria no que concerne à escravidão, seria de esperar que o naturalista se opusesse aos intentos de sua amada nação, isto é, que se colocasse contra a escravidão?

Nélio Bizzo, porém, (um darwinista da USP) vai mais longe a respeito dos objetivos de Darwin, até surpreendendo:

“Sua tarefa parecia consistir em observar, reconhecer os ambientes economicamente importantes para a Coroa Inglesa. Já naquela altura as matérias-primas eram cada vez mais necessárias para um país que passava por uma revolução industrial”
(Bizzo, “O que é Darwinismo”, p.52).”

Ademais, Darwin, como um amante da natureza, nutria forte interesse por toda forma de ser vivo. Desta forme pode-se especular que sua postura contra os maus tratos aos negros poderia ser apenas uma reação contra o mau trato a um ser vivo. Sim, pois como é sabido, para Darwin o negro estava em posição de inferioridade na escala evolutiva, afirmando inclusive:

“Em algum período futuro não muito distante se medido em séculos, as raças civilizadas do homem exterminarão e substituirão, quase com certeza, as raças selvagens no mundo todo. Ao mesmo tempo, os macacos antropomorfos... serão sem dúvida exterminados. A brecha entre o homem e seus parentes mais próximos será ainda mais larga, pois ela se abrirá entre o homem num estado ainda mais civilizado, esperamos, do que o próprio caucasiano, e algum macaco tão inferior quanto o babuíno, em vez de, como agora, entre o negro ou o australiano e o gorila”
(“
A Origem do Homem", p. 201).


Por exemplo, no seu livro "
A Origem do Homem" algumas passagens por ele escritas tornam-o bastante comprometido nesta sua "causa sagrada", como:

1 - Comparando-os aos símios:
"Num capítulo anterior vimos que as capacidades mentais dos animais superiores não diferem em qualidade, embora sejam de grau muito diverso, das capacidades mentais dos homens, especialmente das raças inferiores e bárbaras; e parece que também o seu senso do belo não é muito diferente daquele dos quadrúmanos. Com efeito, os negros da África transformam o rosto com rugas paralelas "ou cicatrizes sobre a superfície natural, porque estas horrendas deformações são consideradas atrativos pessoais"; do mesmo modo como os negros e os selvagens de muitas partes do mundo pintam o rosto com sinais vermelhos, azuis e brancos, assim parece que o macho do mandril africano adquiriu o seu focinho rugoso e vivamente colorido a fim de se tornar atraente para a fêmea ” ( p. 625).
"Quando estão excitados os negros africanos começam a cantar: "Outro negro lhe responderá cantando, e os presentes, se tocados por essa onda musical, farão coro uníssono" . Também o símio exprime fortes sentimentos em diversos tons: a raiva e a impaciência, com os tons baixos; o medo e a dor, com os altos . As sensações e as ideias que a música desperta em nós, ou expressadas pela cadência oratória, por sua beleza e profundidade aparecem quais reminiscências de emoções e pensamentos de uma era remota
” (p. 657).

2 -
Darwin realçou as diferenças raciais entre grupos humanos, incluindo o negro, colocando-o como "sub-éspécie":
Apliquemos agora estes princípios geralmente admitidos às raças humanas, considerando-os com o mesmo espírito de um naturalista com relação a todo outro animal. Ao consi derar o conjunto das diferenças entre as raças devemos ter em devida conta a nossa fraca capacidade de discriminação alcançada com um longo hábito de observarmos a nós mesmos... Assim é que na forma, as mais diferentes raças humanas são muito mais semelhantes entre si do que se poderia supor à primeira vista; certas tribos negras abrem exceção... Não existe, contudo, nenhuma dúvida de que as várias raças, se comparadas e medidas com cuidado, diferem muito... uma da outra — como no tipo dos cabelos, nas proporções rela tivas de todas as partes do corpo, no volume dos pulmões, na forma e dimensão do crânio e assim também nas circun voluções do cérebro... As raças diferem também na constituição, na aclimatação, na circunstância de serem suscetíveis a certas doenças. As suas características mentais são igualmente bastante distintas, em primeiro lugar pelo que poderia aparecer nas suas faculdades emocionais, mas em parte por suas faculdades intelectuais... Se um naturalista que antes nunca tivesse visto um negro, um hotentote, um australiano ou então um mongol devesse estabelecer um cotejo entre eles, imediatamente veria que diferem por uma multidão de caracteres, alguns de pouca importância, ao passo que outros de importância considerá­vel... O nosso hipotético naturalista, tendo ido tão longe assim em sua investigação, poderia em seguida pesquisar se as raças toda vez em que se cruzam são de alguma maneira estéreis. Poderia consultar a obra do prof. Broca, um prudente e imparcial observador, na qual poderia encontrar uma ótima prova de que algumas raças são completamente férteis, acasa lando-se entre si, mas daria também com uma prova de natu reza oposta em relação a outras raças... Os aborígenes americanos, os negros e os europeus são tão diferentes entre si intelectualmente quanto o podem ser três raças quaisquer. No entanto, ficava incessantemente surpreso, enquanto convivia com os fueguinos a bordo do "Beagle", diante dos pequenos traços de caráter os quais de monstravam como o seu cérebro era semelhante ao nosso; a mesma coisa vale para um sangue puro, do qual sucedeu ou tra vez tornar-me amigo íntimo...
3 – Subestimando seus dotes artísticos:
“Vimos que as faculdades musicais, que nunca estão inteiramente ausentes em nenhuma raça, são suscetíveis de um desenvolvimento pronto e eficaz; com efeito os hotentotes e os negros se tornaram excelentes músicos, apesar de nos seus países nativos raramente se praticar algo que possa ser considerado música” (p. 656).

Para ficar só nisso...


ADRIAN DESMOND E JAMES MOORE


Não vou fazer mais que menção ao fato de que tais autores são ambos darwinistas apaixonados pelo naturalista inglês. Basta lembrar que uma das mais extensas biografias a respeito de Darwin foi organizada por ambos: “Darwin: a vida de um evolucionista atormentado”. Da qual, aliás, é possível extrair algumas passagens que contrastam com a "nova revelação". Por exemplo:

Do livro: “A Vida de um Evolucionista Atormentado: Darwin. Adrian Desmond & James Moore – Geração Editorial. São Paulo, 1995”:
“Assim, o peneiramento continuava, talvez menos violentamente mas não menos efetivamente. O trabalho de Galton sobre a hereditariedade mental convencera-o. Os membros mais inteligentes dentro da mesma comunidade terão maior sucesso em relação aos menos inteligentes, e deixarão uma prole numerosa, e essa é uma forma de seleção natural.

O progresso agora dependia de “uma boa educação durante a juventude, época em que o cérebro é impressionável” combinado com “um alto padrão de excelência, inculcado pelos homens mais aptos e melhores” (p. 629).

"Ele havia pensado que nasciam apenas indivíduos suficientes para manter uma espécie estável. Agora aceitava que também as populações selvagens procriavam além de seus meios. Como os arquitetos da lei dos pobres, a natureza não exibia caridade; os indivíduos tinham de se restringir e lutar, como as gangues cada vez maiores de pessoas que viviam dos montes de lixo de Londres, com a fome sempre os olhando no rosto.

[...]
"Na natureza de Darwin, os muitos caíam para que os poucos pudessem progredir. A morte adquiria um novo significado — e havia bastante dela por toda a parte: com o aumento no número de desempregados e desabrigados, os estatísticos médicos estavam compilando seus “livros-caixa da morte” (estatísticas de mortalidade) entre os moradores dos bairros pobres.”
Os livros-caixa da natureza estavam sempre abertos; o Ceifeiro sentava-se, coberto de negro, com a pena para riscar nomes permanentemente a mão. O progresso não era tanto um hino à beneficência divina quanto um canto fúnebre que acompanhava a luta selvagem. Tanto a ciência darwiniana quanto a sociedade da Lei dos Pobres estavam agora reformadas de acordo com as linhas competitivas de Malthus”
(p.282 – 283).
[...]
"Mas Darwin acreditava que a guerra colonial era necessária “para fazer os destruidores se diversificarem” e se adaptarem ao novo terreno. A destruição estava se tornando parte integrante de sua concepção malthusiana da humanidade:
Quando duas raças de homens se encontram, elas agem precisamente como duas espécies de animais. — Elas lutam, comem-se uma à outra, trazem doenças uma para a outra etc,, mas, depois vem a luta mais mortal, a saber, a que faz a organização mais adequada, ou os instintos (isto é o intelecto no homem), ganhar o dia” (p. 285).

Os “mais fortes estão sempre extirpando os mais fracos” e os britânicos estavam vencendo todos. A expansão imperial encerrou o isolamento das raças indígenas e impediu seu desenvolvimento por outros caminhos. À medida que os brancos se espalhavam a partir do Cabo, as tribos negras eram forçadas a se unir no interior, fundindo raças e pondo fim a seu isolamento criador de espécies.
Se isto não houvesse acontecido, especulou Darwin, “em dez mil anos o negro provavelmente teria se tomado uma espécie distinta" (p.285).

Por tudo isso, portanto, parece clara a intenção de ADRIAN DESMOND E JAMES MOORE. Como a propaganda é alma do negócio, nada melhor do que tentar dissolver ou suprimir aquela imagem do darwinismo social, tão atrelada à figura de Darwin. Todavia, essa tentativa há de satisfazer apenas os seus fiéis discípulos
, tão carentes de consolo!

É isso!

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