Desnudando Darwin

Quando se fala em Charles Darwin, normalmente se tem em mente a figura de um célebre cientista inglês que revolucionou o pensamento biológico no fim do século XIX, e o qual se juntou ao navio de pesquisa Beagle, para uma longa viagem ao redor do mundo, da qual coletou inúmeras informações que o levou a escrever a obra que serviu de à Teoria da Evolução. Este é o Darwin solene, o ilustre criador da teoria da evolução, o protótipo perfeito de um grande e neutro cientista. Ou, como diria um outro apaixonado: "um aspirante a mártir da ciência".

Mas, será isto verdade?
Você acredita realmente nesta bela estorinha?
Você crer de verdade que Charles Darwin aplicou o método científico com todo o rigor e imparcialidade?
Você é daqueles que acredita que Darwin não tinha idéias pré-concebidas ao escrever o seu “
A Origem das Espécies”?
Os livros que você lê sobre o assunto lhes têm apresentado esta figura darwinianamente imaculada?
Os seus professores lhe têm ensinado esta “versão oficial do darwinismo”?

Em caso afirmativo, lamento dizer-lhe que você não difere muito do garoto que apostou todas as suas moedinhas na existência do papai Noel!

Se não, vamos aos fatos...

“Na história do darwinismo, os "conceitos essenciais de Darwin" são apresentados de maneira bastante coerente, e numa seqüência gradativa. Não aparecem contradições, hesitações ou falhas graves. O darwinismo parece ser uma teoria que foi "crescendo", amadurecendo lentamente, dentro de um processo que se parece muito com o seu próprio objeto de estudo: a lenta evolução dos seres vivos. A teoria, de uma certa forma, se apresenta como um tipo de produto da natureza, e não do homem. Por outro lado, salta aos olhos o fato de a teoria pretender ser inteiramente independente da influência da sociedade da época. Ela se submeteria apenas à lógica da natureza. No entanto, uma análise um pouco mais cuidadosa da obra de Charles Darwin nos revela uma série de hesitações, contradições e falhas que podem ser consideradas graves. Além disso, traz em seu interior todos os elementos da sociedade na qual foi construída. Assim, passa a ter as feições de um produto do homem, e não da natureza”.

Fonte:
Nélio Bizzo. “O que é Darwinismo”. Editora Brasiliense, São Paulo, 1989, p. 18, 19.


Então as conclusões de Darwin não foram isentas dos dogmas (religiosos, sociológicos e políticos) vigentes na época?
Quer dizer que Darwin não fora um observador neutro e imparcial?
Então seus trabalhos não foram resultados de seus próprios juízos de valor sem influências externas?

Lastimo dizer, mas é exatamente isto!

“Diz ele em sua autobiografia que, quando começou a estudar o material recolhido em sua viagem, procurou seguir uma metodologia clara: "
Inspirei-me para este trabalho nos princípios de Bacon: sem teoria preconcebida, colecionei fatos (muito especialmente aqueles relacionados com as espécies domésticas), distribuí questionários impressos, conversei com hábeis criadores e jardineiros e li enormemente".
Nota-se que possuía, ao menos, grande honestidade científica; não pretendia que suas convicções pessoais influenciassem o resultado, que deveria surgir naturalmente, da simples confrontação dos fatos. Seria isto possível?

Em primeiro lugar, é difícil acreditar que Darwin tenha realmente começado seu trabalho "sem teoria preconcebida". Embora tenha afirmado várias vezes que iniciou seus trabalhos sem acreditar na possibilidade das espécies se transformarem, a leitura de seu diário, escrito durante a viagem do Beagle, revela exatamente o contrário. Quando o Beagle aportou na foz do rio Negro, a algumas centenas de quilômetros ao sul de Buenos Aires, Darwin realizou uma longa expedição a cavalo até a capital da Argentina. Durante a viagem, fez várias observações sobre as mudanças do ambiente e da distribuição dos animais silvestres, em decorrência da ação dos colonizadores. A ema teria sido expulsa das pradarias do Prata pelo cavalo e pelo gado.

[...]

“Darwin escreveu em seu diário: "
Inúmeras outras alterações também se verificaram (...), o gato comum, transformado em animal grande e feroz, habita as colinas rochosas." Como se vê, pensar na transformação das espécies não era, mesmo naquela época, um crime tão inconfessável assim. A crença na herança dos caracteres adquiridos também parece remontar àquela época. No mesmo diário, quando fala dos habitantes da Terra do Fogo, diz: "A Natureza, que tudo prevê pela onipotência do hábito e dos seus efeitos hereditários, amoldou o fogueano ao clima e aos produtos de sua miseranda pátria."Aqui aparece uma faceta indisfarçável do modo de pensar de Darwin, que é sua visão colonialista, sua óptica estritamente britânica. Diante sua vasta obra, tropeça-se a todo momento nessa sua forma particular de observar, principalmente nas passagens em que se refere aos povos "selvagens".

Na Austrália, falou com orgulho do trabalho dos britânicos, fossem homens, fossem cães: "
Não havia muitos anos o país regurgitava de animais selvagens; atualmente, porém, o cassoar foi banido a grande distância e tornou-se raro o canguru: a ambos p galgo inglês provou ser grande agente de destruição. Poderá demorar muito tempo a extinção desses animais, mas seu destino está fixado. (...) Os nativos ingênuos, cegados por insignificantes vantagens, regozijam-se com a aproximação do homem branco, que parece predestinado a herdar (sic) o território de seus filhos."

No fim de seu diário escreveu orgulhoso: "
Pela contemplação do estado atual é impossível não avançar o olhar esperançoso para o futuro progresso de quase todo o hemisfério sul, graças ao espírito filantrópico da nação britânica. (...) Na mesma região do globo ergue-se a Austrália, ou, com efeito, ergueu-se como um grande centro de civilização, que, numa época não mui distante, dominará como imperadora do hemisfério sul. É impossível a um inglês contemplar essas colónias distantes sem sentir satisfação e orgulho. O arvorar da bandeira britânica parece resultar, como conseqüência certa, na disseminação da riqueza, da prosperidade, da civilização."
As convicções íntimas de Darwin não deixam de aparecer em sua obra. Não poderia ser impermeável às influências sociais do meio em que viveu. E, por uma série de razões que veremos adiante, o meio social daquela época também não poderia ser impermeável a Darwin” (Bizzo, 1989, p. 38-40).

Dentre os muitos nomes que se pode citar, dos quais Darwin fez uso abundante para chegar às suas conclusões, destacam-se, entre outros os de Wallace, Lamarcak, Malthus, Galton, Spencer etc.

E, sobre as influências lamarckistas, por exemplo, escreve o mesmo Nélio:

“Apesar de Darwin ter manifestado, como vimos, aversão às ideias de Lamarck, jamais as contestou; pelo menos em seus elementos centrais. Muito pelo contrário: procurou desenvolvê-las e sofisticá-las. Isto não pode ser atribuído a uma simples "fase" da vida do mestre. O
Origem nasceu lamarckista e assim permaneceu. Este é um fato que os seguidores de Darwin omitiram deliberadamente.
Algumas pessoas afirmam que Darwin passou a ser lamarckista só no final de sua vida, tentando explicar as variações dos seres vivos. No entanto, a opção não declarada por Lamarck já aparece no seu rascunho escrito em 1842, assim como no ensaio de 1844. Ele começa esse ensaio dizendo: "Nos animais, o tamanho, vigor do corpo, o porte, idade da maturidade, características da mente e do temperamento são modificados ou adquiridos durante a vida do indivíduo e tornam-se características hereditárias. Há razões para crer que o grande desenvolvimento muscular adquirido através de um programa de exercícios, ou por outro lado seu atrofiamento pelo desuso, sejam também herdados.''

[...]

“Vinte anos após a publicação do
Origem das Espécies, Darwin ainda continuava firmemente convencido dos efeitos hereditários das modificações orgânicas adquiridas durante a vida dos organismos. Por essa época, o poder criativo da seleção natural andava sendo seriamente criticado por cientistas que acreditavam na ocorrência da evolução. A uma dessas críticas Darwin respondeu por carta, publicada na revista científica inglesa Nature, em 1880:
"Sir (Charles) Wyville Thompson pode citar alguém que tenha dito dept nder a evolução das espécies senão da seleçêfo natural? No que me diz respeito, ninguém, creio eu, fez mais observações sobre o uso ou não das partes, do que fiz em meu “Variações dos Animais e das Plantas sob a Influência da Domesticação”, e essas observações foram feitas especificamente com esse fim” (Nélio, 1989, p. 19, 24).

E, continua o biólogo:

"A defesa da ideia de evolução, mesmo na Inglaterra, não foi exclusividade de Darwin ou seus seguidores. Na verdade, a discussão já tinha sido implantada 15 anos antes do lançamento do Origem das Espécies. Em 1844, aparecia um livro chamado Vestígios da História Natural da Criação, de autor anônimo (acredita-se que tenha sido escrito por Robert Chambers). Era um livro cristão porém evolucionista; nele apareciam muitos argumentos básicos que os darwinistas usariam mais tarde. O mais importante deles era o conceito de "recapitulacão". A "recapitulacão" lançava mão da embriologia para comprovar a ocorrência da evolução. Assim, o embrião de um animal passaria, basicamente, pelas mesmas etapas que o animal teria passado evolutivamente. A metamorfose do sapo nada mais seria dó que um testemunho de que os anfíbios são descendentes de peixes" (Bizzo, 1989, p. 26).

Outro mito gira em torno do livro "A Origem das Espécies", que, para alguns desinformados, foi um grande bestseller. Nada tão falso. Sobre isto, diz-nos Bizzo:

"Na verdade, quando o Origem das Espécies foi lançado não houve grande impacto, tendo sido confundido com uma nova versão do Vestígios. O fato de ter-se esgotado no mesmo dia pode ser parcialmente explicado por isso e pelo fato de a tiragem ter sido reduzida (1250 exemplares). Aliás, a informação de que "se esgotou no mesmo dia" parece contar um pouco de exagero. O livro foi lançado em meados de novembro de 1859 e Darwin só soube que estava tendo boa saída dois meses depois, através de uma carta recebida por sua esposa. Escreveu emocionado, a 14 de janeiro de 1860: "Somente hoje eu consigo que ele (meu livro) se difunda largamente; porque, em uma carta que Ema recebeu hoje, a dama que lhe escreveu conta que ouviu que um senhor pediu meu livro na estacão da estrada de ferro, na ponte de Waterloo, e o livreiro respondeu que não o teria enquanto não saísse a 2a edição" (Bizzo, 1989, P. 26).


É isso!

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