
Pois é. Num dia desses, perambulando por uma dessas férteis bibliotecas aqui de São Paulo, deparei-me com um livro a que se pode denominar “quase tipicamente darwinista.” O autor é Robert Foley, e o título da obra “Os Humanos antes da Humanidade: Uma perspectiva Evolucionista”, publicado pela Editora Unesp. Porém, o que me prendeu a atenção mesmo foi um capítulo intitulado: “Por que a África?”, onde o autor discorre acerca dos motivos pelos quais a África teria sido a região onde deu origem ao homem. Em sua análise, Foley afirma que o conhecimento sobre a evolução humana seria determinado não pela realidade evolucionária, mas por acidentes geológicos: "Talvez, então, a história africana que contamos não passe de uma ilusão"(p. 145).
Foi neste contexto que me veio à mente os primeiros conceitos de evolução humana segundo os pioneiros do darwinismo. Lembrei-me então do naturalista alemão Ernst Haeckel e de seu modelo de “árvore da evolução humana”, onde um dos “galhos” era um negro africano.
É claro, de acordo com os darwinistas os fósseis foram determinantes para a eleição deste continente. Contudo, o mesmo Foley pede cautela quanto a isso: "Quando se trata do registro de fósseis, o ceticismo é sempre uma atitude saudável, e muita cautela é decerto necessária quanto à visão de que a área que melhor preserva os fósseis deveria também ser a área que crias as melhores condições para a especiação" (p. 146).
Ademais, é necessário levar em conta, também, o fascínio de muitos dos antigos cientistas por formas intermediárias as quais pudessem provar os diversos estágios porque teria passado a evolução, mais exatamente e evolução humana. Gould, em “O Sorriso do Flamingo”, discorrendo, por exemplo, acerca das idéias de Edward Tyson (“Apresentando um macaco”) tece os seguintes comentários:
“Os cientistas buscavam formas intermediárias com avidez (e inquietude); a descoberta de Tyson produziu uma confirmação bem-vinda de uma teoria estabelecida a cadeia do ser, não um desafio baseado numa idéia radicalmente diferente a evolução, a qual não seria ampla e seriamente discutida por mais um século. A obra de Tyson recebeu poucos comentários porque era confortadora e não polemica.
Alem disso, o uso de Tyson do método comparativo não o caracteriza como um modernista esclarecido, mas surge também do seu compromisso com a cadeia do ser. Quando se deseja colocar um animal entre um macaco e um humano, o que mais se pode fazer além de catalogar a sua semelhança relativa com cada um?" (p. 249).
Tayson foi um dos que abriram caminho para as perigosas idéias do darwinismo social, em que o africano fora posto por razões ideológicas como o intermediário mais próximo entre o homem e o chimpanzé. Quem não conhece, por exemplo, a história de Ota Benga, negro africano que fora trazido de sua pátria e posto em uma jaula para apreciação pública, a fim de demonstrar uma estreita relação entre os africanos e os macacos?
Darwin, embora fosse abolicionista (o que apenas refletia os próprios interesses da Coroa inglesa), sempre via nos negros uma raça incivilizada e bem inferior aos brancos europeus na suposta escala evolutiva. Assim, eleger a África como o berço da humanidade, ou seja, o local onde os supostos ancestrais hominídeos se transformaram em bípedes, embora aparentemente faça transparecer uma conotação poética, pode ser, na verdade, apenas o resultado de uma mentalidade arraigada no preconceito, em que o “civilizado branco europeu” encontrava-se no “topo” da evolução. E a história me oferece bons exemplos de que talvez eu não esteja cometendo tão grande heresia. Senão, vejamos alguns:
CHARLES DARWIN
É isso!
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