O machismo sob a ótica da Seleção Sexual

Dizer que Darwin era machista não é diferente do que afirmar que todos (ou quase todos) os ingleses daquela época também o fosse. Ora, se em pleno século XXI, no esplendor do feminismo, o machismo ainda é uma característica marcante das sociedades, o que se dirá então da realidade vivenciada a 200 anos atrás!

Todavia, o que diferenciava a atitude de Darwin daquela de seus contemporâneos, era o tipo de argumento utilizado para justificar a “superioridade” masculina. Segundo ele, tudo se explicava pela Seleção Sexual. Em seu livro “A Origem do Homem e a Seleção Sexual” , escreveu:

“A distin
ção principal nos poderes mentais dos dois sexos reside no fato de que o homem chega antes que a mulher em toda ação que empreenda, requeira ela um pensamento profundo ou então razão, imaginação, ou simplesmente o uso das mãos e dos sentidos. Se houvesse dois grupos de homens e mulheres que mais sobressaíssem na poesia, na pintura, na escultura, na música (trate-se da composição ou da execução), na história, nas ciências e filosofia, não poderia haver termos de comparação. Baseados na lei do desvio da média, tão bem ilustrada por Galton em seu livro Hereditary Genius, podemos também concluir que, se em muitas disciplinas os homens são decididamente superiores às mulheres, o poder mental médio do homem é superior àquele destas últimas” (Hemus Editora, p. 649).

Sobre o assuinto, escreve Londa Schienbinger em “O Feminismo mudou a Ciência?”:

Muitas inovações feministas ocorreram no interior de teorias de seleção sexual, que é vista, depois da seleção natural, como um motor básico da evolução biológica, e que Sarah Hrdy apelidou de "jóia da coroa" da sociobiologia. Darwin fez remontar as diferenças sexuais secundárias ao drama cósmico da seleção sexual. Certas características – Darwin mencionou plumagem brilhante, chifres pesados, coragem, pugnacidade, perseverança, força e tamanho do corpo, suplementos ornamentais - são selecionadas e perpetuadas porque conferem ao indivíduo de um sexo, "geralmente o macho", uma vantagem em sua luta por acesso à fêmea e lhe permitem deixar um número maior de filhos "para herdar sua superioridade". Darwin e outros há muito assumiram que a seleção sexual não age tão fortemente sobre as fêmeas como sobre os machos; conseqüentemente, eles enfatizaram a competição macho-macho por fêmeas e a escolha de parceiro pela fêmea como os mecanismos de seleção. Os machos são os cortejadores; as fêmeas, "embora comparativamente passivas, geralmente exercem alguma escolha" ao aceitar um dos machos vitoriosos (Darwin eximiu os humanos desta última prática porque, como era claro aos seus contemporâneos vitorianos, os machos humanos propunham casamento). A noção de que os machos são competitivos e as fêmeas são tímidas foi tão persuasiva que por mais de vinte anos um grupo de ornitólogos procurou por "machos alfa" numa população de gaios em cativeiro, chegando ao ponto de estabelecer estações de forragem limitadas para inflamar a competição. Como veio a se revelar, contudo, os pássaros que lutam com garras e bicos em combate mortal nesse grupo são fêmeas.”

Fonte:
Londa Schienbinger: “O Feminismo mudou a Ciência?”. Tradução de Raul Fiker. EDUSC. Bauru, 2001.

É isso!

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