O "in diebus illis" do Neodarwinismo

Na postagem anterior, ao questionar o darwinismo por sua esplendorosa incapacidade em explicar determinadas premissas que tão tenazmente defende, por exemplo, o modo pelo o qual os protozoários (organismos unicelulares) deram origem aos metazoários (organismos multicelulares), um ilustre visitante deste blog respondeu bem ao linguajar “darwinês” que foi “através de sucessivas modificações genéticas”. Mas é exatamente aqui que está o “busílis” ou o “x da questão”.

O dilema acerca de como as mutações teriam atuado na formação das espécies ou de como elas exercem atividade nas origens de novas estruturas é tal monta problemático na história do neodarwinismo que, na década de 40,
o geneticista Richard Goldschmidt foi levado a propor a famigerada teoria do “monstro esperancoso” (ou “monstro promissor”): “Goldschmidt pensava que, às vezes, mudanças grandes e coordenadas poderiam ocorrer simplesmente ao acaso — talvez um réptil pusesse um ovo apenas uma vez, digamos, e nele fosse chocada uma ave” (BEHE, 1997).

E para quem pensa que o questionamento é birra de antidarwinistas, cito aqui o livro “
O Polegar do Panda”, de Stephen Jay Gould, que escreveu: “Muitos evolucionistas encaram a continuidade estrita entre a mi­cro e a macroevolução como um ingrediente essencial do darwinismo e um corolário necessário da seleção natural. No entanto, como rela­to no ensaio 17, Thomas Henry Huxley separou os dois tópicos da seleção natural e do gradualismo e advertiu Darwin de que sua ade­são estrita e injustificável ao gradualismo poderia minar todo o seu sistema. O registro fóssil, com suas transições abruptas, não ofere­ceu nenhum suporte à mudança gradual, nem o princípio da seleção natural a requer — a seleção pode atuar rapidamente. No entanto, a ligação desnecessária forjada por Darwin tornou-se um dogma cen­tral da teoria sintética” (GOULD, 1989).

O mesmo dilema levou Lynn Margulis (professora emérita de biologia da Universidade de Massachusetts) a declarar “que a história acabará por julgar o neodarwinismo uma pequena seita religiosa do século XX, dentro da fé religiosa geral da biologia anglo-saxônica" (In: BEHE, 1997). Em suas muitas palestras, acrescenta Behe, ela pede a biologistas moleculares presentes na platéia que citem um único e inequívoco exemplo de formação de uma nova espécie pelo acúmulo de mutações. Ninguém aceita o desafio. Os proponentes da teoria padrão, afirma ela, "despojam-se em sua interpretação zoológica, capitalista, competitiva, regida pelo custo-benefício da obra de Darwin — tendo-o compreendido de forma errônea... O neodarwinismo que insiste (em pequenas mutações cumulativas) está completamente aterrorizado”.

Portanto, afirmar simplesmente que um suposto evento evolutivo se deu “
por meio de sucessivas modificações genéticas” é tão vazio quanto dizer, por exemplo, que o mundo, por sorte, surgiu ontem, de repente, com todos os aspectos que agora possui. E como diria o mesmo Behe: “Sorte é uma especulação metafísica; explicações científicas necessitam de causas”.

É isso!


---
CITACÕES:

  • Stephan Jay Gould. “O Polegar do Panda”. Editora Martins Fontes. SãoPaulo, 1989.
  • Michael Behe: “A Caixa Preta de Darwin”, Zahar Editor, Rio de Janeiro, 1997.

11 comentários:

  1. Michael J. Behe é(?) o mais proeminente cientista(?) criacionista, escreveu alguns livros sobre a teoria da evolução. Os criacionistas esquecem-se é que não é cientista quem quer ser mas quem segue metodologias cientificas, assim, nota-se que Behe não tem qualquer credibilidade cientifica:
    http://www.asa3.org/ASA/education/origins/idpub-cr.htm

    Associar, no mesmo texto, Behe, Gould, Margulis e Goldschmidt é no mínimo caricato.
    Gould não está do lado de Goldschmidt:
    http://www.stephenjaygould.org/people/richard_goldschmidt.html
    http://en.wikipedia.org/wiki/Hopeful_Monster#Large_scale_mutations
    Gould introduziu uma divergência quanto à velocidade de mutações - equilíbrio pontuado vs gradualismo - não quanto à dimensão da mutação.
    http://pt.wikipedia.org/wiki/Equil%C3%ADbrio_pontuado

    O termo macroevolução, actualmente, aparentemente, apenas é defendido por criacionistas. Ora... estamos a discutir o quê?
    Grandes modificações genéticas, por norma, não são bem sucedidas mas podem acontecer. Caso sejam viáveis, há o problema de encontrar parceiro sexual que seja compatível com essas alterações. Há ainda o problema de, a longo prazo, a norma genética do grupo/matilha se impor sobre essa mutação.
    Os criacionistas introduziram um conceito errado e pretendem, através dele, descredibilizar a teoria da evolução?! Isto parece ter lógica?
    http://en.wikipedia.org/wiki/Macromutations

    Quanto a microevolução parece não haver divergências:
    http://www.absoluterandom.com/wp-content/uploads/2007/11/tallest-smallest-dog-world.jpg
    Parece, no entanto, haver o problema em aceitar que o acumular de pequenas modificações possam ser de tal forma significativo que se considere a existência de uma nova espécie.

    Façamos uma analogia um livro. Considere-se o genoma como um livro. Letras são nucleótidos, palavras genes, capítulos cromossomas. Sucessivas mudanças de letras, ao longo de milhões de anos, alteram o texto inicial de tal forma que nova história se contará.

    Abraços ;)

    ResponderExcluir
  2. Behe, Criacionista? Hum...
    http://humordarwinista.blogspot.com/2010/03/michael-behe-segundo-os-darwinistas.html

    Um abraço!

    ResponderExcluir
  3. "Sucessivas mudanças de letras, ao longo de milhões de anos, alteram o texto inicial de tal forma que nova história se contará."

    Experimente, nmdias. Dê uma história de Portugal (Herculano, por exemplo), e você começar a introduzir mudanças aleatórias. Entre todas as mudanças que você quer, milhares ou milhões ou trilhões,.........

    Por favor, conte-nos a história nova

    ResponderExcluir
  4. @Emílio
    Façamos então nova analogia. Programação de computadores. Sucessivas, ínfimas, alterações no código fonte fará com que funcione de forma diferente.

    Uma comparação não é mais do que isso, uma comparação. Como havia comentado, todas as futuras estruturas corporais estão dependentes da actual estrutura. Por exemplo, o nosso sistema de visão não é alterado para o que uma mosca utiliza mas, por alteração do ADN, serão possíveis novas alterações.

    ResponderExcluir
  5. O termo macroevolução, actualmente, aparentemente, apenas é defendido por criacionistas. Ora... estamos a discutir o quê?
    Grandes modificações genéticas, por norma, não são bem sucedidas mas podem acontecer. Caso sejam viáveis, há o problema de encontrar parceiro sexual que seja compatível com essas alterações. Há ainda o problema de, a longo prazo, a norma genética do grupo/matilha se impor sobre essa mutação.

    ---
    Caro "nmhdias",

    Não se discute O QUE PODE ACONTECER, mas aquilo que se pode deduzir a partir dos "fatos reais". Imaginar um cenário por meio de especulações não fez dele uma realidade. A questão aqui reside na questão "GRADUALISMO": Natura non facit saltum!

    É isso!

    ResponderExcluir
  6. Experimente, nmdias. Dê uma história de Portugal (Herculano, por exemplo), e você começar a introduzir mudanças aleatórias. Entre todas as mudanças que você quer, milhares ou milhões ou trilhões,.........
    ---
    Excelente seu exemplo, caro Emilio.

    Muda-se aleatoriamente a história, muda-se a realidade!

    ResponderExcluir
  7. O darwinismo é o domínio da ambiguidade.

    Se um exemplo nao vale a pena, você diz que esta é apenas uma metáfora e acrescenta outro. No entanto, mudanças aleatórias no código-fonte não causa o programa funcione de maneira diferente, o que eles fazem é ruína.

    A diferença entre metáforas bom e ruim é que a primeira ajuda-nos a compreender o mundo; enquanto com a segunda tal entendimento torna-se impossível. Ambos são metáforas, mas diferentes.

    O darwinismo e suas metaforas, Que desperdício de tempo lamentável!!!!!!

    ResponderExcluir
  8. Pois muito bem.
    Mas puder-se-á considerar que o acumular de mutações (microevolução) pode ser de tal forma significativo que se tenha que atribuir nova categoria para a espécie?

    ResponderExcluir
  9. Você já leu o post?

    Você já leu o comentário acima Iva Mendes?

    Vou copiá-los novamente:

    Primeiro o post:
    "Em suas muitas palestras, acrescenta Behe, ela pede a biologistas moleculares presentes na platéia que citem um único e inequívoco exemplo de formação de uma nova espécie pelo acúmulo de mutações. Ninguém aceita o desafio. "

    Depois o comentário:


    "Não se discute O QUE PODE ACONTECER, mas aquilo que se pode deduzir a partir dos "fatos reais". Imaginar um cenário por meio de especulações não fez dele uma realidade. "


    Em outras palavras:

    Nós só podemos ver o que você quer se você dar-nos exemplos. Nossa fé no darwinismo não permite mais.

    ResponderExcluir
  10. Este comentário foi removido pelo autor.

    ResponderExcluir
  11. Pois muito bem. Fará os exercícios mentais que bem entender

    Mas já agora:
    http://www.don-lindsay-archive.org/creation/quote_margulis.html
    http://www.don-lindsay-archive.org/creation/quote_margulis2.html

    A descontextualização serve propósitos pouco sérios.

    ResponderExcluir

Excetuando ofensas pessoais ou apologias ao racismo, use esse espaço à vontade. Aqui não há censura!!!