“Não é fácil definir a Amazônia, apesar de, às vezes, ser simplesmente referida como “vale amazônico” ou “bacia do rio Amazonas e seus afluentes”. Há, porém, definições político-econômicas como a de Amazônia Legal. Grosso modo, a Amazônia tem sido confundida com a “região norte do Brasil”.
A respeito da questão, em primeiro lugar, a região Norte do Brasil tem origem numa divisão político-administrativa para fins censitários, enquanto o conceito de Amazônia está fortemente ligado à imensa floresta latifoliada equatorial que vai além da região Norte, invadindo parte de Mato Grosso, Goiás e Maranhão. O Brasil possui 3,5 milhões de km2 da Amazônia Continental (Pan-Amazônica) que se estende desde Bolívia, Peru, Colômbia, Venezuela, Guiana, Suriname e Guiana Francesa. A Amazônia Continental ocupa o quinto lugar de superfície da América Latina, com 6,5 milhões de km2, que representa um quinto de disponibilidade de água doce do planeta. Em contraste, esta imensidão de terras, águas e floresta abrigam dois milésimos da população mundial.
O Brasil, por sua vez, para direcionar e coordenar os Planos Governamentais da região criou através da Lei nº 1806, de 1953, a Superintendência do Plano de Valorização Econômica da Amazônia – SPVEA. No entanto, coube ao Governo Castelo Branco, em 1966, a tarefa de transformá-la em Superintendência do Desenvolvimento da Amazônia, SUDAM, criando, para efeito de ação governamental, a chamada Amazônia Legal. O Artigo 2o dessa Lei também definiu a composição territorial da Amazônia Legal, que somava 3,5 milhões de km2, estendendo-se do paralelo 16ºS do estado de Mato Grosso e do paralelo 13º do estado de Goiás, além da área a oeste do meridiano 44ºW do estado do Maranhão. Isto significou a incorporação de mais de 1,4 milhões de km2 , elevando a área total para cerca de 5 milhões de km2. Cabe esclarecer que, com a divisão do estado de Mato Grosso (Lei de 1977, implantada a partir de 1979), a parte mato-grossense na Amazônia Legal foi alterada, passando a englobar toda superfície do novo Estado.
O Território Federal de Guaporé foi criado pelo Decreto-lei nº 5892, de 13 de setembro de 1943, sendo que, em 1956, passou a ser denominado Rondônia. Os Territórios Federais do Acre e de Rondônia foram transformados em Estados em 12 de junho de 1962 e 22 de dezembro de 1981, respectivamente. Os Territórios de Roraima e do Amapá só passaram a ser Estados com a Constituição de 1988, que também criou o estado do Tocantins, fazendo parte também da Amazônia Legal. Com esta composição territorial surgiu outra denominação para região, que é a de Amazônia Constitucional.
Hoje, a Amazônia Legal é composta pela superfície total dos estados do Acre, Rondônia, Amazonas, Pará, Mato Grosso, Roraima, Amapá e Tocantins, mais a porção ao norte do paralelo 13º do estado de Goiás e a porção oeste do meridiano 44ºW do estado do Maranhão. Como se pode verificar, isso perfaz cerca de 5 milhões de km2 (4.978.247 km2), uma superfície que abrange 60% da área total do Brasil, com uma população estimada em 17.676.781 habitantes, de acordo como o censo populacional do IBGE de 2000 (Figura 1).
Mattos (1980), comentando a interpretação da ecologista Betty Meggers, da Universidade da Califórnia, de Los Angeles, afirma que “a julgar pelo critério da novidade, a Amazônia é um lugar ideal para os pesquisadores da zona temperada, a fim de estudarem a adaptação cultural. O labirinto fluvial e a mata virgem inspiram um mistério que nada perdeu de seu encanto através dos séculos, desde a sua descoberta pelos exploradores europeus”. As Amazônias também diferem muito com relação à questão cultural. Quanto ao uso da língua: fala-se português, espanhol, holandês, inglês, francês, além de dezenas de línguas indígenas. Étnica e culturalmente, portanto, as antigas colônias da Inglaterra, da Holanda e da França, são as mais distantes do restante da Pan-Amazônia, embora nela figurem com 100% de seu território. No tocante à economia vigente na Amazônia Continental, existe um ponto em comum a existência predominante do extrativismo vegetal ou mineral, que em cada região toma o seu aspecto próprio, embora existam zonas agrícolas (como em Bragantina no Pará, na costa da Guiana e no Suriname) e pastoril (como a ilha de Marajó no Pará, no norte de Mato Grosso e nos campos de Roraima).
Uma outra perspectiva de análise está na diversidade: longe de ser homogênea, a região é extremamente complexa e diversificada. Etnicamente, a variedade é grande. Nos países andinos, mais especificamente Bolívia, Peru e Equador, a presença do índio é predominante, e no Brasil ela vem-se diluindo, através das sucessivas gerações de mestiços. Nas Guianas os negros apresentam uma grande contribuição e no Suriname os descendentes dos indianos representam mais de 50% da população."
---
Fonte:
Maria das Graças Santos Dias Magalhães: "Amazônia Brasileira: processo histórico do extrativismo vegetal na mesorregião sul de Roraima": Tese de Doutorado submetida como requisito parcial para a obtenção do grau de DOUTOR em História das Sociedades Ibero-Americanas. Orientadora: Profa. Dra. Núncia Santoro de Constantino Porto Alegre, 2006.
Nota:
A imagem inserida no texto não se inclui na referida tese.
As referências bibliográficas de que faz menção o autor estão devidamente catalogadas na citada obra.
Nenhum comentário:
Postar um comentário
Excetuando ofensas pessoais ou apologias ao racismo, use esse espaço à vontade. Aqui não há censura!!!