A criação e o impacto da internet

“O princípio básico da internet é disponibilizar e organizar documentos, que constituem um universo amplo e caótico, para o maior número possível de usuários. Desta forma, hoje, textos, sons e imagens estão conectados de modo a permitir o acesso contínuo a novas informações por meio de links, isto é, “caminhos” que fazem a conexão entre as várias páginas.

Os primeiros estudos sobre a criação de uma enorme rede de conexões entre computadores começaram em 1962. Mas a internet só foi criada em 1969, nos Estados Unidos, quando a ARPA – Advanced Research Projects Agency (Agência de Pesquisas e Projetos Avançados), ligada ao Departamento de Defesa americano (Pentágono), conectou computadores de quatro universidades americanas. Esse sistema era chamado de Arpanet.

A década de 60 foi o auge da Guerra Fria entre os Estados Unidos e a União Soviética, e os cientistas queriam construir uma rede de conexão que continuasse funcionando em caso de bombardeio e outros tipos de ataque. Criaram então uma rede em que todos os pontos se equivaliam, sem haver um comando central. Assim, se B deixa de funcionar, A e C continuariam se comunicando.

Com o desenvolvimento da Arpanet foi possível estabelecer conexões internacionais entre os Estados Unidos, universidades da Inglaterra e da Noruega, em 1973. Durante quase duas décadas (70 e 80) a internet ficou restrita ao ambiente acadêmico e científico. Até então ainda não existiam as siglas “http” e “www”. Em 1987, pela primeira vez foi liberado seu uso comercial nos EUA. Mas só em 1992 é que a rede se popularizou. Começaram a aparecer no país várias empresas provedoras de acesso à rede. Centenas de milhares de pessoas começaram a publicar suas informações para um número cada vez maior de pessoas.

Em 1989, no Laboratório CERN (sigla para Laboratório Europeu de Física de Partículas), na Suíça, quando o cientista inglês Tim Berners-Lee propôs a criação de um novo sistema de interação entre computadores, ele sugeriu o uso do hipertexto, um formato de organização de informações em que texto e imagem ficavam interligados e onde era possível consultar dados citados em outros documentos relacionados ao mesmo assunto. Isto é, a rede surgia com o propósito de ser uma “linguagem” que serviria para interligar os computadores daquele laboratório a outras instituições de pesquisa, exibindo documentos científicos de forma simples e fáceis de serem acessados.

Ao padronizar esse tipo de interação entre vários computadores, Berners-Lee criou o famoso “http”, a abreviação de hypertext transfer protocol, ou seja, protocolo de transferência de hipertexto. Ele indica o padrão adotado para organizar as informações (em hipertexto) que circulam entre os computadores.

No início da década de 90, o cientista inglês continuou desenvolvendo seu sistema, mas com o objetivo de divulgá-lo no mundo todo, objetivo que acabou sendo alcançado. Desse modo, em 1991, nascia a WWW (World Wide Web), algo como “rede mundial”, por onde circulariam essas informações em formato de hipertexto. A internet estava pronta para se popularizar, tarefa facilitada pelo surgimento de programas especiais de navegação pela rede, como o Netscape (1994) e o Internet Explorer (1995). O que determinou o crescimento da WWW foi a criação de um programa chamado Mosaic, que permitia o acesso à Web num ambiente gráfico, tipo Windows, ou seja, de maneira simples e objetiva.

No Brasil, a internet surgiu em 1989 por iniciativa da Fapesp – Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado de São Paulo, a UFRJ – Universidade Federal do Rio de Janeiro e o LNCC – Laboratório Nacional de Computação Científica/RJ. No mesmo ano, com o objetivo de implantar uma infra-estrutura de serviços de internet, com abrangência nacional, o Ministério de Ciência e Tecnologia criou a RNP – Rede Nacional de Pesquisas, com o apoio de outros órgãos; entre eles, a Fapesp, interligando, através de seu backbone30, instituições acadêmicas de, inicialmente, onze estados brasileiros.

Em dezembro de 1994, um projeto piloto da Embratel colocava à disposição de usuários privados o acesso à internet por meio de linhas discadas. Mas, só dois anos mais tarde, a rede começou a ser, efetivamente, utilizada como ferramenta geradora de negócios.

No ano 2000, quando a internet já se consolidava no País, iniciou-se a guerra pelo fornecimento de acesso gratuito. Empresas de vários ramos de atividades começaram a distribuir gratuitamente o conteúdo da internet para seus clientes. Uma tendência mundial. Hoje, pode-se dizer que a conexão à rede ganhou formas além da linha telefônica. Como por exemplo, a conexão via rádio e via cabo, que já são realidade.

Mesmo nosso país tendo chegado um pouco tarde à era do computador em casa, hoje os brasileiros são, de longe, o povo que, no geral, mais usa a internet; segundo os dados mais recentes (IBOPE, 2007), são 23h12min por mês. Segundo os especialistas:

Algumas coisas diferenciam o consumo do brasileiro. Por exemplo, tudo é participativo. Tudo o que nós chamamos de web 2.0, internet 2.0. Então, por exemplo, os diários na internet, os fotologs, os brasileiros usam bastante esse tipo de conteúdo. (MAGALHÃES, site).

Mas isso não significa que a internet tenha se tornado livre de ingerências de governo e grandes corporações, uma vez que nem tudo na internet é comunitário, amplia a democracia ou inova. Pois, como já foi dito, nada do que acontece no ambiente virtual pode ser considerado livre das influências do que ocorre no mundo dito “real”.

A sociedade discute sobre a internet no âmbito dos “poderes centralizados” x “acesso ilimitado à informação”, “produção de informação em rede”. Nós sabemos que na indústria do software o embate é “Windows” (sistema operacional pago) x “Linux” (sistema operacional gratuito). E que é grande a rivalidade nas telecomunicações: “empresas de telefonia” x “Skype” 31. No entretenimento, há um antagonismo entre os que defendem os “grandes conglomerados da indústria musical e cinematográfica” x os “usuários de softwares como E-Mule32 e BitTorrent”33. Destes softwares também pode se dizer que formam “comunidades”, pois permitem que os usuários compartilhem arquivos de forma descentralizada. Para Andrade (2007, site), a web no passado significava a acumulação dos acervos de cultura humana. Mas atualmente significa interação, trabalho colaborativo. Por isso, não se discute que o advento e o desenvolvimento da internet nos permitiram, entre outras coisas:

• Buscar documentos e informações a qualquer hora;
• Facilitar trocas e transferências de mensagens e arquivos entre quaisquer pontos do planeta;
• Estimular a formação de grupos de discussão e a realização de conferências eletrônicas.

O caminho que levou a internet do “secreto” ao “coletivo” é breve, mas tortuoso. Pois um invento que inicialmente servia para permitir uma interlocução eficiente entre os militares americanos na eventualidade de uma guerra nuclear mudou, consideravelmente, o modo como encaramos e o que consideramos o significado de termos como “privacidade”, “propriedade intelectual”, “direitos autorais”, “segredo de Estado”, “acessibilidade de informação”, “público x privado”, “notícia em primeira mão”.

Neste sentido, podemos perceber que a riqueza da discussão sobre a internet está nas contradições geradas pelos próprios elementos que a norteiam. E o ambiente privilegiado de debates sobre essas incongruências deve ser a escola. Afinal, a comunidade escolar é diretamente atingida quando se discute assuntos como pesquisa escolar pela internet e utilização de softwares pelos quais ela não tenha que pagar.

Se antes o objetivo era militar, hoje, somado a este, também há o dilema das grandes empresas com acesso à Rede e o conhecimento que viaja através dela, seja neste último caso, em termos quantitativos ou qualitativos, e, sobretudo, como e por quais caminhos chegar a esse conhecimento. Um buscador como o Google prova hoje que a técnica de achar informações pode ser tão ou até mesmo mais lucrativa do que disponibilizar os meios de acesso a ela (softwares e hardwares) ou o próprio conteúdo em si. Em sentido transversal e amalgamado a estes dois, há as iniciativas colaborativas de usuários anônimos construindo e melhorando softwares livres, escrevendo e traduzindo verbetes enciclopédicos, participando de grupos de discussões nos fóruns e comunidades on-line, como o Orkut, com o propósito de servir ao bem comum. O que não deixa de ser uma atitude de “guerrilha tecnológica” ante às “sombras” que norteiam os interesses estratégicos, militares, políticos e pecuniários que sempre circundaram a internet.

Tecnologia, assim como a História, é processo. Não uma sucessão de datas. Por isso, hoje a internet caminha para três vertentes bem próximas uma das outras e todas voltadas para o aperfeiçoamento dos processos colaborativos:

• Intercruzamento de dados;
• Convergência de interfaces de ferramentas web;
• Interligamento de pessoas em processo interativo.

Sendo assim, podemos dizer que a internet é praticamente sinônimo de comunidade on-line, a qual começa quando dois computadores foram conectados
pela primeira vez. Além disso, a internet se desenvolveu dentro do ambiente acadêmico como uma ferramenta de colaboração científica. Não é de se estranhar, portanto, os inúmeros efeitos sociais, políticos e econômicos gerados pela internet e por outras novas tecnologias.”


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Fonte:
ADRIANO MEDEIROS COSTA: "Fugindo da banalidade: o uso do Orkut como extensão da sala de aula". (Dissertação apresentada à Universidade Federal do Rio Grande do Norte – UFRN, como exigência parcial para a obtenção do título de Mestre stricto sensu em Educação. Orientador: Prof. Dr. Arnon Alberto Mascarenhas de Andrade). NATAL, 2008.

Nota
:
A imagem inserida no texto não se inclui na referida tese.
As referências bibliográficas de que faz menção o autor estão devidamente catalogadas.

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