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“A vacina antivariólica foi a primeira iniciativa bem sucedida no controle das doenças infecciosas, algumas das quais causaram aos homens e ainda causam devastações e sofrimentos. Até sua erradicação na década de 70 do século XX, a varíola foi uma dessas doenças e destacou-se no quadro epidemiológico, tanto pela quantidade de vítimas como pelas marcas físicas e sociais .
O caminho percorrido pelas tentativas de controle da varíola, até o século XIX, provavelmente teve início na China, onde a varíola era conhecida desde tempos remotos e o processo desenvolvido consistia em fazer um preparado com cascas secas das feridas da varíola, misturá-las a uma planta fazendo um pó que era soprado na narina de crianças sadias. O princípio, portanto, era provocar um ataque brando da doenças para conseguir a imunização.
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Na Europa, a partir do século XVI, há registros que informam a utilização e conhecimento de técnicas empíricas de inoculação da própria doença, pela variolização, até a descoberta das duas primeiras vacinas, a jenneriana e a animal99. Edward Jenner, médico inglês, observou que algumas pessoas adquiriam proteção contra a varíola ao entrar em contato com animais bovinos que possuíam uma doença similar, o cow-pox, o que o levou a desenvolver uma série de testes experimentais em pessoas sadias.
Em 1798, Jenner, a partir da pústula desenvolvida na vaca, obteve um produto que passou a chamar de “vacina”, que, ao ser inoculado no homem, fazia surgir no local erupções semelhantes à varíola. Dessas erupções era retirada a linfa ou pus variólico, utilizado para novas inoculações. Formava -se então uma cadeia de imunização entre os homens na qual o cow-pox da vaca funcionava como um primeiro agente imunizador. Essa era a vacina jenneriana ou humanizada.
A vacina jenneriana foi recebida inicialmente no meio médico com descrédito, e entre as pessoas medos fundados e infundados eram divulgados e dificultaram desde o início a vacinação. Entre os medos presentes no imaginário da época, a ilustração abaixo demonstra o de que a aplicação da vacina poderia bestializar as pessoas.
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Todavia a vacina acabou difundindo-se por todo o mundo, chegando ao Brasil nos primeiros anos do século XIX, provavelmente em 1804 quando foram enviados a Lisboa alguns escravos e um especialista a fim de transmiti-la de braço a braço.
A constatação, alguns anos após sua invenção, de que com o tempo a vacina perdia seu efeito, levou a novas discussões e experiências que resultaram em uma nova etapa da imunização antivariólica, com a utilização da vacina retirada diretamente da pústula da vaca e inoculada no homem. Era a vacina animal que chegou ao Brasil em 1887.
A distribuição da vacina foi feita a partir de 1811 pela Junta Vacínica da Corte, cuja criação marcou a implantação no Brasil da prática médica como ação estatal101. Já na estrutura monárquica em
Na Província de Mato Grosso, no ano da epidemia, a correspondência proveniente do Instituto Vacínico era volumosa, demonstrando que houve uma constante comunicação tanto para encaminhar as doses de vacina, como para esclarecer dúvidas e também fazer as mais variadas recomendações.
A localização de um texto que instruía como deveriam ser usadas as lâminas dão uma idéia completa de como funcionava a vacina jenneriana:
Para se inocular a linfa vacínica, já dessecada, das laminas de vidro, basta abri-las com uma faca, lançar sobre cada uma tênue gota d’água pura, a fim de dissolver com a mesma agulha de vacinar ou com qualquer lanceta (que não tenha servido para qualquer operação cirúrgica, condição esta a que se deve muito atender ) a vacina seca, e proceder imediatamente a inoculação, levando para isso na ponta do instrumento suficiente quantidade do liquido obtido pela dissolução da vacina seca, e fazendo o penetrar sob a pele sem que excite efusão de sangue.
Para usar os tubos, quebram-se uma depois da outra, as extremidades dos mesmos tubos, com a unha do dedo polegar de encontro ao dedo indicador – coloca-se uma das extremidades entre os lábios, segurando o tubo com os dedos, e assopra-se o fluido sobre uma lamina de vidro, que se mantém com a outra mão em posição própria a recebe-lo e procede-se imediatamente a inoculação, tirando – o da lamina com a ponta do instrumento que tem de servir para a operação. Como a linfa vacinica exposta ao ar desseca-se mui prontamente, se isto acontecer por morosidade do vacinador, pode-se proceder ainda neste caso do mesmo modo indicado para o uso das laminas.
Em outro texto, a preocupação era orientar como empregar a vacina:
Quanto porem aos meios de dar vigor a vacina, quando já enfraquecida pela distancia ou pelo tempo a ciência não conhece algum modo, entretanto observar que o meio mais seguro de conservar a integridade da vacina é propaga-la constante e progressivamente de braço a braço, logo que ela chega ao seu máximo desenvolvimento, que costuma ser ao 8º dia de inoculação, preferindo-se sempre a vacina dos indivíduos de mais tenra idade, e melhor saúde."
Enquanto outro explicava como ocorria o transporte:
(...) tenho a honra de remeter a V. Exª duas caixinhas contendo uma 24 pares de laminas, e outra 12 tubos capilares mergulhados em água de cal dentro de dois tubos de vidro. A vacina vai acondicionada do modo mais conveniente para a preservar da ação da luz e do calórico, modo pelo menos, o mais empregado na Europa para a conservação deste preservativo..." [...]
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Fonte:
Marlene Menezes Vilela: "QUANDO O DEDO DE DEUS APONTOU A NOSSA PROVÍNCIA AO ANJO DA MORTE: A OCASIÃO DA VARÍOLA EM CUIABÁ – 1867". (Dissertação apresentada ao Programa de Pós-Graduação em História da UFMT como exigência parcial para obtenção do título de Mestre em História, sob orientação da Profª Drª Maria Adenir Peraro Cuiabá-MT, 2001.
Nota:
O título inserido no texto não se inclui na referida tese.
As referências bibliográficas de que faz menção o autor estão devidamente catalogadas na citada obra.
Para uma compreensão mais ampla do tema, recomendamos a leitura da tese em sua totalidade.
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