As políticas brasileiras de colonização



“A idéia de colonizar o Brasil com povos europeus nasceu com os portugueses, através do Conselho Ultramarino111, antes do 1750, quando apercebeu-se que a população de Portugal era demasiado pouca para poder enfrentar as exigências de povoar uma terra tão grande como o Brasil.

Quando, em 1808, a Corte Portuguesa chegou no Brasil foi criada uma legislação específica nesse sentido. Esta consentiu aos colonos que entravam verbas do governo para trabalhar na lavoura. Muitas destas tentativas fracassaram porque não tinham uma perspicácia adminístrativa nem uma boa organização. Mas estas tentativas foram importantes porque foram os primeiros passos para a colonização.

Na metade do século XIX, a economia brasileira teve uma mudança significativa: o café foi substituindo definitivamente a cana-de-açúcar como produção principal. São Paulo estava se tornando centro desta nova economia. O trabalho nas plantações aumentava e a mão de obra diminuía. O trabalho dos escravos não era suficiente. Era necessário trabalho europeu. Queria-se imigrantes para trabalhar com salários para a grande monocultura paulista. E não colonos como quando procurava-se povoar áreas não-habitadas.

Foi o senador do Império e fazendeiro, Nicolau Vergueiro, nos anos quarenta do século XIX, que desenvolveu um sistema de colonização com um contrato de parceria agrícola assinado pelos países de origem, de fato deixando o imigrante à mercê dos fazendeiros. Estes trabalhavam ao lado dos escravos, que ainda existiam, e acabavam por ter o mesmo tratamento. Foi assim que os países europeus de origem receberam as queixas dos imigrantes, proibindo a emigração para o Brasil. Como a Inglaterra (1875), a França (1876), a Itália probiu a emigração no Espírito Santo (1895) e em São Paulo (1902).

Contemporaneamente o poder público tomou novas atitudes para reativar os canais da imigração. Foram feitas novas leis para estimular. Mas a Europa ainda tinha receio de enviar emigrantes ao Brasil.

Entre 1819 e o 1850 entraram 25.590 imigrantes115. Os europeus tinham mais atração pela Argentina e os Estados Unidos. Estes últimos de fato facilitavam o acesso à propriedade e proibiam relações de escravidão e servidão dos imigrantes a partir do 1864. Logo recebiam, entre 1840 e 1880, cerca de dez milhiões de imigrantes. A partir do 1867 a política brasileira foi de abertura para prometer vantagem de tipo econômico e de assistência. Mas não conseguiram convencer os alemães como os ingleses a desbloquear as migrações para o Brasil.

Em 1885, quando estava claro que a escravidão estava acabando, o governo retomou uma política da colonização. Reorganizando os lotes de terra e retomando a propaganda para a Europa. O ápice da crise econômica na Itália coincidiu com esta nova procura brasileira. Até 1884 os italianos que entram no Brasil nunca superaram os 15 mil em um ano.

Em particular existiam duas sociedades de subvenção: a Sociedade Central de Imigração, surgida em 1883 no Rio de Janeiro; e em 1886, uma associação para incentivar a vinda de famílias européias para o Estado de São Paulo – Sociedade Promotora da Imigração. A primeira estava em oposição a um fluxo de massa de europeus, querendo aquela imigração mais seletiva para garantir a formação de uma pequena e média propriedade agrícola que conseguisse erradicar o sistema latifundiário, considerado como um obstáculo para o desenvolvimento do país. A segunda expressão, mais os interesses dos fazendeiros paulistas do café, que queriam o contrário, garantir um fluxo contínuo e consistente de braços para trabalhar nos cafezais. Foi esta segunda que prevaleceu, depois da Proclamação da República, em 1889. A Sociedade Central de Imigração foi fechada em 1891.

Depois do 1894, com a transferência dos serviços de imigração do governo federal aos Estados, acaba definitivamente a colonização agrícola no Sul do Brasil. Só as regiões ricas tinham condições para sustentar a mão-de-obra estrangeira, portanto, como já falei, só o Estado de São Paulo. O governo central retomará conta dos serviços, em 1907, mas nesta época a imigração italiana já começava a diminuir, apesar de, como já vimos, até o fim da Segunda Guerra Mundial, continuarem a existir fluxos peninsulares.”


---
Fonte:
Barbara Bechelloni: "A identidade cultural como fator de integração Comunicação, história, cultura e memória na hibridação dos itálicos no Brasil". (Dissertação apresentada à Escola de Comunicação e Artes da Universidade de São Paulo dentro do Programa de Pós-Graduação em Ciências da Comunicação Orientadora: Profª Drª Maria Immacolata Vassallo de Lopes). São Paulo, 2006.

Nota
:
A imagem inserida no texto não se inclui na referida tese.
As referências bibliográficas de que faz menção o autor estão devidamente catalogadas na citada obra.
O texto postado é apenas um dos muitos tópicos abordados no referido trabalho.
Para uma compreensão mais ampla do tema, recomendamos a leitura da tese em sua totalidade.

Visite o site: Domínio Público


Nenhum comentário:

Postar um comentário

Excetuando ofensas pessoais ou apologias ao racismo, use esse espaço à vontade. Aqui não há censura!!!