A imigração no Estado de São Paulo em 1917


O texto postado, a seguir, está incluso no grande "Almanach da Secretaria de Estado dos Negocios da Agricultura, Commercio e Obras Publicas do Estado de São Paulo", publicado no ano de 1917, e disponibilizado digitalmente no site belíssimo da Biblioteca Brasiliana da USP.

O texto aborda a questão da imigração em São Paulo naquele dado momento histórico, em 1917.

A imigração no Brasil, como é sabido, causou um enorme impacto no comércio do país, além de influenciar fortemente em aspectos socais da nação, como na questão das greves, por exemplo. O texto também revela o preconceito arraigado na ideologia eugenista, tão fortemente cultivada na época pelos grandes intelectuais do país. Isso fica explícito, por exemplo, aqui: "A causa principal do maravilhoso progresso econômico do Estado de S. Paulo nos últimos 25 anos está indubitavelmente no rapidíssimo aumento da população. Intensificada, a imigração européia, com especialidade na década de 1890 a 1900, incorporou á massa dos antigos habitantes do território paulista ondas sucessivas de indivíduos laboriosos e inteligentes, habituados ao trabalho intenso em países de civilização mais adiantada" (grifo meu).

Sabe-se que a abolição da escravidão no Brasil foi um dos fatores pelos os quais se estimulou o incentivo à imigração. Era preciso substituir de alguma maneira a mão de obra escrava, e o imigrante europeu era a "melhor alternativa", dentre outros motivos, por fazer parte de uma "civilização avançada". Vejamos...

Casa de imigrante no núcleo "Campos Sales", em 1908

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A POPULAÇÃO — Causas do seu rápido aumento — O elemento estrangeiro — A imigração e sua influencia — Algarismos demográficos.

A causa principal do maravilhoso progresso econômico do Estado de S. Paulo nos últimos 25 anos está indubitavelmente no rapidíssimo aumento da população. Intensificada, a imigração européia, com especialidade na década de 1890 a 1900, incorporou á massa dos antigos habitantes do território paulista ondas sucessivas de indivíduos laboriosos e inteligentes, habituados ao trabalho intenso em países de civilização mais adiantada. A densidade do elemento humano se avolumou sobre o solo fértil, favorecendo uma exploração mais proveitosa. Donde um vigoroso expandir da riqueza em todas as suas fôrmas — a agricultura, a industria, o comércio, etc. De acordo com verificação recente, o território do Estado mede 252.880 quilômetros quadrados. Nessa superfície a população desenvolveu-se assim, desde 1890:

Os dois últimos recenseamentos efetuados — o de 1890 e o de 1900 — proporcionaram alguns esclarecimentos sobre a composição da população paulista. Eis os dados que oferecem, quanto à distribuição dos sexos:

Ao contrario do que se constata em países europeus, entre nós prevalece o sexo masculino. E' que a imigração o reforça principalmente com homens solteiros.

Ainda pondo em destaque a crescente influencia do elemento imigrado, os citados recenseamentos dividem desta maneira a população, do ponto de vista da nacionalidade:

No decênio indicado o aumento da população nacional foi apenas de 33 por cento do total. Ao passo que o dos estrangeiros alcança á espantosa porcentagem de 605%- De modo que, em 1900, os estrangeiros figuravam com 231 por mil habitantes e os nacionais se reduziam a 768 por mil, isto é, quase 200 menos do que se verificava em 1890.

Atualmente não se conhece ao certo o numero de estrangeiros residentes no Estado, visto que nenhum recenseamento se realizou depois de 1900. Mas não errará quem os calcular em 600.000, numa população de 3.341.565 habitantes.

O quadro abaixo mostra o concurso do elemento estrangeiro, por nacionalidades, para chegar-se ao resultado exposto acima. Encontra-se nele mencionado o numero de imigrantes entrados no Estado, a datar de 1890, por quinquênios.

Como está claro, os italianos concorreram com quase metade do milhão e meio de imigrantes entrados no Estado nestes 25 anos. Seguem-se os espanhóis e portugueses, formando, reunidos, um terço do total.

Já se deixa ver que nem todos esses imigrantes permaneceram no Estado. Até 1900, os entrados superaram de muito os saídos. Mas, desse ano em diante, a crise econômica, que flagelou o país, determinou o decrescimento nas entradas e, não raro, déficits no movimento migratório. Só em 1911 as chegadas de imigrantes adquirem maior vulto, garantindo bons saldos, que a guerra européia suprimiu em 1915.

Influindo na composição do povo paulista com indivíduos geralmente moços e robustos, a imigração trouxe como conseqüência o melhoramento das condições demográficas, pelo crescimento da natalidade. Por outro lado, as obras de saneamento desde cedo empreendidas e as precauções sanitárias contra as epidemias contiveram a mortalidade dentro de limites mínimos.
Para demonstrar essa verdade, não é possível conseguir-se uma estatística completa de todo o Estado, antes de 1910. Mas, deste ano em diante, podemos citar os dados seguintes, com os totais de nascimentos, óbitos e casamentos e as taxas por 1.000 habitantes:

Nesses algarismos não se incluem os natimortos, cujo numero foi de 6.577 em 1914 e de 4.992 em 1915.

Em todos os anos os nascimentos superam aos óbitos, deixando grande saldo. Em 1914, por exemplo, foi ele de 67.055 almas, contra 51.343 em 1910. Em 1915, é certo, baixou a 53.949 almas, mas isto foi devido a circunstâncias passageiras, causadas pelas perturbações demográficas e econômicas que a guerra européia acarretou.

Aos referidos saldos observados no movimento do registro civil deve-se o aumento da população nos últimos tempos. Agora contribuem eles, mais do que a imigração, para o lisonjeiro resultado que a demografia põe em evidencia.

Governar é povoar — dizia Alberdi, mirando os desertos de sua pátria, donde brotariam depois as cearas que hoje enriquecem a Argentina. Fieis ao mesmo lema, os governos republicanos do Estado de São Paulo souberam governar, povoando.


A situação imigratória no Estado de São Paulo, em 1908
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Fonte:
Almanach da Secretaria de Estado dos Negocios da Agricultura, Commercio e Obras Publicas do Estado de São Paulo : para o anno de 1917. São Paulo (Estado). Secretaria dos Negócios da Agricultura, Comércio e Obras Públicas, disponível digitalmente no site da biblioteca: Brasiliana - USP
Nota:
Para melhor compreensão do texto, a ortografia utilizada na época foi atualizada para os padrões atuais.

Fonte das imagens
:
Revista "O Immigrante", edição de 1908, disponível digitalmente no site do Arquivo Público do Estado de São Paulo

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