A língua de Voltaire


A língua de Voltaire

A marca francesa como um dos constitutivos que contribuíram para a formação da cultura brasileira ao longo do século XIX já se tornou afirmação banal. A compreensão de muito do que pensávamos – e pensamos, deve-se à cultura francesa, um misto de tradição e modernidade, para a qual nos voltamos em nossa tentativa de acesso ao grupo das nações ditas civilizadas. As contribuições foram muitas e em todos os campos: filosofia, medicina, geografia, literatura, tecnologia e, não menos, a moda, que fez da Rua do Ouvidor, no centro do Rio, o ponto de convergência da elite brasileira, tal a quantidade de lojas e produtos franceses ali disponíveis. Ali se falava francês, assim como na corte afrancesada acantonada nos trópicos, donde ter-se cunhado expressões tais como Paris Tropical, para se referir à capital federal e, Belle Époque Tropical, para tratar da virada do século XIX para o XX, em que a sociedade e a cultura na cidade do Rio de Janeiro, focavam - e copiavam - o que se produzia na capital francesa.

Em um texto de grande importância para os estudos brasileiros – O francês instrumento de desenvolvimento, Antônio Cândido traça o percurso do francês como língua que adquire caráter universal em fins do século XVIII e ao longo do século XIX, relativiza as línguas clássicas – o latim e o grego, na Europa, até chegar às nações sul-americanas numa época de transformação radical das visões de mundo, em que a era industrial toma forma e que, portanto, as línguas clássicas já não respondiam pela compreensão das novas fontes de cultura e desenvolvimento que se avizinhavam. O autor é enfático ao afirmar que foi “graças ao francês que pudemos ver o mundo, que adquirimos o senso da História, que lemos os clássicos de todos os países, inclusive gregos e romanos”.

Em se tratando de literatura lemos Goethe, Byron, Schiller, Hegel, Poe, etc., em versões francesas, incluindo-se aí, as eventuais lacunas francesas, pois, como afirma Cândido, “as traduções e interpretações eram algumas vezes deformantes e até empobrecedoras”, além do que, descobrimos o romance russo a partir de 1880, ainda que em versões francesas sofríveis, fato que os próprios franceses se encarregaram de rever por volta de 1930.

A França como pólo irradiador de cultura e modelo ao qual nos voltamos em detrimento da cultura portuguesa – fato aqui já comentado, fez com que sua língua e cultura adquirissem certa “aura” de prestígio principalmente entre a elite brasileira. Evidente que diante de tal interesse os filhos dessa elite fossem desde muito cedo expostos ao aprendizado daquela que viria a ser conhecida como a língua de Voltaire. “A publicação de um livro didático, os Princípios Geraes ou verdadeiro methodo para se aprender a ler e pronunciar a Lingua Francesa, devia fazer falta na praça, pois é o primeiro do gênero que se publicou no Brasil.”, afirma Borba de Moraes; Passos, em seu trabalho, A Miragem Gálica, destaca o fato de que a língua de Voltaire era pré-requisito obrigatório para os estudantes do Largo São Francisco ingressarem na Academia, isso em 1834. Não se pode esquecer, contudo, que também se exigia o inglês.

A universalidade da língua francesa e sua flexibilidade, já que também respondia aos anseios das classes inferiores, após o evento da Revolução, tornou-a elemento constitutivo de nosso desenvolvimento; no início do século XIX era ensino obrigatório na escola secundária brasileira. No Colégio D. Pedro II, fundado em 1837, “cujos currículos, enciclopédicos, apresentavam feição predominantemente literária”, o francês, desde os primeiros programas de ensino, consta como uma das principais disciplinas. Needell comenta a importância da língua francesa no ensino das diferentes disciplinas ministradas no Colégio; ali os alunos manuseavam o Atlas de Delamarche, a Grammatica Franceza de Sévene, as Nouvelles narrations françaises de Filon, a História Romana de De Rosoir et Dumont, o Cours de Littérature française de Charles André, o Cours élémentaire de philosophie de Barbe e o Manuel d’études pour la préparation du baccalauréat en lettres: Histoire de temps modernes, para citar alguns. Racine Fénelon, Massilon, Montesquieu, Bossuet e tantos outros fariam parte dos estudos no Colégio.

A língua francesa a qual, em seu ápice na Europa, fora elevada à condição de elemento capaz de fomentar a unidade europeia, pois, segundo o excessivo Rivarol (1784) era a única que dava conta da ordem natural do pensamento, aqui ganha certa obrigatoriedade entre a elite e, depois, com a disseminação das ideias libertárias oriundas da Revolução, encontra amparo também entre as classes populares, consolidando uma galomania que se estenderá por todos os campos do conhecimento e será vista como necessária ao nosso desenvolvimento e à nossa emancipação literária. Passos, em seu estudo Panorama Cultural Franco Brasileiro, cita trecho de Elementos de Rhetorica Nacional, de 1869, de Junqueira Freire I (p.50-51):

“Depois da gloriosa época da nossa emancipação política, têm surgido muitos gênios, mas ainda não temos completa a nossa emancipação literária. Enquanto não a tivermos, e formos obrigados a seguir um norte, sigamos a França. Porque é ela o farol que ilumina todo o mundo civilizado.”

O fato é que autores como Rousseau, Montesquieu e Voltaire adquirem foros de profetas do novo mundo, na esteira do que já ocorrera em Portugal, país que ostentava relativo atraso e prescindia das inovações técnicas, artísticas e científicas já em prática no ambiente europeu. Não por acaso Marmontel e Voltaire aparecem como mentores da Arcádia Lusitana.

Como já visto neste trabalho (capítulo 2), as bibliotecas particulares e públicas eram repletas de obras em francês, a despeito das interdições da Real Mesa Censória. Rousseau, Montesquieu, La Mettrie, Diderot, Descartes, Marmontel, Bitaubé, Corneil le, Racine, Bossuet, Molière, Voltaire - e tantos outros, foram presenças constantes em inúmeros inventários, fossem eles particulares ou de bibliotecas como as jesuíticas. Casos como o da biblioteca da Academia dos Guardas-Marinha, composta essencialmente por obras técnicas, indicam a língua francesa como importante instrumento na aquisição de conhecimento, pois, conforme afirma Nizza da Silva, “se tratava de uma biblioteca predominantemente francesa, quer pelos autores, quer pelos tradutores.”

O hábito de ler romances que atingira Portugal no início do século XIX, chega ao Brasil junto da família real e dá novo fôlego à língua francesa. Além das leituras técnicas e de cunho político, esta, mais tarde acrescida da contribuição do ecletismo de Coussin e do positivismo de Comte, a marca francesa se solidificará no país com poetas do calibre de Musset, Lamartine e Victor Hugo.

Ao longo do século XIX a França mantém-se como pólo irradiador de ideias filosóficas e literárias que só farão integrar a literatura brasileira à francesa. É de lá a origem do pré-romantismo brasileiro, assim como é de lá que virão Musset, Vigny, Victor Hugo, Chateaubriand, Lamartine, Zola, Balzac, Dumas, Stendhal, Beaudelaire e tantos outros a saciarem o desejo do leitor brasileiro, ávido pelo que se produzia na língua de Voltaire. Isto posto, cabe verificar a referência à língua de Voltaire nas crônicas machadianas.

13 de dezembro de 1896
O senado deixou suspensa a questão do veto do prefeito acerca do impôsto sôbre companhias de teatro. Não falaria mais nisto se não se tratasse de arte em que a política não penetra, ___ ao menos que se veja. Se penetra, é pelos bastidores; ora, eu sou público, só me regulo pela sala. Houve debate à última hora, esta semana, e debate, não direi encarniçado, para não gastar uma palavra que me pode servir em caso mais agudo... Não, eu não sou dêsses perdulários que, porque um homem diverge no corte do colête, chama-lhe logo bandido; eu poupo as palavras. Digamos que o debate foi vigoroso. Não sei se conheceis o negócio. O que eu pude alcançar é que havia uma lei taxando fortemente as companhias estrangeiras; esta lei foi revogada por outra que manda igualar as taxas das estrangeiras e das nacionais; mas logo depois resolveu o conselho municipal que fôsse cumprida uma lei anterior à primeira... Aqui é que eu não sei bem se a lei restaurada apenas levanta as taxas sem desigualá-las, ou se as torna outra vez desiguais. Além de não estar claro no debate, sucede que na publicação dos discursos há o uso de imprimir entre parêntesis a palavra quando o orador lê alguma cousa. Para as pessoas que estão na galeria, é inútil trazer o que o orador leu, porque essas ouviram tudo; mas como nem todos os contribuintes estão na galeria, (ao contrário!) a conseqüência é que a maior parte fica sem saber o que é que se leu, e portanto sem perceber a fôrça da argumentação, isto com prejuízo dos próprios oradores. Por exemplo, um orador, X..., refuta a outro, Y...: “X... E pergunto eu, V. Ex. pode admitir que o documento de que se trata afirme o que o govêrno do Estado alega? Ouça V. Ex. Aqui está o primeiro trecho, o trecho célebre. (Lê) Não há aqui o menor vestígio de afirmação... “Y... Perdão, leia o trecho seguinte. “X... O seguinte? Ainda menos. (Lê) Não há nada mais vago. O governador expedira o decreto, cujo art. 4º não oferece a menor dúvida; basta lê-lo. (Lê) Depois disto, que concluir, senão que o governador tinha o plano feito? Querem argumentar, Sr. presidente, com o § 7º do art. 6º ; mas essa disposição é um absurdo jurídico. Ouça a câmara. (Lê) “Vozes: Oh! Oh!” Não há dúvida que êste uso economiza papel de impressão e tempo de copiar; mas eu, contribuinte e eleitor, não gosto de economias na publicação dos debates. Uma vez que êstes se imprimem, é indispensável que saiam completos para que eu os entenda. Posso ser paralítico, preguiçoso, morar fora, e tenho o direito de saber o que é que se lê nas câmaras. Se algum membro ou ex-membro do congresso me lê, espero que providenciará de modo que, para o ano, eu possa ler o que se ler, sem ir passar os meus dias na galeria do congresso. Como ia dizendo, não tenho certeza do que é lei municipal restaurada; mas para o que eu vou dizer é indiferente. O que deduzi do debate é que há duas opiniões: uma que entende deverem ser as companhias estrangeiras fortemente taxadas, ao contrário das nacionais, outra que quer a igualdade dos impostos. A primeira funda-se na conveniência de desenvolver a arte brasileira, animando os artistas nacionais que aqui labutam todo o ano, seja de inverno, seja de verão. A segunda, entendendo que a arte não tem pátria, alega que as companhias estrangeiras, além de nos dar o que as outras não dão, têm de fazer grandes despesas de transporte, pagar ordenados altos e não convém carregar mais as respectivas taxas. Tal é o conflito que ficou suspenso. Eu de mim creio que ambas as opiniões erram. Não erram nos fundamentos teóricos; tanto se pode defender a universalidade da arte como a sua nacionalidade; erram no que toca aos fatos. Com efeito, é difícil, por mais que a alma se sinta levada pelo princípio da universalidade da arte, não hesitar quando nos falam da necessidade de defender a arte nacional; mas é justamente êste o ponto em que a visão do conselho municipal, do prefeito e do senado me parece algo perturbada. Pôsto não freqüente teatros há muito tempo, sei que há aí uma arte especial, que eu já deixei em botão. Essa arte (salvo alguns esforços louváveis) não é propriamente brasileira, nem estritamente francesa; é o que podemos chamar, por um vocábulo composto, a arte franco-brasileira. A língua de que usa dizem-me que não se pode atribuir exclusivamente a Voltaire, nem inteiramente a Alencar; é uma língua feita com partes de ambas, formando um terceiro organismo, em que a polidez de uma e o mimo de outra produzem nova e não menos doce prosódia. Êste fenômeno não é único. O teuto-brasileiro é um produto do sul, onde o alemão nascido no território nacional não fica bem alemão nem bem brasileiro, mas um misto, a que lá dão aquêle nome. Ignoro se a língua daquele nosso meio patrício e inteiro colaborador é um organismo igual ao franco-brasileiro; mas se as escolas das antigas colônias continuam a só ensinar alemão, é provável que domine esta língua. Nisto estou com La Palisse. Não é pelo nascimento dos artistas que a arte franco-brasileira existe, mas por uma combinação do Rio com Paris ou Bordéus. Essa arte, que as finadas Mmes. Doche e D. Estela não reconheceriam por não trazer a fisionomia particular de um ou de outro dos respectivos idiomas, tem a legitimidade do acôrdo e da fusão nos elementos de ambas as origens. Quando nasceu? É difícil dizer quando uma arte nasce; mas basta que haja nascido, tenha crescido e viva. Vive, não lhe peço outro certidão. Acode-me, entretanto, uma idéia que pode combinar muito bem as duas correntes de opinião e satisfazer os intuitos de ambas as partes. Essa idéia é lançar uma taxa moderada às companhias estrangeiras e libertar de todo impôsto as nacionais. Dêste modo, aquelas virão trazer-nos todos os invernos algum regalo novo, e as nacionais poderão viver desabafadas de uma imposição onerosa, por mais leve que seja. Creio que assim se cumprirá o dever de animar as artes, sem distinção de origens, ao mesmo tempo que se protegerá a arte nacional. Que importa que, ao lado dela, seja protegida a arte franco-brasileira? Esta é um fruto local; se merece menos que a outra, não deixa de fazer algum jus à eqüidade. Aí fica a idéia; é exeqüível. Não a dou por dinheiro, mas de graça e a sério. Não me arguam de prestar tanta atenção à língua de uma arte e à meia língua de outra. Grande cousa é a língua. Aquêle diplomata venezolano que acaba de atordoar os espíritos dos seus compatriotas pela revelação de que o tratado celebrado com a Inglaterra, graças aos bons ofícios dos Estados Unidos, serve ao interêsse dêstes dous países com perda para Venezuela, pode não ter razão (e creio que não tenha), mas dá prova certa do que vale a língua. Os outros dous são inglêses, falam inglês; foi o pai que ensinou esta língua ao filho. Venezuela é uma das muitas filhas e netas de Espanha que se deixaram ficar por êste mundo. A língua castelhana é rica; mas é menos falada. Se o diplomata tivesse razão, em Caracas, que é o Rio de Janeiro de Venezuela, as companhias nacionais é que agüentariam os maiores impostos, enquanto que as de Londres e New York representariam sem pagar nada. Mas é um desvario, decerto; esperemos outro telegrama. Relevem o estilo e as idéias; a minha dor de cabeça não dá para mais.

Em se considerando a natureza da crônica, gênero meio jocoso, meio pé-de-chinelo - como já dissera Marlyse Meyer, é de se concordar com Agrippino Grieco, quando este afirma que Machado o tornara demasiado cerebral e que suas crônicas padeciam de certa crepitação de alegria, à maneira das de João do Rio. Tal é o caso da crônica em questão, na qual o cronista trata da questão tributária envolvendo as companhias de teatro. Evidente que o assusto destina-se a um público específico. Aliás, Grieco já se ressentira do fato de as crônicas da Semana serem destinadas mais a intelectuais que a homens do povo, contudo, há que se considerar o público leitor da época, na passagem do século XIX para o XX, composto em esmagadora maioria de analfabetos, o que confirma a tese de Grieco.

O cronista, já distante dos tempos do Diário do Rio de Janeiro, época em que ra assíduo frequentador dos teatros e colocava sua pena a serviço das artes cênicas, hoje, embora defenda incentivos ao teatro ao sugerir a extinção do imposto para as companhias nacionais, prefere não diferenciá-las das estrangeiras, pois esteticamente é adepto do princípio da universalidade da arte. As dificuldades, reconhece, existem para ambas e, fato que passa ao largo dos parlamentares, é a imbricação a que chegou as culturas francesa e brasileira, na qual o cronista vê a língua como elemento de destaque. É a partir da justaposição de culturas, do entrelaçamento das artes e da língua misturada que o cronista reitera o uso do vocábulo arte franco-brasileira, portanto, só possível dada a existência dessa arte miscigenada e amalgamada de forma a tornar irrealizável a separação das línguas de Voltaire e Alencar, que surge um terceiro organismo, em que a polidez de uma e o mimo de outra produzem nova e não menos doce prosódia.

Evidente que a prosódia indiciada pelo cronista tem lá seus traços de zelo e atenção, porém, não deixa de ser curioso o texto abaixo, extraído do Diário do Rio de Janeiro, de 1.10.1876 (p. 3), uma prova do emaranhado e da dimensão que a língua de Voltaire alcançou no país.

(transcrição)
Jé vus é pri cavaquinho
Monsieur le redacteur do le vieu « Diario do le Fleuve de Janvier Jé dei a le asar, une segonde decuvér que les anfan de la Candinhe on fét sur le movese habitude de une de notre primier organe de publicité, que done de noticie que non le a partien pá. An de ces anfan, a lu dansune il ustraccion francese nomé -, Les Ecóu de le Grand Operá do le Roaiume de la Lune » - la noticie de la operá de Monsieu Charles Gomes, que le grand organe á escamotié e á impingido ou publique fluminense come ouvre de la meson, sans oncune consideracion ni respeito que les jornaliste conscieucieuse doave avoar pur le publique. Pour mieu guidê la mechancetê de le publique, tujur ami de chose ridicule, jé vu demande, pour faveur, eiê la bontê de publiê cet núvel e decuvert, dans an cutê le article de la « Il ustracion de le Roaiume de la Lune, e de lotre le article de Monsieur Douteur Lui, de façon que les curieuse puisse confrontè la geringonce que le ecriven á fét dan le papo de la once aveque la apreciaçon de la partiture du gran maestre. Jé la honeur de vu reiterè me protesto de la plu houte consideracion e parféte estime com que jé sui votre devuè e tres humble admiracteur. An des anfan de la Candinhe

O texto acima é a mostra de um provável falante da língua portuguesa tentando se expressar em francês. Entretanto, as dificuldades tinham trânsito de mão dupla. Explica-se: Machado no texto crítico O passado, o presente e o futuro da literatura, de 1858, e já citado no capítulo 1 deste trabalho, trata da estreita ligação que sempre mantivemos com a literatura europeia, em especial, a francesa.

Nosso cronista, ora crítico, destaca que na época colonial, “a poesia de então tinha um caráter essencialmente europeu”. Adiante, reconhece que “é mais fácil regenerar uma nação, que uma literatura”, de fato, uma justificativa que explicaria nossa independência política e nossa dependência literária. Contudo, o que mais parece incomodá-lo, além da constatação de que não se podia afirmar haver um romance brasileiro e, sequer um drama brasileiro, é a “conveniência perniciosa com os romances franceses” e “a inundação de peças francesas”. Ora, mas não era Machado um francófilo cuja obra está toda salpicada de citações e referências francesas? A resposta não é exatamente uma aversão à cultura ou à literatura francesas, mas sim, às traduções cheias de equívocos, sensaborões às vezes.

Não que reiterasse a literatura dos originais - o que obrigaria a um bilinguismo, ou porque tivesse aversão às obras traduzidas, Machado reconhecia a importância da tradução como elemento dominante, porém, criticava duramente o modus operandi com que isto se processava: “transplantar uma composição dramática francesa para a nossa língua, é tarefa de que se incumbe qualquer bípede que entende de letra redonda”. Com isso, pode-se inferir que não só o cruzamento de culturas produziu a arte franco-brasileira, mas também a tradução ensaiou, por um tempo, a produção de uma língua franco-brasileira.

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Fonte:
DIRCEU MAGRI: “Aspectos da presença de Voltaire nas crônicas machadianas”. (Dissertação apresentada ao Programa de Pós-Graduação em Língua e Literatura Francesas do Departamento de Letras Modernas da Faculdade de Filosofia, Letras e Ciências Humanas da Universidade de São Paulo, para obtenção de título de Mestre em Letras. Orientador: Prof. Dr. Gilberto Pinheiro Passos. Este trabalho contou, ao longo de dois anos, com bolsa concedida pela CAPES).São Paulo, 2009.

Nota
:
A imagem inserida no texto não se inclui na referida tese.
As notas e referências bibliográficas de que faz menção o autor estão devidamente catalogadas na citada obra.
O texto postado é apenas um dos muitos tópicos abordados no referido trabalho.
Para uma compreensão mais ampla do tema, recomendamos a leitura da tese em sua totalidade.
Disponível digitalmente no site: Domínio Público

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