Sêneca foi uma pessoa preocupada com os valores morais, como também um homem que tentou adequar sua conduta às bases filosóficas adquiridas ao longo de toda a sua vida. Buscou demonstrar essa sua maneira de viver em várias de suas obras.
A apreciação da vida e das obras de Sêneca permite que se veja a importância dada à filosofia por esse pensador. A filosofia de Sêneca é prática, no sentido de que constitui uma reflexão sobre um modo de vida possível.
A vida de Sêneca: orador, político, filósofo e preceptor
Lúcio Aneu Sêneca nasceu na cidade de Córdoba, na Espanha, no ano
Os pais de Sêneca se casaram no ano
A mãe de Sêneca, Hélvia, de origem rica, teve grande importância em sua vida, pois a ela o filósofo dedicou um de seus livros, Consolação a Hélvia. De seu pai, sabe-se que era um grande escritor e retórico que conquistou o respeito dos intelectuais e políticos de sua época.
A família de Sêneca, por acreditar que a ascensão social se dava pela cultura, transferiu-se para Roma após o nascimento do terceiro filho, pois achava que a capital do Império apresentava melhores condições educacionais. Em Roma, Sêneca, entre seus sete e doze anos, teve aulas de leitura e escrita e adquiriu noções básicas de matemática. Depois, dos treze aos dezessete anos, passou a ter aulas de gramática.
Sêneca, por querer fazer carreira política, passou a frequentar as aulas de declamação, onde aprendeu retórica. Esta continuava a ser o ápice da cultura, pois perante os tribunais, no Senado ou diante do público, o importante era manter-se respeitavelmente amparado por uma sólida base retórica (OLIVEIRA, 1998).
Paralelamente aos seus estudos de retórica, Sêneca identificou-se também com a filosofia, com a qual o primeiro contato se deu por meio de Sócion de Alexandria (séc I), que ensinava uma filosofia de marcada inspiração pitagórica. Segundo os filósofos pitagóricos, para se obter a salvação fazia-se necessário identificar-se com o divino, afastando da vida os conflitos. O caminho para se chegar a isso era a contemplação teórica, que, para além dos conflitos, identificava a harmonia.
A partir desse primeiro contato Sêneca nunca mais se afastou da filosofia, por acreditar que por meio dela encontraria as respostas para os problemas que atormentavam o homem. O filósofo teve como mestre também o cínico Demétrio (séc. I d.C.), o qual acreditava que falar e escrever eram práticas inúteis e que o melhor a fazer era abandonar o convívio social e viver somente em contato com a natureza.
Outros dois mestres estoicos contribuíram para sua formação filosófica: Papírio Fabiano (séc. I) e Átalo (séc. I). Estes fizeram Sêneca conhecer o Estoicismo, cujo sistema filosófico melhor se ajustou aos seus projetos políticos (ASTRANA MARÍN, 1947). Tendo concluído seus estudos por volta do ano 20, Sêneca estava preparado para entrar na vida pública. A partir daí, sua vida foi profundamente marcada pela alternância entre a ação política e a dedicação à filosofia (PEREIRA MELO, 2007b).
No ano de 25 d.C. Sêneca teve que interromper sua carreira política para tratar de sua saúde e empreendeu uma viagem ao Egito. Dirigiu-se à casa de um tio que ocupava o posto de prefeito do Egito. Em Alexandria fixou residência, pelo fato de a cidade ser um centro efervescente de vida cultural e religiosa, onde gregos, judeus e egípcios conviviam em constante troca de ideias. Aproveitou esse tempo para estudar as condições e os costumes da região.
Com a saúde restabelecida, em 31 d.C. voltou para Roma, onde retomou sua vida de filósofo, literato, poeta e orador, assumindo o cargo de questor por influência de amigos. Entrou para o Senado, onde rapidamente obteve grande notoriedade, por seu talento em retórica e filosofia (LI, 1993). Sêneca cada vez ganhava mais prestígio e admiração, mas tornava-se também objeto de inveja, em particular do imperador Calígula (12-41).
Ao pronunciar, em 39 d.C., um discurso em público de cujo conteúdo não se tem conhecimento, Sêneca causou grande irritação no imperador Calígula, que estava presente. A raiva do imperador era tanta que decidiu condenar o filósofo à morte; Porém deixou de lado esse projeto, pelo desgaste político que, em face da popularidade de Sêneca, essa execução poderia lhe trazer (ASTRANA MARÍN, 1947).
Calígula foi assassinado, e quem subiu ao poder, eleito pelo exército pretoriano, foi Cláudio (
A jovem Júlia Livilla foi condenada à morte sem que fosse provada a sua culpa ou que lhe fosse concedida a defesa. Sêneca foi castigado com o exílio de oito anos na ilha de Córsega, que naquele tempo era habitada por populações quase selvagens. “Entre os quarenta e os cinquenta anos, quando podia não só consolidar, mas aumentar sua glória de homem político, de literato e de estudioso, ele vive na desventura do desterro e na solidão de um país bárbaro” (LEONI, 1957, p.17).
Sêneca aproveitou esse período para se dedicar aos estudos científicos e filosóficos, concluindo que a sua condenação e o seu exílio nenhum mal lhe haviam feito, pois para o filósofo estoico o sábio suporta todas as dores sem sofrer; dessa forma mostrava a todos a coerência entre o seu discurso e a sua prática.
Longe dos seus, o desterrado não perdeu tempo. Procedeu a elucubrações sobre a história da ilha; estudou o povo e seus costumes;dedicou-se a pesquisar Astronomia, Geografia, meteoros e marés [...]. O retiro (otium) permitiu-lhe dedicar-se à Filosofia que negligenciara um tanto, por causa de suas ocupações políticas anteriores (ULLMANN, 1996, p.11).
Em 49, com a morte de Messalina, que foi condenada pelo próprio imperador, Sêneca volta a Roma por intervenção de Agripina (15-59), que se tornaria a nova esposa de Cláudio. Esta tinha o objetivo de tornar Sêneca o preceptor do filho de seu primeiro casamento, Lúcio Domício Enobarbo (37-68), então com onze anos, o qual, ao ser adotado por Cláudio, passou a se chamar Nero.
Com a adoção de Nero, Cláudio o colocou na linha de sucessão ao trono, pois Britânico (41-55), seu filho legítimo, era três anos mais novo. Quando o imperador, arrependido, fez entender que iria revogar esse ato de adoção, morreu envenenado, em 54. Nesse tempo Sêneca foi a um segundo matrimônio com Pompéia Paulina, jovem de uma rica família senatorial. Sobre o seu primeiro casamento só se sabe que teve um filho chamado Marco, que nasceu em 39 e morreu em 41.
A partir de fins de 49, Sêneca passou a exercer a função de preceptor de Nero, tendo como grande preocupação preparar o jovem príncipe para romper com as bases tirânicas que particularizavam os imperadores romanos e formá-lo com as características de rei-filósofo (PEREIRA MELO, 2007b).
Com a morte de Cláudio, Nero subiu ao poder aos dezessete anos e Sêneca continuava a seu lado, não mais como pedagogo, mas como conselheiro, ajudado por Lúcio Afrânio Burro, preparador militar e prefeito do Pretório. Sêneca e Burro converteram-se nos homens mais influentes de Roma, ganhando Sêneca o título de amicus principis.
Sêneca começou por colocar seus amigos nos postos mais importantes da administração imperial e no Senado. Em 55 Agripina foi afastada do poder por Sêneca. “[...] numa conspiração palaciana, Sêneca praticamente afasta sua antiga protetora do poder e torna-se o senhor de fato do Império Romano” (LI, 1993, p.13).
Essa política adotada por Sêneca atrapalhava os planos de Agripina, cujo objetivo era, por meio da influência sobre Nero, dominar o Império. Nesse mesmo ano, Britânico, filho legítimo de Cláudio, também morreu assassinado por ordem de Agripina, que fazia de tudo para manter seu filho no poder e por meio dele governar.
Segundo Willian Li (1993), o caráter de Nero foi corrigido, freado, porém mais tarde a tirania teve o predomínio. A grande culpada disto era Agripina, que na realidade queria governar por meio de seu filho e por isso não suportava a influência que Sêneca e Afrânio exerciam sobre Nero. Este, não mais ouvindo os conselhos de Sêneca, em 59, planejou o assassinato da própria mãe. Coube então a Sêneca, usando de todo o seu talento retórico, escrever o discurso que Nero iria ler no Senado, justificando a morte de sua mãe.
De acordo com G.D. Leoni (1957), após esse fato, como maneira de fugir das noites de pesadelo e do terror em que vivia, Nero passou a frequentar os espetáculos e a embriagar-se, gerando uma grande desonra para a nobreza, o Senado, os cidadãos e os soldados romanos.
Essa forma de vida assumida por Nero era reprovada por Sêneca e Burro, o que levou o imperador a dispensar as orientações dos dois conselheiros e a assumir plenamente o poder, no ano de 62.
Isso teve como consequência um progressivo afastamento de Sêneca do imperador. Tal situação se agravou com a morte de Burro, levando o filósofo a pedir permissão para se desobrigar das suas funções, com a justificativa de que precisava cuidar do seu espírito e dedicar-se a reflexões filosóficas, e a pôr à disposição todos os bens que havia recebido do imperador. Respaldado na lei, aprovada no tempo de Cláudio, que proibia aos senadores afastar-se de Roma por uma distância superior a sete milhas sem permissão do imperador, Nero negou a solicitação de Sêneca, alegando razões de interesse público. Para Nero, o afastamento de Sêneca poderia ser interpretado como uma desaprovação da política imperial (PEREIRA MELO, 2007b)
Em 65, foi descoberta uma conjuração contra o imperador, da qual Sêneca foi acusado de fazer parte. Mesmo sem prova, Nero condenou seu antigo conselheiro ao suicídio. Sêneca abriu as veias do pulso, mas como a morte demorava a chegar, decidiu cortar as veias dos pés, e para logo acabar com o sofrimento, bebeu uma porção de cicuta e em seguida tomou um banho de água quente, para apressar o seu fim. Compreende-se que Sêneca enfrentou a morte sem medo, aliando à sua teoria a sua prática, pois pregava que a morte era uma forma de libertação da alma, convicção que é apresentada frequentemente em suas obras.
As obras de Sêneca: filosofia de uma vida
Passando-se da vida às obras de Sêneca, pode-se dizer que os seus escritos são compostos por tragédias e tratados de caráter filosófico de cunho moral. As produções de conteúdo literário de Sêneca compõem-se de dez tragédias, que, em uma suposta ordem de produção (os anos dos seus aparecimentos são imprecisos) podem ser organizadas da seguinte forma: As loucuras de Hércules, As troianas, As fenícias, Medéia, Fedra, Édipo, Agamênnon, Tiestes, Hércules no Fta, Apocolocintosis e Octavia (que foi a ele atribuída).
A tragédia, teatralmente morta com Lúcio Ácio no início do século precedente, firmava-se como a forma de arte preferida da classe aristocrática romana. Era destinada à leitura nos círculos literários com o fim de debater concepções filosóficas ou políticas.
Pelo próprio título das tragédias de Sêneca percebe-se que são temas gregos que já haviam sido desenvolvidos por poetas do período arcaico latino. No entanto, isto não o desmerece, pelo contrário, sua contribuição foi dotá-los de algo novo e adaptá-los à linguagem mais objetiva e informal, sem negligenciar a preocupação maior com a discussão dos males que atormentavam a humanidade.
As tragédias senequianas perdem em teatralidade, mas são ricas em fatos, em exames psicológicos e em inspirações morais, pois Sêneca quer levar ao palco não o drama de Hércules, Tiestes, Agamênon, Édipo, mas as dores da sua alma. Dos ares das grandes paixões heroicas saem as meditações a respeito do destino, do mistério do universo, do trabalho espiritual do homem. Seus personagens devem pensar, e não agir, devem falar, e não lutar; devem ser interessantes, mas não devem se comover. Todos são iguais, ou seja, são todos filósofos de orientação estoica, e como estoicos devem morrer sobre o palco (LEONI, 1957).
A atividade literária de Sêneca parece contradizer a sua índole contemplativa, porém as tragédias não apontam caminhos que o distanciem de suas reflexões de âmbito moral; e com as inovações que Sêneca lhes impôs, elas influenciariam celebridades literárias como William Shakespeare (PEREIRA MELO, 2007b).
Já com relação às obras de caráter filosófico, pode-se dizer que se apresentam em forma de diálogo, mas não como os diálogos de Platão, pois Sêneca interpreta os dois interlocutores, ou seja, o próprio Sêneca e o destinatário dos escritos, a quem Sêneca trata de forma familiar, construindo uma fluente conversação.
As datações dessas obras também são imprecisas, porém há condições de ordená-las de maneira cronológica, de acordo com o pensamento de Sêneca e o assunto por ele tratado. Os trabalhos filosóficos são: Consolação a Márcia, Da Ira, Consolação a Hélvia, Consolação a Políbio, Tratado sobre a Clemência, Sobre a vida feliz, Da constância do sábio, Sobre os benefícios, Das questões naturais, Da Providência, Sobre a tranquilidade da alma, Sobre a brevidade da vida, Sobre o ócio e Cartas a Lucílio. Estes quatro últimos tratados terão uma atenção especial, por serem os principais trabalhos de Sêneca que tratam os assuntos referentes à educação para formação do sábio, ficando reservada a este momento apenas uma apresentação concisa destas quatro obras do autor.
Considera-se como o primeiro escrito de caráter filosófico de Sêneca o livro Consolação a Márcia, escrito provavelmente entre 37 e 41 d.C. Nesse tratado Sêneca procura consolar Márcia, filha do historiador Cremúcio Corda, pela perda de entes queridos. Está presente a doutrina estoica do controle das paixões, pois o pensador tenta convencer Márcia de que quanto mais ela cultivasse sua dor, mais esta se enraizaria em sua alma. Diz ainda que lamentar a perda de entes queridos é normal, desde que haja moderação. Para isso é preciso deixar-se guiar pela natureza, que fortalecerá a alma, preparando-a para receber todos os males, até mesmo a morte. Utiliza como argumentos a dor universal, da qual o homem não pode se isentar, a importância da morte como libertação e a virtude dos que já se foram. Neste livro já estão presentes os grandes temas que o filósofo trabalhará durante toda a sua vida.
Os livros “Da ira”, “Consolação a Hélvia” e “Consolação a Políbio” foram escritos no período
Consolação a Hélvia (ano 42-43) é endereçado à sua própria mãe, no intuito de consolá-la da perda momentânea do filho, ou seja, o próprio filósofo. Este se prende ao ensinamento estoico, o qual diz que, apesar de todas as dificuldades, deve enfrentá-las corajosamente, e mostra-se calmo e feliz diante de provas tão duras, tentando convencer sua mãe e a si próprio de que o exílio não é nada. Demonstra a necessidade de suportar as dificuldades da vida: para o sábio, o exílio não é nada além de uma transferência de casa, situação que não o deixava infeliz (LEONI, 1957).
Este diálogo contém um bom número de dados biográficos e familiares do autor, como também fornece informações sobre como era um exílio na sua época, descrevendo a paisagem, os habitantes, a língua e os costumes da ilha, na qual viveu por oito anos.
Consolação a Políbio, escrito provavelmente entre os anos de 43 e 44 d.C, é destinado a Políbio, um dos libertos de Cláudio, de grande influência junto ao imperador. Partindo de um fato doloroso da vida de Políbio, a morte do seu irmão caçula, Sêneca aproveita a oportunidade para endereçar um pedido de perdão indireto ao imperador, pois conhecia o poder de Políbio e esperava que este intercedesse por ele junto a Cláudio, fazendo que este revogasse a condenação; porém esse objetivo não foi atingido.
Do início ao fim, Sêneca propõe a Políbio remédios para curar o mal que o magoa, como: lembrar-se das boas qualidades do irmão morto, pensar na grandeza de Cláudio e desfrutar de sua companhia, e refletir que a morte não traz mal algum ao homem.
De volta do exílio de Córsega em 49, Sêneca passa a ser o preceptor de Nero, e com o retiro espiritual forçado na ilha de Córsega, tem o desejo de pôr em prática tudo o que aprendera nesse tempo, pois sentira na própria pele a tirania do imperador Cláudio, e tem como objetivo persuadir o futuro princeps da importância e beleza da clemência e da bondade. Os trabalhos desse período são: “Sobre a brevidade da vida”, “Sobre a tranquilidade da alma”, “Tratado sobre a Clemência”, “Sobre a vida feliz”, “Da constância do sábio” e “Sobre o ócio”.
O objetivo de Sobre a brevidade da vida, escrito entre 49 e 55 d.C., era convencer Pompeu Paulino, ocupante de cargo público na estrutura administrativa do Império Romano e pai de sua esposa, Pompéia Paulina, a abandonar seu posto e dedicar-se ao estudo da Filosofia.
Em Sobre a tranquilidade da alma (ano 61), Sêneca tem como objetivo amenizar as inquietações que perturbavam a alma do discípulo e amigo Sereno, convertido ao estoicismo. Nesse diálogo, Sêneca foi levado a abordar assuntos relativos aos remédios oferecidos pela filosofia para a inquietação e a instabilidade da alma. Entre os fatores que afetam a tranquilidade da alma estão: a participação na vida pública, a escolha dos amigos, as consequências da riqueza, os inconvenientes dos altos cargos públicos, entre outros.
Tratado sobre a Clemência, escrito para Nero, provavelmente no ano 56, é considerado uma obra não de caráter filosófico, mas uma espécie de “manual” de governo, ensinando o novo imperador a não ser um tirano. Nesse escrito Sêneca faz um elogio à clemência, para ele, a qualidade que deve ter um príncipe preparado para governar, estabelecendo assim uma aliança com seus súditos baseada no amor; porém nessa relação também deveria existir o sentimento de temor dos súditos para com o príncipe, não um temor exagerado, mas um temor que impusesse respeito. A clemência senequiana caracteriza-se pelo equilíbrio entre o amor e o temor, pois ela não é a piedade, não é um sentimento, uma emoção, mas um julgamento fundado na razão e um aspecto da virtude estoica.
Ainda nesse livro, Sêneca elege a figura de Augusto como um verdadeiro modelo de virtude, buscando também na história recente de Roma exemplos de imperadores que este tratado suprimia, como Tibério, Calígula e Cláudio.
Sobre a vida feliz (ano 59), dedicado também ao seu irmão Novato, é uma defesa da filosofia, particularmente da doutrina estoica. A grande preocupação desse tratado é a felicidade humana e a necessidade de se fazer o bem e de se conciliar a filosofia com o modo de vida na prática.
Neste tratado Sêneca reconhece que não levava uma vida de sábio, pois vivia em meio à fortuna; mas defende-se dizendo que a sua riqueza não fora conquistada de maneira ilícita, e que dela sabia fazer bom uso. Declara-se pronto a renunciar a tudo e viver como convém a um sábio.
Em Da constância do sábio (ano 55-56), Sêneca tem como objetivo mostrar a seu amigo Sereno as dificuldades da vida e como superá-las ou aceitá-las, fortalecendo o caráter e preparando a alma para atingir a tranquilidade e indicando o sábio como ideal a ser perseguido. O sábio seria aquele que não se abala com as ofensas, pois possui a alma tranquila e impassível a tudo que o destino determinar. A constância vem disso: uma atitude de receber de bom grado o que a sorte lhe traz. É outro livro de Sêneca muito importante para esse estudo, pois discute sobre o sábio, este que era o objetivo a ser alcançado pela educação ofertada pelo pensador estoico.
Em Sobre o ócio, obra escrita entre os anos de 57 e 62 d.C., Sêneca responde às críticas de Sereno, que o acusara de não estar vivendo segundo os princípios da doutrina estoica. Nessas reflexões, ele defende a possibilidade de se praticar o ócio sem deixar de ser estoico.
Os livros “Dos benefícios”, “Cartas a Lucílio”, “Das questões naturais” e “Da providência” foram escritos nos últimos anos da vida de Sêneca, quando já não mais participava da vida pública.
Dos benefícios, cuja composição se encontra entre os anos de 54 e 64 d.C., constitui-se de sete livros, que tratam de questões como o desapego dos bens materiais e principalmente das relações de generosidade e reconhecimento que dirigem as relações dos homens. O filósofo, que vivenciara a experiência da ingratidão humana durante sua carreira política, reflete sobre as recíprocas obrigações entre aqueles que recebem o benefício e aqueles que o outorgam.
Para Sêneca, muitos são os benefícios e muitas também são as maneiras de concedê-los e de aceitá-los, porém a gratidão por esses benefícios é um dever que muitos não cumprem. O sábio não é um ingrato ao tirano por este ter-lhe concedido benefícios, pois com os bons conselhos que lhe dá retribui em maior medida qualquer benefício (LEONI, 1957).
Das questões naturais, constituído de sete livros e escrito entre os anos de 62 e 63, é desenvolvido pelo filósofo no final da vida, quando, desiludido com os rumos tomados pelo governo imperial, dirigido pelo seu “ex-ouvinte” Nero, volta-se ao estudo do universo como meio de atingir a sabedoria sem que, com isso, suas ideias viessem a provocar ainda mais a ira imperial.
O livro escrito para Lucílio tem por objetivo demonstrar a este que a natureza é racional. O universo não foi feito para os homens, mas com o bom uso da razão estes são capazes de entendê-lo e de se adaptar a ele, a partir do momento em que tomarem consciência das realidades morais e da forma como devem conduzir suas vidas. O estudo dos fenômenos naturais permite ao homem entender o princípio estoico de viver de acordo com a natureza (OLIVEIRA, 1998). Para Sêneca, para conhecer a virtude e a divindade fazia-se necessário, antes, estudar a natureza nas suas mais diversas manifestações.
Da Providência, que foi escrito nos últimos anos de sua vida, mas cuja data é incerta, tinha a preocupação de mostrar a Lucílio que os sofrimentos, pelos quais passam os homens mais dignos, devem ser considerados como provas para melhor pôr em evidência suas virtudes. Os homens bons não sofriam, pois compreendiam e aceitavam aquilo que o destino lhes tinha reservado. As divindades punham em prova sua virtude e força de espírito e, desta forma eles deveriam seguir em frente, rumo a um destino preestabelecido (LEONI, 1957).
Cartas a Lucílio, escrito entre os anos de 62 e 65 d.C., constitui-se de cento e vinte e quatro cartas, distribuídas em vinte livros, nas quais Sêneca acompanha os progressos de seu discípulo, indicando-lhe o caminho a seguir e respondendo às suas dúvidas e inquietações. São consideradas, pelos estudiosos da obra de Sêneca, como o mais importante dos seus trabalhos, tendo-se em vista seu caráter pedagógico.
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Fonte:
THAIS WATAKABE: “SÊNECA E A EDUCAÇÃO PARA FORMAÇÃO DO SÁBIO”. (Dissertação apresentada ao Programa de Pós-Graduação em Educação, Área de Concentração: Educação, da Universidade Estadual de Maringá, como um dos requisitos para a obtenção do título de Mestre
Nota:
A imagem inserida no texto não se inclui na referida tese.
As notas e referências bibliográficas de que faz menção o autor estão devidamente catalogadas na citada obra.
O texto postado é apenas um dos muitos tópicos abordados no referido trabalho.
Para uma compreensão mais ampla do tema, recomendamos a leitura da tese em sua totalidade.
Disponível digitalmente no site: Domínio Público
Sêneca: a identidade de uma vida com suas obras
A MORTE DE SÊNECA II
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SÊNECA: A IDENTIDADE DE UMA VIDA COM SUAS OBRAS
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