Juazeiro do Norte/CE - Padre Cícero Romão - Colina do Horto - Monumento ao Padre Cícero (Fotos/História/Religiosidade)

Este “Arquivo Vivo” será dedicado ao Padre Cícero Romão e a sua abençoada terra Juazeiro do Norte, Ceará. Os textos inclusos entre as fotografias são partes de teses que versam sobre a questão sob diferentes aspectos, e foram aqui inseridos com o objetivo de tornar mais compreensível a história deste grande religioso, o ícone máximo da fé nordestina. As fotografias são de 2015, tiradas amadoramente sem qualquer técnica profissional.

Esperamos assim dar nossa pequena contribuição para ampliar o conhecimento sobre a controvertida figura do Padre Cícero, o “Padim Ciço”, bem como preservar a memória de sua terra e do seu povo.

Iba Mendes
São Paulo, outubro de 2015.

Cícero Romão Batista 
(24 de março de 1844 — 20 de julho de 1934)


BIOGRAFIA DO PADRE CÍCERO
Por: Daniel Walker


DADOS PESSOAIS

Padre Cícero Romão Batista nasceu em Crato (Ceará) no dia 24 de março de 1844. Era filho de Joaquim Romão Batista e Joaquina Vicência Romana, conhecida como dona Quinô.

Aos seis anos de idade, começou a estudar com o Prof. Rufino de Alcântara Montezuma.

Um fato importante marcou a sua infância: o voto de castidade, feito aos 12 anos, influenciado pela leitura da vida de São Francisco de Sales.

Em 1860, foi matriculado no Colégio do renomado Padre Inácio de Sousa Rolim, em Cajazeiras-Paraíba. Aí pouco demorou, pois, a inesperada morte de seu pai, vítima de cólera-morbo, em 1862, o obrigou a interromper os estudos e voltar para junto da mãe e das duas irmãs solteiras.

A morte do pai, que era pequeno comerciante no Crato, trouxe sérios aperreios financeiros à família, de tal sorte que, mais tarde, em 1865, quando Cícero Romão Batista precisou ingressar no Seminário da Prainha em Fortaleza, só o fez graças à ajuda de seu padrinho de crisma, o Coronel Antônio Luiz Alves Pequeno.
 

ORDENAÇÃO

Padre Cícero foi ordenado no dia 30 de novembro de 1870. Após sua ordenação retornou ao Crato, e enquanto o Bispo não lhe dava paróquia para administrar, ficou ensinando Latim no Colégio Padre Ibiapina, fundado e dirigido pelo Prof. José Joaquim Teles Marrocos, seu primo e grande amigo.

 
CHEGADA A JUAZEIRO

No Natal de 1871, convidado pelo Prof. Semeão Correia de Macêdo, Padre Cícero visitou pela primeira vez o povoado de Juazeiro (então pertencente a Crato), e aí celebrou a tradicional Missa do Galo.

O padre visitante, de 28 anos de idade, estatura baixa, pele branca, cabelos louros, olhos azuis penetrantes e voz modulada causou boa impressão aos habitantes do lugar. E a recíproca foi verdadeira. Por isso, decorridos alguns meses, exatamente no dia 11 de abril de 1872, lá estava, de volta, com bagagem e família, para fixar residência definitiva no Juazeiro.

Muitos livros afirmam que Padre Cícero resolveu fixar morada em Juazeiro devido a um sonho (ou visão) que teve, segundo o qual, certa vez, ao anoitecer de um dia exaustivo, após ter passado horas a fio no confessionário do arraial, ele procurou descansar no quarto contíguo à sala de aulas da escolinha, onde improvisaram seu alojamento, quando caiu no sono e a visão que mudaria seu destino se revelou. Ele viu, conforme relatou aos amigos íntimos, Jesus Cristo e os doze apóstolos sentados à mesa, numa disposição que lembra a Última Ceia, de Leonardo da Vinci. De repente, adentra ao local uma multidão de pessoas carregando seus parcos pertences em pequenas trouxas, a exemplo dos retirantes nordestinos. Cristo, virando-se para os famintos, falou da sua decepção com a humanidade, mas disse estar disposto ainda a fazer um último sacrifício para salvar o mundo. Porém, se os homens não se arrependessem depressa, Ele acabaria com tudo de uma vez. Naquele momento, Ele apontou para os pobres e, voltando-se inesperadamente ordenou: E você, Padre Cícero, tome conta deles!


APOSTOLADO

Uma vez instalado no lugarejo, formado por um pequeno aglomerado de casas de taipa e uma capelinha erigida pelo primeiro capelão Padre Pedro Ribeiro de Carvalho, em honra a Nossa Senhora das Dores, Padroeira do lugar, ele tratou inicialmente de melhorar o aspecto da capelinha, adquirindo várias imagens com as esmolas dadas pelos fiéis.

Depois, tocado pelo ardente desejo de conquistar o povo que lhe fora confiado por Deus, desenvolveu intenso trabalho pastoral com pregação, conselhos e visitas domiciliares, como nunca se tinha visto na Região. Dessa maneira, rapidamente ganhou a simpatia dos habitantes, passando a exercer grande liderança na comunidade.

Paralelamente, agindo com muita austeridade, cuidou de moralizar os costumes da população, acabando pessoalmente com os excessos de bebedeira e a prostituição. Restaurada a harmonia, o povoado experimentou, então, os primeiros passos de crescimento, atraindo gente da vizinhança curiosa por conhecer o novo Capelão. Para auxiliá-lo no trabalho pastoral, Padre Cícero resolveu, a exemplo do que fizera Padre Ibiapina, famoso missionário nordestino, falecido em 1883, recrutar mulheres solteiras e viúvas para a organização de uma irmandade leiga, formada por beatas, sob sua inteira autoridade.

 
MILAGRE

Um fato incomum, acontecido em 1º de março de 1889, transformou a rotina do lugarejo e a vida de Padre Cícero para sempre.

Naquela data, ao participar de uma comunhão geral, oficiada por ele, na capela de Nossa Senhora das Dores, a beata Maria de Araújo ao receber a hóstia consagrada, não pôde degluti-la pois a mesma transformara-se em sangue.

O fato repetiu-se outras vezes, e o povo achou que se tratava de um novo derramamento do sangue de Jesus Cristo e, portanto, um milagre autêntico.

As toalhas com as quais se limpava a boca da beata ficaram manchadas de sangue e passaram a ser alvo da veneração de todos.


REAÇÃO DA IGREJA

De início, Padre Cícero tratou o caso com cautela, guardando inclusive sigilo por algum tempo. Os médicos Marcos Madeira e Idelfonso Correia Lima e o farmacêutico Joaquim Secundo Chaves foram convidados para testemunhar as transformações, e depois assinaram atestado afirmando que o fato era inexplicável à luz da ciência. Isto contribuiu para fortalecer no povo, no Padre Cícero e em outros sacerdotes a crença no milagre.

O povoado passou a ser alvo de peregrinação: as pessoas queriam ver a beata e adorar os panos tintos de sangue.

O professor e jornalista José Marrocos, desde o começo um ardoroso defensor do milagre, cuidou de divulgá-lo pela imprensa.

A notícia chegou ao conhecimento do Bispo D. Joaquim José Vieira, irritando-o profundamente. Padre Cícero foi chamado ao Palácio Episcopal, em Fortaleza, a fim de prestar esclarecimentos sobre os acontecimentos que todo mundo comentava.

Inicialmente, o bispo ficou admirado com o relato feito por Padre Cícero, porém depois, pressionado por alguns segmentos da Igreja que não aceitavam a idéia de milagre, mandou investigar oficialmente os fatos, nomeando uma Comissão de Inquérito composta por dois sacerdotes de reconhecida competência: os Padres Clicério da Costa Lobo e Francisco Ferreira Antero.

Os padres comissários vieram, assistiram as transformações, examinaram a beata, ouviram testemunhas e depois concluíram que o fato era mesmo divino. O bispo não gostou desse resultado e nomeou outra Comissão, constituída pelos Padres Antônio Alexandrino de Alencar e Manoel Cândido.

A nova Comissão agiu rapidamente. Convocou a beata, deu-lhe a comunhão, e como nada de extraordinário aconteceu, concluiu: não houve milagre!

O povo, Prof. José Marrocos, Padre Cícero e todos os outros padres que acreditavam no milagre protestaram.

Com a posição contrária do bispo, criou-se um tumulto, agravado quando o Relatório do Inquérito foi enviado à Santa Sé, em Roma, e esta confirmou a decisão tomada pelo bispo.

Todos os padres que acreditavam no milagre foram obrigados a se retratar publicamente, ficando reservada ao Padre Cícero uma punição maior: a suspensão de ordem.

Durante toda sua vida ele tentou revogar essa pena, todavia, foi em vão. Aliás, ele até que conseguiu uma vitória em Roma, quando lá esteve em 1898. Entretanto, o bispo, por intransigência, manteve-se irredutível na decisão tomada inicialmente.

Cem anos depois o milagre de Juazeiro foi alvo de estudos pela Parapsicologia. Segundo estudiosos dessa ciência, um caso de aporte foi o que teria acontecido com a beata. A tese do embuste, defendida por muitos padres e escritores, foi descartada pelos parapsicólogos.


VIDA POLÍTICA

Proibido de celebrar, Padre Cícero ingressou na vida política. Como explicou no seu Testamento, o fez para atender aos insistentes apelos dos amigos e na hora em que os juazeirenses esboçavam um movimento de emancipação política.

Conseguida a independência de Juazeiro, em 22 de julho de 1911, Padre Cícero foi nomeado Prefeito do recém-criado município. Além de Prefeito, também ocupou a Vice-Presidência do Ceará.

Sobre sua participação na Revolução de 1914 ele afirmou categoricamente que a chefia do movimento coube ao Dr. Floro Bartolomeu da Costa, seu grande amigo. A Revolução de 1914 foi planejada pelo Governo Federal com o objetivo de depor o Presidente do Ceará Cel. Franco Rabelo. Com a vitória da Revolução, Padre Cícero reassumiu o cargo de Prefeito, do qual havia sido retirado pelo governo deposto, e seu prestígio cresceu. Sua casa, antes visitada apenas por romeiros, passou a ser procurada também por políticos e autoridades diversas.

Era muito grande o volume de correspondências que Padre Cícero recebia e mandava. Não deixava nenhuma carta, mesmo pequenos bilhetes, sem resposta, e de tudo guardava cópia.

 
ENCONTRO COM LAMPIÃO

Com respeito a Lampião, Padre Cícero encontrou-se com ele em 1926. Aconselhou-o a deixar o cangaço, e nunca lhe deu a patente de Capitão, como foi dito em alguns livros. Na verdade, Lampião veio a Juazeiro a convite do Deputado Floro Bartolomeu para ingressar no Batalhão Patriótico e combater a Coluna Prestes. É possível que ele tenha usado o nome do Padre Cícero para tal, pois Lampião jamais recusaria um pedido de Padre Cícero. Dr. Floro não pôde receber Lampião e seu bando, pois já se encontrava no Rio de Janeiro para onde fora doente, chegando a falecer, coincidentemente, na época em que o famoso cangaceiro visitou Juazeiro. Como insistia em receber a patente de Capitão prometida por Dr. Floro, um dos secretários de Padre Cícero (Benjamim Abraão), convenceu Dr. Pedro de Albuquerque Uchoa, único funcionário público federal residente em Juazeiro, a assinar um documento por eles mesmos forjados, concedendo a famigerada patente, que tantos aborrecimentos trouxe ao Padre Cícero, a quem muitos escritores atribuem a autoria.

A verdade é que, mais tarde, Dr. Uchoa foi chamado a Recife para se explicar junto às forças armadas sobre a concessão da patente, e ele, naturalmente temendo uma punição, não encontrou outra solução senão atribuir tudo ao Padre Cícero, certo de que ninguém seria capaz de repreender aquele virtuoso e respeitado sacerdote. Quem conhece a índole do Padre Cícero sabe perfeitamente que ele seria incapaz de praticar ato tão abjeto.

 
IMPORTÂNCIA

Padre Cícero é o maior benfeitor de Juazeiro e a figura mais importante de sua história. Foi ele quem trouxe para Juazeiro a Ordem dos Salesianos; doou os terrenos para construção do primeiro campo de futebol e do aeroporto; construiu as capelas do Socorro, de São Vicente, de São Miguel e a Igreja de Nossa Senhora das Dores; incentivou a fundação do primeiro jornal local (O Rebate); fundou a Associação dos Empregados do Comércio e o Apostolado da Oração; realizou a primeira exposição da arte juazeirense no Rio de Janeiro; incentivou e dinamizou o artesanato artístico e utilitário, como fonte de renda; incentivou a instalação do ramo de ourivesaria; estimulou a expansão da agricultura, introduzindo o plantio de novas culturas; contribuiu para instalação de muitas escolas, inclusive a famosa Escola Normal Rural e o Orfanato Jesus Maria José; socorreu a população durante as secas e epidemias, prestando-lhe toda assistência e, finalmente, projetou Juazeiro no cenário político nacional, transformando um pequeno lugarejo na maior e mais importante cidade do interior cearense.

Os bens que recebeu por doação, durante sua quase secular existência, foram doados à Igreja, sendo os Salesianos seus maiores herdeiros.

Ao morrer, no dia 20 de julho de 1934, aos 90 anos, seus inimigos gratuitos apregoaram que, morto o ídolo, a cidade que ele fundou e a devoção à sua pessoa acabariam logo. Enganaram-se. A cidade prosperou e a devoção aumentou. Até hoje, todo ano, religiosamente, no Dia de Finados, uma grande multidão de romeiros, vinda dos mais distantes lugares do Nordeste, chega a Juazeiro para uma visita ao seu túmulo, na Capela do Socorro.

Padre Cícero é uma das figuras mais biografadas do mundo. Sobre ele, existem mais de duzentos livros, sem falar nos artigos que são publicados freqüentemente na imprensa. Ultimamente sua vida vem sendo estudada por cientistas sociais do Brasil e do Exterior.

Não foi canonizado pela Igreja, porém é tido como santo por sua imensa legião de fiéis espalhados pelo Brasil.

O binômio oração e trabalho era o seu lema. E Juazeiro é o seu grande e incontestável milagre.
BIBLIOGRAFIA
DELLA CAVA, Ralph. Milagre em Joaseiro.2a. edição. São Paulo, Editora Paz e Terra, 1985.
FORTI, Maria do Carmo P. Maria de Araújo, a beata do Juazeiro. São Paulo, Edições Paulinas, 1991.
GUEIROS, Optato. Lampeão. 2a. edição. São Paulo, 1953.
MENEZES, Fátima. Lampião e o Padre Cícero.Recife, Universidade Federal de Pernambuco, 1985.
OLIVEIRA, Amália Xavier de. O Padre Cícero que eu conheci. 3a. edição. Recife, Editora Massangana, 1981.
SOBREIRA, Azarias. O Patriarca de Juazeiro. Petrópólis, 1968.

AUTOR
Daniel Walker nasceu em Juazeiro do Norte, Ceará, é jornalista, radialista e exerce o magistério como Professor Adjunto da Fundação Universidade Regional do Cariri-URCA É autor de vários trabalhos sobre o Padre Cícero, entre os quais: O Pensamento Vivo de Padre Cícero, História do Padre Cícero em Resumo, Pequena Biografia do Padre Cícero e Curiosidades Sobre Padre Cícero. Contato: walker@baydejbc.com.br


JUAZEIRO DO NORTE / CE (2015) - COLINA DO HORTO - ESTÁTUA DE PADRE CÍCERO

Juazeiro do Norte / CE (2015) -  Colina do Horto - Estátua de Padre Cícero: "Chegada ao Horto. Não é uma imagem bonita, mas é a realidade amalgamada entre a pobreza e a religião tão comum nesse Brasil. Pedintes ansiosos por uma esmola"
Juazeiro do Norte / CE (2015) -  Colina do Horto - Estátua de Padre Cícero: "Chegada ao Horto"
Juazeiro do Norte / CE (2015) -  Colina do Horto - Estátua de Padre Cícero: "Chegada ao Horto"
Juazeiro do Norte / CE (2015) -  Colina do Horto - Estátua de Padre Cícero: "Chegada ao Horto"
Juazeiro do Norte / CE (2015) -  Colina do Horto - Estátua de Padre Cícero: "Chegada ao Horto"

Juazeiro do Norte / CE (2015) -  Colina do Horto - Estátua de Padre Cícero: "Chegada ao Horto"

Juazeiro do Norte / CE (2015) -  Colina do Horto - Estátua de Padre Cícero: "Chegada ao Horto"


Juazeiro do Norte / CE (2015) -  Colina do Horto - Estátua de Padre Cícero: "Chegada ao Horto"
Juazeiro do Norte / CE (2015) -  Colina do Horto - Estátua de Padre Cícero: "Chegada ao Horto"

Juazeiro do Norte / CE (2015) -  Colina do Horto - Estátua de Padre Cícero: "Chegada ao Horto"

Juazeiro do Norte / CE (2015) -  Colina do Horto - Estátua de Padre Cícero: "Chegada ao Horto"

Juazeiro do Norte / CE (2015) -  Colina do Horto - Estátua de Padre Cícero: "Missa no Horto"


TEXTO

A Contribuição do Padre Cícero para a formação da cidade do Joaseiro

O presente capítulo tem como objetivo enfocar a ação política, social e econômica do Padre Cícero sobre a formação da cidade de Juazeiro do Norte. A ação do Padre Cícero sobre o Juazeiro experimentou apogeu no período de transição do século XIX para o século XX, no qual o ‘espírito da época’ encontrava-se permeado pelo ideário de progresso, modernização e civilização. Simultaneamente, foi a fase de transição do Império para a República, promovendo redefinição entre a igreja e o Estado, no cerne das atribuições do poder estatal, civil e eclesiástico.

As indefinições inerentes à transição, acentuadas por incertezas e necessidade de redefinição e novas mediações políticas e sociais contribuíram para consolidar a liderança do Padre Cícero.

Tornando-se conselheiro de uma crescente legião de fiéis, ameaçados pela seca, no sertão nordestino e por limitações materiais dela decorrentes, o Padre Cícero incentivava a orar e trabalhar.

Ao promover a valorização ética do trabalho, o Padre Cícero contribuiu para romper com as representações ‘escravocratas’, nas quais o trabalho estava associado à ‘dor’, ao ‘castigo’ e, portanto, à humilhação e à desvalorização do homem.

Inserido em um Nordeste predominantemente rural, no qual encontravam-se presentes formas de relação de produção não tipicamente capitalistas, como a utilização da mão-de-obra escrava, o Padre inseriu naquele espaço social um novo discurso, a partir do qual emergiam novas práticas de trabalho, vinculadas à construção de um mundo melhor, mais igualitário e mais livre.

Em um imaginário no qual o trabalho estava associado ao castigo, enunciar o trabalho associado à obra de Deus para os homens promovia uma ruptura significativa nas representações de trabalho escravocrata, dependente, arcaico e servil.

Ao vislumbrar trabalho e fé, ao instaurar o trabalho enquanto forma de orar e ao promover a oração enquanto um trabalho e sacrifício destinado ao divino em gratidão às dádivas materiais, o Padre Cícero contribuiu para consolidar um ideário político, social, filosófico e econômico sobre o Joaseiro.

Do ponto de vista econômico, cerne da presente análise, o Padre Cícero difundiu um ideário de prosperidade, o qual consolidou uma concepção de desenvolvimento pautada no trabalho e fé. A referida concepção contribuiu para a ocupação dos espaços públicos e privados no Joaseiro, modelando uma nova geografia, política e sociedade na região do Cariri Cearense.

A concepção de desenvolvimento ora em debate repercutiu para projetar o vilarejo do sertão nordestino de base predominantemente rural, em um importante núcleo urbano de comercialização. A consolidação do ideário de prosperidade, constitui um importante elemento para promover a presença do Padre Cícero na memória da cidade através do tempo.

Para melhor compreender o cerne da concepção de desenvolvimento, do Padre Cícero, e suas repercussões para a formação e expansão da cidade do Joaseiro, realizamos uma retrospectiva histórica. O presente movimento analítico tem como objetivo visitar o passado para identificar macro-tendências na história econômica da cidade e melhor compreender a cidade do Padre Cícero, sua importância e significação nos dias atuais.

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Fonte:
Maria de Lourdes de Araujo: “A cidade do Padre Cícero:  Trabalho e fé”. (Tese apresentada ao Programa de
Pós-Graduação em Planejamento Urbano e Regional, do Instituto de Pesquisa em Planejamento Urbano e Regional, da Universidade Federal do Rio de Janeiro, para obtenção do grau de Doutora. Orientadora: Professora Drª Tamara Tânia Cohen Egler). Rio de Janeiro, 2005.


MONUMENTO DO PADRE CÍCERO - JUAZEIRO DO NORTE/CE

Juazeiro do Norte / CE (2015) -  Colina do Horto - Estátua de Padre Cícero

Juazeiro do Norte / CE (2015) -  Colina do Horto - Estátua de Padre Cícero

Juazeiro do Norte / CE (2015) -  Colina do Horto - Estátua de Padre Cícero

Juazeiro do Norte / CE (2015) -  Colina do Horto - Estátua de Padre Cícero

Juazeiro do Norte / CE (2015) -  Colina do Horto - Estátua de Padre Cícero

Juazeiro do Norte / CE (2015) -  Colina do Horto - Estátua de Padre Cícero: "Vista do Monumento"

Juazeiro do Norte / CE (2015) -  Colina do Horto - Estátua de Padre Cícero: "Vista do Monumento"

Juazeiro do Norte / CE (2015) -  Colina do Horto - Estátua de Padre Cícero: "Vista do Monumento"

Juazeiro do Norte / CE (2015) -  Colina do Horto - Estátua de Padre Cícero: "Vista do Monumento"

Juazeiro do Norte / CE (2015) -  Colina do Horto - Estátua de Padre Cícero: "Vista do Monumento"

Juazeiro do Norte / CE (2015) -  Colina do Horto - Estátua de Padre Cícero: "Vista do Monumento"

Juazeiro do Norte / CE (2015) -  Colina do Horto - Estátua de Padre Cícero: "Vista do Monumento"

Juazeiro do Norte / CE (2015) -  Colina do Horto - Estátua de Padre Cícero: "Vista do Monumento"

Juazeiro do Norte / CE (2015) -  Colina do Horto - Estátua de Padre Cícero: "Vista do Monumento"

Juazeiro do Norte / CE (2015) -  Colina do Horto - Estátua de Padre Cícero: "Vista do Monumento"

Juazeiro do Norte / CE (2015) -  Colina do Horto - Estátua de Padre Cícero: "Vista do Monumento"
Juazeiro do Norte / CE (2015) -  Colina do Horto - Estátua de Padre Cícero: "Vista do Monumento, vendo-se as "pichações" dos turistas e romeiros

Juazeiro do Norte / CE (2015) -  Colina do Horto - Estátua de Padre Cícero: "Vista do Monumento"
Juazeiro do Norte / CE (2015) -  Colina do Horto - Estátua de Padre Cícero: "Vista do Monumento, vendo-se turistas e romeiros"
Juazeiro do Norte / CE (2015) -  Colina do Horto - Estátua de Padre Cícero: "Vista do Monumento, vendo-se turistas e romeiros"
Juazeiro do Norte / CE (2015) -  Colina do Horto - Estátua de Padre Cícero: "Vista do Monumento, vendo-se turistas e romeiros"
Juazeiro do Norte / CE (2015) -  Colina do Horto - Estátua de Padre Cícero: "Vista do Monumento, vendo-se o Ofertório"
Juazeiro do Norte / CE (2015) -  Colina do Horto - Estátua de Padre Cícero: "Vista do Monumento, vendo-se placas de homenagens"
Juazeiro do Norte / CE (2015) -  Colina do Horto - Estátua de Padre Cícero: "Vista do Monumento, vendo-se cães deitados ao seu redor"
Juazeiro do Norte / CE (2015) -  Colina do Horto - Estátua de Padre Cícero: "Vista do Monumento, vendo pessoas e cães ao redor"
Juazeiro do Norte / CE (2015) -  Colina do Horto - Estátua de Padre Cícero: "Vista do Monumento, vendo-se turistas do alto do Horto"
Juazeiro do Norte / CE (2015) -  Colina do Horto - Estátua de Padre Cícero: "Vista do Monumento, vendo-se arredores"
Juazeiro do Norte / CE (2015) -  Colina do Horto - Estátua de Padre Cícero: "Vista do Monumento, vendo-se a cidade do alto do Horto"
Juazeiro do Norte / CE (2015) -  Colina do Horto - Estátua de Padre Cícero: "Vista do Monumento, vendo-se aspecto da cidade do alto do Horto"
Juazeiro do Norte / CE (2015) -  Colina do Horto - Estátua de Padre Cícero: "Vista do Monumento, vendo-se aspecto da cidade do alto do Horto"
Juazeiro do Norte / CE (2015) -  Colina do Horto - Estátua de Padre Cícero: "Vista do Monumento, vendo-se aspecto da cidade do alto do Horto"
Juazeiro do Norte / CE (2015) -  Colina do Horto - Estátua de Padre Cícero: "Vista do Monumento, vendo-se aspecto da cidade do alto do Horto"
Juazeiro do Norte / CE (2015) -  Colina do Horto - Estátua de Padre Cícero: "Vista do Monumento, vendo-se aspecto da cidade do alto do Horto"
Juazeiro do Norte / CE (2015) -  Colina do Horto - Estátua de Padre Cícero: "Vista do Monumento, vendo-se aspecto da cidade do alto do Horto"
Juazeiro do Norte / CE (2015) -  Colina do Horto - Estátua de Padre Cícero: "Vista do Monumento, vendo-se aspecto da cidade do alto do Horto"
Juazeiro do Norte / CE (2015) -  Colina do Horto - Estátua de Padre Cícero: "Vista do Monumento, vendo-se aspecto da cidade do alto do Horto"
Juazeiro do Norte / CE (2015) -  Colina do Horto - Estátua de Padre Cícero: "Vista do Monumento, vendo-se seus arredores"
Juazeiro do Norte / CE (2015) -  Colina do Horto - Estátua de Padre Cícero: "Vista do Monumento, vendo-se seus arredores"
Juazeiro do Norte / CE (2015) -  Colina do Horto - Estátua de Padre Cícero: "Vista do Monumento, vendo-se aspecto da cidade do alto do Horto"
Juazeiro do Norte / CE (2015) -  Colina do Horto - Estátua de Padre Cícero: "Vista do Monumento, vendo-se aspecto da cidade do alto do Horto"
Juazeiro do Norte / CE (2015) -  Colina do Horto - Estátua de Padre Cícero: "Vista do Monumento, vendo-se aspecto da cidade do alto do Horto"
Juazeiro do Norte / CE (2015) -  Colina do Horto - Estátua de Padre Cícero: "Vista do Monumento, vendo-se aspecto da cidade do alto do Horto"
Juazeiro do Norte / CE (2015) -  Colina do Horto - Estátua de Padre Cícero: "Vista do Monumento, vendo-se aspecto da cidade do alto do Horto"
Juazeiro do Norte / CE (2015) -  Colina do Horto - Estátua de Padre Cícero: "Vista do Monumento, vendo-se aspecto da cidade do alto do Horto"
Juazeiro do Norte / CE (2015) -  Colina do Horto - Estátua de Padre Cícero: "Vista do Monumento, vendo-se aspecto da cidade do alto do Horto"
Juazeiro do Norte / CE (2015) -  Colina do Horto - Estátua de Padre Cícero: "Vista do Monumento, vendo-se aspecto da cidade do alto do Horto"
Juazeiro do Norte / CE (2015) -  Colina do Horto - Estátua de Padre Cícero: "Vista do Monumento, vendo-se aspecto da cidade do alto do Horto"

Juazeiro do Norte / CE (2015) -  Colina do Horto - Estátua de Padre Cícero: "Vista do Monumento, vendo-se arredores"



TEXTO

O Museu do Vivo do Padre Cícero
  
Além de nossas caminhadas pela cidade de Juazeiro do Norte, concentramos o estudo empírico no Museu Vivo do Padre Cícero. Os estudos de caso são originários das pesquisas da área de medicina, principalmente, nos chamados asoc de Hipócrates, e foram se infiltrando em outros campos de saberes. No entendimento de Gonçalves e Meirelles (2004, p. 47), os estudos de caso “são adotados para aqueles fenômeno s ou problemas que apresentam características peculiares, alguma idiossincrasia com destaque para que justifique o esforço de pesquisas simples sujeito ou de uma situação particular". Além do mais, Godoy (1995, p. 25) percebe esses estudos "[...] como um tipo de pesquisa cujo objeto é uma unidade que se analisa profundamente e objetiva o exame detalhado de um ambiente”. Entendemos que essa estratégica metodológica pode bem ser aplicada ao nosso objeto de estudo.

A respeito dos critérios de seleção dos casos a estudar, Stake (2005, P. 17) propõe: “Pode ser útil selecionar casos típicos ou representativos de outros casos”. No entanto, deixa claro que “a investigação com estudo de casos não é uma investigação de amostras”. É bom lembrar que “Por vezes um caso típico funciona bem, mas frequentemente um caso pouco habitual torna-se ilustrativo de circunstâncias que passam desapercebidas nos casos típicos”. (ID.IBID).

Esse museu está registrado no IBRAM por meio do Cadastro Nacional de Museus, também conhecido popularmente como o “Museu do Casarão” localizado no bairro do Horto em Juazeiro do Norte-CE. Nesse Museu, a temática gira em torno dos ex-votos trazidos pelos devotos e cuja devoção está aliada à figura do Padr e Cícero Romão Batista, personagem de referência dos moradores e devotos de toda a região Nordeste, em particular, do Cariri, e especialmente da cidade de Juazeiro do Norte, campo empírico desta pesquisa.

O Casarão (Figura 15) foi construído em 1907 e está localizado no bairro do Horto. Este espaço serviu de morada e lugar para os descansos do Padre Cícero Romão Batista, que o considerava local de reflexão, pois o fazia lembrar da paixão, morte e ressurreição de Jesus Cristo (SANTANA, 2009, p. 78). O Horto foi ainda morada de beatos e hoje oferece ao romeiro que o visita uma subida, caminhada de fé, de oração e penitência (BARBOSA, 1992, p. 15).

O Museu Vivo do Padre Cícero foi inaugurado no dia 21 de julho de 1999. Situado em torno da estátua do Padre Cícero, obra do artista Armando Lacerda. A edificação do Casarão tem um grande valor espiritual. Embora seja de natureza privada, pois é mantido pela Entidade dos “Afilhados do Padre Cícero”, ainda assim, ao visitar esse espaço, a primeira impressão que temos é de que se trata de um museu público; afinal, não é cobrada nenhuma taxa para se entrar e muito menos para se deslocar nas diversas salas onde os ex-votos estão armazenados.

O Museu retrata a vida do Padre Cícero na casa onde ele morou, por meio de personagens, feitas de resina de poliéster (cabeça e mãos), à imagem e semelhança do grande sacerdote do povo caririense. Essas obras de artes foram criadas pelo artista plástico pernambucano (radicado na França) Mozart Albuquerque Guerra. Em salas e quartos, que recortam toda e estrutura do museu, encontram-se as imagens da vida do Padre Cícero, em momentos diferentes...

Considerado um museu de arte religiosa seu acervo é composto por peças religiosas como oratórios, imagens de santos etc. bem como pelos objetos ex-votivos. A classificação dos ex-votos, universo de nossa investigação, é feita por tipo de material: peças de madeira representando partes do corpo humano. Com raríssimas exceções, estas perpassam toda a extensão do museu, fotos, roupas, quepes militares e bonés, vestidos de noiva e outros objetos do cotidiano, representativos da religiosidade popular, que assumem uma nova representação, tornando-se objeto de devoção, como estojos de cane tas, réplicas de casas e sítios, brinquedos como bonecas e carros etc, assumindo o terceiro sentido – o de objeto museológico.

As peças de ex-votos que chegam ao Museu Vivo do Padre Cícero são deixadas em um altar (figura 17), onde se encontra uma imagem do santo popular de joelhos, erguido ao centro do museu. Ali os devotos depositam, aos pés do “Padim Ciço” - apelido carinhosamente dado ao “santo” – o pagamento de sua s promessas, agradecendo a graça alcançada. Em algumas visitas, perguntamos aos guia s do museu se eles sabiam a quantidade de ex-votos que chegavam diariamente. A resposta foi simples: “olhe aí!” - apontando para o altar – “isso tudo aí é só agora de manhã”.

É mister lembrar, com base na Política Nacional de Museus (2007), que o Museu Vivo do Padre Cícero, apesar de contemplar algumas das características museológicas, ainda se distancia de algumas concepções no âmbito dos museu s, como por exemplo no que se refere ao planejamento e execução da exposição, muitas vezes causando poluição visual, ao envolver no mesmo espaço peças semanticamente distantes. Embora esse museu não atenda todas as prerrogativas necessárias para se fazer museu, ainda assim, é respeitado como tal, pelos próprios organismos consagrados à instituição museológica. Também, não nos podemos esquecer de que o poder da cultura ultrapassa a dimensão conceitual e a vontade do povo é maior do que qualquer coisa. O Padre Cícero Romão é um desses exemplos e, por extensão, o museu que leva seu nome. Morin (2002, p. 35) aprova nosso entendimento, assinalando que a cultura é o “Conjunto de hábitos, costumes, práticas, saber fazer, saberes, normas, interditos, estratégias, crenças, ideias, valores, mitos, que se perpetua de geração em geração, reproduz-se em cada indivíduo, gera e regenera a complexidade social.”. Esses aspectos estão presentes no ambiente do Museu Vivo do Padre Cícero. Daí a enorme representação simbólica das peças ex-votivas.

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Fonte:
Carla Façanha de Brito: “Proposta de categorização dos ex-votos do Casarão - O Museu Vivo do Padre Cícero em Juazeiro do Norte-CE”. (Dissertação de Mestrado apresentada à Coordenação do Programa de Pós-Graduação em Ciência da Informação da Universidade Federal da Paraíba, como requisito parcial para obtenção do título de Mestre. Orientadora: Prof.ª Dr.ª Virgínia Bentes Pinto). João Pessoa, 2012.


O MUSEU VIVO DO PADRE CÍCERO - JUAZEIRO DO NORTE/CE

Juazeiro do Norte / CE (2015) -  Colina do Horto - Estátua de Padre Cícero: "Vista  parcial do Museu Vivo"

Juazeiro do Norte / CE (2015) -  Colina do Horto - Estátua de Padre Cícero: "Vista  parcial do Museu Vivo"

Juazeiro do Norte / CE (2015) -  Colina do Horto - Estátua de Padre Cícero: "Vista  parcial do Museu Vivo"

Juazeiro do Norte / CE (2015) -  Colina do Horto - Estátua de Padre Cícero: "Vista  parcial do Museu Vivo"

Juazeiro do Norte / CE (2015) -  Colina do Horto - Estátua de Padre Cícero: "Vista  parcial do Museu Vivo: Entrada"
Juazeiro do Norte / CE (2015) -  Colina do Horto - Estátua de Padre Cícero: "Aspecto interno do Museu, vendo-se retrato do Padre Cícero"
Juazeiro do Norte / CE (2015) -  Colina do Horto - Estátua de Padre Cícero: "Aspecto interno do Museu, vendo-se parte do seu acervo de fotografias"
Juazeiro do Norte / CE (2015) -  Colina do Horto - Estátua de Padre Cícero: "Aspecto interno do Museu, vendo-se parte do seu acervo de fotografias"
Juazeiro do Norte / CE (2015) -  Colina do Horto - Estátua de Padre Cícero: "Aspecto interno do Museu, vendo-se parte do seu acervo de fotografias"
Juazeiro do Norte / CE (2015) -  Colina do Horto - Estátua de Padre Cícero: "Aspecto interno do Museu, vendo-se imagens religiosas"
Juazeiro do Norte / CE (2015) -  Colina do Horto - Estátua de Padre Cícero: "Aspecto interno do Museu, vendo-se uma imagem de escultura do Padre Cícero Romão"
Juazeiro do Norte / CE (2015) -  Colina do Horto - Estátua de Padre Cícero: "Aspecto interno do Museu, vendo-se uma imagem de escultura do Padre Cícero Romão"
Juazeiro do Norte / CE (2015) -  Colina do Horto - Estátua de Padre Cícero: "Aspecto interno do Museu, vendo-se uma imagem de escultura do Padre Cícero Romão"


Juazeiro do Norte / CE (2015) -  Colina do Horto - Estátua de Padre Cícero: "Aspecto interno do Museu, vendo-se uma imagem de escultura do Padre Cícero Romão"

Juazeiro do Norte / CE (2015) -  Colina do Horto - Estátua de Padre Cícero: "Aspecto interno do Museu, vendo-se uma imagem de escultura do Padre Cícero Romão"
Juazeiro do Norte / CE (2015) -  Colina do Horto - Estátua de Padre Cícero: "Aspecto interno do Museu, vendo-se ex-voto,  uma espécie de “presente”  concedido ao Padre como agradecimento por uma graça alcançada (em cumprimento a uma promessa feita e concretizada). A esculta de madeira esculpida representa a parte do corpo que recebera o milagre
Juazeiro do Norte / CE (2015) -  Colina do Horto - Estátua de Padre Cícero: "Aspecto interno do Museu, vendo-se ex-voto,  uma espécie de “presente”  concedido ao Padre como agradecimento por uma graça alcançada (em cumprimento a uma promessa feita e concretizada).
Juazeiro do Norte / CE (2015) -  Colina do Horto - Estátua de Padre Cícero: "Aspecto interno do Museu, vendo-se ex-voto,  uma espécie de “presente”  concedido ao Padre como agradecimento por uma graça alcançada (em cumprimento a uma promessa feita e concretizada).
Juazeiro do Norte / CE (2015) -  Colina do Horto - Estátua de Padre Cícero: "Aspecto interno do Museu, vendo-se ex-voto,  uma espécie de “presente”  concedido ao Padre como agradecimento por uma graça alcançada (em cumprimento a uma promessa feita e concretizada).
Juazeiro do Norte / CE (2015) -  Colina do Horto - Estátua de Padre Cícero: "Aspecto interno do Museu, vendo-se ex-voto,  uma espécie de “presente”  concedido ao Padre como agradecimento por uma graça alcançada (em cumprimento a uma promessa feita e concretizada).
Juazeiro do Norte / CE (2015) -  Colina do Horto - Estátua de Padre Cícero: "Aspecto interno do Museu, vendo-se ex-voto,  uma espécie de “presente”  concedido ao Padre como agradecimento por uma graça alcançada (em cumprimento a uma promessa feita e concretizada).
Juazeiro do Norte / CE (2015) -  Colina do Horto - Estátua de Padre Cícero: "Aspecto interno do Museu, vendo-se ex-voto,  uma espécie de “presente”  concedido ao Padre como agradecimento por uma graça alcançada (em cumprimento a uma promessa feita e concretizada).
Juazeiro do Norte / CE (2015) -  Colina do Horto - Estátua de Padre Cícero: "Aspecto interno do Museu, vendo-se ex-voto,  uma espécie de “presente”  concedido ao Padre como agradecimento por uma graça alcançada (em cumprimento a uma promessa feita e concretizada).
Juazeiro do Norte / CE (2015) -  Colina do Horto - Estátua de Padre Cícero: "Aspecto interno do Museu, vendo-se ex-voto,  uma espécie de “presente”  concedido ao Padre como agradecimento por uma graça alcançada (em cumprimento a uma promessa feita e concretizada).
Juazeiro do Norte / CE (2015) -  Colina do Horto - Estátua de Padre Cícero: "Aspecto interno do Museu, vendo-se ex-voto,  uma espécie de “presente”  concedido ao Padre como agradecimento por uma graça alcançada (em cumprimento a uma promessa feita e concretizada).
Juazeiro do Norte / CE (2015) -  Colina do Horto - Estátua de Padre Cícero: "Aspecto interno do Museu, vendo-se ex-voto,  uma espécie de “presente”  concedido ao Padre como agradecimento por uma graça alcançada (em cumprimento a uma promessa feita e concretizada).
Juazeiro do Norte / CE (2015) -  Colina do Horto - Estátua de Padre Cícero: "Aspecto interno do Museu, vendo-se ex-voto,  uma espécie de “presente”  concedido ao Padre como agradecimento por uma graça alcançada (em cumprimento a uma promessa feita e concretizada).
Juazeiro do Norte / CE (2015) -  Colina do Horto - Estátua de Padre Cícero: "Aspecto interno do Museu, vendo-se ex-voto,  uma espécie de “presente”  concedido ao Padre como agradecimento por uma graça alcançada (em cumprimento a uma promessa feita e concretizada).
Juazeiro do Norte / CE (2015) -  Colina do Horto - Estátua de Padre Cícero: "Aspecto interno do Museu, vendo-se ex-voto,  uma espécie de “presente” (escultura de madeira, fotografia, peça de roupa etc.)  concedido ao Padre como agradecimento por uma graça alcançada (em cumprimento a uma promessa feita e concretizada).
Juazeiro do Norte / CE (2015) -  Colina do Horto - Estátua de Padre Cícero: "Aspecto interno do Museu, vendo-se ex-voto,  uma espécie de “presente” (escultura de madeira, fotografia, peça de roupa etc.)  concedido ao Padre como agradecimento por uma graça alcançada (em cumprimento a uma promessa feita e concretizada).
Juazeiro do Norte / CE (2015) -  Colina do Horto - Estátua de Padre Cícero: "Aspecto interno do Museu, vendo-se ex-voto,  uma espécie de “presente” (escultura de madeira, fotografia, peça de roupa etc.)  concedido ao Padre como agradecimento por uma graça alcançada (em cumprimento a uma promessa feita e concretizada)
Juazeiro do Norte / CE (2015) -  Colina do Horto - Estátua de Padre Cícero: "Aspecto interno do Museu, vendo-se ex-voto,  uma espécie de “presente” (escultura de madeira, fotografia, peça de roupa etc.)  concedido ao Padre como agradecimento por uma graça alcançada (em cumprimento a uma promessa feita e concretizada).
Juazeiro do Norte / CE (2015) -  Colina do Horto - Estátua de Padre Cícero: "Aspecto interno do Museu, vendo-se, a seguir, uma cena na sala de jantar da residência do Padre Cícero Romão Batista"
Juazeiro do Norte / CE (2015) -  Colina do Horto - Estátua de Padre Cícero: "Aspecto interno do Museu, vendo-se uma cena na sala de jantar da residência do Padre Cícero Romão Batista"
Juazeiro do Norte / CE (2015) -  Colina do Horto - Estátua de Padre Cícero: "Aspecto interno do Museu, vendo-se uma cena na sala de jantar da residência do Padre Cícero Romão Batista"
Juazeiro do Norte / CE (2015) -  Colina do Horto - Estátua de Padre Cícero: "Aspecto interno do Museu, vendo-se uma cena na sala de jantar da residência do Padre Cícero Romão Batista"
Juazeiro do Norte / CE (2015) -  Colina do Horto - Estátua de Padre Cícero: "Aspecto interno do Museu, vendo-se devotos rezando ao Padre"
Juazeiro do Norte / CE (2015) -  Colina do Horto - Estátua de Padre Cícero: "Aspecto interno do Museu, vendo-se devotos rezando ao Padre"
Juazeiro do Norte / CE (2015) -  Colina do Horto - Estátua de Padre Cícero: "Aspecto interno do Museu, vendo-se devotos rezando ao Padre"
Juazeiro do Norte / CE (2015) -  Colina do Horto - Estátua de Padre Cícero: "Aspecto interno do Museu, vendo-se uma devota pedindo por escrito uma bênção ao Padre Cícero"
Juazeiro do Norte / CE (2015) -  Colina do Horto - Estátua de Padre Cícero: "Aspecto interno do Museu, vendo-se potes com água benta (ungida)"
Juazeiro do Norte / CE (2015) -  Colina do Horto - Estátua de Padre Cícero: "Aspecto interno do Museu, vendo-se potes com água benta (ungida)"
Juazeiro do Norte / CE (2015) -  Colina do Horto - Estátua de Padre Cícero: "Aspecto interno do Museu, vendo-se potes com água benta (ungida)"
Juazeiro do Norte / CE (2015) -  Colina do Horto - Estátua de Padre Cícero: "Aspecto interno do Museu, vendo-se imagens de escultura do Padre Cícero e a beata Maria de Araújo"
Juazeiro do Norte / CE (2015) -  Colina do Horto - Estátua de Padre Cícero: "Aspecto interno do Museu, vendo-se uma imagem de escultura do Padre Cícero"

TEXTO

Um lugar de passagem: o povoado de Juazeiro

O Juazeiro [...] é um pequeno povoado que se separa desta cidade do Crato por três léguas. Nós lhe chamamos jardim desta freguesia por ser abundantíssimo de frutas mui doces e escolhidas.

A região cearense conhecida como Vale do Cariri (pela presença de tribos indígenas chamadas Kariri ou Kiriri) compreende diversos municípios cearenses, inclusive a cidade do Crato e o povoado de Juazeiro. Conhecida principalmente pela riqueza de sua vegetação, terra fértil e suas inúmeras fontes de água mineral, a região destaca-se por uma geografia distinta do restante do estado, compreendendo a Serra do Araripe (floresta) e os afluentes dos rios Jaguaribe e Piranhas (HOONAERT, 2006: 27). A região foi colonizada em fins do século XVI com a chegada de exploradores vindos da Bahia e durante muito tempo a principal atividade econômica era a pecuária (Cf. BRASIL, 1997).

A partir da segunda metade do século XIX, a pecuária deu lugar à agricultura, especialmente à produção de cana-de-açúcar e os donos de engenho foram privilegiados com uma lei municipal que delimitava os espaços destinados a cada uma destas atividades. Os conflitos entre as duas atividades compreendiam mais que uma disputa por espaço. Em 1855, o jornal cratense O Araripe publica um edital com os limites geográficos para cada uma das atividades ressaltando que no Cariri “sempre contenderam […] agricultores e criadores”, alegando os primeiros que o gado – vacum e cavalar – contribuía para a devastação da vegetação local (PINHEIRO, 1963: 138).

Ainda no século XVIII chegaram à região os capuchinhos italianos26 que criaram o primeiro aldeamento em São José dos Cariris Novos, atual Missão Velha. Em 1743 o padre capuchinho Frei Carlos Maria de Ferrara funda o aldeamento denominado Missão do Miranda que deu origem à Vila Real do Crato em 1764, atual cidade do Crato (Cf. HOONAERT, 2006: 27-30; PINHEIRO, 1963:40). Através das suas missões evangelizadoras os capuchinhos introduzem na região uma prática religiosa baseada na condenação dos pecados, na busca pela salvação e no medo perante o ‘fim dos tempos’ onde a ênfase era principalmente nas práticas de caráter devocional coletivas como festas, procissões e novenas (HOONAERT, 2004: 100). Entretanto, mesclados aos elementos penitenciais no qual a culpa, o pecado, o sofrimento e à punição têm destaque, é possível também encontrar elementos festivos que fogem à sobriedade exigida pelo culto ortodoxo e remetem ao gozo, ao regozijo. Visitando a região do Cariri no início do século XIX (1838), George Gardner (1812-1849) nos dá a conhecer o seguinte episódio:

Durante minha estada em Crato, celebrou-se o festival de Nossa Senhora da Conceição [... ] Em todo o período da novena, como lhe chamam, o pequeno destacamento de soldados da cidade manteve o fogo quase contínuo dia e noite. […] Como me diziam que a última noite era mais bela de todas, dirigi-me pelas sete horas à igreja, diante da qual grande número de bandeirolas flutuavam em mastros e duas grande fogueiras ardiam. [...] A igreja, por dentro, estava brilhantemente iluminada e quase repleta, mas surpreendeu-me ver que quase toda a congregação era de mulheres. Vestiam-se todas de branco ou pelo menos traziam à cabeça e aos ombros uma espécie de mantilha branca. No dia seguinte, pouco antes do crepúsculo, uma grande procissão, esta só de homens, percorreu as várias ruas, carregando em grande pompa imagens da Virgem e de seu filho. Os três sacerdotes da Vila, juntamente com o visitador, ou representante do Bispo, então em sua visita trienal às Vilas e cidades da província, caminhavam sob um pálio vermelho. Terminou tudo na tarde seguinte (domingo) com uma dança de mascarados em frente à Igreja e exibições no pau de sebo (GARDNER, 1975: 97)

Conquanto o olhar etnocêntrico do autor, a observação dos aspectos burlescos da festa  se sobressai, justamente por apresentar elementos que subvertem a prática católica mais ortodoxa. Esse episódio mostra a forte participação feminina no cotidiano religioso, mas também mostra a clara divisão de tarefas na liturgia, cabendo a elas o culto presencial na Igreja e aos homens, o direito de conduzir a santa pelas ruas da cidade, em procissão. Os elementos penitenciais, no entanto, não saem de cena, o fogo aceso dia e noite denotam a onipotente presença divina.

Essas práticas pautadas numa relação mais íntima com a divindade encontraram solo fértil nas terras úmidas do Vale do Cariri e segundo Della Cava, “a ênfase que os missionários emprestavam à ira de Deus e à perdição iminente do homem por causa do pecado contribuía para gerar um emaranhado de crenças supersticiosas” (1976: 28-30). Vistas por este autor, como “crenças supersticiosas”, essas práticas revelam, no entanto, muito das experiências e das leituras de mundo feitas por uma população essencialmente católica que possuía uma consciência sobre questões como, pecado, juízo final, ira divina, purgação e salvação. Assim, flagelos como a seca eram vistos como exemplos do furor divino contra uma humanidade pecadora e alimentavam uma prática penitencial da religiosidade.

Já no início do século XIX um frade capuchinho, Frei Vitale da Frascarolo (1780-1820) pregava na região e após sua morte “foi-lhe atribuída uma profecia sobre a destruição do mundo. Circularam textos impressos dessa profecia por todo o Nordeste [sic], durante quase um século” (DELLA CAVA, 1976: 28-30). O catolicismo penitencial exaltava também o ‘exagero’ das práticas devocionais, o exemplo de Cristo tomado a ferro e fogo, as emoções exacerbadas, o sentimento de fim de mundo, o temor pelo Juízo Final e pelo destino das almas:

Diz-se comumente que o catolicismo penitencial foi a transplantação européia do catolicismo medieval tardio. Pois foi esse tipo de catolicismo que os portugueses nos trouxeram da Europa. No entanto, é de lembrar que o aspecto ‘penitencial’ do cristianismo remonta às origens mesmas da igreja. Uma consciência profunda do pecado e o temor do julgamento levavam os que traíam seu compromisso com a fé cristã a rigorosas penitências públicas, a maneira de expressar o arrependimento tinha a forma de rigorismo acentuado, sua religiosidade trazendo um profundo senso de pecado, apesar de seus grandes crimes, e dentro de sua índole peculiar procurava expressar seu arrependimento através de rigorosíssimas penitências (FRAGOSO In SILVA, 1987: 10-11) .

Imerso nesse caldeirão de crenças, o penitencialismo seria uma das marcas principais dessa religiosidade ligada ao catolicismo luso, de forte matriz barroca, que constituiu nos seiscentos os principais elementos que comporão a “construção de identidades culturais nos trópicos” (GONÇALVES, 2005: 25). Esse catolicismo ibérico ou luso, como chamamos, é, por sua vez, herdeiro de uma tradição contra-reformista que inseriu em suas práticas elementos que reforçaram a hierarquia, mas que por outro lado, também intensificaram o uso de elementos lúdicos na sua linguagem provocando a emersão de novas sensibilidades: “O lado de espetáculo, com ênfase no visual, foi introduzido tanto no espaço religioso – a exuberância das procissões comemorativas dos dias-santos e dos enterros – como no campo político” (GONÇALVES, 2005: 23).

Com a constante formação de pequenos povoados em torno dos aldeamentos e embora sem um controle efetivo da Igreja oficial – lembremos também que até 1854 o Ceará ficou sob a jurisdição eclesiástica da Diocese do Pernambuco – muitas capelas foram sendo erguidas na região, a primeira capela do Cariri foi construída em Missão Velha sob o orago de Nossa Senhora da Luz em 1748 e em 1778 o visitador Manuel Antônio da Rocha concede licença para ereção de uma capela em Barbalha sob o orago de Santo Antônio. No final do século XVIII, em 1788 é autorizada a construção da igreja matriz do Crato, sob o orago de Nossa Senhora da Penha (PINHEIRO, 1963: 40).

Renata Paz afirma, no entanto, que apesar do costume de se erguer nichos e capelas nos povoados da região, “o contato das populações sertanejas com a igreja institucional, os padres e os sacramentos era diminuto” devido principalmente ao número de sacerdotes disponíveis para atender a população (PAZ, 2005: 29). Estima-se que quando da criação da Diocese cearense em 1854 a população do estado era de aproximadamente 720 mil pessoas, existindo apenas 33 padres para dar conta do serviço eclesiástico (DELLA CAVA, 1976: 35).

Não obstante, a presença no Cariri desde o início do século XIX de famílias mais abastadas irá favorecer o patrimônio eclesiástico e nos dá um quadro mais próximo da vivência religiosa naquela região. Em 1801, por exemplo, dona Luísa Joana Bezerra moradora no sítio da Mata em Crato, doa para o patrimônio de São Vicente Férrer no Crato, “terras que do lado norte extremavam com a vila” afim de “beneficiar a alma do seu marido [o capitão Sebastião de Carvalho] e bem espiritual de sua pessoa” (PINHEIRO, 1963: 51). O oferecimento de terras ao santo de devoção em favor do sufrágio da alma do marido por dona Luísa Joana faz parte da tradicional economia religiosa – das trocas simbólicas – que marcava o catolicismo penitencial trazido pelos padres capuchinhos.

O pai da citada Luísa Joana era o Brigadeiro Leandro Bezerra Monteiro (1740-1831), filho de Joana Bezerra de Menezes e do Capitão Antônio Pinheiro Lobo, que vivia com sua família na região desde o fim do século XVIII, e era proprietário da fazenda Taboleiro Grande  aonde – segundo consenso entre os pesquisadores que estudam a história da região – teve origem o povoado de Juazeiro. Amália Xavier de Oliveira em seu livro de memórias O padre Cícero que eu conheci publicado em 1972, diz que:

O ponto mais pitoresco da fazenda era uma ligeira elevação do terreno, próximo ao rio Salgadinho, onde havia três grandes juazeiros, formando um triângulo e sobressaindo, entre os demais, pelo tamanho de sua fronde […] Sob esta fronde acolhedora, procuravam abrigo os viajantes feiristas que, de Barbalha, Missão Velha e outras imediações, se dirigiam ao Crato para vender os seus produtos e comprar mantimentos para a semana. Foram estas árvores que deram nome a Juazeiro (OLIVEIRA, 2001: 42).

O povoado de Juazeiro nasce, pois, de um ponto de confluência de pessoas que iam e vinham do Crato e descansavam na sombra das árvores ali existentes. Faz-se, portanto como um lugar de passagem. Em 1827, o padre Pedro Ribeiro (1790?-1856) neto do Brigadeiro Leandro Bezerra constrói próximo à sua casa uma pequena capela que dedica a Nossa Senhora das Dores e passa a ser o capelão da mesma até sua morte em1856.27 Nesse momento, outro sacerdote, o padre José Antônio Pereira de Maria Ibiapina já andava pelas estradas cearenses em trabalhos missionários. Nascido em 05 de agosto de 1806 na cidade de Sobral, norte do Ceará, o padre Ibiapina como ficou conhecido, era advogado de formação chegando a ser deputado-geral na legislatura de 1834 a 1837 no Ceará. Decidindo naquele último ano tentar a carreira de advogado fora do Ceará, ele reside em Areia na Paraíba e depois em Recife entre 1838 e 1850, abandonando posteriormente a vida política e iniciando-se no sacerdócio.

Ele se ordena padre em 1853 no Convento da Madre de Deus, em Recife, que tinha uma orientação oratoriana, onde se enfatizava “aspectos práticos ‘úteis’, realistas, baseados mais na caridade concreta do que em profecias messiânicas” (HOORNAERT, 2006: 18-55).

Essa sua formação será importante porque se manifestará justamente no aspecto pragmático de suas ações caritativas. Nesse sentido, as pregações e missões do padre Ibiapina irá se diferenciar das dos padres capuchinhos que atuavam na região pois, tinham também uma consciência sobre os problemas sociais da população local.

Entre 1860 e 1876, Ibiapina percorrerá os estados do Ceará, Rio Grande do Norte, Paraíba, Piauí e Pernambuco construindo poços e açudes para o abastecimento de água nas regiões mais carentes e mais atingidas pelas secas constantes. Ele ainda erguerá igrejas, cemitérios e Casas de Caridade nos lugares onde as ações governamentais falhavam. É sabido que, a despeito de sua formação oratoriana, sua pregação era marcada pelas mesmas características da pregação escatológica e penitencial da época, mas também estimulava o “combate à miséria e aos pecados […] não através do autopadecimento ou da expiação, mas do redirecionamento das energias do povo para o trabalho em prol de melhorias para a coletividade” (PAZ, 2005: 46).

Neste sentido, ganhou destaque o trabalho feito através das Casas de Caridade que pretendiam dar conta do trabalho assistencial aos mais pobres. Essas Casas eram em sua constituição beatérios que imitavam o modelo europeu dos recolhimentos femininos de mulheres leigas, muito comuns na Europa e que migraram para o Brasil colonial. Segundo Leila Algranti recolhimentos como esses faziam parte do projeto da Igreja de “preservar a honra e controlar a sexualidade feminina” através do controle de seus corpos e da reclusão (1993: 49). As Casas de Caridade criadas pelo padre Ibiapina tinham como lema a máxima “Ora e labora”, isto é, “Ora e trabalha” que já indicava claramente sua função. Elas representavam a ratificação de um modelo ideal feminino no qual a obediência, submissão, abnegação aos bens materiais, humildade, eram as virtudes necessárias à mulher que se dedicava ao trabalho religioso. Ao justificar a criação das Casas, o padre Ibiapina mesclava em seu relato uma espécie de visão mística com uma percepção social muito forte:

[…] tinha visto milhares de infelizes órfãs, arrastando os andrajos da miséria, a tiritar de frio e fome, que embrutecidas pela falta de alimento espiritual, aviltadas, esquecidas no meio da sociedade, acabam por se lançarem na mais negra e vergonhosa prostituição, em prejuízo da Moral, da Religião e do Estado. […] Tantas mulheres infelizes, que desejando mudar de vida, reformar os costumes, fazer penitência de seus pecados, não o podem conseguir por falta de um asilo, um lugar abrigado do contato do vício, onde possam em segurança levantar seus olhos ao céu, entregando-se às práticas de penitências, sob direção de boas mestras (HOONAERT, 2006: 14-15).

O padre Ibiapina recrutava então, mulheres que quisessem seguir uma vida religiosa e não podiam, pela sua condição social, entrar nas congregações femininas oficiais. Embora essas Casas de Caridade não tivessem aprovação canônica, as mulheres que nelas entravam

respondiam a um dos modelos de virtude valorizados pela Igreja. A vida de devoção e reclusão se apresentava como uma opção de vida para aquelas mulheres que ora estivessem ‘desamparadas’, dada a situação feminina naquele contexto, como também para mulheres que desejavam seguir uma vida religiosa e “que acreditavam que, para se aproximar de Deus, o melhor caminho era se ausentar do contato com o mundo” (ALGRANTI, 1993: 92). Apesar de não pertencerem a nenhuma ordem oficial, as beatas das Casas de Caridade do Cariri, faziam votos de obediência, pobreza e castidade e vestiam hábitos religiosos como os das freiras: manto e murça.

As Casas de Caridade se constituíram também nos primeiros centros educacionais para as mulheres do Cariri. Na Casa havia uma escola para as órfãs e mulheres que lá moravam e viviam sob a direção da Superiora, que tinha como principal obrigação zelar pela ordem, além de coordenar a execução de pequenos trabalhos manuais que seriam vendidos e aproveitados para o sustento da Casa:

[As Casas] destinavam-se a servir, simultaneamente, de escolas para as filhas dos fazendeiros e comerciantes ricos, de orfanatos para as crianças de classes mais pobres, de centro para manufatura de tecidos baratos, e consoante a própria ambição de Ibiapina, de convento para sua congregação de freiras (DELLA CAVA, 1976: 34).

O padre Ibiapina ergueu ao todo “vinte Casas de Caridade, dez igrejas, dez açudes, nove cemitérios, quatro hospitais, quatro capelas, uma casa paroquial, uma cacimba pública e um gabinete de leitura” (PAZ, 2005: 47, Nt. 33). No Cariri foram construídas quatro Casas de Caridade nas cidades de Missão Velha, Barbalha, Milagres e Crato entre os anos de 1864 e 1869. A Casa de Caridade do Crato foi erguida em 07 de março de 1869 e segundo o jornal A voz da religião no Cariri, que era dirigido pelo jornalista José Marrocos:

A Pátria e a Religião acabam de ter um desses dias de glória que abrem uma página dourada na história e fazem época nos anais da vida. Domingo, 7 do corrente, realizou-se o ato pomposo e brilhante da instalação da Santa Casa de Caridade, desta cidade. A importância dessa festividade inaugural, a majestade augusta das cerimônias religiosas, a simpatia fascinadora do Venerável Padre Ibiapina atraíram à solenidade um concurso extraordinário, imenso e quase inumerável.

Criado em dezembro de 1868 justamente para divulgar as obras sociais do padre Ibiapina, o jornal A voz da Religião no Cariri se destacou por ser o primeiro jornal caririense religioso que dedicava páginas e páginas à vida social (divulgando e relatando festas e outras atividades) e à vivência religiosa da região. Segundo seu editor, o jornalista José Marrocos, o jornal abria “uma página para a história de nossa terra, que nos dê a conhecer o estado em que nos achamos pelo lado religioso e moral”. O jornal circulou até dezembro de 1870.

Não obstante o trabalho social empreendido pelo padre Ibiapina, sua fama ia além e em 13 de dezembro de 1868 o mesmo jornal, A voz da religião, noticia pela primeira vez a ocorrência de milagres em uma fonte de água mineral existente no lugar chamado Caldas, na cidade de Barbalha. Continuamente em todas as edições do jornal – que era semanal – até novembro de 1869, há espaço para a divulgação de milagres realizados pelas águas curativas do Caldas que haviam sido abençoadas pelo padre Ibiapina. No mesmo dia em que noticiava a abertura da Casa de Caridade do Crato, o mesmo jornal dava graças pelos milagres da fonte de águas curativas do Caldas:

Louvado seja Nosso Senhor Jesus Cristo! Sim, louvamo- lo por tantas e tão grandes maravilhas que tem [ilegível] águas do Caldas em benefício dos pobres e dos infelizes. Os milagres ainda não cessaram, porque o espírito de fé não se arrefeceu em todos os que desenganados dos recursos humanos procuram o remédio de seus sofrimentos na bondade e na misericórdia de DEUS [sic].

No lugar próximo ao da fonte, o padre Ibiapina ergueu a Capela do Bom Jesus dos Aflitos e provavelmente a ocorrência desses ‘milagres’ tenha chamado a atenção da Diocese sobre a figura do padre Ibiapina. Alguns anos antes o Ceará havia ganhado seu próprio Bispado e se separado do domínio eclesiástico da Diocese de Pernambuco. O Bispado cearense foi confirmado pelo Papa Pio IX em 28 de setembro de 1860 e assumido em 18 de junho de 1861 pelo bispo Dom Luís Antônio dos Santos (1817-1891). Segundo o jornal O Cearense, a criação do bispado e a nomeação de D. Luís, “um varão respeitável por suas luzes e costumes” foi providencial no sentido de impor ordem no desregramento moral e social que atingia a população e a própria Igreja brasileira “que atualmente, se vê ameaçada senão de um cisma ao menos de graves e desagradáveis complicações com o Governo por causa do célebre projeto dos casamentos mistos” (apud PINHEIRO, 1950).

O Presidente da Província na época, Dr. João Silveira de Souza esperava também que com a nomeação de D. Luís “mais tarde ou mais cedo [ver] estabelecido nesta província um seminário, e com ele melhorada a educação intelectual, moral e religiosas do nosso clero que em verdade é atualmente imperfeitíssima”.34 Nesse aspecto Dom Luís satisfez as expectativas do Presidente, construindo o Seminário da Prainha, atual sede da Arquidiocese de Fortaleza e no Cariri, o Seminário São José na Cidade do Crato que segundo Irineu Pinheiro foi durante muito tempo “o único estabelecimento de ensino secundário no sul do Ceará e nas regiões limítrofes de Pernambuco, Rio Grande do Norte, Paraíba e Piauí” (PINHEIRO, 1963: 57).

O Bispado de Dom Luís foi marcado principalmente pela política ultramontana que a Igreja já estava colocando em prática em todo o mundo católico desde o Concílio Vaticano I (1869-1870), onde foi pensada uma nova política de recristianização da sociedade (PAZ, 2005: 34-35). Este movimento conhecido também como romanização nasceu:

[...] sob o impacto das revoluções liberais européias que agitaram o próprio trono pontifício. Buscando uma consolidação doutrinária teológica, estruturou-se em torno de alguns anátemas: a rejeição à ciência, à filosofia e às artes modernas, a condenação do capitalismo e da ordem burguesa, a aversão aos princípios liberais e democráticos, e, sobretudo ao fantasma destruidor do socialismo (GAETA, 1997: 183-202).

Uma das principais ações de D. Luís no projeto de romanização da igreja cearense foi a instituição do culto ao Sagrado Coração de Jesus que já estava sendo fomentado pela Igreja desde o século XVIII. Conta a tradição que uma freira francesa da Ordem da Visitação, Margarida Maria Alacoque (1647-1690) teve em junho de 1675 na cidade de Paray-le-Monial na França, uma visão de Cristo na qual Ele a escolhia para “revelar ao mundo a devoção ao Sagrado Coração” dizendo ainda: “Eu te peço que a primeira sexta-feira depois da oitava de Corpus Christi seja dedicada a uma festa particular para honrar meu coração, comungando e fazendo reparação da honra” (GÉLIS In CORBIN, 2008: 38). No entanto, o culto que ficou popular na França só foi estendido à Europa ocidental e ao mundo católico a partir de 1856 com o papa Pio IX .

Durante a seca de 1877/1878 lembrada como uma das piores acontecidas no estado do Ceará, o bispo consagrou toda a diocese ao Sagrado Coração de Jesus, prometendo construir uma igreja em Fortaleza como reparação pelos pecados da humanidade (DELLA CAVA, 1976: 41). Esta medida pretendia ainda, dentro do projeto de romanização, substituir o culto ao Bom Jesus, uma prática presente na religiosidade local, que possuía um caráter devocional e penitencial muito forte pautado no relacionamento direto entre santo e fiel que dispensava a intermediação da Igreja oficial e que, portanto, se localizava dentro de uma religiosidade muito mais afetiva e plural.35 Essa prática religiosa mais popular destacava-se por ser:

[... ] uma concepção do íntimo fora da dimensão da subjetividade psicológica da modernidade burguesa, voltada para uma manifestação exterior e quase teatral dos afetos e das emoções, em que o religioso evoca um regime de sociabilidade associado à festa, ao congraçamento, um dos efeitos [...] de uma modalidade de ser barroca (GONÇALVES, 2005: 48).

Não obstante, o catolicismo formal e romanizador que a Igreja católica tentava implantar se fazia através de imposições, e tinha como objetivo principal o estabelecimento de um controle sobre o laicato, especialmente sobre as irmandades. A atuação eclesiástica na romanização se fez, pois, sobre quatro aspectos: a vinculação sacramental, a hegemonia clerical, o estímulo à santidade e à instituição eclesiástica (AZZI, 1988: 113). Além disso, há a condenação de atividades como a procissão, as novenas e as romarias, por outro lado, se estimulava a peregrinação aos centros de devoção europeus: “O objetivo final dessas ações era bastante claro: cristianizar as romarias segundo o modelo tridentino” (PAZ, 2005: 56). Conforme Hugo Fragoso, a Igreja romanizadora se caracteriza por ser extremamente militante e marcada por um forte conservadorismo que se contrapunha às ideias liberais que vinham da França e da Itália para o Brasil:

Neste período a Igreja tem uma ‘acentuada autoconsciência’ [...] de sua própria ‘santidade’ que é contrastada pela antítese de um ‘mundo mau’. A contestação dos ‘inimigos da fé’ (liberais) motivava este confronto entre a ‘maldade do mundo’ e a ‘santidade da Igreja’ que praticamente é transposta da ordem ideal para o domínio do real (FRAGOSO In BEOZZO: 2008: 144).

O projeto ultramontano vem então, com a função de remodelar o clero dando ênfase na autoridade institucional e hierárquica da Igreja, como forma de controlar a doutrina e principalmente as manifestações fervorosas do laicato, pois, “enquanto instituição hierarquizada, a Igreja sempre desconfiou das manifestações de devoção pessoal consideradas excessivas” (LEBRUN In ÀRIES, 1991: 73). Apesar disso, havia inúmeras dificuldades que se interpunham à concretização desse projeto no Ceará. Um dos fatores que agravava a dificuldade de se romanizar a região era a própria ausência da Igreja no interior do estado desde o início do século XIX:

Também no Cariri, como em quase todo o resto do Brasil, nos anos que antecederam a década de 1860, estava o catolicismo ortodoxo em estado de decomposição. [...] Apenas as missões ocasionais, normalmente pregadas por padres estrangeiros – no caso do Cariri, quase sempre capuchinhos – levavam a religião às classes inferiores [...] (DELLA CAVA, 1976: 28).

A carência de padres e a dificuldade de prestar assistência à região serão, no entanto, um problema que persistirá por todo o século XIX. Não obstante a falta de padres, em 19 de julho de 1869 o bispo Dom Luís envia um ofício ao pároco do Crato, Manuel Joaquim Aires do Nascimento (1804-1883), desautorizando algumas missões no Bispado, pois, “alguns resultados tem aparecido não pouco inconvenientes, com detrimento da disciplina eclesiástica e daquela paz e harmonia que deve reinar entre o próprio Pastor e o rebanho”.

Segundo a tradição tridentina os bispos reformadores não deveriam estimular viagens missionárias, mas investir nas “Visitas Pastorais com crisma e sacramentalização em geral” (HOONAERT, 2006: 53).

Lembremos que nesse momento o jornal A voz da Religião divulgava os fenômenos de curas e milagres das águas do Caldas que haviam sido abençoadas pelo padre Ibiapina. A ordem dirigida ao pároco do Crato, embora não citasse o nome de Ibiapina se referia claramente a ele e aos fenômenos que estavam em pauta naquele momento. Iniciou-se aí uma tentativa de controle por parte do diocesano sobre as ações de Ibiapina. Não obstante, três anos depois, em 1872, o padre Ibiapina era expulso do Ceará e proibido de voltar a missionar na região do Cariri, sendo obrigado ainda a entregar a direção das Casas de Caridade à Diocese. O jornal parou de ser editado e não houve mais menções à fonte miraculosa do Caldas. A expulsão do padre Ibiapina do Ceará marcou também o fim de sua trajetória como missionário. Após sua partida ele se fixa na Casa de Caridade Santa Fé (Arara, PB) e lá falece em 19 de fevereiro de 1883. Em uma declaração de 16 de setembro de 1872, o padre Ibiapina se despede da população local:

Fiz entrega das Casas de Caridade do Cariri Novo ao Exmo. e Revmo. Sr. Bispo por segurar-lhes um venturoso futuro, porque debaixo de tão valiosa proteção de um Pai tão habilitado pelas circunstâncias favoráveis que o cercam, não posso deixar de animar a todos os beatos e Irmãs de caridade para que auxiliem a permanência das Casas e a propriedade delas. […] Não tendo mais a posição moral que me autorizava a pedir esmolas, os que eram meus esmoleiros, não poderão mais em meu nome, porém para a Caridade; esperem as Casas pela deliberação do Sr. Bispo, que não se esquecerá de providenciar quanto antes para que as Casas não se fechem. […] Adeus, bom povo do Cariri Novo […].

Parece, no entanto que a Diocese não agiu imediatamente e em março de 1873 as beatas da Casa de Caridade de Missão Velha imploravam assistência ao Bispo diocesano:

Exmo. Revmo. Senhor, depois da passagem de V. Ex.a. Revma. nesta Vila, esta casa esteve em abalo e crise por falta de um protetor à casa. O Instituidor, o Remo. Ibiapina, em carta que nos dirigiu, declarou que havendo entregue as Casas de Caridade de sua instituição a V. Ex.a. Revma, nada mais tinha que fazer com as mesmas; no entretanto [sic], não querendo V. Ex.a. Revma. acarretar com a responsabilidade delas, não as quis aceitar, o que nos veio afligir e desanimar, visto como seria uma grande felicidade termos por Diretor e pai em Jesus Cristo a V. Ex.a. Revma.. Assim, pois, sem termos um protetor para nos guiar recorremos a Deus, pela intersecção da Santíssima Virgem, a quem nós dedicamos, e pedimos socorro e amparo. Consternadas e em desamparo por não ter V. Ex.a. Revma. aceitado o pesado encargo de nosso protetor, tudo devido a nossos grandes pecados e misérias, novamente recorremos ao nosso antigo protetor e pai espiritual, o Revmo. Ibiapina, o qual atendendo as nossas súplicas e rogativas, dirigindo ao Revmo. Vigário da Barbalha e aos Senhores. Pedro Lôbo de Meneses e José Marrocos Telles para tomarem o encargo de protegerem as Casas de Caridade do Cariri, até que nosso bom Deus, em suas misericórdias, se lembrasse de nós.

O apelo ao bispo por parte da Superiora da Casa de Caridade de Missão Velha denota acima de tudo o respeito à hierarquia. As beatas precisavam de um mantenedor material e mais do que isso de um diretor espiritual. Ao cobrar esse apoio do bispo diocesano elas imediatamente se colocam em uma posição de defesa alegando que se o bispo não as queria era dado à sua condição de “pecados e misérias”. Inevitavelmente, elas se colocavam em uma atitude de obediência e de humildade em relação ao superior. Essa postura talvez, se  configurasse como uma tática, como um “movimento ‘dentro do campo de visão do inimigo’ e no espaço por ele controlado” (CERTEAU, 1994: 100). Usando os termos de Certeau, essas mulheres estariam exercendo a “arte do fraco”, se utilizavam de modos de dizer peculiares àqueles que estão em um lugar marcado pela “ausência de poder”. As demonstrações de humildade e a submissão poderiam ter sido usadas como meio de desarmar qualquer ação repressora ou negativa do bispo diante da cobrança do apoio prometido.

Assim, atendendo o apelo de suas ‘filhas espirituais’, o bispo D. Luís nomeia em meados de 1873, alguns padres recém-formados no Seminário da Prainha de Fortaleza, para assumir a direção das Casas de Caridade e de paróquias no interior do estado, entre eles os padres Fernandes Távora (1851-1916) e Francisco Rodrigues Monteiro (PAZ, 2005: 49). Algum tempo antes havia chegado à região outro padre recém-formado, mas ao contrário de seus colegas ele não tinha ido para o Crato a fim de dirigir uma Casa de Caridade. Os planos do padre Cícero Romão Batista eram mais modestos, ele pretendia se iniciar no magistério.

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Fonte:
Edianne dos Santos Nobre: “O Teatro de Deus: A construção do espaço sagrado de Juazeiro a partir de narrativas femininas - CEARÁ, 1889-1898. (Dissertação apresentada como requisito para obtenção do grau de Mestre no Curso de Pós-Graduação em História, Área de Concentração em História e Espaços, Linha de Pesquisa Cultura, Poder e Representações Espaciais da Universidade Federal do Rio Grande do Norte, sob a orientação do Prof. Dr. Durval Muniz de Albuquerque Júnior). Natal, 2010.


JUAZEIRO DO NORTE - CEARÁ (FOTOGRAFIAS RECENTES: 2015)


Juazeiro do Norte/CE (2015): Aspecto da cidade

Juazeiro do Norte/CE (2015): Aspecto da cidade

Juazeiro do Norte/CE (2015): Aspecto da cidade

Juazeiro do Norte/CE (2015): Aspecto da cidade: Praça Padre Cícero"

Juazeiro do Norte/CE (2015): Aspecto da cidade: Praça Padre Cícero"

Juazeiro do Norte/CE (2015): Aspecto da cidade: Praça Padre Cícero"

Juazeiro do Norte/CE (2015): Aspecto da cidade: Praça Padre Cícero"

Juazeiro do Norte/CE (2015): Aspecto da cidade, vendo-se parte da Paróquia Nossa Senhora de Lourdes

Juazeiro do Norte/CE (2015): Aspecto da cidade, vendo-se parte da Paróquia Nossa Senhora de Lourdes

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Juazeiro do Norte/CE (2015): Aspecto da cidade: Ruas

Juazeiro do Norte/CE (2015): Aspecto da cidade: Centro histórico

Juazeiro do Norte/CE (2015): Aspecto da cidade: Centro histórico
Juazeiro do Norte/CE (2015): Aspecto da cidade: Centro histórico

Juazeiro do Norte/CE (2015): Aspecto da cidade: Centro histórico

Juazeiro do Norte/CE (2015): Aspecto da cidade: Centro histórico

Juazeiro do Norte/CE (2015): Vista da cidade: vendo-se aspecto da Igreja Nossa Senhora das Dores (Matriz)

Juazeiro do Norte/CE (2015): Vista da cidade: vendo-se aspecto da Igreja Nossa Senhora das Dores (Matriz)

Juazeiro do Norte/CE (2015): Vista da cidade: vendo-se aspecto da Igreja Nossa Senhora das Dores (Matriz)

Juazeiro do Norte/CE (2015): Vista da cidade: vendo-se aspecto da Igreja Nossa Senhora das Dores (Matriz)

Juazeiro do Norte/CE (2015): Vista da cidade: vendo-se aspecto da Igreja Nossa Senhora das Dores (Matriz)

Juazeiro do Norte/CE (2015): Vista da cidade: vendo-se aspecto da Igreja Nossa Senhora das Dores (Matriz)

Juazeiro do Norte/CE (2015): Vista da cidade: vendo-se aspecto da Igreja Nossa Senhora das Dores (Matriz)
Juazeiro do Norte/CE (2015): Vista da cidade: vendo-se aspecto interno da Igreja Nossa Senhora das Dores (Matriz)
Juazeiro do Norte/CE (2015): Vista da cidade: vendo-se aspecto interno da Igreja Nossa Senhora das Dores (Matriz)
Juazeiro do Norte/CE (2015): Vista da cidade: vendo-se aspecto interno da Igreja Nossa Senhora das Dores (Matriz)

TEXTO
O Juazeiro do Padre Cícero

O Sertão do Cariri, no começo do séc. XIX, era habitado pelos primeiros  colonizadores, que foram em busca de minérios. Houve conflitos e mortes, enchendo as caatingas de cruzes. E no final de tudo as minas não existiam.

Cícero Romão Batista nasceu no Crato, sul do Ceará, aos pés da verdejante Chapada do Araripe. O vale do Cariri cearense contém fontes, cujas águas descem em  cascatas, cantarolando entre seixos, até ao pé da Serra. Nos engenhos de açúcar, a rapadura aparece nas gamelas. As feiras revelam o crescimento comercial da região de forma muito rápida. (BARRETO, 2002, p. 12).

Começava sua vida no contexto familiar, gente humilde, talentosa, destemida e  corajosa. Seu nascimento se deu aos 24 de março de 1844, conforme consta em sua declaração testamentária. Seus pais se chamavam Joaquim Romão Batista e Joaquina Vicência Romana. 

O povo era religioso, segundo o modelo de ordem devocional importado da Europa. As missões e seus pregadores se circunscreviam neste quadro de ensinamentos morais, apontados para o exemplo dos santos, das aparições e visões destes homens e  mulheres de Deus.  Os oratórios ocupavam o espaço sagrado onde as famílias realizavam suas  celebrações com preces de louvor e agradecimento. Seria preciso  encontrar o ambiente das Santas Missões, de todo o seu conteúdo e, sobretudo visualizar novamente a figura hierática do missionário. Vale lembrar a imagem encurvada do santo missionário Frei Damião de Bozzano. Sobre este missionário capuchinho italiano, é oportuno relatar o depoimento de um teólogo belga, José Comblin:

Até os dias de hoje, Frei Damião é o maior pregador de missões há 60 anos.  Aos olhos do povo ele recolheu a herança do Padre Cícero Romão Batista. Frei Damião fala da morte e do Juízo, dos pecados, sobretudo dos  amancebados, anuncia castigos de Deus. O povo lhe atribui milagres numerosos. A pregação de Frei Damião é somente espiritual. Ele não constrói nem promove obras de caridade ou obras comunitárias. Somente fala dos pecados pessoais. (1993, p. 35-36).

Padre Cícero escrevera um dia que ele devia a sua vocação de sacerdote a uma leitura da biografia de São Francisco de Sales. São suas as palavras:

Devo ainda declarar, ser para mim uma grande honra, que em vista de um  voto feito aos doze anos de idade, pela leitura que fiz nesse tempo, da vida imaculada de S. Francisco de Sales, conservei a minha virgindade e a minha castidade até hoje. (BARRETO, 2002, p. 14).

Deve ser lembrada a idéia tão querida entre as famílias de então, de terem um filho padre. A figura do padre ainda hoje reserva muito respeito da gente nordestina. Padre Ibiapina havia deixado uma herança muito forte, impregnando a imagem do padre de uma  nova presença junto à Igreja e no mundo. (BARRETO, 2002, p. 15).

Os padres lazaristas haviam desembarcado da França para formarem os novos  padres para a Igreja no Brasil. 

A reforma do clero era prerrogativa da romanização. A reforma dos  seminários prepararia os novos ministros da Igreja. Merece relevo em  primeiro lugar, a congregação da Missão. Sem dúvida, foram os padres da Missão ou lazaristas, os mais representativos colaboradores do episcopado, por terem assumido a direção da maioria dos seminários. (AZZI, 1992, p. 32). 

A Igreja no Brasil estava vivendo então a romanização. Os cuidados com a fé cristã no Brasil fizeram a Santa Sé voltar-se decididamente para a Igreja em nossa Pátria. Preocupada com a ignorância religiosa e com uma prática muito popularizada, a Igreja procurou melhorar seus quadros humanos trazendo da Europa, após algum tempo, Congregações Religiosas e enviando alguns de seus futuros padres e bispos  para estudarem em Roma. 

Para melhor formar o clero, fundam-se em Roma, dois Colégios, junto à  Universidade Gregoriana, aonde seminaristas de escol são enviados para  aperfeiçoar seus estudos e prepararem-se para tarefas mais importantes. O Colégio Pio Latino (1858) aceitava alunos de todo o continente, inclusive do  Brasil. Mas para que houvesse mais vagas para nossos seminaristas, em 1934, funda-se o Colégio Pio Brasileiro, exclusivamente para brasileiros. (LIBÂNIO, 1982, p. 49).

A nova formação qualificava seus padres com compromissos apologéticos, diante dos inimigos da fé que então ameaçavam a Igreja. Estes inimigos eram o protestantismo e o positivismo. O jovem seminarista era moldado internamente para responder ao modelo da Igreja a que se desejava chegar. Muitos alardeavam as dificuldades intelectuais do seminarista Cícero. Por estudar “ciências ocultas”, isso quase lhe valeu o impedimento de sua ordenação. (WALKER, 1995, p. 7). Aliás, Raquel de Queiroz sobre isso escreveu:

Custou-lhe muito ser padre: quase o não ordenam. Os mestres alegavam que  o rapaz era esquisito e mentia, mas quem sabe se mentia realmente? As  histórias do céu parecem mentiras a quem só pensa na terra. E depois, dentro  da alma de um homem, quem tem poder para traçar o limite entre a verdade e a mentira? De qualquer modo ele foi para o Juazeiro, assim mesmo,  mentiroso e angélico. Tão precário era o seu rebanho que aos domingos  cabia todo na capelinha da fazenda e vivia inteiro em seis casas de taipa e alguns casebres. (1944, p. 31).

Em sua biografia, aparece o fato de ter d esejado ser professor no Seminário da Prainha em Fortaleza. (WALKER, 1955, p. 9). Lecionou também no Colégio Padre Ibiapina no Crato, fundado e dirigido pelo Prof. José Joaquim Teles Marrocos, seu primo e grande amigo. (BARRETO, 2002, 19). Cuidou da educação de jovens e órfãos. Criou escolas profissionalizantes e a que seria a primeira futura Escola Normal Rural do Brasil. Trouxe, em seguida, os salesianos com a missão de educar a juventude. (BARRETO, 2002, p. 39). Era filiado a uma Instituição chamada  Sociedade de Agricultura. Recebeu o título de Doutor,  conferido pela Escola Livre de Engenharia do Rio de Janeiro conforme lemos em Walker. (1995, p. 10).

Quem estudou num Seminário sabe que, sem sacrifício, não se passa tanto tempo nessa casa. Sem espírito de oração e de comunidade, o seminarista é aconselhado a sair do  Seminário. O controle era severo. Até nas férias, o seminarista levava do Reitor um  questionário que deveria ser minuciosamente respondido pelo pároco. Sem exagero, pode-se concluir que Cícero não era um ignorante, nem visionário, nem ingênuo, nem alheio. Seus boletins apontavam notas boas, melhores do que as de um aluno medíocre. A ausência de  pendores oratórios não pode ser motivo para negar-lhe outras virtudes. Ganhou, a Igreja e o Povo, um conselheiro, um fiel e paciente confessor, um homem de relações humanas. Em seu testamento dedica ao seu bispo diocesano, Dom Luis Antônio dos Santos, a graça de ser padre católico. Padre Murilo completa essa curta biografia, quando afirma: “Quem na realidade irá dar a nota de comportamento e aplicação do recém-ordenado Cícero será o seu modo de  trabalhar, de operar de pastor, enfim”. (BARRETO, 2002, p.18).

No Natal de 1871, uma equipe, representada pelo Professor Simeão Correia de Macedo, não querendo que a capelinha de Nossa Senhora das Dores ficasse sem a Missa do Galo, foi procurar Padre Cícero, no Crato, para celebrar em Juazeiro. O Padre tinha 28 anos e mais que isso, simpatia, olhos brilhantes e azuis, penetrantes e rápidos e voz modulada. Tudo estava começando, sem que seu personagem se desse conta. (BARRETO, 2002, p. 20). Pouco tempo depois, aos 11 de abril de 1872, chegou definitivamente Padre Cícero ao Juazeiro, com sua família e pouca bagagem, apesar de relutar nessa decisão. 

Um grande sonho marcou o início de sua vida sacerdotal e foi apontado como a  causa que determinou a sua ida para Juazeiro. Este relato foi feito pelos próprios amigos  íntimos. Cansado, após um dia exaustivo, de horas a fio no confessionário, foi descansar no quarto vizinho a uma sala de aula da escolinha, onde improvisavam seu alojamento. Caiu no sono e em visão ouviu a voz de Jesus que lhe dizia: “toma conta deles”. Ele viu Jesus Cristo e os doze apóstolos, sentados à mesa, numa cena como a “Última Ceia” de Leonardo da Vinci. De repente, o local foi invadido por uma multidão de sertanejos famintos, conduzindo seus míseros pertences em pequenas trouxas. Então Cristo, virando-se para os famintos, falou de sua decepção com a humanidade, dizendo, porém, que ainda estava disposto a fazer um  último sacrifício para salvar o mundo. Entretanto, se os homens não se arrependessem depressa, ele acabaria com tudo de uma vez. Naquele momento, Cristo, apontando para os famintos, falou: E você, Padre Cícero, tome conta deles. (COMBLIN, 1991, p. 9).

O sonho de Padre Cícero, que o fez decidir-se ficar em Juazeiro, faz parte do quadro místico-religioso desta época. As devoções ao Coração de Jesus datam dos séculos XI e XII. No século XVII, Margarida (freira francesa da  Ordem da Visitação) teve uma aparição de Cristo em 1673, na qual Jesus lhe ordenava uma devoção pública “de amor expiatório” a Ele, “sob a forma  de seu coração de carne.” “Veja o Coração que tanto amou os homens... em  vez de gratidão, recebo da maior parte só ingratidão...” (DELLA CAVA, 1985, p.47).

O sonho de 1872, o Milagre de 1889 e a Guerra de 1914 entraram na hagiografia canônica do Padre Cícero e na história política do Juazeiro. (BARBOSA, 2004, p.62). Barreto afirmava que a decisão de transferir-se para Juazeiro foi decorrência de um sonho “O que é certo é que de então para o resto de sua vida este sonho marcou a vida do padre Cícero que assumiu sempre a função de um condutor das massas nordestinas." (2002, p. 21).

Padre Cícero havia dedicado parte de sua vida à leitura da vida dos santos, como João Maria Batista Vianney, o Cura d’Ars, São João Bosco e São Francisco Xavier. Quando Padre Cícero começou seu pastoreio, Padre Ibiapina já gozava de prestígio e respeito como missionário, pois era sua intenção “recuperar o povo para a Igreja”. (BARRETO, 2002, p. 22). 

Faleceu a 20 de julho de 1934. Foi o fim do mundo em Juazeiro. No dia 21, cerca de 60 mil pessoas acompanharam seu sepultamento. Mas a cidade não morreu. As romarias continuariam. O povo nunca lhe faltou, apesar dos muitos inimigos e detratores. O  desaparecimento de Padre Cícero não diminuiu a fé de seus adeptos, os quais não acreditavam em sua morte, pois o mesmo estava “em viagem” e devia um dia voltar à Cidade Santa a fim de anunciar a chegada do Juízo Final. Seu retrato está entronizado em todos os oratórios domésticos, sua lenda messiânica é constantemente enriquecida com um rol de novos milagres. (QUEIROZ, 1983, p. 87).

O relógio marcava cinco horas da manhã do dia 20 de julho do ano de 1934. Era o “Dia de Juízo” para os romeiros, exclamava o povo em Juazeiro. Choro e grito estremeceram  a alma do povo e os alicerces da cidade. As romarias continuam até hoje. Semanas e mais  semanas de romarias ao Juazeiro. Chegavam todos vestidos de preto. Já não desciam à Rua São José, mas rumavam todos à Capela do Socorro, construída em 1906, onde estava sepultado Padre Cícero.

Selecionamos propositalmente para este momento as palavras de uma ilustre escritora cearense, fiel às suas raízes:

Ele era baixinho, corcunda. Parecia um desses santos de pau que a gente venera nas igrejas antigas, feitos grosseiramente pelo artista rústico, a poder  de fé e engenho. A cabeça enorme descaía no ombro sungado e magro, a batina surrada acompanhava em dobras amplas o corpo diminuto. Só a carne  do rosto e os olhos azuis, límpidos e místicos, que se cravavam na gente, penetrantes como uma chama. Megalomaníaco, paranóico, gerador de  fanatismo, protetor de cangaceiros, explorador da credulidade sertaneja de  tudo isso foi ele acusado por teólogos, médicos e sociólogos que juntos lhe  fizeram o diagnóstico. Senhores teólogos, senhores médicos, quão longe já andais dos belos tempos da fé antiga! Pois quem poderá ser um bom santo sem ser ao mesmo tempo um bom doido - e a melhor definição de um santo não será ‘um doido de Nosso Senhor’? Tanto o Santo como o doido despe a roupa na rua, abandona casa e família, vai comer raízes bravas e pregar à turba ignara qualquer ardente mensagem que lhe consome o coração. E só a essência dessa mensagem e a extensão do seu êxito é que estabelecem a  diferença. (QUEIROZ, 1944, p. 31).

O Padre Cícero foi “canonizado” pelo povo e até hoje sua volta é aguardada pelos
romeiros. (JORGE, 1998, p. 78). Naturalmente, vamos encontrar um processo do retorno ou da ressurreição do mito. Padre Murilo lembrava o grande cantor nordestino, Luiz Gonzaga, que cantava: “E olha lá no alto do Horto, o Padre está vivo, o Padre não está morto.” (BARRETO, 2002, p.63).

Novamente, encontramos, em Raquel de Queiroz, igual sentimento sobre o fenômeno Padre Cícero:

Alguns dizem que o padre está debaixo do chão: os incréus, os materialistas. Porque a gente que tem fé conta que Meu Padrinho, vendo a choradeira do povo, ressuscitou ali mesmo, sentou-se no caixão, sorriu, deu bênção, depois  deitou-se outra vez e seguiu viagem dormindo, até a Igreja do Perpétuo  Socorro. Ficou morando lá, naquela igreja que os padres nunca quiseram benzer. De noite, sai de casa em casa curando os doentes, consolando os  aflitos. E se ninguém o vê, na rua ou na Igreja, é porque as asas dos anjos  rodeando-o todo, o encobrem dos olhos dos viventes. (QUEIROZ, 1944, p.  35).

Os romeiros continuaram com suas peregrinações no anseio de visitar a Mãe das Dores e o Padrinho do Juazeiro. A literatura popular tem registrado frequentemente estes fatos  inerentes à história religiosa do Nordeste, como a poesia de autoria de Dias Gomes:

Quem for para o Juazeiro
Vá com dor no coração
Visitar Nossa Senhora
E o Padre Cícero Romão. 
Que meu Padrim é um Santo
Isso tá mais que provado
Basta atentar nos milagres
Que ele tem realizado.
O primeiro foi ter feito 
Em certa manhã pacata
Isso já faz tanto tempo
Nem me lembro bem a data
A hóstia virar sangue 
Na boca de uma beata. 

(Texto extraído de obra não identificada).

Fonte:
Manoel Henrique de Melo Santana: “Do anátema ao acolhimento pastoral: Da condenação e exclusão eclesial do  Padre Cícero do  Juazeiro à sua Reabilitação Histórica”. (Trabalho apresentado como requisito parcial à  obtenção do título de Mestre em Ciências da Religião pela Universidade Católica de Pernambuco. Área de Conhecimento: Ciências Humanas Orientador: Prof. Dr. Ferdinand Azevedo). Recife, 2007.


MEMORIAL PADRE CÍCERO - JUAZEIRO DO NORTE/CE
Juazeiro do Norte/CE (2015): Vista da cidade: aspecto externo do Memorial

Juazeiro do Norte/CE (2015): Vista da cidade: aspecto externo do Memorial

Juazeiro do Norte/CE (2015): Vista da cidade: aspecto externo do Memorial

Juazeiro do Norte/CE (2015): Vista da cidade: aspecto interno do Memorial: fotografias antigas

Juazeiro do Norte/CE (2015): Vista da cidade: aspecto interno do Memorial: fotografias antigas

Juazeiro do Norte/CE (2015): Vista da cidade: aspecto interno do Memorial: fotografias antigas

Juazeiro do Norte/CE (2015): Vista da cidade: aspecto interno do Memorial: fotografias antigas

Juazeiro do Norte/CE (2015): Vista da cidade: aspecto interno do Memorial: fotografias antigas

Juazeiro do Norte/CE (2015): Vista da cidade: aspecto interno do Memorial: fotografias antigas
Juazeiro do Norte/CE (2015): Vista da cidade: aspecto interno do Memorial: escultura do Padre Cícero

Juazeiro do Norte/CE (2015): Vista da cidade: aspecto interno do Memorial: fotografia do Padre Cícero

Juazeiro do Norte/CE (2015): Vista da cidade: aspecto interno do Memorial: fotografia do Padre Cícero

Juazeiro do Norte/CE (2015): Vista da cidade: aspecto interno do Memorial: fotografia do Padre Cícero

Juazeiro do Norte/CE (2015): Vista da cidade: aspecto interno do Memorial: fotografia do Padre Cícero
Juazeiro do Norte/CE (2015): Vista da cidade: aspecto interno do Memorial: fotografia do Padre Cícero e seu médico
Juazeiro do Norte/CE (2015): Vista da cidade: aspecto interno do Memorial: objetos

Juazeiro do Norte/CE (2015): Vista da cidade: aspecto interno do Memorial: objetos (canhão)

Juazeiro do Norte/CE (2015): Vista da cidade: aspecto interno do Memorial: objetos (canhão)
Juazeiro do Norte/CE (2015): Vista da cidade: aspecto interno do Memorial: Testamento e Inventário do Padre Cícero
Juazeiro do Norte/CE (2015): Vista da cidade: aspecto interno do Memorial: Testamento e Inventário do Padre Cícero

Juazeiro do Norte/CE (2015): Vista da cidade: aspecto interno do Memorial: visão geral
Juazeiro do Norte/CE (2015): Vista da cidade: aspecto interno do Memorial: Placa de homenagem ao Padre Cícero
Juazeiro do Norte/CE (2015): Ônibus (lotação) "Bom Jesus do Horto", que leva turistas e romeiros até o alto do Horto, onde está localizado o Monumento do Padre Cícero Romão Batista, saindo do Centro da cidade, próximo à Praça Padre Cícero
Juazeiro do Norte/CE (2015): Vista do aeroporto, que oferece  voos direto para São Paulo, entre outras cidades.



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Fonte da Imagens
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Iba Mendes (Acervo Pessoal)

2 comentários:

  1. Meus parabéns pelo seu blog. Muito bom. Fotos excelentes.

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    1. Caro Daniel...

      Obrigado pela gentileza da "visita"...

      Abraços...

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