Ao discípulo, com carinho...

Para quem não sabe, o alemão Ernst Heackel, que fora contemporâneo de Adolf Hitler, foi um dos mais sorrateiros fraudadores prol Teoria da Evolução. Até recentemente o seu famoso desenho de desenvolvimento embrionário dos vertebrados (A Ontogenia recapitula a Filogenia”) permanecia estampado em nosso livros didáticos como expressão da mais pura verdade. Agora já se sabe que ele manipulou falsamente tais desenhos a fim de favorecer os pressupostos darwinistas da evolução rigidamente gradual. Pois é...

Foi para este "grande cientista" que o honradíssimo Charles Darwin escreveu esta cordial missiva, em 29 de abril de 1879:

"Meu caro Haeckel:
Acabo de ler a tradução inglesa da sua "Liberdade na ciência" etc. Deixe que lhe diga quanto a admiro. É um ensaio deveras interessante, com cujas idéias estou absolutamente de acordo. A conduta de Virchow é vergonhosa, e espero que se arrependa um dia. Que maravilhoso é o prefácio de Huxley!"

Mando-lhes as maiores saudações
Seu muito sinceramente
Charles Darwin
Extraída de:
"A Origem do Homem". Ernst Haeckel. Global Editora, 1989, p. 74.

Os falsos embriões de Haeckel

Note-se que na cartinha a Haeckel, Darwin faz uma observação sobre um tal Virchow, desejando que este se arrependa de algo que houvera cometido. Rudolf Virchow, para quem também não sabe, é considerado, hoje, o pai da patologia moderna. Ele foi um crítico ferrenho das idéias de Haeckel a respeito da descendência humana. No mesmo livro acima citado, Haeckel faz menção de Virchow como um opositor de suas idéias. Escreve:
"No solene discurso que Virchow pronunciou, há quatro anos, no Congresso de Antropologia de Viena, afirmava que o "homem tanto podia descender do macaco, como do elefante, como do carneiro". Se enunciou esta proposição seriamente, confirma-se o fato conhecido, desde há muito tempo, de que Virchow — embora discípulo de Johannes Müller — nada sabe de anatomia comparada, de zoologia sistemática, nern das mais ínfimas descobertas paleontológicas e ontogênicas. Mas se esta frase está destinada a levantar o ridículo sobre a "teoria símia", tão detestada, considerando-a como uma lamentável burla; não podemos deixar de deplorá-la, vinda de um naturalista de grande mérito, que recorre a um tal método para fazer ouvir o peso da sua autoridade na mais séria das discussões: a que se refere à "questão suprema".

Com profundo pesar, vejo-me de novo obrigado a demonstrar a absoluta falta de fundamento das afirma
ções de Virchow e a completa ausência de bases experimentais na sua inconsiderada oposição à teoria da evolução. Com a criação, há quarenta anos, da patologia celular, o célebre patólogo adquiriu uma autoridade que aumentou a sua infatigável atividade nos meios políticos e sociais. Para muita gente, Virchow é uma espécie de papa científico, o que lhe permite falar sem o recurso a qualquer informação biológica e, por conseguinte, derrubar a "teoria símia". Ainda hoje em dia são especialmente os sacerdotes de todas as igrejas e os órgãos clericais das mais diversas tendências — defensores acérrimos da superstição e inimigos declarados do livre-pensamento — que invocam a autoridade de Virchow. Foi o que aconteceu, há vinte anos, quando expus, no Congresso de naturalistas alemães, em Munich (1877), as relações da teoria da descendência subordinada ao conjunto global da ciência. Virchow combateu imediatamente esta teoria da maneira mais viva, e, para satisfação dos padres e da reação, afirmou que o transformismo é uma hipótese não demonstrada, que a origem simiesca do homem é impossível e que a atividade psíquica não é uma simples função do cérebro. Decorreu, desde então, um ano, e até hoje, o eminente patologista deu livre curso ao antagonismo derrotista, visando a teoria moderna da evolução, combatendo vigorosamente a descendência do homem vindo de uma série de antepassados vertebrados.

É ainda mais penoso ter que se julgar estes fatos deploráveis, porque, há menos de meio século, o jovem Virchow tinha convicções bem diferentes, diametralmente opostas às suas atuais ideias. Durante a sua permanência em Vürzburg (1849--1856), o célebre patologista executou o seu principal trabalho original, que devia modificar a medicina científica no sentido celular. Aí, em colaboração com os grandes histólogos Kõlliker e Leydig, estabeleceu as bases da sua patologia celular. Aí também, numa notável série de memórias, demonstrou essa unidade do organismo humano, uma das teses mais importantes do monismo moderno. Quando, em 1856, Virchow se deslocou para Berlim, afastou-se progressivamente das teorias monistas, passando-se definitivamente para o campo do dualismo místico. (Veja-se a minha memória "Freie Wissenschaft und freie Lehre", resposta ao discurso de Virchow, sobre a liberdade da ciência no Estado moderno, Stuttgart, 1878)".

Fonte:
"A Origem do Homem". Ernst Haeckel. Global Editora, 1989, p. 72, 73.

É isso!

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