"A mão invisível de Darwin"

Ou:
"A ideologia do DNA"

Até que ponto o comportamento humano é determinado por variáveis biológicas?

Bem, de acordo com a ideologia determinista, até mesmo o simples ato de gostar de chocolate, em última análise, seria conseqüência dos genes.


Em seu livro
A Falácia Genética: a ideologia do DNA na imprensa, Cláudio Tognolli resume esta visão ideológica, que de algum modo mantém um entrelaçamento com certa tendência darwinista, a chamada Psicologia Evolucionista ou Sociobiologia. Diz ele:

“Resumindo: todas as estruturas sociais, seja qual for o grupo zoológico estudado, obedecem a um determinismo genético. Por essa teoria, a origem de todos os comportamentos surge da tendência de cada um de nós querer reproduzir os seus próprios genes.
Seríamos títeres, sem importância, comandados pela vontade dos genes — algo muito parecido com aquela “vontade” do Schopenhauer de O mundo como vontade e representação, que tanto ajudou filosoficamente Sigmund Freud na teorização de sua teoria das pulsões. Nossa visão: o ser humano de Wilson obedecia à vontade dos genes, algo de dentro para fora. Agora, pelo que vemos na mídia, o movimento se inverte: a biotecnologia é vendida como uma ciência capaz de tudo modificar de fora para dentro. E nesse ponto que a visão do geneticista Lewontin se torna mais importante: o gene não pode ser substituído como uma peça de computador, como requer o nosso espírito de época. Ele é, antes de tudo, social e psicológico. Refere Lewontin, o enfant-gatê da febre biologista que “a ciência, como outras atividades produtivas, como o Estado, a família, o esporte, é uma instituição social completamente integrada e influenciada pelas estruturas de todas as outras instituições sociais... Seus resultados são profundamente influenciados por predisposições que derivam da sociedade em que vivemos. Os cientistas não começam a vida como cientistas, mas como seres sociais imersos na família, no Estado, na estrutura produtiva, e eles vêem a natureza pelas lentes que foram moldadas pela sua experiência social, guiada e dirigida por forças no mundo que têm o controle do tempo e do dinheiro” (p. 29).

E, exatamente tratando do assunto, o mesmo Cláudio publica no seu referido livro uma rápida entrevista com Richard Lewontin (biólogo, PhD e professor do Centro de Pesquisas Alexander Agassiz da Universidade de Harvard), um dos mais ferrenhos críticos desta maléfica ideologia:

O senhor acha que os cientistas em geral têm satanizado o gene?

Lewontin
Claro que o gene é “satanizado” pelos cientistas como também pela imprensa devido à crença no determinismo biológico. Se, assim, os nossos genes nos determinam por completo, então, obviamente, eles devem tornar “pessoas boas” boas e “pessoas ruins” ruins.

Isto também serve como uma justificativa para a punição capital já que, se os crimes, como dizem, está nos genes, então nada pode ser feito a não ser eliminar os assassinos. Esta é a mesma ideologia que levou os nazistas a colocarem pessoas em câmaras de gás, já que eram consideradas “degeneradas” porque sua biologia as fazia degeneradas e, portanto, imutáveis. Agora, com certeza, as pessoas estão sugerindo consertar os genes, mas tudo isso é um grande
nonsense.

O senhor acha que a genética e biotecnologia podem ser Consideradas questões geopolítica?

Lewontin
Não, não é claro para mim ainda que a força dos genes seja parte da geopolítica. Eu não sei se algum governo ou grupo político efetivamente estejam argüindo isso porque outras nações dispõem de genes errados e por isso deva ser atacada por isso, ou mantida numa posição de enfraquecimento. Também não sobre quaisquer argumentos que façam do determinismo genético algo similar a um erro ideológico. O comunismo foi tido como um inimigo por que os comunistas ameaçavam privilegiar o Estado e as bases da economia e restringir a liberdade da propriedade privada, a qual a ideologia capitalista creia seja a base de toda a liberdade. Os genes não são vistos como inimigos subversivos, mas como a fonte de “doenças” individuais que fazem pessoas doentes mental e fisicamente. Mas essas mesmas pessoas argumentam que a estrutura da sociedade também é determinada pelos genes, então o capitalismo está nos genes então isso prova que o capitalismo é bom e necessário, então os genes são ao mesmo tempo bons e maus!

O senhor teme uma nova febre de eugenia?

Lewontin
Eu não temo uma nova onda eugênica no senso original, que é o de se ter políticas de Estado para manter certas pessoas longe de se procriar ou recompensar a geração de pessoas “melhores”. Isso agora já caiu em descrédito, não porque as pessoas sejam menos biologicamente deterministas, mas porque elas pensam que a forma de se lidar com os criados pelos genes é encorajar indivíduos a se submeterem a testes e tomar decisões particulares de procriação que serão boas para as sua famílias fazendo do uso de inseminação artificial, fertilização in viltro e aborto, mas sempre mais voluntariamente do que numa matéria de política de Estado. Eles também esperam que as manipulações de DNA possam inserir genes “melhores” nas pessoas que as querem (e que possam pagar por elas).

Por que há tantos
press releases distribuídos mundo afora, sobretudo para as revistas especializadas, falando das “maravilhas” das novas descobertas genéticas?

Lewontin
Não há boa intenção nesses press releases e nessas promessas. Eles têm apenas a função de subir os preços das ações de mercado de forma a que os proprietários das ações possam fazer dinheiro quando um grande anúncio de descoberta é feito, ou mesmo têm a intenção de empurrar as carreiras de cientistas acadêmicos que estão buscando prêmios, menções honrosas, dinheiro para pesquisas, etc. Com certeza, em muitos casos, as mesmas pessoas são cientistas de pesquisa acadêmica e donos das ações das companhias que fazem essas promessas.

O senhor acha que a linguagem da biotecnologia está se aproximando da linguagem da cibernética, em que gene vira chip de computador?

Lewontin
A ideologia do determinismo biológico usa muitas metáforas retiradas do modelo de máquina de Descartes e agora dos modelos computacionais. Essas metáforas permitem então “jogos de linguagem” porque elas são levadas a sério e assim as conseqüências lógicas de se levar metáforas a sério são levadas à última instância. Todos os cientistas empregam metáforas, mas as metáforas podem ser os maiores inimigos de se compreender adequadamente o mundo material. As pessoas confundem as metáforas com os objetos reais. Norbert Wiener e Arturo Rosenblith escreveram que “o preço da metáfora é a eterna vigilância”.

Fonte:
A Falácia Genética: a ideologia do DNA na imprensa”. De Cláudio Tognolli. Editora escrituras. São Paulo, 2003, p. 265-267).

Mas, onde exatamente entra a "mão invisível de Darwin" nesta história?

Entra, por exemplo, em pesquisas do tipo (clique no link para ver a pesquisa completa):

Genes explicariam traição feminina:
"Mas Spector afirmou que faz sentido, em termos de evolução, que o ser humano busque uma boa mistura de genes e que as mulheres procurem uma opção melhor se ela surgir."

Homossexualidade masculina pode ter explicação evolutiva:

"A homossexualidade humana pode ser explicada pela teoria da evolução de Charles Darwin, que no século XIX assinalou que os fatores genéticos dão uma vantagem reprodutiva a um sexo em detrimento do outro. É o que diz um estudo divulgado nesta quarta-feira, 18, pela revista Public Library of Science (PLoS)."

Segredo do orgasmo pode estar nos genes:

"O cientista afirma acreditar que a obtenção do orgasmo pode ser explicada por meio da evolução."

É isso!

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