Darwinismo: um desvio na direção da seita

Acabei de receber o livro “O Darwinismo ou o Fim de um Mito”, do biólogo Rémy Chauvin, da Universidade de Sorbonne. “Nesta polêmica obra Chauvin dirige um ataque contra um mito. O seu ensaio tem por mérito a abertura de um debate que já há muito deveria ter-se iniciado”.

Mito e debate ? Como assim?

Bem. Para os “zeladores de Darwin” não há mitos, e os debates devem existir apenas internamente. O que “vem de fora”, isto é, as críticas aos dogmas estabelecidos “só podem ser cousa de fundamentalistas religiosos” e, portanto, não podem ser levadas muito a sério. Desta forma, fechando-se para o debate, negando dogmaticamente suas jibóicas crises e logrando para si o status da "teoria do tudo", o darwinismo, nas próprias palavras de Chauvin, realiza “
Um desvio na direcção da seita”:

“Evoquei atr
ás o espanto que tomou conta de mim quando testemunhei, pela primeira vez na minha vida, o desvio darwinista para a violência nas conversas, e mesmo para a injúria. Teremos de admitir que esta tendência vai generalizar-se, pelo menos em certos meios? Penso que sim, e poderá constatá-lo quem ler Dawkins ou Dennett (já Monod manifestava esta tendência); aliás, foi por isso que lhes conferi um tão grande destaque, para que os leitores se não habituem a considerar o darwinismo como uma teo­ria igual às outras. Ele é muito mais do que isso...

Falava Dennett das
«perigosas ideias de Darwin», que comparava com um ácido que corrói subtilmente todas as velhas fórmulas e todas as velhas crenças. Com efeito, foi nisso que o darwinismo se transformou (Darwin não ignorava que isso aconteceria) e Dennett alegra-se com esse facto, porque o seu ideal é o materialismo integral.

[...]

E, com efeito, eis a situa
ção que «profetas» indiscretos como Monod, Dawkins e Dennett não consideraram seriamente: uma grande parte dos nossos concidadãos (e a quase totalidade daqueles que não têm cultura científica, isto é, a maioria, em consequência do fracasso do nosso sistema de ensino) tem medo, e por vezes horror à ciência; sobretudo por causa da bomba atómica e da poluição, mas o seu medo vai muito para além destes temores, afinal justificados: porque os perigos do átomo e da poluição resultam da ciência e do produtivismo industrial, que dela decorre direc­tamente. Qualquer campanha anticientífica tem um eco imediato, que me assusta.

Na verdade,
as pessoas não gostam de nós; alguns cientistas dis­seram realmente demasiadas tolices, que não procediam da ciência, mas apenas das suas preferências filosóficas pessoais. Se de facto a ciência dá do mundo uma imagem insuportável, se priva a vida do seu sentido (e é claramente essa a conclusão do livro de Monod, sem esquecer o eco que dele fazem Dawkins e Dennett), suprimamos a ciência! É muito fácil, basta reduzir os financiamentos aos laboratórios.

Ser
á isso impossível e inoperante? Realmente? Suponhamos que o governo, acossado por preocupações financeiras, decide reduzir o orça­mento da investigação (que é o que está já a fazer). Pensa o leitor que a população se preocuparia com isso? Acha que uma manifestação de investigadores que exigissem financiamento provocaria grande emoção? Mas então, para sossegar as pessoas, deveremos regressar ao bom velho criacionismo?

Naturalmente que isso seria completamente absurdo, tanto mais
que o criacionismo não explica coisa alguma, o mesmo acontecendo com o darwinismo, como veremos adiante. Pretender que o Deus criador auxiliou pessoalmente o Ichtyostega a sair do oceano no devoniano não nos ajuda a compreender o que se passou; ora, é isso que a ciência deseja antes de mais: compreender o mecanismo interno e fisiológico que susci­tou esse fenómeno.

Na realidade, os criacionistas actuais procedem com base numa teo­logia absolutamente ing
énua, à qual a religião há muito renunciou. Na teologia moderna, a matéria depende do Deus criador, mas Deus não depende da matéria. O próprio acto criador está rodeado de um mistério profundo e, se Deus viesse explicar-no-lo, seria trabalho perdido, porque não o compreenderíamos! Deus esteve na origem dos mecanismos subli­mes que nós procuramos desvendar; e o pouco que deles compreendemos faz-nos mergulhar na admiração... Mas a sua origem continua rodeada de bruma, e eu quase diria, parafraseando Pascal, que «o mistério eterno destes mecanismos infinitos assusta-me».

O que
é preciso fazer é estudar, procurar compreender. E abandonar o orgulho. Ainda sabemos muito poucas coisas; não sabemos o suficiente para vaticinarmos e pretendermos, como os darwinistas, que já compreen­demos tudo, ou que possuímos a teoria definitiva, que é a mesma coisa” (p. 14, 15).

Fonte:
Rémy Chauvin. O Darwinismo ou o Fim de um Mito”. Instituto Piaget. Lisboa, 1997.

É isso!

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