Transformismo vs Fixismo

Até que ponto os ideais transformistas de Darwin são apenas e tão somente reflexos daquilo que ele observou na natureza? Até que ponto a problemática fixista não foi preponderante na elaboração de sua doutrina naturalista?

Embora já tenha abordado esta questão em “
Seleção intencional de Darwin”, lendo outra passagem do seu “A Origem das Espécies” não pude resistir a retornar o assunto. Primeiro leiamos este texto de José Osvaldo de Meira Penna, do seu livro “Polemos: Uma análise crítica do Darwinismo”, publicado pela Editora UnB, da Universidade de Brasília. Logo em seguida, a “fala” de Darwin em duas distintas traduções para o português:

“Em
A descend
ência do homem, publicado em 1871, Darwin esperava que "alguma luz seria lançada sobre a origem do homem e da sua história". Nessa obra, que coroa seu trabalho, Darwin refere-se à evolução como um "grande princípio". Usa o termo constantemente. Trata-se de uma nova con­cepção do mundo ou cosmovisão fundamental, destinada a substituir a cosmologia bíblica. Entre a Origem e a Descendência, Darwin deve, provavel­mente, ter admitido a existência de um "grande partido" evolucionista que rejeitava as crenças religiosas criacionistas e fixistas, culpadas de ataques tão acerbos e, na aparência, tão "obscurantistas" contra as suas teorias. O evolucionismo preparava-se para se transformar numa espécie de ideologia metafísica, e podemos acreditar que tenha ela sido submetida, pela controvérsia, ao mesmo tipo de processo mental reativo que levou Freud, no fim da vida, a postular seus "instintos de morte" e a dedicar-se, em crescente destempero, a um ata­que frontal à religião, à figura do Deus-Pai Jawêh, que ele desejava liquidar, e à hipocrisia moralista da sociedade burguesa da época vitoriana. É evidente que a nós todos interessa saber qual é nossa origem. Somos como crianças que, ao primeiro despertar da curiosidade intelectual, deseja descobrir onde vem, da barriga da mãe ou transportado por uma cegonha, como ouviu dizer. Seremos descendentes de Adão ou de uma espécie mais avançada de macaco? Será Adão (que, em hebraico, quer dizer simplesmente Homem) o nome do primeiro macaco, o paradigma ou arquétipo dos primatas, "modifï-i .ido" e dotado de inteligência superior? E, de qualquer forma, como se processou a evolução desde o aparecimento primordial da vida no planeta? Naquele livro de valor decisivo, escreveu Darwin (I, cap. II):

'
Alguns daqueles que admitem o princ
ípio de evolução, mas rejeitam a seleção natural, parecem olvidar, ao criticar meu livro, que eu tenha em vista esses dois objetos. Se portanto errei ao atribuir uma grande eficácia à Seleção Natural, o que estou longe de admitir; ou ao exage­rar seu poder, o que em si é provável, espero, pelo menos, haver presta­do um bom serviço ao contribuir para derrubar o dogma das criações separadas'” (p. 90, 91).

Agora Darwin...
1. “A Origem das Espécies”, tradução de André Campos Mesquita:
"A seleção natural atua somente mediante a conservação e acumulação de pequenas modificações herdadas, proveitosas todas ao ser conservado; e como a geologia moderna quase desterrou opiniões tais como a escavação de um grande vale por uma só fenda diluviana, de igual modo a seleção natural desterrará a crença da criação contínua de novos seres orgânicos ou de qualquer modificação grande e súbita em sua estrutura.”

2. “
A Origem das Espécies”, tradução de
Joaquim da Mesquita Paul:
“A seleção natural opera apenas pela conservação e acumulação de pequenas modificações hereditárias de que cada uma é proveitosa ao indivíduo conservado; ora, da mesma forma que a geologia moderna, quando se trata de explicar a escavação de um profundo vale, renuncia a invocar a hipótese de uma só grande vaga diluviana, da mesma forma a seleção natural tende a fazer desaparecer a crença na criação contínua de novos seres organizados, ou nas grandes e inopinadas modificações da sua estrutura.”

Aqui a gente mata a cobra e mostra a cobra! ((rs))

É isso!

Um comentário:

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