Darwin e o "darwinismo criador soviético"

"Culpar Darwin pela eugenia é como condenar Einstein pelas catástrofes em Hiroshima e Nagasaki", justificam os darwinistas com a clara intenção de isentar o naturalista inglês da pecha do darwinismo social, o qual fora responsável por inúmeras ideologias racistas nos primórdios do século XX, sendo a principal delas o nazismo alemão de Adolf Hitler.

É óbvio que a construção do nazismo deu-se mediante uma série de questões: políticas, sociais e até religiosos. A crise alemã decorrente da sua derrota na Primeira Guerra Mundial foi, por exemplo, um fator decisivo que conduziu o povo alemão a apoiar a loucura h
itleriana. Todavia, em termos de sustentação ideológica, os ideais darwinistas de "sobrevivência dos mais aptos" foram, sem a menor sombra de dúvidas, preponderantes na criação da doutrina nazista de uma "raça superior", que deveria prevalecer sobre a "raça degradada", os judeus obviamente. Entre as inúmeras acusações que os nazistas faziam em relação aos "filhos de Israel", uma referia-se ao fato deles “não terem superado a fase primitiva da evolução humana” (vide: Maria Luiza Carneiro. Holocausto, "Crime contra a Humanidade", p. 20).

O conceito eugenista nasceu e se desenvolveu a partir do princípio da Seleção Natural, da forma como Darwin defendeu em seu livro "A Origem do Homem e a Seleção Sexual":
"A seleção permite ao homem agir de modo favorável, não somente na constituição física de seus filhos, mas em suas qualidades intelectuais e morais. Os dois sexos deveriam ser impedidos de desposarem-se quando se encontrassem em estado de inferioridade muito acentuada de corpo ou espírito”. E mais à frente: "Todos aqueles que não podem evitar uma abjeta pobreza para seus filhos deveriam evitar de se casar, porque a pobreza não é apenas um grande mal, mas ela tende a aumentar; (...) enquanto os inconscientes se casam e os prudentes evitam o casamento, os membros inferiores da sociedade tendem a suplantar (em número) os membros superiores. Como todos os animais, o homem chegou certamente ao seu alto grau de desenvolvimento atual mediante luta pela existência, que é conseqüência de sua multiplicação rápida; e, para chegar a um mais alto grau ainda, é preciso que continue a ser mantida uma luta rigorosa (...). Deveria haver concorrência aberta para todos os homens e dever-se-iam fazer desaparecer todas as leis e todos os costumes que impedem os mais capazes de conseguir seus objetivos e criar o maior número possível de crianças”.

Seguindo esta linha ideológica, aliás aceita pelo mesmo Darwin como científica, os nazistas criaram as chamadas “granjas de reprodução” com jovens saudáveis de ambos os sexos, os quais fossem possuidores das características da “raça ariana”. Mediante uma lei aprovada em 1933, castraram 350 mil pacientes com problemas mentais, meninos negros entre outros.

Conforme e
screveu Maria Luiza Carneiro, no já mencionado Holocausto: crime contra a Humanidade”: "...Hitler defende a tese de que existe na natureza uma tendência à purificação racial. Condena o cruzamento entre as raças humanas pelo fato de este rebaixar o nível da raça mais forte induzindo-a a um retrocesso físico e mental. Com base nessa lógica propõe o extermínio dos judeus, considerados “raça inferior” (p. 26).

E, segundo Nélio Marco V. Bizzo, em seu livro “O que é Darwinismo”: A idéia de que o darwinismo era uma doutrina que se aplicava apenas aos seres vivos não-humanos é outra versão absolutamente incorreta. No "Origem das Espécies", Darwin passa comodamente ao largo das implicações de sua teoria com o homem. No entanto, no seu "A Origem do homem", ele penetra na questão e aí, suas opiniões deixam pouca margem de dúvida.
Darwin e seu primo Francis Galton, juntamente com uma série de pensadores seus contemporâneos, acreditavam que a “raça” humana poderia ser melhorada se fossem evitados “cruzamentos indesejáveis”. A sociedade era vista com uma clara divisão: de um lado, os membros “superiores”, sadios, inteligentes, ricos e, obviamente, brancos; do outro lado, os membros “inferiores”, mal nutridos, doentes, pobres, de constituição racial duvidosa. Estes deveriam ser impedidos de se reproduzirem, pois acabariam por “rebaixar toda a raça”. A evolução biológica do homem poderia ser “acelerada”, limitando-se os mesmos rituais de seleção “vistos” na natureza. Os mais aptos, evidentemente, estavam entre os indivíduos das classes dominantes.
Darwin chegava até a prever a completa extinção de raças inteiras, consideradas “inferiores”. Escreveu pouco antes da morte, numa carta de 1881: “Eu poderia esforçar-me e mostrar o que a seleção natural fez e ainda faz para os progressos da civilização, mais do que aquilo que pareceis admitir...”. (Bizzo - “O que é Darwinismo” – Editora Brasiliense – p.67, 68).

E no caso do comunismo soviético, em que aspecto é possível afirmar que Darwin se fez presente nele?

Bem, é sabido que, não obstante o darwinismo soviético ter tido sua base fincada no lamarckismo (tendo como pano de fundo o dogma da hereditariedade do adquirido, e no comendo o poderoso "Torquemada da ciência", o terrível Lyssenko), sabe-se também que este manipulador marxista-leninista bebeu abundantemente em Darwin (a teoria dos caracteres adquiridos deste naturalista também sustenta o lamarckismo), basicamente no seu conceito de Seleção Natural, com o qual massacrou os odiosos "inimigos do regime": "Na doutrina de Darwin", escreveu Marx, "aceito a teoria da evolução, mas só admito seu método de demonstração (
struggle for life, natural selection - luta pela vida, seleção natural) como primeira expressão, provisória e imperfeita, de uma realidade recentemente descoberta". E, como bem observa Wilma George ("As Idéias de Darwin". Editora Culturix", 1985): "A hereditariedade dos caracteres adquiridos também tinha os seus partidários políticos, o socialismo em geral e, em particular, o marxismo apropriaram-se da idéia de forma grandiosa, embora fosse difícil saber se de Darwin ou de Lamarck". E continua:
"O próprio Marx, pregando, por um lado, a revolução, defendia, de outro, uma forma de evolução: que os sistemas sociais mutáveis mudavam os sistemas político e econômico e que estes, em contrapar­tida, mudavam os sistemas sociais, e assim por diante. Isso se devia mais à dialética hegeliana do que ao darwinismo, mas Marx tinha em grande consideração a Origem: "o livro de Darwin é muito importante" — escreveu ele — "e me convém que sustente a luta de classes na história do ponto de vista da ciência natural. Tem-se, é claro, que tolerar o tosco método inglês de discurso". Foi uma teoria materialista que incorporou a idéia da mudança num dado período de tempo, selecionada a partir de variações motivadas pelo meio ambiente. Mas isso estava muito longe de fornecer um argumento para o marxismo, como Engels foi o primeiro a perceber. O materialismo dialético foi mudan­ça e movimento durante um período de tempo, mas estava longe do gradualismo. Adaptação lenta seguir-se-ia a uma rápida mudança — a revolução — não apenas para produzir uma nova espécie de sociedade, mas para produzir uma sociedade antitética à anterior. Essa dialética hegeliana não seria encontrada na teoria darwiniana. Mas o darwinis­mo não estaria no programa do ensino marxista na Rússia. O gradua­lismo e a variação individual seriam ignorados, a mudança, o materia­lismo e a hereditariedade dos caracteres adquiridos foram aceitos. Mas a rejeição pela Rússia da teoria mendeliana na herança — que se tornou parte do neodarwinismo do século XX — levaria à bizarra catástrofe da política agricultural de Lysenkoist" (p. 102).

É isso!

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