"Ateísmo religioso": faz sentido?

O que exatamente caracteriza uma pessoa como religiosa?

Bom, segundo os dicionários, “religioso” é a pessoa que fez votos e ingressou numa congregação ou numa ordem religiosa. Seria, portanto, alguém que pratica determinados preceitos e que seguem regras ou doutrinas estabelecidas por esta mesma ordem religiosa.

Bom, definição posta, vejamos agora porque faz certo sentido denominar os neo-ateístas, ou seja, os "ateus a la Dawkins", de “ateus religiosos”. A idéia não é menosprezar ou caçoar nem o ateu nem a própria religião, mas apenas mostrar que o comportamento dessas pessoas ditas “racionalistas” não diferem muito daqueles vivenciados por um religioso tradicionalmente entendido como tal, ou seja, o crente. Veja-se, por exemplo, os seguintes textos:


1.OPINIÃO DA
ATEA - ASSOCIAÇÃO BRASILEIRA DE ATEUS E AGNÓSTICOS:
"Ritos de passagem - Ritos de passagem são aqueles que marcam momentos importantes na vida das pessoas. Os mais comuns são os ligados a nascimentos, mortes, casamentos e formaturas. Em nossa sociedade, os ritos ligados a nascimentos, mortes e casamentos são praticamente monopolizados pelas religiões. Já as formaturas não costumam ser, em si, religiosas, mas frequentemente têm importantes momentos religiosos. Como podem se posicionar ateus, agnósticos e todos os demais não-religiosos quanto a isso? Esta seção é para ajudá-lo a responder essa pergunta.

Há muitas saídas possíveis. Os não-religiosos que não se importam em participar de cerimônias religiosas não terão problema algum. Mas há também aqueles que entendem a religião como um mal e rejeitam qualquer tipo de influência religiosa em suas vidas podem procurar alternativas puramente seculares...

Naturalmente, excluir todas cerimônias religiosas pode não ser possível no caso de formaturas, em que o cerimonial é uma decisão pactuada pelo grupo de formandos -- ou, mais comumente, fixada sem qualquer consideração pela diversidade dentro do grupo. Nesse caso, pretendemos oferecer textos que ajudem os formandos a se posicionar com clareza e modelos de cartas que eles podem enviar à comissão, expondo seu ponto de vista. E, é claro, o formando sempre tem a opção de não participar do processo de formatura, ou simplesmente se retirar nos momentos religiosos. Não resta dúvida de que os demais formandos têm todo direito de promover as cerimônias religiosas que bem entenderem, mas surgem problemas caso elas se misturem aos momentos não religiosos ou sejam financiadas pelo dinheiro que é de todos."

2. OPINIÃO DE UM
PASTOR EVANGÉLICO DA IGREJA PRESBITERIANA
Está chegando a época e um assunto polêmico vem à tona novamente: crente pode participar ou fazer Festas Juninas?

Milho verde, canjica, pé-de-moleque, quebra-queixo, pipoca, muita música… Dançar quadrilhas, pular fogueira, soltar fogos e outras manifestações se tornaram comuns nos meses de junho, marcando as conhecidas festas juninas. Com forte raiz cultural e folclórica, elas guardam cada vez menos a tradição católica de celebrar os “santos” Antônio, João e Pedro. Todos os anos, o mês de junho traz à tona uma discussão que divide opiniões.
[...]
Para o pastor José Vicente de Lima, da 1ª Igreja Presbiteriana de Vila Velha, os evangélicos deveriam ignorar este tipo de festividade e, nem por isso, sua atitude configuraria extremismo. Ele não concorda com a inclusão evangélica nem mesmo em se tratando de comemorações em outras datas e com outros nomes, como “festa na roça” ou “festa caipira”. “Com todo o respeito a quem queira participar, a configuração da festa muda, mas o mandamento do Senhor é o mesmo. Nós pregamos isto. E ao não seguirmos este mesmo Senhor, perdemos a comunhão íntima com ele. As pessoas podem até dizer que não concordam com isso porque os tempos e os costumes são outros, mas a Bíblia é a mesma”, justifica.

O pastor José argumenta que a alegria do evangélico é outra, que não é necessário afastar-se das coisas do mundo, mas que se deve buscar primeiro sabedoria e discernimento espiritual. Entretanto, para ele, de acordo com a Palavra a proibição é evidente. Alguns podem participar destas festas e não se deixar dominar, mas outros acabam incorrendo em erro. Para não errar, o melhor seria não ir. “O senhor participou de festas, de casamentos sem com isso se contaminar. Há festas e festas”, encerrou."

3. OPINIÃO DE UM
CATÓLICO APOSTÓLOCO ROMANO
É permitido a um católico participar de um evento protestante?

Antes de tudo, devemos ter consciência da Doutrina da Igreja Católica acerca da Salvação e da existência de uma Única Igreja:
“Existe portanto uma única Igreja de Cristo, que subsiste na Igreja Católica, governada pelo Sucessor de Pedro e pelos Bispos em comunhão com ele. (Dominus Iesus,nº 16).”
[...]
Se você sabe que lá o pastor vai falar algo contra a fé, ou pelo menos suspeita que isso aconteça você não pode ir.
Nesse item entram por exemplo, pregações ou músicas que falam mal de Nossa Senhora, da Igreja, do Papa, dos sacerdotes, ou (o mais comum) músicas ou pregações cuja intenção seja principal ou unicamente o proselitismo (arrebatar fiéis)...Ora, se sabemos que existe a necessidade de que todos se convertam à Igreja Católica, seria extremamente incoerente ir num evento cujo objetivo seja exatamente o contrário."

4. OPINIÃO DE UM JUDEU PROGRESSISTA:
Um não-judeu pode usar Talit?

Esta pergunta é o tema de duas responsas reformistas. O rabino Solomon B. Freehof permite que um líder religioso não-judeu use um talit em um serviço ecumênico em uma sinagoga. Ele argumenta que uma vez que o talit, especialmente o tsitsit, é menos sagrado do que a Torá e seus pertences, e uma vez que o Talit e o tsitsit podem ser descartados quando deixam de ser usados — diferente da Torá, que deve ser guardada em uma guenizá — nós devemos lidar com eles de maneiras diferentes. Ele vai mais adiante ao considerar que nós podemos oferecer o talit ao não-judeu "em nome da paz". Porém, o rabino Walter Jacob menciona que usar o talit é uma mitsvá (mandamento) da Torá que requer uma brachá (bênção); por sua vez, esta brachá menciona especificamente Israel como o povo escolhido e assim, só pode ser recitada por um judeu. Assim sendo, um não-judeu pode usar talit durante o serviço matutino de Shabat?"

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Bom. Embora a posição da ATEA seja assim, digamos, mais "aberta", ou seja, ela não condena aqueles que queiram participar de eventos que envolvam "ritos religiosos", nota-se porém que ela se disponibiliza a oferecer alternativas aos ateus "que entendem a religião como um mal e que rejeitam qualquer tipo de influência religiosa em suas vidas". De algum modo, portanto, está ali implícito o desejo de guiar, de orientar, de "mostrar o verdadeiro caminho" àqueles que não querem se deixar influenciar por ritos religiosos, da mesma forma como os religiosos citados aconselham seus fiéis a evitar os "ritos mundanos".

É isso!

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