A falsa beleza darwiniana

Até aqui me tenho referido somente às espécies em que os machos apresentam cores mais vivas do que as fêmeas e atribuí a sua beleza ao fato de que durante muitas gerações as fêmeas devem ter escolhido os machos mais atraentes e com eles ter-se acasalado. Ainda que raros, existem contudo casos contrários em que as fêmeas são mais vistosas do que os machos; e aqui, como creio eu, os machos têm escolhido as fêmeas mais belas e desta maneira aumentam lentamente a sua beleza. Desconhecemos o motivo por que em várias classes de animais os machos de algumas espécies escolheram as fêmeas mais belas ao invés de aceitarem com prazer qual­quer fêmea, conforme parece regra geral no reino animal; mas se as fêmeas fossem muito mais numerosas do que os machos — contrariamente a quanto geralmente acontece com os Lepidópteros — então os machos provavelmente escolhe­riam as fêmeas mais belas” (“A Origem do Homem e a Seleção Sexual”. Hemus Editora. São Paulo, 1974, p. 376).

Poucas cousas são tão subjetivas quanto a definição do que seja o belo. O “feio” é sempre aquele que não me agrada e que não se enquadra nos meus padrões de beleza. O fato de uma mulher ser considerada bela não faz dessa mulher realmente bela. Ela pode ser “bela” para mim, o que não significa que será assim para o vizinho do lado. Não há, pois, um padrão de beleza que se possa tomar como universal. E se já é complicado definir beleza a partir das lucubrações humanas o que se dirá tentar entendê-la sob a lógica dos bichos!

Assim, d
ada a relatividade dos conceitos de beleza, e tomando como referência a explicação de Darwin acima citada, pergunta-se:

Por que os encantos das fêmeas e a força do macho são as características mais seletivas? Como a fêmea sabe que aquele macho é realmente o mais belo e o mais vigoroso entre todos os demais? Ele é mais belo apenas porque a fêmea o escolheu para acasalar e gerar filhotinhos? Qual, afinal, o critério que se estabelece para concluir que o escolhido seja de fato o mais belo e o mais vigoroso?

Ou no caso específico do homem, como indagaria Penna (“Polemos”): c
omo explicar o “strip-tease” feito pelo
Homo sapiens no decorrer da evolução, levando em conta a relatividade dos conceitos de beleza? Por que não poderíamos, em outras circunstâncias do processo evolutivo, cativar-nos diante da beleza de uma mulher peluda em vez de pelada, da mesma forma como admiramos, digamos, a beleza da peliça de uma gata angorá, uma raposa argentée, uma égua de corrida ou uma fêmea de tigre?

Hum?

É isso!

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