"Fósseis virtuais"

Pelo o pouco que se conhece de ciência, sabe-se que não é uma atividade acima de qualquer suspeita, na qual seja possível depositar inteira confiança. Muito pelo contrário, como toda atividade produtiva, a ciência está sempre sujeita a erros e influencias ideológicas diversas.

No que concerne ao darwinismo, é curioso a forma como lidam com a ciência. Geralmente para muitos deles a ciência é uma entidade acima de qualquer outra, e que em alguns aspectos pode perfeitamente até substituir e suprir a lacuna de uma divindade. No entanto, quando alguma das suas especulações se transforma em fracasso, dizem: “É assim que se faz ciência”. Frases deste teor já se tornaram comum, principalmente quando um glamoroso “elo” é rebaixado à condição de simples fóssil.

Quando se divulgou, por exemplo, o caso do famosíssimo Darwinius masillae, foi um verdadeiro espetáculo mundial. Teve-se a impressão de que um extraterrestre fincou uma bandeira marciana na terra ou que se descobriu a pílula da eterna felicidade. No entanto, assim que a mesma imprensa que o elevou às nuvens fora “obrigada” a trazê-lo de volta à terra, disseram: “É assim que faz ciência...”.

Vá lá, que seja assim que se faça ciência, todavia, é preocupante o fato de um estudante realizar uma pesquisa no Google e encontrar uma matéria como a que segue, a qual, além de ter sido publicada num site sobre educação, ainda está repleta de afirmações tende
nciosas.

Embora o fiasco evolutivo "Ida" tenha se tornado público, tudo aquilo que foi escrito anteriormente sobre ele ainda continua na Internet, podendo tornar-se fonte confiável para muitos estudantes desprevenidos. Penso que seria o caso de editor postar algum alerta em situações como essas, algo do tipo: "Esta informação está desatualizada", ou: "Este elo não é lá uma Mona Lisa" e por aí vai... O importante é que o aluno, ao deparar com um texto deste viés, saiba que ele não corresponde à verdade. Ei-lo:

Fonte:
Revista Nova Escola

“No último dia 19 de maio, a divulgação da descoberta de um novo fóssil chamou a atenção da comunidade científica de todo o mundo. Chamado de Darwinius masillae, o fóssil foi achado em Messel, na Alemanha, ganhou o apelido de Ida e tem 47 milhões de anos.

Os cientistas acreditam que ele pertence a uma nova espécie, ancestral do ser humano
. O paleontólogo Jørn Hurum, um dos co-autores do artigo sobre a descoberta, disse em entrevista ao jornal britânico "The Guardian" que este é mais o completo fóssil já encontrado de um primata que tenha vivido antes de ser inventado o enterro humano. Isso porque, em geral, os fósseis contêm apenas pequenos pedaços de ossos. Já Ida está 95% completa, não só em termos de ossos, mas também ainda tem vestígios de pele, pelos e conteúdo estomacal.

"
Com um fóssil tão bem preservado, podemos estudar as características que mostram tendências evolutivas e que dão pistas sobre como o ser humano se tornou o que é hoje", afirma Sílvia Gobbo, pesquisadora do Instituto de Geociências da Universidade de Brasília. A pesquisadora afirma também que não há nenhum indício de que esse fóssil seja ancestral próximo do ser humano. "Já foram encontrados muito fósseis mais jovens e mais ligados a nós.

Pela idade, Ida é da linha de evolução dos antropóides,
mas se encaixa antes de ela ter se dividido, um lado indo para o desenvolvimento dos seres humanos, outro para o dos macacos", explica Sílvia Gobbo. Além disso, não se pode dizer que Ida é nosso ancestral direto, já que isso só pode ser determinado por meio de exames de DNA, quase impossíveis de realizar em fósseis. "O que se sabe é que esse é mais um aparentado e está na linhagem de evolução que vai até os humanos. É mais provável que seja um tio ou um primo do que avô da nossa espécie", diz a professora. Como os primeiros estudos sobre Ida acabaram de ser divulgados, outros pesquisadores ainda precisam analisar o fóssil e as conclusões preliminares . Porém, se ficar comprovado que ele pertence a uma espécie ainda não catalogada, será o 15º ancestral do homem de que temos notícia.

Para a ciência, a descoberta de um mais um ancestral humano é de grande importância.
Primeiro, porque é mais uma prova de que a evolução aconteceu e vai continuar acontecendo. Além disso, é essencial para que possamos entender a diversidade da natureza e também a nossa história evolutiva. "Descobrir um novo fóssil é muito legal, é como descobrir um irmão novo. Mas o importante mesmo é que eles nos ligam à natureza. Isso mostra que o homem não é uma criação especial. É mais um ser vivo dentro da escala natural", conclui Sílvia Gobbo."

É isso!

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