Poucos vultos históricos foram tão maquiados como Charles Darwin. A primeira e mais vigorosa tentativa em transformá-lo no modelo ideal de cientista partiu de Thomas Huxley, que num discurso chegou a compará-lo a Sócrates.
De lá para cá, muitos outros nomes se colocaram na linha de frente evolucionista, agindo como verdadeiros “cosmetólogos” de Darwin. O neto de Thomas Huxley e irmão de Aldous Huxley, Sir Julian Huxley, por exemplo, foi outro que também se empenhou neste processo de “encantamento” do naturalista inglês. Sobre isso escreve Nélio Bizzo, em “Revendo alguns temas darwinianos: mitos e verdades no relato de Huxley e Kettlewell”, in: “Charles Darwin em um futuro não tão distante” (Instituto Sangari, 2009): “Além da imagem da infalibilidade da ciência e do cientista, Huxley e Kettlewell apresentam a “imagem franciscana” de Darwin, alinhada com o perfil traçado desde Francis Darwin, seu filho, isto é, um cientista imune ao meio social, sem hipóteses de trabalho previamente estabelecidas, e com um único objetivo centrado em suas pesquisas no decorrer de toda sua existência” (p. 61). Um outro nome, e este atual, que da mesma forma assumiu o compromisso em elevar Darwin à posição de “semideus da ciência”, é Daniel Dennet, que escreveu: “se eu tivesse que conceder um prêmio para a melhor idéia única que alguém jamais teve, eu o ofereceria para Darwin na frente de Newton e Einstein e todos os demais”.
E em todo esse modus operandi dos dissimuladores de Darwin, uma das estratégias mais comum diz respeito á tentativa de desvincular a pessoa do naturalista daquilo que ficou conhecido como darwinismo social. Um exemplo pertinente extrair do livro que citei logo acima (“Charles Darwin em um futuro não tão distante”, Instituto Sangari, 2009), que foi publicado como parte da comemoração do bicentenário do nascimento do autor de "A Origem das Espécies". Especificamente em “Em um futuro não tão distante: Darwin e a ciência do comportamento”, de autoria de Cesár Ades, do Instituto de Psicologia, Instituto de Estudos Avançados da Universidade de São Paulo, foi omitido intencionalmente um trecho no qual Darwin prever abertamente que num futuro, a psicologia estaria muito mais bem fundamentada, e esta fundamentação, segundo o mesmo Darwin, viria do conhecimento advindo das idéias do darwinista social Herbert Spencer. O texto original de Darwin diz (tradução: André Campos Mesquita, Editora Escala): “No futuro, vejo um campo amplo para investigações bem mais inteteressantes. A psicologia se baseará seguramente sobre os alicerces, bem propostos já por Herbert Spencer, da necessária aquisição gradual de cada uma das faculdades e aptidões mentais. Projetar-se-á muita luz sobre a origem do homem e sobre sua história”. César Ades, todavia, ao exaltar os conhecimentos do Darwin, ignorou a menção a Spencer, escrevendo: “Mas é no trecho, muito citado, do final de A origem das espécies que Darwin coloca de maneira clara e pela primeira vez a previsão do quanto sua teoria poderia influenciar a Psicoilogia: "num futuro distante, eu vejo campos abertos para pesquisas muito mais importantes. A Psicologia encontrará uma base segura no fundamento [...] da aquisição necessária de cada poder mental e de cada capacidade mental de forma gradativa. Muita luz será lançada sobre a origem do homem e sobre sua história" (Darwin, 1859/1996, p. 394). A frase indica que Darwin não concebia a mente como uma entidade à parte, independente dos princípios que regem a evolução e o desenvolvimento das funções do corpo. Intuía a possibilidade de um programa de pesquisa que forneceria "bases seguras" à Psicologia (ainda as buscamos, hoje). Jogou a realização desse programa num "futuro distante": mas o tempo histórico é relativo, e eu brinco, no meu título, falando num "futuro não tão distante" (p. 108).
O [...] deixa claro a intenção do autor em fazer desligar Darwin dos ideais de evolução como progresso defendidos pelo evolucionista Herbert Spencer. Ou seja, o que Darwin tem de bom a gente mostra, o resto enfia-se debaixo da tapete da omissão, e pronto: "eis aí o Darwin que tanto almejamos".
É isso!
De lá para cá, muitos outros nomes se colocaram na linha de frente evolucionista, agindo como verdadeiros “cosmetólogos” de Darwin. O neto de Thomas Huxley e irmão de Aldous Huxley, Sir Julian Huxley, por exemplo, foi outro que também se empenhou neste processo de “encantamento” do naturalista inglês. Sobre isso escreve Nélio Bizzo, em “Revendo alguns temas darwinianos: mitos e verdades no relato de Huxley e Kettlewell”, in: “Charles Darwin em um futuro não tão distante” (Instituto Sangari, 2009): “Além da imagem da infalibilidade da ciência e do cientista, Huxley e Kettlewell apresentam a “imagem franciscana” de Darwin, alinhada com o perfil traçado desde Francis Darwin, seu filho, isto é, um cientista imune ao meio social, sem hipóteses de trabalho previamente estabelecidas, e com um único objetivo centrado em suas pesquisas no decorrer de toda sua existência” (p. 61). Um outro nome, e este atual, que da mesma forma assumiu o compromisso em elevar Darwin à posição de “semideus da ciência”, é Daniel Dennet, que escreveu: “se eu tivesse que conceder um prêmio para a melhor idéia única que alguém jamais teve, eu o ofereceria para Darwin na frente de Newton e Einstein e todos os demais”.
E em todo esse modus operandi dos dissimuladores de Darwin, uma das estratégias mais comum diz respeito á tentativa de desvincular a pessoa do naturalista daquilo que ficou conhecido como darwinismo social. Um exemplo pertinente extrair do livro que citei logo acima (“Charles Darwin em um futuro não tão distante”, Instituto Sangari, 2009), que foi publicado como parte da comemoração do bicentenário do nascimento do autor de "A Origem das Espécies". Especificamente em “Em um futuro não tão distante: Darwin e a ciência do comportamento”, de autoria de Cesár Ades, do Instituto de Psicologia, Instituto de Estudos Avançados da Universidade de São Paulo, foi omitido intencionalmente um trecho no qual Darwin prever abertamente que num futuro, a psicologia estaria muito mais bem fundamentada, e esta fundamentação, segundo o mesmo Darwin, viria do conhecimento advindo das idéias do darwinista social Herbert Spencer. O texto original de Darwin diz (tradução: André Campos Mesquita, Editora Escala): “No futuro, vejo um campo amplo para investigações bem mais inteteressantes. A psicologia se baseará seguramente sobre os alicerces, bem propostos já por Herbert Spencer, da necessária aquisição gradual de cada uma das faculdades e aptidões mentais. Projetar-se-á muita luz sobre a origem do homem e sobre sua história”. César Ades, todavia, ao exaltar os conhecimentos do Darwin, ignorou a menção a Spencer, escrevendo: “Mas é no trecho, muito citado, do final de A origem das espécies que Darwin coloca de maneira clara e pela primeira vez a previsão do quanto sua teoria poderia influenciar a Psicoilogia: "num futuro distante, eu vejo campos abertos para pesquisas muito mais importantes. A Psicologia encontrará uma base segura no fundamento [...] da aquisição necessária de cada poder mental e de cada capacidade mental de forma gradativa. Muita luz será lançada sobre a origem do homem e sobre sua história" (Darwin, 1859/1996, p. 394). A frase indica que Darwin não concebia a mente como uma entidade à parte, independente dos princípios que regem a evolução e o desenvolvimento das funções do corpo. Intuía a possibilidade de um programa de pesquisa que forneceria "bases seguras" à Psicologia (ainda as buscamos, hoje). Jogou a realização desse programa num "futuro distante": mas o tempo histórico é relativo, e eu brinco, no meu título, falando num "futuro não tão distante" (p. 108).
O [...] deixa claro a intenção do autor em fazer desligar Darwin dos ideais de evolução como progresso defendidos pelo evolucionista Herbert Spencer. Ou seja, o que Darwin tem de bom a gente mostra, o resto enfia-se debaixo da tapete da omissão, e pronto: "eis aí o Darwin que tanto almejamos".
É isso!
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