Feyerabend: o anarquista

Em seu interessante livro “A Falácia Genética: A ideologia do DNA na imprensa”, Claudio Tognolli faz um resumo sobre as idéias dos principais pensadores da ciência. Especificamente em relação ao autor de “Contra o Método”, escreve o título “A anarquia Feyerabend”, no qual se lê:

“ Lançado em 1975, o primeiro livro de Feyerabend, Contra o Método, coloca os cientistas como uma revoada postulante de irracionalismos, egoísmo e subjetividade. Acha que a ciência tem um dictum: anything goes, ou qualquer coisa vale. Chegou a dizer que o ideário de Popper não passava de “um diminuto sopro de ar quente na xícara de chá positivista” e que as teorias de Kuhn para a mudança se aplicavam bem ao crime organizado.’

Como Foucault, achava que saber é poder mas, que no caso da ciência, diz que saber era igual à tirania. Feyerabend, um ex-comandante vienense de 3 mil homens na Frente Russa, gosta de frases arrebatadoras.

Em entrevista ao jornalista John Horgan, editor da revista Scientific American, disse o seguinte: “O que ocorre com as ciências é exatamente o seguinte, você tem certas idéias que funcionam e então surge alguma nova situação e você tenta outra coisa. É oportuníssimo. Você precisa de uma caixa de ferramentas com vários tipos de instrumentos. E não apenas um martelo, alguns pinos e nada mais. Foi isso que quis dizer quando do anything goes... Há uma separação entre Estado e Igreja mas não há nenhuma entre o Estado e a ciência”. Feyerabend é um defensor da “felicidade” e acha que, por isso mesmo muitas sociedades sem ciência vivem até mais felizes.

Acha que a ciência “pode ser um meio para destruir todo o tipo de gente” e acha que temos sorte em que nossa percepção oblitere certas informações científicas que tentam “comprimir a realidade.” O anarquista chegou a estudar com o próprio Popper, na London School of Economics, entre 1952 e 1953. Em 1959 mudou-se da Inglaterra para Berkeley, onde ficou amigo de outro que lutou para atacar, Thomas Kuhn. Morreu em 1995, de câncer, depois de ter publicado a obra Killing Time ( Horgan conta que as páginas finais, escritas poucos dias antes de sua morte, postulam que a única coisa que importa na vida “é o amor.”

Na sua obra ele já abre dizendo : “A história da ciência,’ bem vistas as coisas, não consiste apenas em fatos e conclusões extraídas dos fatos. Contém também ideais, interpretações dos fatos, problemas criados por interpretações conflitais, erros, e assim por diante. Numa análise mais fina, descobrimos até que a ciência não conhece fatos nus, mas que os fatos que entram no nosso conhecimento já são vistos de certa maneira e, por isso, essencialmente ideacionais. Sendo assim, a história da ciência seria tão complexa, caótica, cheia de erros, e divertida como as idéias que contém, e estas idéias seriam por sua vez tão complexas, caóticas, cheias de erros e divertidas como os espíritos dos que as inventaram. Em contrapartida, uma pequena lavagem cerebral ao cérebro contribuiria em muito para tornar a história da ciência mais enfadonha, mais simples, mais uniforme, mais objetiva e mais facilmente abordável em termos de regras estritas e inalteráveis.”

Ou por outra:

“A idéia de um método que inclua princípios firmes, imutáveis, e absolutamente vinculativos da condução dos assuntos da ciência depara com dificuldades consideráveis quando a confrontamos com os resultados da investigação histórica. Descobrimos, com efeito, que não há uma única regra, ainda que plausível, e ainda que firmemente alicerçada em termos epistemológicos, que não tenha sido uma ou outra vez violada. Torna-se evidente que tais violações não acontecem por acaso, não são resultados de uma insuficiência do conhecimento ou de uma desatenção passíveis de serem evitadas. Pelo contrário, vemos que foram elementos necessários ao progresso.”’

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É isso!

Fonte:
Claudio Tognolli: “A Falácia Genética: A ideologia do DNA na imprensa”. Editora Escrituras. São Paulo, 2003.

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