As origens da Teologia da Prosperidade

“A Teologia da Prosperidade representa um fenômeno religioso recente no interior da igreja pentecostal, que defende a crença de que o fiel está libertado dos pecados e por isso tem o direito de usufruir de saúde e prosperidade material.

O protagonista inicial
O maior representante do evangelho da prosperidade, Kenneth Hagin, nasceu no Texas em 1917. De origem pobre, passou por grandes dificuldades emocionais, físicas e financeiras, sendo criado pelos avôs. Aos 15 anos de idade ficou gravemente doente e passou a relatar que possuía visões de Cristo e passagens pelo Céu e o Inferno. As viagens para o Céu o levaram a conversão, e diz receber a “verdadeira” revelação de Marcos 11: 23, 24 e da natureza cristã. Para obter as benções diante de Deus, o fiel deve confessar em voz alta e nunca duvidar da sua crença. Evangélico batista, após a cura decidiu começar a pregar o evangelho associando-o à Confissão Positiva.

Ainda na década de 30, Hagin passou a ter o dom da cura, o que o levou a fazer parte do movimento pentecostal, ingressando na Assembléia de Deus. Depois de alguns anos tornou-se um pastor itinerante promovendo a cura. Hagin sofreu influências marcantes de Essek Wil iam Kenyon, de quem aprendeu ensinos sobre cura divina e Confissão Positiva, e do televangelista Oral Roberts, quem adotou pela primeira vez o conceito de Vida Abundante.

Em 1974 Hagin fundou em Oklahoma o Rhema Bible Training Center, formando novos discípulos da Teologia da Prosperidade, e deixou vários escritos sobre a Teologia da Prosperidade que são utilizados como base tanto por líderes evangélicos dos Estados Unidos como do Brasil.

Origem
Chamamos de Teologia da Prosperidade a doutrina que surgiu na década de 40 nos EUA. Também é conhecida por Health and Wealth Gospel, Faith Movement, Faith Prosperity Doctrines, Positive Confession. Reúne crenças sobre cura, prosperidade e poder da fé, mas só se constituiu como movimento doutrinário no decorrer dos anos 70, quando encontrou abrigo nos evangélicos carismáticos dos EUA.

O evangelho da prosperidade é um fenômeno religioso que se cristalizou a partir da década de 70, influenciado por teólogos norte-americanos, principalmente Kenneth Hagin. A doutrina da prosperidade, vinculando a crença religiosa a um retorno financeiro, foi iniciada pelo televangelista Oral Roberts, na década de 1950, quando criou a noção de “Vida Abundante”, prometendo retorno financeiro sete vezes maior do que o valor ofertado. Nos anos 70, essa doutrina ganharia maior projeção por meio do ministério de Kenneth e Gloria Copeland.

Várias igrejas evangélicas ligadas à onda neopentecostal vêm praticando o discurso do evangelho da prosperidade, resultando em um grande aumento do número de fiéis, e constitui-se hoje em um grande movimento de massa que vem enfraquecendo a quantidade de crentes de religiões tradicionais.

Nesse sentido, podemos afirmar que a Teologia da Prosperidade vem se configurando mais como uma filosofia do que propriamente uma teologia, uma vez que o ideal de prosperidade serve de base para diversos grupos religiosos, como por exemplo, a igreja Seicho-no-ie e o movimento da Nova Era. Isso se dá em função dos elementos sincréticos ocidentais e orientais que compõem a Teologia da Prosperidade. A crença em Cristo e a legitimidade da Bíblia compõem o imaginário religioso do Ocidente, enquanto a idéia da posse de uma mente humana capaz de modificar a realidade, práticas esotéricas e paramédicas revelam a influência do Oriente para a formação do corpo doutrinário.

A Teologia da Prosperidade reinterpreta valores do Cristianismo. Ao contrário do tradicionalismo que prega a busca do paraíso para além do pós-morte, a crença da prosperidade defende a idéia de que o homem foi liberto do pecado original por meio do sacrifício de Cristo, assim pode não só usufruir dos bens terrenos, como também exigir de Deus como um direito adquirido, a saúde física e a abundância material.

No Brasil, a prática adotada pelas igrejas neopentecostais diferencia-se da originalmente estabelecida na cultura norte-americana, uma vez que ritos da religiosidade popular foram incorporados à doutrina, como forma de estabelecer maior proximidade com a cultura local e garantir com isso maior expansão de fiéis. Porém, a essência teológica inovadora, que é a condição do direito do cristão de usufruir a prosperidade física e material por meio da fé e sacrifícios, representados por dízimos e ofertas, foi mantida.

O discurso baseado na Teologia da Prosperidade representa uma acomodação aos valores e interesses da sociedade contemporânea - alimenta a vontade de consumo como uma busca de satisfação e fortalece o comportamento individualista e liberal de costumes.

As raízes históricas e filosóficas do evangelho da prosperidade remontam ao Pentecostalismo e a várias “seitas metafísicas” do início do século XX, provenientes da região de Boston, EUA. Dessas duas fontes, os pressupostos filosóficos propriamente ditos foram fornecidos pelas “seitas metafísicas”, e o Pentecostalismo forneceu a base ou o grupo onde a teologia encontrou a maior parte de seus adeptos.

A influência de “seitas metafísicas”

Segundo Mariano,

Em sua carreira de pregador da Confissão Positiva (...), Hagin inspirou-se em Essek Wil iam Kenyon (1867-1948) e chegou mesmo a plagiar vários escritos dele. No Emerson College of Oratory, em Boston, Kenyon – escritor, pregador batista, metodista, pentecostal e itinerante sem vínculos denominacionais, radialista de sucesso no final dos anos 30 e começo dos 40 – inclinou-se aos ensaios das ‘seitas metafísicas’ derivados da filosofia do ‘Novo Pensamento’, formulada originalmente por Phineas Quimby (1802-66). Quimby, que estudara espiritismo, ocultismo, hipnose e parapsicologia para produzir sua filosofia, inspirou e curou Mary Baker Eddy, fundadora da Ciência Cristã. E os escritos de Mary Baker, por sua vez, teriam influenciado as doutrinas de Kenyon, autor original da Confissão Positiva.

Kenyon declarava-se um agnóstico, a sua conversão a igreja batista foi influenciada pelo pastor Adoniram Judson Gordon na última década do século XIX. Em 1898 Kenyon abriu o instituto Bible do Bethel, que funcionou até 1923.

As “seitas metafísicas” foram fortes nas décadas de 20 e 30, principalmente durante o período da Grande Depressão, frutos da quebra da Bolsa de Nova York. Diversas sociedades surgiram como a “Escola da Unidade do Cristianismo”, “Ciência Divina”, “igreja da Ciência Religiosa”, “Lar da Verdade”, “igreja da Verdade”, “Liga da igreja de Cristo”, “Sociedade do Cristo que Cura” e “Assembléia Cristã”, que influenciadas por elementos orientais ensinavam que a verdadeira realidade está além da realidade física. Com isso, o espírito não só está acima no planto físico como também o controla. Basta ao fiel o conhecimento desse poder, associando à força da palavra, constituindo-se a chamada Confissão Positiva. Para Hagin, os ensinamentos transcendentais serviam para aperfeiçoar a espiritualidade cristã tradicional.

Kenyon desenvolveu estudos sobre o poder da mente, mas nunca pregou nem escreveu sobre prosperidade."

---
É isso!


Fonte:
WALTER BARBIERI JUNIOR: “A TROCA RACIONAL COM DEUS: A Teologia da Prosperidade praticada pela Igreja Universal do Reino de Deus analisada pela perspectiva da Teoria da Escolha Racional". (Dissertação apresentada à Banca Examinadora da Pontifícia Universidade Católica de São Paulo, como exigência parcial para a obtenção do título de Mestre em Ciências da Religião sob a orientação do Prof. Doutor Frank Usarski.). Pontifícia Universidade Católica de São Paulo – PUC. São Paulo, 2007.

Nota:
O título e a imagem inseridos no texto não se incluem na referida tese.
As referências bibliográficas de que faz menção o autor estão devidamente catalogadas na citada obra.

Nenhum comentário:

Postar um comentário

Excetuando ofensas pessoais ou apologias ao racismo, use esse espaço à vontade. Aqui não há censura!!!