A teologia da prosperidade: entre a sacralização da imanência e a profanação da religião

“Uma das maiores críticas feitas ao movimento neopentecostal é a sua ênfase no dinheiro. Eles seriam exploradores dos pobres que, por sua vez, seriam presas fáceis desses aproveitadores por causa da sua ignorância. Uma outra crítica recorrente é a de que as igrejas deste movimento introduzem no âmbito do sagrado elementos sabidamente profanos, notadamente o valor dado ao dinheiro e à prosperidade material, bem como a utilização de técnicas de gerenciamento empresarial para as igrejas, tornando estes meras “empresas de salvação”. Profanando, assim, o sagrado e chegando até se “acomodar” à ordem social vigente. O neopentecostalismo não passaria de um conjunto de “empresas de cura divina” conduzidas por espertalhões que prometeriam aos fiéis que o ingresso neste movimento dá a certeza de poder tomar posse de todos os bens materiais que a sociedade capitalista promete.

Quando discutimos a postura legisladora dos intelectuais do campo acadêmico da religião fizemos referência a estas críticas, mas é importante situá-las novamente. Optamos por realizar esse debate com Ari Pedro Oro e com Leonildo Silveira Campos por serem os dois sociólogos mais representativos nesse sentido.

Ari Pedro Oro foi um dos pioneiros tanto no uso do termo neopentecostalismo (que usa de maneira equivalente ao termo pentecostalismo autônomo), quanto em expressar suas preocupações sobre a ênfase dada pelo neopentecostalismo ao papel do dinheiro. (ORO, 1992, 2002). Nos dois artigos em que Oro expressa suas preocupações, procura diferenciar o papel do dinheiro dentro da lógica institucional e dentro da lógica pessoal do fiel, talvez para, no mesmo movimento, condenar as igrejas neopentecostais e isentar o fiel. Embora com uma grande distância temporal
de publicação dos artigos aqui referidos - o primeiro foi publicado em 1992 e o segundo em 2002 - eles são complementares. O primeiro dos artigos a ser publicado teve (e continua a ter) uma grande repercussão no meio acadêmico tanto pela sua qualidade, bem como pelo alto teor preconceituoso que se revela no próprio título: “’Podem passar a sacolinha’: um estudo sobre as representações do dinheiro no néo-pentecostalismo brasileiro”.

Situemos, então, a tese de Ari Pedro Oro:

Como se vê, há aqui (no neopentecostalismo) o encontro de duas lógicas diferenciadas: de um lado, as exigências monetárias de instituições que não tem como ocultar o seu caráter empresarial e, de outro, indivíduos que representam o dinheiro como uma mediação sacrificial e priorizam a dimensão vertical do mundo. (ORO, 2002, p.210)

Mais adiante ele complementa dizendo que

Essas duas lógicas ainda se chocam com uma lógica prevalecente na cultura laica que não admite pagar por crenças irracionais e que se representa o trato com o sagrado com premissas de intimidade, diálogo e afeto que prescindem do dinheiro. É no encontro e no confronto dessas distintas visões que surgem os conflitos éticos. (Ibid., p. 211)

Por um lado, têm-se os líderes religiosos que fundam igrejas a partir de um modelo empresarial, tornando-as “empresas de salvação”. Esse entendimento leva o autor a afirmar que [...] o Pentecostalismo Autônomo não somente não passa ao lado da questão financeira como assimila a lógica capitalista. (ORO, 1992, p. 19) Ainda ele complementa:

De fato, seus fundadores estruturam suas igrejas segundo um modelo empresarial: consideram-se proprietários de imóveis e de outros. bens, cujo patrimônio esperam aumentar sempre mais, mantêm uma divisão social e hierárquica do trabalho religioso e administrativo,
colocam no mercado religioso serviços e bens simbólicos que são adquiridos mediante pagamento, e sustentam uma relação concorrencial com outras “empresas de salvação” atuantes no mercado religioso. (Ibid., p. 19)

Podemos identificar no posicionamento acima a idéia de que as igrejas neopentecostais seriam instituições religiosas administradas por vias profanas, mediante estratégias não-religiosas, porque empresariais. Assim fazendo, as igrejas
neopentecostais estariam cedendo e se acomodando à lógica do mercado, substituindo pressupostos teológicos por princípios mercadológicos.

Com relação aos especialistas na administração dos bens de salvação, os pastores, Oro entende que eles “distorcem a leitura do evangelho”, por fazerem uma leitura descontextualizada de diversas passagens bíblicas, que teriam como única finalidade emprestar legitimidade teológico-religiosa a seus interesses eminentemente mundanos. É necessário assinalar que essa análise é baseada na premissa teológica de um acesso privilegiado à leitura evangélica, possivelmente referenciada na exegese cristã como a via privilegiada interpretação bíblica. Os pastores também “fetichizam” o dinheiro, na medida em que “vendem” bens de salvação (Ibid., p. 32).

Notamos, assim, que para Oro não há dúvidas sobre a completa distinção entre as esferas da religião e da economia. Essa postura se revela claramente no momento em que o autor propõe que o neopentecostalismo realiza a “mercantilização do sagrado” e, apoiado em Hugo Assmann e Franz Hinkelammert, entende que a modernidade capitalista efetua a sacralização e a idolatria do mercado. Esta posição é importante na medida que mostra que o mercado é considerado um “falso Deus” que obscurece o verdadeiro Deus.

Apresentemos agora a lógica do fiel. O dinheiro assume para este um caráter ambíguo, enquanto pode significar o bem, se situado na lógica do sacrifício na forma de dízimos, desafios e ofertas, bem como conduzir ao mal se gasto com fins pecaminosos. Essa leitura paradoxal do dinheiro se expressa no entendimento do fiel que declara que o dinheiro sacrificado na igreja poderia ser gasto com outras finalidades como o vício. “Por isso mesmo, dar dinheiro a Deus (à Igreja) significa também, e até certo ponto, contribuir para purificar o mundo” (Ibid., p. 37). Oro reconhece a eficácia do discurso neopentecostal no sentido de promover a formação da disposição do fiel em fazer doações, ou para falar com termos nativos, em devolver o dinheiro a Deus. Dentro da lógica do “dom quantificado”, que une a lógica do dom com a do mercado, a quantidade das ofertas e do dízimo é proporcional. “Assim, quem mais renunciar ao dinheiro e doá-lo à igreja terá mais chances de alcanças as graças esperadas” (ORO, 2002, p. 213). Nesse sentido, o autor identifica o valor que tem para o fiel essa entrega na lógica do dom quantificado ou da reciprocidade (da dádiva)

Considerando, por princípio, que nada se obtém gratuitamente, nem mesmo em relação ao sobrenatural, e que o dinheiro constitui o bem mais significativo para selar esta relação, a doação financeira é percebida com a mais importante forma de retribuição pessoal em troca de uma graça recebida ou um gesto que visa forçar a divindade a atender a uma demanda, isto é, a aceitar a oferta para reverter em benefício do próprio ofertante. Segundo crêem os crentes quando maior for a quantia doada, mais abundante e maior será o retorno, na forma de graças alcançadas. (ORO, 1992, p. 37-38)

Oro reconhece o papel do neopentecostalismo na mudança do valor moral do dinheiro no campo religioso, que inverte o valor tradicionalmente negativo para positivá-lo. Ele afirma que

se historicamente ele (o dinheiro) foi percebido sobretudo como algo impuro, até certo ponto enquanto cristalização do mal e dos vícios, hoje, no neopentecostalismo, assume um sentido positivo, enquanto que realiza a mediação privilegiada com o sagrado em ambientes de troca ritual. (ORO, 2002, p. 212)

O autor não considera essa relação com o dinheiro isenta de implicações éticas (e teológicas), e se posiciona a esse respeito levantando as seguintes questões:

• Até onde é lícito, ou eticamente aceitável, algumas igrejas utilizarem métodos heterodoxos, por vezes refinados, num forte contexto emocional, para motivar os seus fiéis, majoritariamente pobres, a serem generosos em seus “votos” (de no mínimo 10 dólares, podendo ser até de 500 dólares, como fez a Deus é Amor no relato apresentado no início deste texto), condicionando a eles as bênçãos e os milagres?
• Até que ponto é moralmente válido algumas denominações religiosas explorarem as carências e necessidades dos seus fiéis, pressionando-os e forçando-os a efetuarem ofertas financeiras,arrecadando somas fantásticas que lhes permitem construir verdadeiros impérios econômicos?
• Não é chocante, como afirma C. Mariz, “ver gente tão pobre, débil, desdentada, mal vestida, dar tanto dinheiro para pastores jovens bem vestidos, com saúde, com carro do ano e com aparência de uma classe mais elevada?” (Mariz, 1995:28). (Ibid., p. 210)

No primeiro texto dos aqui analisados encontramos a reposta a essas questões. Oro afirma que:

Os pastores do Neo-Pentecostalismo exploram as carências e necessidades dos seus fiéis através da manipulação de valores que estes últimos sustentam como a representação religiosa dos males, a honra e o prestígio pessoal e a transação de favores recíprocos entre
os homens e Deus (ORO, 1992, p. 40 – o negrito é nosso).

Essa leitura da exploração do pobre que também o vitimiza está muito freqüentemente ancorada na idéia de que quanto menor o nível de formação intelectual do indivíduo, quanto menor o esclarecimento, tanto maiores as possibilidades de exploração (ver também PRANDI, 1996). Alargando a interpretação poderíamos dizer que essa relação de proteção do pobre pode ser pautada pelo entendimento de que o pobre é aquele que, por sua condição de menoridade, precisa de proteção e tutela.

Identificamos na postura assumida por Ari Pedro Oro uma idéia central: exploração do pobre pelos aproveitadores religiosos. Essa exploração acontece por causa do uso de uma estrutura empresarial calcada na lógica do mercado que se beneficia da legitimidade religiosa que empresta da sua referência ao cristianismo. Dessa maneira, as “empresas de salvação” deturpariam, ou melhor profanariam a essência da religião se constituindo a partir de princípios mercadológicos.

Passaremos a analisar a seguir a leitura de Leonildo Silveira Campos sobre a relação entre o sagrado e o econômico no neopentecostalismo brasileiro, e particularmente na Igreja Universal do Reino de Deus (IURD). Campos entende que o campo religioso se mercadoriza num contexto em que impera o mercado. Para ele, “a transformação do ‘campo religioso’ em “mercado religioso” é uma conseqüência homogeneizadora do mercado sobre o universo religioso” (CAMPOS, 1997, P. 204). A criação das condições para a emergência do marketing religioso seria uma conseqüência dessa mudança no campo religioso. Assim, ele propõe que o desdobramento mais importante do “mercado religioso” na segunda metade do século XX foi a emergência do “marketing religioso”, estratégia largamente usada pelo tele-evangelismo norte-americano (CAMPOS, 1996a, 1997). O autor aponta que

Através delas (das estratégias de marketing), há uma segmentação da população, com a eleição de um grupo preferencial que deve ser atingido, construindo-se ali um nicho de consumidores dos produtos religiosos. O processo passa a se voltar não mais para o produto e, sim, para as necessidades dos consumidores, que devem receber ‘mercadorias simbólicas’ adaptadas às suas necessidades. (CAMPOS, 1996a, p. 97)

Para este autor, os seminários teológicos não dão conta de formar este novo perfil dos especialistas neopentecostais na administração de bens de salvação. Esse quadro faz com que figuras gabaritadas no marketing, como Estevan Hernandes Filho – fundador e líder da Igreja Renascer em Cristo – ganhem destaque no campo religioso contemporâneo.

Este pesquisador do fenômeno religioso se soma abertamente aos estudos que propõem que o neopentecostalismo opera uma acomodação ou adaptação ao mundo contemporâneo, do qual a “globalização e a internacionalização da cultura e da economia” (CAMPOS, 2005) são marcas indeléveis. A frase que reproduziremos a seguir parece retratar claramente a postura do autor sobre a relação entre economia e religião na contemporaneidade: “A criação de um sistema de mercado com pretensões totalizantes tornou inevitável que religião e mercado acabassem por se encontrar e, em certos casos, até estabelecessem utilitárias alianças” (CAMPOS, 1997, p. 210 – o negrito é nosso). Chamamos a atenção para esta passagem porque apresenta o tipo de relação que o autor concebe entre economia e religião, ou, mais precisamente, entre mercado e religião. Em primeiro lugar religião e economia são percebidos como duas esferas sociais distintas, o que não chamaria a atenção de (quase)nenhum pesquisador do fenômeno religioso. Além disso, pela centralidade que adquire a economia na ordem social contemporânea, o mercado se torna a instituição de referência para todas as outras esferas sociais. Por fim, para Campos a religião e o mercado estabelecem “alianças utilitárias”. A idéia que aqui começa a ser vislumbrada é que a religião para se fortalecer se vale de recursos não religiosos, como o marketing, que parecem potencializar a tarefa proselitista de cunho religioso. No entanto, a religião ao fazer isto, cede à tentação de comer o fruto da árvore proibida, corrompe a própria natureza.

Vejamos com mais detalhamento os contornos desta idéia. Campos entende que três elementos caracterizam a IURD: o uso de técnicas de marketing, a teatralização do culto e o templo como espaço mercadorizado e teatralizado do sagrado. Focaremos neste momento a “marketização do sagrado”. Vejamos antes de mais o conceito de marketing: “o marketing é um conjunto de técnicas empregadas não somente para agir sobre os mecanismos de troca, como também, para explicar as ações humanas envolvidas nesse processo” (Ibid., p. 206). Ainda, o marketing, fruto tardio da economia capitalista de mercado, está referenciado no espaço no qual as trocas acontecem, no mercado. Tem duas funções prioritárias, a saber, auxiliar na expansão de uma organização empresarial e conservar a clientela. Quando esse conjunto de saberes e técnicas é transposto para o âmbito religioso, neste caso o neopentecostalismo, o pastor assume um outro perfil: “[...] os pastores iurdianos conseguem se manter próximos dos seus seguidores, antecipar atitudes e mudanças de percepção, gosto e necessidades, antes mesmo de que ocorram” (Ibid., 222).

Ocupando esse lugar

o pregador iurdiano, embora se posicione ao lado do produto, é instruído a se orientar pelo mercado, e a fazer ponte entre o bem ofertado e as necessidades concretas e mutantes dos fiéis, diante dos quais ele se apresenta como o “homem de Deus” (Ibid., 225).

Para Campos, é o templo o espaço em que esse processo adquire sua maior dramaticidade, uma vez que no ritual iurdiano se realiza a mediação entre o “produto” e as necessidades do “consumidor religioso”. Vejamos a interessante passagem abaixo que expressa a posição do autor:

Ao exercer a função de pastor do templo local, o pastor iurdiano cria um clima propício, no qual o “produto” inicialmente planejado pelos bispos, coordenado por Edir Macedo, recebe o acabamento final, primeiro por meio da condução do espetáculo de fé, depois, no interior de cada fiel, em quem se fundem as características do produto com suas necessidades interiores. O templo, por isso mesmo, não é somente o local de ritos isolados de produção, mas o locus do “acabamento” dado ao produto, isto é, de sua adaptação e distribuição aos “consumidores” devidamente segmentados. (Ibid., p. 225)

Por fim o templo, na medida em que emula a arquitetura de um shopping center, torna-se uma metáfora da transformação do campo religioso em mercado religioso. O templo é o espaço no qual acontece a distribuição dos “produtos religiosos” (Ibid., p. 227).

Para finalizar trazemos uma reflexão do autor sobre a relação entre mercado e religião na atualidade:

O marketing se tornou nesse contexto, mais do que uma necessária ferramenta de trabalho, a incorporação de um modo de vida, uma reinterpretação das relações entre religião e sociedade, enfim, uma maneira de se estabelecerem relações com outras agências e atores,
que atuam a partir do campo religioso. Porém, mais uma vez, o mercado age de uma forma ideológica, na medida em que leva os atores religiosos a pensarem ser essa a única forma de organizar a economia simbólica, no âmbito do campo religioso. Para os cristãos mais conservadores, pelo menos teoricamente, o cristianismo no período pré-mercado teria praticado com mais freqüência o altruísmo, e menos o egoísmo. Já na era da hegemonia do mercado, o egoísmo se tornou a mola propulsora da ação social e nos propõe perguntas como estas: Como praticar o amor sem interesse de receber algo de volta, o altruísmo e a caridade descomprometidos da utilidade, como atos de doação pura e desinteressada? Teria sido esta a “religião de cristo”? (Ibid., p. 471 – o negrito é nosso)

Teceremos a seguir alguns comentários sobre a posição deste autor sobre a relação entre economia de mercado e religião. Iniciaremos com as últimas questões da passagem acima. Em primeiro lugar essas são questões sociológicas ou teológicas? Parece-nos claro serem de caráter teológico, e portanto, em última instância justificadas pela fé e não pela razão. Essa postura se alinha na perspectiva apontada por Giumbelli (2000) sobre as imbricações de posturas sociológicas e teológicas no âmbito da sociologia da religião brasileira. Vemos, ainda, que para Campos economia e religião situam-se (e assim deve ser) em campos diferenciados. Chamamos a atenção do leitor para a compreensão aqui identificada de que o mercado ilude a religião, tornando-a vítima do seu agir ardiloso. Se na leitura de Oro era a figura do pobre que se tornava vítima dos aproveitadores religiosos, neste caso são os especialistas religiosos que se tornam vítimas da astúcia do mercado.

Além disso, vemos que Campos se referencia na pré-modernidade para defender a religião. Este ponto adquire particular relevância porque nos leva a nos perguntar qual é a real origem do debate: trata-se de uma crítica aos movimentos religiosos da alta modernidade, visto que deturpariam a natureza da religião incorporando elementos de outras esferas sociais, notadamente da esfera econômica, ou trata-se, mais bem da defesa de um entendimento pré-moderno de religião que propõe que esta deve permanecer como um espaço imune às interferências das outras esferas culturais institucionais, algo assim como um reduto pré-moderno na arquitetura da modernidade? Assim, destacamos o forte entendimento de que “cristianismo verdadeiro” é cristianismo pré-moderno. O que, novamente, nos permite sustentar a tese de que as críticas feitas ao neopentecostalismo, e, com maior contundência à Igreja Universal do Reino de Deus (IURD), estão ancoradas em um saudosismo religioso pré-moderno. Consideramos oportuno lembrar neste momento as precisas palavras do sociólogo da religião Pedro Ribeiro de Oliveira sobre a relação entre religião e as religiões que ainda sustentam um discurso pré-moderno:

O “ethos” do mercado só entra em contradição com as antigas religiões cuja dimensão ética as proíbe de abandonar a esfera pública ao mercado e, caminhando na contramão do processo de modernização e de secularização, propõem a existência de uma sociedade não regida pelo mercado (RIBEIRO, s/d)

Oro e Campos comungam da crítica à incorporação de princípios econômicos na esfera religiosa que se observa no neopentecostalismo, e particularmente na IURD. Embora se aproximem nessa leitura, eles realizam a crítica desde princípios diferentes. Nos parece que eles identificam diferentes “vilões”. Enquanto Oro propõe diferenciar a lógica do fiel e da instituição para situar a complexa trama de relações entre o dinheiro e a religião, acusando os especialistas (pseudo)religiosos pela exploração dos pobres; Campos propõe que a origem da “economização da religião” é o próprio mercado, e os pastores não conseguem escapar das garras ideológicas dele.

No entanto, Ari Pedro Oro e Leonildo Silveira Campos, parecem esquecer o fértil solo religioso sobre o qual cresce a economia na modernidade. Entendemos que a lacuna observada nos estudos, principalmente de caráter sociológico, sobre a relação entre a religião e a economia, se furtam de uma tarefa fundamental, qual seja: a de realizar uma revisão mais pormenorizada sobre a emergência e desenvolvimento da moderna teoria econômica. Consideramos essa tarefa da maior relevância porque, de forma análoga como apresentamos no caso da cura de doenças, podem ser identicadas muitas mais aproximações e imbricações entre economia e religião/teologia na modernidade do que rupturas e descontinuidades, o que nos leva a ter outra percepção do alto valor do dinheiro e da economia no movimento (neo)pentecostal. Nesse contexto, entendemos que é altamente significativo rediscutir as relações entre o neopentecostalismo e a tradição puritana, identificando os pontos de continuidade e descontinuidade com a tradição protestante."

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É isso!

Fonte:
Santiago Pich: “Extra corporem nulla salus: A encruzilhada entre corpo, secularização e cura no Neopentecostalismo brasileiro”. Universidade Federal de Santa Catarina. Florianópolis, 2000.

Nota:
A imagem inserida no texto não se inclui na referida tese.

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