Um pouco da história da EVOLUÇÃO

Da Antiguidade ao século XIX

"As idéias concernentes à evolução biológica datam de muito tempo. Os antigos gregos já apresentavam idéias de um mundo dinâmico, em constantes mudanças apoiadas em racionalidades míticas. Anaximandro (611-546 a.C.) dizia que tudo o que existe no mundo era fruto da natureza elementar do universo (o que ele chamava de
apeiron) e que o próprio homem era originário de uma certa espécie de peixe (Wilkins, 2004), dentro do qual se desenvolveu e foi expulso logo que se tornou de tamanho suficiente para se bastar a si próprio. De acordo com Mayr (1998), isto não é uma antecipação da evolução, mas, sim, se refere à ontogenia das gerações espontâneas. Muitos outros filósofos propuseram as mais diversas teorias para explicar a origem da vida e sua manutenção. E entre eles estão: Anaxímenes (555 a.C.), Parmênides (475 a.C.), Empédocles (492-432 a.C.), Anaxágoras (550-428 a.C.) e Demócrito (500-404 a.C.). Mas há dois aspectos que caracterizam os conceitos das origens do mundo desses primeiros filósofos gregos: os atos de criação eram resultados do poder gerador da natureza e as origens da vida e dos seres eram não-teleológicas (Mayr, 1998).

Platão (428/7-348/7 a.C.), outro importante filósofo, perguntava como era possível haver tantas formas semelhantes. Instigado por esse pensamento, elaborou o conceito de
Eidos, a “forma” ou “idéia”, existente num mundo transcendental sendo imitada, com imperfeições, por seus representantes no mundo físico. A “idéia” é uma essência eterna e imutável. Sendo assim, os cavalos e triângulos que vemos no mundo físico, por exemplo, são, de acordo com Platão, apenas cópias imperfeitas do Triângulo e do Cavalo perfeitos que existem no mundo transcendental das idéias (Futuyma, 2002).

Aristóteles (348-322), aprendiz e discípulo de Platão, desenvolveu a
Scala Naturae, na qual mostrava uma hierarquia que acreditava existir entre a matéria inanimada e a viva. Ele dizia que há uma escala natural ligando a matéria inanimada à matéria viva, passando pelos seres vivos inferiores, pelos vegetais e animais superiores e chegando, finalmente, ao homem. (Soncini, 1993, p. 5). Durante a queda do Império Romano a teologia cristã se impôs no pensamento ocidental. Ela adotou uma interpretação quase literal da Bíblia: todos os seres foram criados por Deus (criacionismo) da forma atual em que se apresentam, não tendo ocorrido transformação alguma ao longo do tempo (fixismo). De acordo com Lovejoy (1936), o essencialismo platônico no conceito de plenitude foi incorporado a essa interpretação. O Eidos seria a mente de Deus e Ele teria materializado tudo aquilo que existe como sua idéia, não podendo haver extinção de nada daquilo que Ele criou, pois negar a existência de qualquer coisa, em qualquer tempo, introduziria imperfeição em sua criação (Futuyma, 2002). Além disso, toda a humanidade descenderia de um único casal, Adão e Eva, que foram criados a imagem e semelhança de Deus, reinando sobre todos os seres da Terra. Cria-se então uma hierarquia natural entre tudo o que existe na terra e no plano espiritual muito semelhante à Scala Naturae, ou Grande Escala dos Seres.

A partir desse ponto de vista, muitos estudiosos tentaram catalogar os elos da Grande Escala dos Seres e descobrir sua ordenação, de tal modo que a sapiência de Deus pudesse ser revelada e reconhecida. E, assim, foi feito por John Ray em
The Wisdom of God Manifested in the Works of Creation (A Sabedoria Divina Manifestada nos Trabalhos da Criação) (1691) e por Lineu em Systema Naturae (Sistema Natural) (1735) e Species Plantarum (Espécies Vegetais) (1753), que consideravam suas obras de classificação dos seres uma homenagem à glória de Deus (Futuyma, 2002).

Com o desenvolvimento da ciência empírica, esses pontos de vista foram perdendo força. Três vertentes de avanço científico contribuíram para que o pensamento evolutivo pudesse aflorar: a filosofia da natureza (ciências físicas), a geologia e a história natural (concebida de modo amplo) (Mayr, 1998).

No final do século XVIII, levantou-se a possibilidade de haver uma contínua origem de novas espécies por meios naturais. Especulava-se que novas formas de vida poderiam se originar ou por geração espontânea, a partir da matéria inanimada, ou pela manifestação das essências que estavam latentes em espécies anteriores.

Já no século XIX, Jean-Baptiste de Lamarck (1744-1829) publicou a sua teoria em
Philosophie Zoologique (Filozofia Zoológica), onde defende a evolução. Naquele trabalho, Lamarck diz que os seres inferiores surgem continuamente por geração espontânea e progridem, por uma tendência inerente, em direção a uma maior complexidade e perfeição, ou seja, ele propõe a idéia de evolução como um fato universal, envolvendo todas as formas de vida num único processo. Lamarck dizia também que o ambiente é o direcionador do caminho particular de progressão, sendo que sua alteração modifica as necessidades do organismo e esse muda o seu comportamento e, conseqüentemente, usa alguns órgãos mais do que outros; em outras palavras, os órgãos que desenvolvem intensa atividade crescem e se tornam mais eficazes e aqueles pouco utilizados se atrofiam e degeneram (lei do uso e desuso) (Futuyma, 2002; Soncini, 1993). Sua teoria é muito comumente chamada de Lamarckismo.

Ainda durante o século XIX, os fósseis começaram a chamar a atenção dos naturalistas e passaram a ser valorizados e estudados com maior profundidade. Havia várias explicações para aquelas peças estranhas: coisas vivas que se transformaram em pedra, restos da Arca de Noé ou formas de vida que tiveram as suas substâncias originais substituídas por minerais do solo (Soncini, 1993).

Também nessa mesma época começam a surgir as primeiras teorias e modelos consistentes sobre as formações e o tempo geológico mostrando que a crosta terrestre é formada por várias camadas e que, em cada uma delas, há fósseis não encontrados nas demais. Sendo assim, quanto mais antigo o fóssil, mais profunda é a camada na qual ele pode ser encontrado e, caso a espécie a qual esse fóssil pertence tenha sido extinta, não será possível encontrar outros exemplares em camadas mais superficiais.

O biólogo francês George Léopold Cuvier, nascido em 1769 no povoado de Montbéliard (nessa época ainda não estava sob jurisdição francesa), começou a fazer sua carreira como naturalista em 1795. A partir de então, interessou-se e estudou muitos desses fósseis, comparando-os com organismos vivos e registrando as semelhanças entre eles. Cuvier reparou que, quanto mais antigo o fóssil, mais diferente era das atuais formas de vida. Assim, colocou muitos fósseis em ordem cronológica (Soncini, 1993).

Esses dados levantados por Cuvier serviram de base para um resgate das idéias de Lamarck, ou seja, que os organismos teriam se originado uns dos outros, através de um processo de sucessivas e graduais transformações. Mas Cuvier, por motivos religiosos, não podia aceitar a possibilidade da evolução e interpretou seus dados diferentemente. Para ele, a Terra sofria catástrofes periódicas que eliminavam todo o vestígio de vida e, após cada destruição, novas formas de vida muito diferentes das anteriores eram criadas. Cuvier acreditava que as destruições eram atos de Deus seguidos por atos de criação. À essa teoria de Cuvier chamou-se Catastrofismo (Soncini, 1993). Essa teoria ganhou muitos adeptos, pois, ao mesmo tempo que conseguia explicar os novos achados sobre a idade da Terra e as transformações dos organismos, não contradizia a criação divina.

À medida que o tempo passava, a quantidade de fósseis encontrados aumentava e, juntamente com isso, a teoria do Catastrofismo começou a ser questionada, pois, para explicar o grande número de fósseis, era necessário elevar o número de catástrofes ocorridas. Somando-se a isso, em 1830, a obra
Principles of Geology (Princípios de Geologia) de Charles Lyell foi publicada, na qual se defendia a idéia de que as mudanças da Terra eram graduais e não catastróficas”.

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É isso!


Fonte:
CHRYSTIAN CARLÉTTI: “A percepção infantil das questões relacionadas à teoria da evolução: um estudo com crianças do Rio de Janeiro, Brasil”. (Dissertação apresentada ao Instituto Oswaldo Cruz como parte dos requisitos necessários à obtenção do título de Mestre em Ensino em Biociências e Saúde. Orientador: Dra. Luisa Medeiros). Instituto Oswaldo Cruz. Rio de Janeiro, 2008.

Nota:
O título e a imagem inseridos no texto não se incluem na referida tese.
As referências bibliográficas de que faz menção o autor estão devidamente catalogadas na citada obra.

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