Arquitetura da destruição

Breves considerações sobre o regime nazista

A historiadora Maria Luiza Lucci Carneiro, em seu livro “Holocausto: Crime contra a humanidade”, afirma que o extermínio dos judeus pelos nazistas deve ser avaliado como uma progressão lógica nas relações entre cristãos e judeus ao longo da história ocidental. Desde que o cristianismo tornou-se a religião do Ocidente, o tratamento dado aos judeus foi caracterizado por três etapas que se alternaram: conversão, expulsão e eliminação. Diz a historiadora que o nazismo nada mais fez do que recorrer a esta prática secular, valendo-se de novos conhecimentos científicos e de nova tecnologia. Até mesmo a imagem estereotipada do judeu foi inspirada em textos que remontam ao século XVI: “A grande inovação está, realmente, nos argumentos pseudocientíficos e na invenção da Solução final". Em seu livro Mein Kampf, Hitler defendeu dentre outras medidas, a eutanásia, apresentada por ele como “uma bênção para os contemporâneos e a posteridade”. Os indivíduos considerados pelo regime como “inferiores”, tais como os doentes mentais, os portadores de “doenças hereditárias (congênitas ou incuráveis) deveriam ser eliminados para que, no decorrer dos temos, a Alemanha viesse a ser composta apenas por pessoas "fisicamente perfeitas”. O plano foi colocado em prática de forma sistematizada, e, a partir de 1934, aproximadamente 400.000 alemães foram vítimas de uma lei de esterilização implementada pelo Führer.

Estudiosos, dentre os quais, Robert Jay Lifton, concluíram que havia uma estreita interação entre a ideologia biomédica, a ideologia nazista e a conduta dos médicos que supervisionavam a morte. Dessa forma, a relação entre ciência e nacional-socialismo teve o respaldo de uma suposta ética e estética da exclusão. A beleza ariana deveria prevalecer absoluta. E a Alemanha deveria ser tratada como um corpo doente, cuja cura se daria obrigatoriamente pelo extermínio dos “vírus” que assolavam a nação. Em 1935, num boletim médico divulgado pelos meios de comunicação nazista, compara-se, por exemplo, os judeus ao bacilo de Koch. Todos os que não se enquadravam no “biotipo” ideal estabelecido pelo sistema político vigente era considerado como uma espécie de gangrena que, infiltrada no organismo da nação, deveria necessariamente ser extirpada. A eutanásia foi apenas uma das inúmeras conseqüências do plano arquitetado por Hitler para “purificar” a Alemanha.

A arte de um modo geral também serviu como instrumento da ideologia nazista. No projeto de extermínio elaborado por Hitler, o cinema, a fotografia, as artes plásticas, a arquitetura e a música desempenharam relevante papel em meio à coletividade alemã. Na música, o reconhecido músico e compositor Richard Wagner participou diretamente na difusão do anti-semitismo. Para ele, os judeus eram os “inimigos natos da humanidade e de tudo o que é nobre”. O cinema também foi largamente utilizado pelos nazistas no projeto de arianismo alemão. Era algo bastante comum nos filmes a utilização do judeu como o vilão, e o alemão como o mocinho. A fotografia também era fortemente usada como veículo de propagação do ideário nazista. Heinrich Hoffmann, o fotógrafo oficial de Hitler, dentre outros temas, fotografou o III Reich. A arquitetura (neoclássica) liderada por Speer, do mesmo modo serviu de instrumento para a reconstrução da “gloriosa nação alemã”. E, finalmente, as artes plásticas, que também desempenharam importante função nessa “arquitetura”. Varreu-se de toda a Alemanha a chamada “arte degradada”. Os ideais alemães deveriam ser representados por uma arte pura, que estivesse totalmente isenta da “insanidade” dos artistas "degradados". Na escultura, por exemplo, moldavam-se o "verdadeiro ariano", que deveria prevalecer após a total "purificação" da nação. O culto ao classicismo fora largamente difundido nas artes. A propaganda, sob o comando de Joseph Goobbels, também desempenhou destacado papel no projeto racial de Hitler, que ambicionava loucamente uma Alemanha “grande e poderosa”. Igualmente, a literatura, a geometria, a matemática, a história, a biologia etc.

Porém, seriam os planos, as decisões, os recursos organizacionais do genocídio apenas obra da elite política nazista? O historiador Daniel Jonah Goldhagen em sua tese “Os carrascos voluntários de Hitler: o povo alemão e o Holocausto”, publicada em 1997, defende a idéia de que o genocídio ocorrido na Alemanha não foi um projeto executado apenas pela liderança nazista. Segundo esse historiador, o povo alemão participou ativa e voluntariamente do empreendimento. Algo, portanto, para ser pensado! (São Paulo, 1999: Iba Mendes)

É isso!

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