APÊNDICE:
A - CRÍTICA APONTA RELAÇÕES ENTRE MACHADO DE ASSIS E NIETZSCHE
1 – 1897
ROMERO, Sílvio. Machado de Assis: estudo comparativo de literatura brasileira. Rio de Janeiro: José Olympio, 1936; ROMERO, Sílvio. Machado de Assis: estudo comparativo de literatura brasileira. Campinas: Editora da UNICAMP, 1992.
“Tal o caso de um Schopenhauer, de um Hartmann, de um Taubert, a quem erroneamente alguns juntam, sem a mínima razão, Frederico Vietzsche (sic), que era exatamente o contrário de um pessimista”. (p. 255, Cf. nota 5, do capítulo 3 deste estudo).
2 – 1939
ARAUJO, Dom Hugo Bressane de. O aspecto religioso da obra de Machado de Assis. Rio de Janeiro: Cruzada da boa imprensa, 1939.
“[Citação de Quincas Borba:] Não há morte. O encontro de duas expansões, ou a expansão de duas formas, pode determinar a supressão de uma delas; mas, rigorosamente, não há morte, há vida, porque a supressão de uma é a condição da sobrevivência da outra.”
[Depois da citação de Quincas Borba, o autor insere a seguinte nota:]
“Repetia o aforismo 26 de Nietzsche, A gaia ciência: ‘viver – significa repelir incessantemente qualquer cousa que quer morrer. Viver – significa ser duro e implacável contra tudo aquilo que, em nós, se torne fraco e velho, e não só
3 - 1947
BARRETO FILHO, José. Introdução a Machado de Assis. Rio de Janeiro: Agir Editora, 1980. 2ª ed.
“O que nos fascina na personalidade de Machado de Assis é o encontro com um representante genuíno do espírito trágico. (...) Nietzsche denomina a tragédia ‘a arte da consolação metafísica’. (...) O artista trágico avança para o fundo da existência. É o desbravador audacioso e desvenda o mal absoluto, irremediável e fatal. Somente a arte e a magia da forma são capazes de trazer então essa misteriosa consolação a que Nietzsche alude. Consolo metafísico para um mal metafísico, tal era a função que Machado de Assis atribuía expressamente à arte.” (p. 97-8)
4 – 1955
MAGALHÃES JUNIOR, Raimundo. Machado de Assis desconhecido. Rio de Janeiro: Civilização Brasileira, 1955.
“O mesmo é o fundamento da parábola do campo de batatas e das tribos em guerra, ambas movidas pelo instinto de conservação. Ao vencedor, isto é, ao mais forte, ao mais apto parasobreviver, as batatas. O Sr. Mário Casassanta, num ensaio sobre ‘Minas e os mineiros na obra de Machado de Assis’, acha que o romancista repete pensamentos de Nietzsche em ‘A gaia ciência’, observação que é encampada por Dom Hugo Bressane de Araujo e repetida por William L. Grossman no prefácio de ‘Epitaph of a small winner’, tradução, para o inglês, de ‘Memórias póstumas de Brás Cubas’, este, contudo, acentuando que o romancista brasileiro repele a idéia do super-homem. ‘There are surely Nietzschean elements in Quincas Borba’s philosophy, which Machado ridicules in the latter part of this book’, [Há, certamente elementos nietzschianos na filosofia de Quincas Borba, que Machado ridiculariza na última parte deste livro] diz o professor norte-americano que tão bom serviço prestou às nossas letras. É possível que o pensamento machadiano tenha caminhado nessa direção, por simples coincidência, mas o que ele realmente acusa é a inspiração darwiniana, confessada por duas vezes, uma na citação axiomática da ‘struggle for life’ [luta pela conservação, pela vida], que Darwin pôs em circulação, e outra nas quadras da ‘gazeta de Holanda’”. (p.202)
5 – 1962
CÂMARA JÚNIOR, Mattoso. Ensaios machadianos: língua e estilo. Rio de Janeiro: Livraria Acadêmica, 1962.
“O que me parece haver aí de mais profundo e impressionante é que Quincas Borba tem pontos de contacto com Nietzsche, de quem o nazismo parte, sabidamente, em filiação quase direta. Não estou em condições de afirmar que Machado de Assis tenha lido Nietzsche. Seria apenas uma hipótese, com duas dificuldades até a enfraquecê-la. Das grandes obras de Nietzsche, só duas são anteriores à primeira publicação do Brás Cubas na Revista Brasileira (1880) – Die Geburt der Tragoedie [O nascimento da tragédia] (Leipzig, 1872) e Menschliches Allzumenschliches [Humano, demasiado humano] (1878), embora todas, inclusive Zur Genealogie der moral [Para uma genealogia da moral] (1887) e Also sprach Zarathustra [Assim falou Zaratustra] (1883-5), sejam anteriores ao Quincas Borba, que é de 1891. Por outro lado, o escritor brasileiro, apesar de ter estudado com proveito o alemão, o que explica em sua obra uma ou outra citação, como a de um verso de Heine, não é de crer que soubesse com bastante domínio para ler no original tratados filosóficos de estilo intrincado; e as traduções francesas de Nietzsche são mais tardias. (...) o aproveitamento literário de uma doutrina filosófica não pressupõe necessariamente o conhecimento direto da doutrina por parte do literato: este, com a sua acuidade estética e psicológica, não faz mais muitas vezes do que aspirar idéias que voluteiam no ar (...) Acresce que as sugestões de Nietzsche, no Humanitismo, decorrem de idéias muito gerais do filósofo alemão, sem qualquer precisão de detalhes. (...) Machado de Assis tinha, pelo menos, um conhecimento direto de Schopenhauer, em quem em grande parte se filia Nietzsche. Sabemo-lo não só pela presença da obra traduzida desse filósofo em sua biblioteca, mas também pelos vestígios do pensamento schopenhauriano no Humanitismo. (...) Pressuposto o conhecimento, indireto embora, de alguma coisa de Nietzsche por parte de Machado de Assis, pode-se entender como nietzschianos vários conceitos do Quincas Borba, que se entrosam no seu culto à Humanidade. (...) Parece-me muito mais lógico admiti-lo do que eu derivá-los do princípio do ‘struggle for life’ de Darwin, como propõe Magalhães Jr. Ao repelir a influência de Nietzsche, rapidamente sugerida por um outro comentador machadiano. (...) O seu princípio terá influído o Borbismo na medida em que influiu outros sistemas filosóficos inclusive o de Nietzsche. (...) Vamos encontrar no Quincas Borba o desprezo ao Cristianismo, que Nietzsche expressou desde 1872 em A origem da tragédia e tanto contrasta com a atitude positivista neste particular. (...) Vemos assim o Humanitismo começar em Comte e terminar em Nietzsche, e nisto me parece, justamente, residir o sentido íntimo do humorismo machadiano. A suave e altruística Religião da Humanidade, deduzida pelo rigor lógico e implacável de um demente, vai desembocar no culto da força e do egoísmo avassalador do Übermensch, do super-homem.” (p. 103-7)
6 – 1974
FAORO, Raymundo. Machado de Assis: a pirâmide e o trapézio. São Paulo: Editora Globo, 2001. 4ª ed.
“De alguma forma, palidamente (cautelosamente?), tremula o reflexo de Freud, Nietzsche e Marx, autores, todos, provavelmente desconhecidos do escritor, nas páginas de Esaú e Jacó e nas crônicas.” (p. 361)
“Da cega vontade que domina o mundo, e, dentro dele, o homem, pode deduzir-se não só o pessimismo, como supunha Schopenhauer, mas também a sinfonia ditirâmbica da vida, como demonstraria Nietzsche. Entre uma e outra conseqüência, na encruzilhada de caminhos possíveis, o humorismo sombreia a dúvida, parecendo tudo afirmar ao tempo que tudo nega”. (p. 436-7)
7 – 1977
SCHWARZ, Roberto. Ao vencedor as batatas. São Paulo: Duas Cidades / Editora 34, 2000. 5ª ed.
“Aprofundando o estudo da autoridade paternalista Machado situava-se além dos mitos burgueses da autonomia e da autenticidade da pessoa, e entrava pelas águas de Proust, Nietzsche, Freud & Cia.” (p. 195)
8 – 1982
BOSI, Alfredo.et. al. Machado de Assis. São Paulo: Ática, 1982.
“Roberto Schwarz: (...) os valores estabelecidos, por mais fortes que sejam, têm que passar por um acerto com as necessidades da imaginação individual, as quais são uma caixa de surpresas. Por aí, Machado de Assis é de fato contemporâneo de Dostoievski, de Nietzsche, de Freud, de Proust, de Kafka, autores que estudam, todos eles, o espaço imaginário, dos móveis pessoalíssimos, que vai entre o indivíduo e os valores estabelecidos da cultura.” (p. 317)
9 – 1990
SCHWARZ, Roberto. Um mestre na periferia do capitalismo: Machado de Assis. São Paulo: Duas Cidades / Editora 34, 2000. 4ª ed.
“Digamos que as Memórias combinam a certo recorte esteticista do real – inusitado e audacioso na desconformidade com o utilitarismo burguês – uma psicologia analítica impermeável ao privilégio, e um arcabouço de ficção realista, onde o conflito social redefine e põe no lugar a totalidade das pretensões subjetivas. Com resultado esplêndido: aí está reconhecido e esquadrinhado, como em Nietzsche, o fundamento secreto dos valores.” (p.177)
10 – 1995
ROSA, Mauro Márcio de Paula. O eu e o outro como lugares ontológicos do trágico em Memórias póstumas de Brás Cubas, Quincas Borba e Dom Casmurro, de Machado de Assis. 1995. Dissertação (Mestrado em Letras) – Pontifícia Universidade Católica de Minas Gerais, Belo Horizonte.
“No decorrer deste texto veremos que Machado vê o mundo como teatro. Mais adiante o leitor terá a oportunidade de observar que esta visão é uma herança que Machado recebe de Friedrich Nietzsche.” (p.18)
“Sem dúvida alguma, as constantes leituras que Machado fez de Nietzsche deixaram-lhe marcas profundas do espírito trágico do filósofo alemão. Machado leu detidamente os estudos de Nietzsche sobre a tragédia e a filosofia grega. Neles encontrou a essência do trágico ligada à perecibilidade das coisas contínuas; o saber da própria morte ao lado da vontade de ser perene; a ânsia do bem; a impotência do homem diante da vida, impotência que só pode ser compreendida através de uma interpretação estética da vida.” (p.35).
“Reaparece o destino como elemento controlador da vida do homem. É, como foi dito, a marca de Friedrich Nietzsche, do espírito trágico de Nietzsche
“Para coroar o conjunto de influências do autor de O anti-Cristo em Machado de Assis, falta falar da interpretação estética da vida como única forma de compreensão da impotência do homem.” (p. 40)
“Durante o curso A estrutura musical do Memorial de Aires que ministrou no mestrado em Letras da PUC/MG, o professor Wilton [Cardoso] trouxe a público a tese de que Machado de Assis traria o rastro do pensamento estético de Nietzsche em sua obra; disse que esteticamente o pensamento de Machado coincide com o do filósofo alemão uma vez que ambos olham para a vida tentando compreendê-la sob uma perspectiva estética. Para Wilton Cardoso, Machado faz uso constante da música e da tragédia – as duas manifestações artísticas da predileção de Nietzsche – como representantes estéticos da vida.” (p.44)
11 – 2003
MORATORI, Crismery Cristina Alves. Machado de Assis, a moral e a transgressão: o ethos de uma arte afirmativa. 2003.
Não há como citar excertos deste estudo, pois todo ele é permeado pela temática acerca das relações entre Machado de Assis e Nietzsche. Analisando três contos de Machado de Assis (“A causa secreta”, “Pai contra mãe”, “Noite de Almirante”), a autora aproxima a literatura machadiana da filosofia de Nietzsche sob um ponto de vista estético e ético. Elegendo o tema moral como eixo central a ser estudado na forma da arte machadiana, a autora convida Nietzsche ao diálogo, utilizando aspectos de sua filosofia como embasamento teórico, no intuito de demonstrar que Machado de Assis produziu arte realista sob o signo da transgressão, cujos efeitos resultam em afirmação, e não em desencanto."
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Fonte:
JASON MANUEL CARREIRO: "DA CRÍTICA MORAL À AFIRMAÇÃO DA VIDA: RELAÇÕES INTERTEXTUAIS ENTRE MACHADO DE ASSIS E NIETZSCHE". (Dissertação apresentada ao Programa de Pós-graduação em Letras da Pontifícia Universidade Católica de Minas Gerais, como parte dos requisitos para obtenção do grau de Mestre em Literaturas de Língua Portuguesa, elaborada sob orientação do Prof. Dr. Audemaro Taranto Goulart. Pontifícia Universidade Católica de Minas Gerais). Belo Horizonte. 2006.
Nota:
A imagem inserida no texto não se inclui na referida tese.
As referências bibliográficas de que faz menção o autor estão devidamente catalogadas na citada obra.
Para uma compreensão mais ampla do tema, recomendamos a leitura da tese em sua totalidade.
Relações entre Machado de Assis e Nietzsche
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