A secular estupidez de nossos políticos



Denominar os políticos de estúpidos, em si já é um jibóico pleonasmo. Em se tratando do político brasileiro, esse redundante vício de linguagem se transmuta naturalmente para uma bela “figura de estilo”. Isso não é lá nenhuma novidade...

Há quase 100 anos, mais precisamente no dia 27 de outubro de 1917, a prestigiada revista “Careta” publicou uma crônica que, se não fora o estilo e o contexto histórico, diria tranquilamente que foi escrita ainda ontem, tamanha é a semelhança com os dias de hoje. Com o título “Mau Humor”, o autor define com exemplar maestria o verdadeiro caráter do político tupiniquim: “A política, como a fazem os políticos de nosso país, homens de apurada esperteza, instintos rasteiros, inteligência vulgar e inculta, é uma complicação monótona que se repete estupidamente, sem notáveis variações na incongruência dos seus painéis”. Tratando da educação entre tais estadistas, escreveu: “Ignorantíssimos, os nossos homens de estado acreditam que não há necessidade de aprender o alfabeto para governar um país e como não sabem distinguir o bom do pior, julgam que agiram como sábios ao praticar vergonhosos atos que empurram a nossa gente para a treva e metem a nossa terra na desordem do caos”. E mais adiante: “Entre os trezentos cavalheiros que recebem contos de réis mensais para desempenhar na elegância legislativa do nosso parlamento o galante papel dos trezentos de Gideão da crônica bilacqueana, não há trinta que tenham lido a constituição mas há certamente quatro ou seis que não crêem na existência desse afamado monumento de adaptação às normas de uma nacionalidade de outra raça”. E com divertida ironia cita um exemplo bem típico da época: “Não queremos levar o nosso arrojo ao extremo de perguntar ao dr. Wenceslau Braz se leu o Código a que o ministro Carlos Maximiliano quis dar o nome presidencial mas estamos convencidos que se lhe perguntássemos a quanto montava, S. Ex. pigarrearia durante três meses antes de responder com um vago palpite”. Quanto à burocracia (ou “burrocracia”), tão peculiar entre nossos reverenciados magistrados, acrescenta o autor: “Fazemos tudo ao caso, sem plano, perdendo tempo em construções que são abandonadas quando se muda de operários, porque, com a nossa desorientação, um operário nunca aprova o esboço do edifício ideado pelo confrade a quem substitui e sempre imagina um palácio que não pode acabar no prazo imposto ao seu trabalho”. Sintetizando aquilo que melhor define nossos doutos políticos e nossa política, emenda: “O nosso país é o único grande país em que a política é uma profissão, e o político é um parasita que vive de ser político”. E finaliza com uma indagação historicamente contextualizada e acentuadamente provocativa: “Um rei de França acabou na forca. O czar da Rússia está no exílio. Como findarão os seus dias os responsáveis pelas nossas desgraças nacionais?”

94 anos depois...

Como findarão os seus dias os responsáveis pelas inúmeras injustiças sociais que ainda consomem a vida do nosso sofrido povo? Como findarão os seus dias os responsáveis pela onda de corrupção que faz desviar o dinheiro público o qual deveria servir para melhorar a saúde e a educação da nossa gente? Quantos séculos ainda serão necessários para que esses mesmos parasitas continuem dirigindo nossos destinos?

É esperar para não ver...

É isso!

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