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JOÃO DO RIO (1881-1921)
João do Rio, pseudônimo de Paulo Barreto, nasceu no Rio de Janeiro, em 5 de agosto de 1881, vindo a falecer na mesma cidade em 23 de junho de 1921. Foi jornalista, cronista, contista e teatrólogo.
João do Rio também teceu comentários sobre o nosso grande Machado de Assis. Vejamos...
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Machado de Assis
Naturalmente, a ausência de certos nomes notáveis num inquérito, que procurava as respostas dos corifeus dos espíritos brasileiros, poderá parecer estranha. Talvez o seja, mas, como todas as coisas verdadeiramente estranhas, é perfeitamente explicável. Há nomes que deviam aqui estar, mas que não estão porque a isso se opuseram uma sensibilidade grande, a vaidade doentia, a noção de responsabilidades graves e principalmente talvez a balbúrdia das idéias. A sensibilidade grande é a do ilustre mestre Machado de Assis.
Quando fui pessoalmente levar-lhe o inquérito, o admirável escritor recebeu me com um acesso de gentilezas, que nele escondem sempre uma pequena perturbação.
— Um inquérito? Pois não: às suas ordens, com todo o gosto.
Passaram-se os dias. Voltei à carga.
— Francamente, disse-me o autor do Brás Cubas, o assunto é grave, é muito grave. Mas eu respondo, respondo quando tiver ânimo para escrever.
Logo os amigos e admiradores do mestre disseram-me:
— Perdes o tempo, o Machado não responde...
Resolvi então cultivar a relação preciosa em bocados de palestra, ouvidos nos balcões do Garnier, por onde todos os dias passa o glorioso escritor. Soube assim que o Brás Cubas fora ditado, durante uma moléstia de olhos de Machado, à sua cara esposa; que o humorista incomparável da "Teoria do Medalhão" tem uma vida de uma regularidade cronométrica, que as suas noites passa-as a tentar o sono...
Espírito de tamanho fulgor tem, entretanto, a nevrose de se incomodar e sofrer com os pequenos nadas da existência. Se por esquecimento deixa de cumprimentar um homem, perde-se
Do inquérito cheguei a saber que Machado de Assis tem como livros de cabeceira o Hamlet e o Prometeu, que acha as predileções passageiras como o próprio homem, e respeita a mocidade olhando-lhe as extravagâncias com um pasmo sincero.
Mas, por fim, o mestre incontestável percebeu que eu o acompanhava para lhe arrancar frases e tornou seco um pedaço de intimidade nascente entre o meu louvor e a sua bonomia.
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Fonte:
Fragmento extraído de RIO, João do. O momento literário. Rio de Janeiro: H. Garnier, 1905, disponível digitalmente no site da Biblioteca Nacional Digital do Brasil
Imagem também disponível na BNDB
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