O Padrão Ético de Conduta da Vida Cristã Segundo Calvino



Este é um ponto de fundamental importância dentro do pensamento e ensino de Calvino, pois envolve especialmente a manifestação por atos e palavras, através da vida de alguém que confessa ser protestante de fato; um padrão ético de conduta que reflita o nível e os objetivos de sua vida cristã enquanto neste mundo. Daí verifica-se a necessidade de se abordar esta questão através de algumas obras de Calvino, particularmente nas Institutas da Religião, em seu Livro IV, o Capítulo XVII, que trata Sobre a Vida Cristã .

Calvino, contrapondo o princípio filosófico que não vai
além dos limites meramente natural do homem, que deve viver como convém à sua natureza. Postula o contrário a este pensamento, ou seja, com o propósito de alicerçar a conduta cristã pautada no Modelo que é Cristo, afirma:

... para nos despertar mais vivamente, a Escritura nos demonstra que, assim como Deus em Cristo nos reconciliou consigo, assim também ele o constituiu em exemplo e padrão ao qual devemos amoldar-nos.... Depois de [as Escrituras] nos ter advertido de que nos degeneramos em relação à verdadeira origem da nossa criação, acrescenta que Cristo, reconciliando-nos com Deus, Seu pai, nos é dado como um exemplo de inocência e cuja imagem deve ser representada em nosso viver
. (2006, 179).

Por esta colocação, a preocupação primária de Calvino é expor uma triste realidade do ser humano, que é a sua degeneração. Da qual, segundo ele, o homem foi reconciliado com Deus em Cristo, tornando-se Ele, exemplo e padrão de vida cristã, para não ser somente admirado, mas, principalmente seguido e imitado, como suas palavras expressam:
cuja imagem deve ser representada em nosso viver. Pois,

Visto que o Espírito Santo nos consagrou para sermos templos ou santuários de Deus, é necessário que façamos tudo o que pudermos para que a glória de Deus seja exaltada em nós, e, por outro lado, para que não deixemos manchar por nenhuma forma de contaminação do pecado
. (Idem. p.180)

Aqui são expostos dois objetivos bem claros para os quais deverá o protestante agir e pautar a sua vida com dignidade e retidão:

1)
Tudo deverá ser feito para a glória de Deus;
2) Tudo deverá ser feito sem se manchar e nem se contaminar com o pecado.

Para que estes objetivos sejam alcançados e não somente almejados, cada um
cristão protestante deverá estar ciente a quem pertence e a quem está servindo de fato em sua vida. Como Calvino afirma:

Ora, se nós não nos pertencemos, mas somos [referindo-se a Cristo] do Senhor, vê-se claramente o que devemos evitar para não errarmos, e para onde devemos canalizar todas as ações que praticamos em nosso viver.
Não somos de nós mesmos; portanto, não permitamos que a nossa razão e a nossa vontade exerçam domínio sobre os nossos propósitos e sobre nossas ações... E agora: nós somos do Senhor; vivamos e morramos por ele e para ele. Somos do Senhor; que a sua vontade e a sua sabedoria presidam a todas as nossas ações. Somos do Senhor; relacionemos todos os aspectos da nossa vida com ele como o nosso fim único. Ah, quão proveitoso será para o homem que, reconhecendo que não é dono de si, negue à sua razão o senhorio e o governo de si mesmo e o confie a Deus. (Idem, p.183,184). (Itálico nosso).

Perceba que através desta linha de pensamento, Calvino joga um balde de água fria na ideologia filosófica humanista, cuja ênfase recai sobre a razão do homem que governa e rege a sua vida segundo a sua vontade, com total liberdade. Reportando-se aos filósofos e ao que eles defendem com ênfase na razão, Calvino afirma:
Eles ensinam que somente a razão deve reger e dirigir o homem, e pensam que a ela devemos ouvir; com isso, atribuem unicamente à razão o governo da vida. (Idem, p.184). Em contrapartida, fazendo frente a esta linha de pensamento, argumenta: Por outro lado, a filosofia cristã pretende que a razão ceda e se afaste, para dar lugar ao Espírito Santo, e que por ele seja subjugada e conduzida, de modo que não seja o homem que viva, mas que, tendo sofrido com Cristo, nele Cristo vive e reina. (Idem).

Portanto, o cerne da questão aqui está no fato do homem esvaziar-se ou despir-se de tudo aquilo que o leva a confiar em si mesmo e não em Deus, nas palavras do reformador:
nós não nos pertencemos; e, nós somos do Senhor. Ou seja, Ele é o soberano, Senhor absoluto em todos os sentidos e níveis à vida do cristão-protestante. Como devoto que é, deverá sujeitar-se e dar lugar à ação do Espírito Santo em sua vida e tão somente dele depender, orienta Calvino. Em uma outra obra: A Verdadeira Vida Cristã , quando aborda a respeito da autonegação, dentro daquilo que aqui foi mencionado nesse momento, afirma:

Se não nos pertencemos a nós mesmos, mas pertencemos ao Senhor, devemos fugir daquelas coisas que lhe desagradam e processar nossas obras e nossos feitos como tudo aquilo que Ele aprova... Se pertencemos ao Senhor, deixemos que parte de nossa existência seja dirigida por Ele. Esta deve ser a nossa meta suprema. (2000. p.29,30).

Por esta colocação vê-se que a preocupação do reformador está em incutir no coração do indivíduo a consciência de uma meta suprema a ser almejada em sua vida, através do serviço que deve ser prestado como de um servo ao seu Senhor, ao qual ele pertence. Suas obras e feitos deverão em tudo buscar a aprovação de seu Senhor, cuja existência, Ele mantêm e dirige.

Na prática, isto significa que a busca para o sentido da vida cristã segundo este ensinamento, deverá priorizar a vontade de Deus, a Ele submeter-se incondicional e abnegadamente. Por isso, diz ele:
... apliquemos e dediquemos com fidelidade nossos diligentes esforços para seguir a Deus e obedecer aos seus mandamentos (2006, pg.185).

Tal disposição e aplicação de todos os esforços à faina diária, conduzirão o fiel praticante a uma
preocupação como fim principal em sua vida, que deverá ser sempre observada da seguinte maneira: Seja esta a sua preocupação: consciente que terá que prestar contas de todas as suas obras a Deus, dirigirá a ele todas as suas intenções e nele as manterá fixas (Idem). Esta é uma premissa indispensável à vida cristã. Visto que a própria Bíblia afirma: E não criatura que não seja manifesta na sua presença; pelo contrário, todas as coisas estão descobertas e patentes aos olhos daquele a quem temos de prestar contas (Hebreus 4.13).

Este princípio bíblico enfatizado por Calvino, quanto a prestação de contas do fiel praticante, ao Deus e Senhor que ele serve, aplica-se a qualquer ser humano independente de sua confissão religiosa ou de fé, porque
não há criatura... . Logo, tanto o católico romano como o protestante, ou qualquer confessante de outra religião, por serem criaturas de Deus, deverão prestar contas a Ele de seus atos e obras: Assim, pois, cada um de nós dará contas de si mesmo a Deus , revela o apóstolo S. Paulo em Romanos 14.12.

A forma abnegada de se viver e ter esta preocupação, como alvo a ser alcançado pelo indivíduo, ao apresentar este tipo de comportamento. Conduzirá o mesmo a agir contrariamente àquele motivo a
ambição , que Agostinho usava para tornar suas ações toleráveis antes de sua conversão como já fora analisado anteriormente. Calvino, em seu comentário aos Gálatas, ao falar sobre a existência da ambição na sociedade e na Igreja como um dos males que as afligem e deve ser combatido, escreveu:

Dos muitos males existentes em nossa sociedade, e particularmente na Igreja, a ambição é a mãe de todos eles... Os filósofos pagãos não condenam toda a ambição por glória. Entre os cristãos, porém, quem quer que seja ávido por glória é com justa razão acusado de ser possuidor de fútil e louca ambição, porquanto se divorcia da genuína glória. Para nós só a glória de Deus é legítima. Fora de Deus mera vaidade.
(1998, p.173).

Perceba que
a glória de Deus, é o princípio calvinista que deve nortear a vida do indivíduo, levando-o a ter uma conduta cristã ilibada perante a sociedade e a Igreja. Sobretudo, procurando não vangloriar-se, pelo contrário, prestar a Deus toda a glória, por ser, nas palavras de Calvino, legítima. Que Weber nesse sentido alude:

A vida do santo estava exclusivamente voltada para um fim transcendente, a bem-aventurança, mas
justamente por isso ela era racionalizada [de ponta a ponta] em seu percurso intramundano e dominada por um ponto de vista exclusivo: aumentar a glória de Deus na terra jamais se levou tão a sério a sentença omnia in majorem Dei gloriam. (2005. p.107).

Mediante esta realidade segundo o ensino calvinista, para a prática do bem em favor do próximo, há normas de conduta que devem estar presentes para orientarem em todo momento a vida da pessoa:

Portanto, para nos orientarmos na prática do bem e das ações humanitárias, adotemos esta norma: de tudo que o Senhor nos deu com o que podemos ajudar o nosso próximo, somos despenseiros ou mordomos, sendo que teremos que prestar contas de como nos desincumbimos da nossa responsabilidade. E mais: não outra maneira recomendável de administrar o que recebemos senão a de seguir a norma do amor.
(2006, p.189).

Quando estas normas: a da mordomia e do amor se tornam uma realidade de fato na vida de alguém, em seu modo de agir; significa que em tudo e em todo momento, social e humanitariamente, o indivíduo e o próximo serão beneficiados. Isto leva o indivíduo a submeter-se infalivelmente a um princípio norteador que o auxiliará em sua vida cristã piedosa, qual seja:

Um ditame da verdadeira piedade cristã é que somente a mão de Deus conduz e governa a boa ou má sorte, lembrando que a sua mão não age de maneira impetuosa e inconsiderada, mas dispensa o bem e o mal segundo uma justiça sabiamente ordenada
. (Idem, p.197).

Observe que através desta orientação, Calvino chama a atenção que em tudo a
mão de Deus conduz e governa tanto a boa como a sorte. Isto significa que o cristão protestante deve estar pronto para enfrentar todas as coisas em sua vida, que dispensam quer sejam o bem ou o mal segundo a justiça ordenada sabiamente por Deus. Quer dizer que, quem segue e admite este ensinamento em sua vida, deverá viver submissa, abnegada e obedientemente, segundo aquilo que Deus estabelece para a mesma. Quanto a isso, assim explica o referido doutrinador:

A dedicação do cristão deve subir um ponto ainda mais alto, para o qual Cristo chama todos os que lhe pertencem. Chama-os para que cada qual leve a sua cruz. Porque todos quantos o Senhor adotou e recebeu na comunidade dos seus filhos devem dispor-se e preparar-se para uma vida dura, laboriosa e repleta de labutas e de infindáveis espécies de males. É da vontade do
Pai celestial exercitar assim os seus servos, a fim de prová-los. (2006, p.197).

Corroborando e como fundamento para este ensino, Jesus Cristo disse:
Se alguém quer vim após mim, a si mesmo se negue, tome a sua cruz e siga-me (Mateus 16.24). Sobre as dificuldades que seus seguidores enfrentariam enquanto nesta vida, Ele advertiu: No mundo, passais por aflições; mas tende bom ânimo; eu venci o mundo (João 16.33). Com esta advertência Jesus deixou claro que quem quisesse ou viesse a segui-lo e ser seu discípulo, deveria nas palavras de Calvino: preparar-se para uma vida dura, laboriosa e repleta de labutas e de infindáveis espécies de males. Contudo, assim como Cristo venceu eu venci o mundo, importa também que os seus seguidores sejam mais do que vencedores (Romanos 8.37).

Diante da realidade de confrontar as dificuldades que o cristão não poderá livrar-se delas, mas encará-las e procurar enfrentá-las com determinação, Calvino conclui:

Portanto, se queremos ser discípulos de Cristo, devemos empenhar-nos no sentido de que o nosso coração se encha de tal reverência e obediência a Deus que nos habilite a dominar e subjugar todos os sentimentos contrários ao seu beneplácito. Decorre disso que, em qualquer tribulação que estejamos mesmo na maior aflição da alma que seja possível alguém sofrer, não deixaremos de perseverar em nossa paciência. As adversidades sempre nos causarão agrura e sofrimento. Por essa causa, quando formos afligidos por enfermidades, gemeremos e choraremos, e desejaremos ser curados; quando formos oprimidos pela indigência, sentiremos alguns aguilhões nascidos da perplexidade e da preocupação. Semelhantemente, a humilhação, o desprezo e todas as formas de injúria que nos causem nos farão sentir dor no coração... Mas sempre chegaremos a esta conclusão: Como, porém, Deus o quis, sigamos a sua vontade
. (2006, p.208/9).

Deve-se atentar para o fato que, por esta linha de pensamento não importa o que aconteça, quando alguém desenvolve um trabalho ou atividade no exercício de sua função, quer seja através do empenho, esforço e dedicação. Deverá, em todo momento, demonstrar reverência e obediência a Deus; que o habilitará
a dominar e subjugar todos os seus sentimentos que não sejam de acordo com a bondade de Deus. Dessa maneira, conclui o reformador: Deus o quis, sigamos a sua vontade. À vontade de Deus a pessoa deverá nortear sua conduta, coração e sentimentos, e tudo que envolve a sua vida. Referindo-se à obediência como Calvino a via, Costa faz o seguinte registro:

Deve-se defender a obediência como a base de toda a verdadeira religião... Comentando Deuteronômio 12.32, Apliquem-se a fazer tudo que lhes ordeno; não acrescentem nem tirem coisa alguma , Calvino disse: nesta pequena cláusula [bíblica] ele [Deus] ensina que não há outro serviço considerado lícito por Deus a não ser aquele que Ele deu Sua aprovação na Sua palavra, e que a obediência é a mãe da piedade; é como se ele tivesse dito que todos os modos de devoção são absurdos e infectados com superstição, quando não são dirigidos por esta regra
(2006. p.196).

Perceba que por esta abordagem, Calvino conecta a obediência com a piedade, dizendo que aquela é a mãe desta, e ambas são regidas por e para Deus. Com respeito a piedade, Costa, citando novamente Calvino, alude:

Deus só é corretamente servido quando sua lei for obedecida. Não deixa a cada um a liberdade de codificar um sistema de religião ao sabor de sua própria inclinação, senão que o padrão de piedade deve ser tomado da Palavra de Deus ... Visto que todos os questionamentos supérfluos que se inclinam para a edificação devem ser com toda razão suspeitos e mesmo detestados pelos cristãos piedosos, a única recomendação legítima da doutrina é que ela nos instrui na reverência e no temor de Deus. E assim aprendemos que o homem que mais progride na piedade é também o melhor discípulo de Cristo.
(Idem, p.218).

Observa-se por esta análise calvinista, que Deus não permite que nenhum sistema religioso possa ditar um padrão de piedade para alguém, a não ser a Sua Palavra. Assim, aquele que mais cresce na piedade, será nas palavras de Calvino:
o melhor discípulo de Cristo. Portanto, Se desejamos ser discípulos de Cristo, devemos reverenciar a Deus de tal maneira que possamos triunfar sobre todas as inclinações contrárias e submeter-se com alegria a Seu plano (CALVINO, 2000, p.56).

Caminhando nesta mesma linha de raciocínio, Forell, em
A Ética da Decisão, ao analisar o sétimo mandamento: Não furtarás, e expor algumas implicações a ele inerentes, assevera:

O caráter particular do trabalho faz de fato pequena diferença... A ocupação é um chamado não em virtude de seu caráter inerente, mas em virtude da compreensão cristã daquele que a executa. Todo labor feito para a glória de Deus e a serviço de nosso semelhante é vocação cristã. E nenhuma atividade feita por motivos meramente egoístas é sagrada por sua natureza... Não é o trabalho, mas a do trabalhador que a uma ocupação seu caráter distintamente cristão. A obediência ao sétimo mandamento, na fé, significa que toda nossa vida se torna um testemunho vivo do fato que Cristo é nosso Senhor e nós somos seus discípulos
. (1989, p.179,180).

Embora nessa obra Forell baseia sua pesquisa principalmente em Lutero; aqui, por esta citação e o que está implicado a ela em seu contexto, pode-se ver que o princípio reformado norteador para a realização de uma atividade como objetivo final, é o mesmo, ou seja:
Todo labor feito para a glória de Deus e a serviço de nosso semelhante é vocação cristã. Como também, nenhuma outra atividade ou função exercida por alguém, não importa qual seja, sem esta visão, ensejará em propósitos egoístas ditados pela natureza humana, cuja vontade volta-se para a satisfação do indivíduo e não do semelhante, e muito menos para a glória de Deus.

Por isso, jamais poderá identificar-se com a vocação cristã, cujo princípio norteador é a obediência. Esta, por sua vez, se assemelhará com o modelo, Cristo, que foi obediente ao Pai até a morte na cruz, como afirma S. Paulo, em Filipenses 2.8. Segundo Forell, quem assim age, demonstrará não somente ter a Cristo como seu Senhor38, mas também, em ser de fato seu discípulo.

Calvino, no final de seu tratado, quando escreve
Sobre a Vida Cristã , expõe algumas regras (04) ou princípios gerais da Escritura, que auxiliam o indivíduo a refrear a carne,39 que o leva a inclinar-se, ou seja, a fazer algo ou desejar alguma coisa que seja contrário àquilo que a Escritura no-lo determina. Por isso, recomenda:

...é necessário que não menos diligentemente repudiemos a concupiscência da nossa carne, que se extravasará sem medida, se for deixada sem freios. Lembremo-nos de que, como eu disse, alguns que, sob o pretexto de liberdade, concedem à carne tudo quanto ela deseja
. (2006, p.220).

Para que este tipo de pensamento não se manifeste em atitudes vis e muito menos numa conduta reprovável, esse reformador orienta:
Das regras que visam refrear a carne, a primeira é a seguinte , e cita outras também.

Todos os bens que temos foram criados para que reconheçamos
o seu autor e magnifiquemos a sua bondade com ações de graça... [A segunda regra é]: o caminho mais certo e mais curto para levar o homem a desprezar a vida presente é meditar na imortalidade celestial. Dessa regra decorrem outras duas: [1ª] A primeira é que os que desfrutam deste mundo devem fazê-lo com o mínimo de apego, como se nada desfrutassem dele...; [2ª] a outra regra subsidiária é: aprendamos tanto a sobrelevar pacientemente e com coração sereno a pobreza, como usar moderadamente a abundância... [A regra é]: A outra regra será que aqueles que se acham na pobreza aprendam a suportar com paciência a sua escassez, para não se tornarem com demasiada preocupação. Os que conseguem observar esse equilíbrio emocional têm tido não pequeno proveito da escola do Senhor... Todos quantos desejam servir a Deus com sinceridade aprendam do exemplo do apóstolo, que sabia viver contente na abundância e na escassez; saibam, pois, conduzir-se moderadamente na abundância e ter positiva paciência na pobreza... [A e última regra é]: ... que todas as coisas nos foram dadas pela benignidade de Deus, e destinadas ao nosso uso e proveito, que elas nos foram deixadas como em custódia, em depósito, e chegará o dia em que deveremos prestar contas delas. Por isso devemos administrá-las tendo sempre em mente esta sentença: teremos de prestar contas de tudo que o Senhor nos tem confiado. (2006. p.220/1/2/3).

Calvino apresenta nestas regras algumas preocupações básicas quando se refere à vida do cristão protestante, quais sejam: prestar sempre em todas e quaisquer circunstâncias ação de graças a Deus; não deverá ter apego às coisas deste mundo; deverá satisfazer-se equilibrada e moderadamente tanto na riqueza como na pobreza, pacientemente; conscientizar-se que é um mordomo de Deus enquanto peregrina nesta terra, pois, ao seu Senhor prestará contas de tudo. Isto se deve pelo fato que:
Somos sempre e integralmente dependentes de Deus [Por isso] Um verdadeiro cristão não deverá atribuir nenhuma prosperidade à sua própria diligência, trabalho ou boa sorte, mas antes ter sempre presente que Deus é quem prospera e abençoa (2006. p.42).

Por estes pressupostos é que o verdadeiro cristão, como afirma o reformador, deverá viver; exteriorizando-os em sua conduta diária quer seja em sua vida social, eclesiástica ou no trabalho. Servindo a Deus, o próximo e a sociedade, demonstrando um padrão ético que sirva de exemplo para outros. Passar-se-á à segunda parte deste capítulo que versará sobre o pensamento de Weber e a ética do trabalho.”

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Fonte:
GILSON MOREIRA: “UM ESTUDO COMPARADO SOBRE A ÉTICA DO TRABALHO NA COSMOVISÃO CATÓLICA E PROTESTANTE”. (Dissertação apresentada ao Programa de Pós-graduação Stricto Sensu em Ciências da Religião, da Universidade Presbiteriana Mackenzie, como requisito parcial à obtenção do grau de Mestre em Ciências da Religião. Orientador: Prof. Dr. Antônio Máspoli de Araújo). São Paulo, 2008.

Nota
:
A imagem inserida no texto não se inclui na referida tese.
As notas e referências bibliográficas de que faz menção o autor estão devidamente catalogadas na citada obra.
O texto postado é apenas um dos muitos tópicos abordados no referido trabalho.
Para uma compreensão mais ampla do tema, recomendamos a leitura da tese em sua totalidade.
Disponível digitalmente no site: Domínio Público

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