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Em sua tese de Doutorado, intitulada "Fatores de sucesso no abandono do tabagismo", Isabel Cristina Echer, entre muitos temas relacionados ao tabagismo, discorre acerca do fumo como um problema de saúde pública. Ela alerta que a gravidade no uso do tabaco é ainda maior quando "quando se observa que muitos dos fumantes e a maioria dos novos fumantes são mulheres e adolescentes". Vejamos um pouco o que esta estudiosa do assunto tem a dizer sobre esta tão relevante questão...

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O FUMO COMO UM PROBLEMA DE SAÚDE PÚBLICA
A epidemia global do tabaco é mais grave hoje do que há 50 anos e será ainda pior nos próximos 50 anos, a menos que esforços extraordinários sejam realizados. Alguns países já diminuíram as taxas de tabagismo, e esse sucesso pode ser reproduzido por qualquer nação responsável, através de efetiva e imediata ação governamental e comunitária. O tabagismo representa um problema de saúde pública não somente nos países desenvolvidos, como também em países em desenvolvimento. O tabaco, em todas as suas formas, aumenta o risco de mortes prematuras e limitações físicas por doença. Para a Organização Mundial da Saúde (OMS), o mapeamento e as diretrizes de enfrentamento da epidemia do fumo são desafiadores.
Recentemente tem-se observado, no sexo masculino, um ligeiro declínio na prevalência, principalmente nos países desenvolvidos e também em alguns países em desenvolvimento. Entre as mulheres, alguns países como Austrália, Canadá, Reino Unido e Estados Unidos já apresentam uma discreta tendência à redução na proporção de fumantes, enquanto os demais países evidenciam uma tendência de aumento da iniciação e conseqüente aumento da prevalência de tabagismo.
A freqüência de dependência do tabagismo é alta, inclusive nos países desenvolvidos; existe cerca de 1,3 bilhão de fumantes no mundo, sendo o consumo de 1.650 cigarros/fumante/ano. O custo social do fumo é altamente expressivo, uma vez que 5 milhões de pessoas morrem por ano no mundo devido ao consumo de cigarro. De acordo com a Organização Mundial de Saúde, se essa tendência permanecer, no ano 2020 morrerão no mundo 10 milhões de pessoas por ano em decorrência do tabagismo. Atualmente, estima-se que 50% da população americana nunca fumou, 25% são fumantes e 25% são fumantes em abstinência. O fumo corresponde a 20% das mortes nos EUA e representa a primeira causa de mortalidade que poderia ser prevenida, correspondendo a 450 mil mortes por ano.
Pode-se esperar que, em países em desenvolvimento, esse percentual seja ainda maior. Nesses países, as populações carentes vivem sob diferentes pressões, como baixa escolaridade, desemprego, pouca oportunidade de inserção social, violência, desnutrição, além de outros fatores. Esse regime de estresse, comum às comunidades de baixa renda, é um estímulo ao tabagismo, seja como fuga seja como estratégia de enfrentamento. Entre os moradores de rua, o tabagismo pode alcançar percentuais de 90%.
O percentual de fumantes no Brasil é considerado alto; cerca de 32,6% dos adultos fumam. No Rio Grande do Sul, 38% dos homens e 30% das mulheres são fumantes, representando 42% da população geral. Em Porto Alegre, cerca de 25,2% da população é fumante, sendo 28,2% entre os homens e 22,9% entre as mulheres. A maior concentração de fumantes está na faixa de 20 a 49 anos(51;52).
O tabagismo é a primeira causa de morte por câncer prevenível entre os homens em Porto Alegre e Goiânia, a segunda em São Paulo e Belém e a terceira em Fortaleza e Recife. Cerca de 10% do total de óbitos no Rio Grande do Sul ocorrem devido ao uso dessa forma de drogadição. As mortes relacionadas ao tabaco superam a soma de todas as causas de morte preveníveis.
Estudo realizado na região sul do Brasil que descreveu a prevalência e os fatores de risco para o tabagismo em uma amostra de base populacional de adolescentes residentes em área urbana, evidenciou que apresentaram uma maior razão de odds para tabagismo aqueles adolescentes que não estavam estudando, que eram repetentes, cujos pais estavam separados ou que relataram terem abusado de bebidas alcoólicas no último mês.[...]
Muitos estudos evidenciam que o consumo de derivados do tabaco causa quase 50 doenças diferentes, principalmente as cardiovasculares, o câncer e as doenças respiratórias obstrutivas crônicas. As doenças cardiovasculares e o câncer são as principais causas de morte por doença no Brasil, sendo que o câncer de pulmão é a primeira causa de morte por câncer. As estatísticas revelam que os fumantes,comparados aos não1fumantes, apresentam um risco dez vezes maior de adoecer de câncer de pulmão, cinco vezes maior de sofrer infarto, bronquite crônica e enfisema pulmonar e duas vezes maior de sofrer acidente vascular encefálico.
Na literatura, é relatado que os fumantes desenvolvem mais doenças do aparelho digestivo (doença do refluxo gastroesofágico, gastrites e úlceras gastroduodenais), do aparelho genital (disfunção erétil), da visão (ambliopia alcoólica-tabágica e catarata), do sistema imunológico (infecções viróticas/ gripe e bacterianas/ pneumonia, inclusive a tuberculose pulmonar, e alergias respiratórias), em relação aos não-fumantes. O consumo de tabaco pode acarretar ainda problemas como pele fria, cor amarelada da pele e dentes, acne, aftas, herpes simples labial, osteoporose, menopausa precoce, colite ulcerosa, leucemia, doença de Crohn e sarcoidose.
A fumaça do cigarro contêm 4.720 elementos diferentes, muitos considerados venenosos, como a nicotina, o alcatrão e o monóxido de carbono. A ação desses elementos no organismo humano começa a ser associado a doenças tabaco-relacionadas, como alteração nos genes e carcinogênese, aumento de radicais livres e da carboxihemoglobina, disfunções enzimáticas, metabólicas e hormonais, alterações vasculares e brônquicas.
A exposição à fumaça ambiental do tabaco pode ser vista sob dois aspectos: pelo aumento dos riscos de doenças entre não-fumantes e pelo exemplo que pais e irmãos representam para os jovens que não fumam. Em crianças, aumenta o risco de sintomas respiratórios, episódios de asma, doença respiratória aguda, síndrome da morte súbita na infância e infecções de ouvido médio. Os efeitos na gravidez e feto mostram que o tabagismo aumenta o risco de baixo peso ao nascer e de mortalidade perinatal e está associado ao aumento do risco de descolamento prematuro de placenta e hemorragia no pré-parto. O convívio com fumantes ainda pode desencadear sintomas como ardor nos olhos, lacrimejamento, sintomas nasais, tosse irritativa, cefaléias, tonturas e broncoespasmos em pessoas alérgicas.
Em estudo, para avaliar o risco populacional atribuível (RPA) ao fumo em três tipos de câncer, identificou-se que, para câncer de pulmão, o RPA para fumantes em abstinência foi de 63% e, para fumantes, 71%. Para câncer de laringe, o RPA foi de 74% para fumantes em abstinência e de 86% para fumantes. O câncer de esôfago mostrou um risco de 54% para fumantes. O estudo concluiu que o fumo é um importante fator de risco e que sua cessação contribuiria para reduções significativas na incidência de câncer nesses três sítios.
Em outro estudo para avaliar a associação do fumo passivo com morbidade respiratória em crianças abaixo de cinco anos de idade, verificou1se que 82% tinham problemas respiratórios, com odds ratio (OR) de 1,64. As queixas respiratórias mais freqüentes foram chiado no peito, dispnéia, tosse e/ou expectoração. A chance de apresentar asma, bronquite ou pneumonia foi maior para as crianças fumantes passivas (OR de 1,60). Os principais fatores de risco com chance de predizer morbidade respiratória em crianças com idade de zero a cinco anos foram : crianças que conviviam com mães fumantes, pais fumantes, presença de mofo em casa, história familiar de asma ou rinite.
Apesar dos evidentes efeitos adversos do fumo para a saúde, milhões de pessoas continuam fumando. A situação se reveste de maior gravidade, quando se observa que muitos dos fumantes e a maioria dos novos fumantes são mulheres e adolescentes.

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Fonte:
Isabel Cristina Echer: "Fatores de sucesso no abandono do tabagismo". Orientador: Prof. Dr. Sérgio Saldanha Menna Barreto. Universidade Federal do Rio Grande do Sul - Faculdade de Medicina - Programa de Pós-Graduação em Medicina: Ciências Médicas.Porto Alegre, 2006.
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Fonte das imagens:
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