"O cigarro como recompensa"


Já que abordamos a questão do tabaco na postagem anterior, traremos agora um texto escrito nos idos anos de 1903, que versa sobre o uso do fumo inclusive como recompensa aos alunos que melhor se comportarem. O texto serve como uma ínfima mostra de como o uso do cigarro era aceito nas diversas sociedades naquele dado contexto histórico.

O FUMO

Um jornal de medicina conta que no México os mestres de escolas têm um modo singular de recompensar os seus alunos. Permitem aos que cumprem bem os deveres fumar um cigarro durante, a lição.

Quando a classe inteira deu prova de zelo e de saber, uma fumaça geral é autorizada pelo pedagogo que, naturalmente, é o primeiro a acender um panatella.

O caso dos pequenos escolares do México não é o único.

O jornal de Clinique et therapeutique infantiles, lembra que o sr. Desiré Charnay, encarregado em 1880, pelo Ministério da Instrução Publica, de uma missão científica ao México e á América Central, conta que ele recebeu um dia hospitalidade em casa de uma família que habitava no Estado de Tobasco no México. Seu hospedeiro e sua mulher fumavam continuadamente, mas o que o surpreendeu em extremo foi que seus cinco filhos, dos quais duas meninas de três e cinco anos, tinham também na boca charutos de dimensões respeitáveis.

O pai afirmou a mr. Charnay que o fumo não podia fazer mal algum às crianças. O explorador Forges, que em 1892 fez uma viagem ao Paraguai, afirma que as mulheres e até mesmo crianças de 5 a é anos, fumam em excesso e que é muito comum nesse país ver-se uma mãe, para acalentar o filhinho que chora, em vez da maminha, pôr-lhe um cigarro na boca.

Um naturalista francês, conta que no Laos quando queria obter insetos para suas coleções, bastava prometer fumo ás crianças, as quais não se poupavam a sacrifícios para ganhar a recompensa prometida. Um tenente da marinha francesa, oficial a bordo do Réclus, que fez há poucos anos uma viagem ao istmo de Panamá e de Darien, conta que as mulheres darienitas e seus filhos abusam do fumo e têm a curiosa mania de fumar introduzindo na boca a ponta acesa do charuto. Estas senhoras pretendem que só há este meio de achar-se gosto no fumo, mas é preciso uma certa aprendizagem para, não queimar-se.

(JESUINO CAMARGO, Florianópolis)

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Fonte:
Almanak Historico-Litterario do Estado de S. Paulo. Para o anno de 1903. Monteiro, Oscar (org.), disponível digitalmente no site da biblioteca: Brasiliana - USP

Nota
:
Para melhor compreensão do texto, a ortografia utilizada na época foi atualizada para os padrões atuais.
A imagem não se inclui no referido texto.

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