A construção do tipo ideal weberiano


A construção do tipo ideal weberiano

Para Thomas Burger (1976:160-163), a construção de um tipo ideal conforme pensado por Max Weber, envolve os seguintes procedimentos: 1. Há a escolha por parte do cientista social de um fragmento significativo de uma situação social; 2. Ocorre a construção mental por parte do cientista social do tipo de realidade escolhido; 3. O cientista, com a ajuda de hipóteses, lista decisões individuais de acordo com o que possa captar das intenções e motivações de um ator (ou de vários) e deve perceber quais os tipos de atividades estes insinuam e que fenômenos resultam dessas atividades; 4. Em seguida, o cientista deve formular subclasses de tipos da situação referida; 5. O cientista constrói, com o uso das hipóteses mencionadas, a especificidade das atividades e os resultados dessas atividades, preocupando-se em checar e avaliar a evidência a qual tende a sua interpretação. 6. Com a configuração dessas atividades e seus resultados, o pesquisador poderá utilizar o tipo ideal como suposição, comparando-o com as atividades e as ações referidas.

Burger questiona o fato: já que o tipo ideal é um conceito construído pela caracterização sistemática de um fenômeno individual numa rede de complexos significados entrelaçados, tal como os tipos de “cristianismo” ou “capitalismo”, por que construir um tipo ideal e não apenas um conceito individual? (Burger, 1976:130). Por extensão, um tipo ideal teria que possuir uma característica que o diferencia de um simples conceito individual e com isso possibilita-se um ganho metodológico mais significativo.

A resposta encontrada por Burger consiste na percepção da extensão do tipo ideal em relação a um conceito individual, já que um mesmo tipo ideal pode ser utilizado para caracterizar muitos fenômenos e “não apenas um” (Burger, 1976:131). Burger cita o exemplo de que o tipo ideal de uma cidade medieval não serve apenas para designar uma cidade em particular, mas muitas cidades do mesmo contexto histórico e mesmo diversos aspectos de um mesmo fenômeno singular (como no caso da cidade, por exemplo: o aspecto econômico) se adequam no tipo ideal.

Do mesmo modo, pode se empregar raciocínio semelhante a outros tipos ideais como o tipo ideal de capitalismo (Burger, 1976:131), que é um fenômeno histórico singular e se estende como individualidade significativa a um número variado de combinações que chegam a abranger mesmo um grande número de fenômenos que o tipo de capitalismo abarca (imperialismo, mercantilismo, individualismo etc). É necessário, ainda, esclarecer e lembrar que o tipo ideal baseia-se numa definição racional e não meramente “imaginada” de um conceito sociológico. Essa definição depende, é claro, da quantidade de pontos de vista envolvidos no fenômeno tratado, o que, certamente, envolve também a relação com os valores na seleção dos dados da realidade, na medida em que um valor é um dado da realidade investigada.

Desta forma, apesar de um tipo ideal se referir a um aspecto individual da realidade, podemos dizer que, ao se referir a um fenômeno individual, o tipo ideal diz respeito a uma constelação de fenômenos relacionados de acordo com o objetivo e o ponto de vista do pesquisador. O que não significa que haja uma preferência arbitrária neste ponto de vista, mas sim uma definição consciente que torna objetiva a subjetividade inerente ao processo de investigação.

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Fonte:
ÁLVARO ANTONIO PRAZERES DA COSTA: “Tipos Ideais em Raízes do Brasil”. (Dissertação de Mestrado apresentada ao Programa de Pós-graduação em Sociologia da Universidade Federal de Pernambuco, como requisito parcial para obtenção do título de Mestre em Sociologia, sob orientação do Prof. Dr. José Luiz Ratton). Recife, 2007.

Nota
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A imagem (Revista Cult, nº 124) inserida no texto não se inclui na referida tese.
As notas e referências bibliográficas de que faz menção o autor estão devidamente catalogadas na citada obra.
O texto postado é apenas um dos muitos tópicos abordados no referido trabalho.
Para uma compreensão mais ampla do tema, recomendamos a leitura da tese em sua totalidade.
Disponível digitalmente no site: Domínio Público

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