ARISTÓTELES E A FÍSICA
No livro da Gêneselemos a afirmação de que o mundo foi criado por
De us. Contudo em aproximadamente 1150, com a redescoberta de textos
aristotélicos houve uma rápida propagação de novas teses nas universidades,
entre as quais algumas que traziam novas concepções acerca do mundo. Na sua Física,
Aristóteles apresenta duas importantes definições. A saber, o tempo (Fis.
IV, 220a 25) é a medida do movimento segundo o anterior e o posterior e o movimento
(Fis. III, 201b 5) é o processo de atualização de uma potência. Em
201b30, Aristóteles elucida mais explicando que o movimento é um ato, se bem
que incompleto, pois tal conceito pretende captar precisamente a duração desse
processo de alteração de propriedades, da potência ao ato. Alguns argumentos
são aduzidos com vistas à aceitação de que o tempo é infinito, tanto segundo o
antes como segundo o depois, portanto, segundo Aristóteles, é eterno. E o
movimento, igualmente, é eterno. Cabe ressaltar que o sentido do termo
“eternidade” empregado é o infinito temporal segundo o antes e segundo o
depois, portanto, o eterno, segundo Aristóteles, é temporal.
A investigação de Aristóteles sobre a Natureza ( physis) incluirá
uma detalhada análise das propriedades que dizem respeito à identidade daquilo
que compõe a Natureza. As coisas naturais (que são aquelas que constituem a N atureza)
serão objeto de estudos de uma ciência chamadaFísica (physike),
que terá por objetivo tratar os princípios gerais dos objetos naturais, ou
seja, daquilo que constitui a estrutura essencial de tais objetos. Outros
autores, como Jonathan Barnes, preferem traduzir physike por Ciência
Natural. Vamos adotarFísica, pois é a tradução mais presente nas obras
de consulta. Convém também ressaltar que os objetos de estudo da Física possuem duas
características fundamentais, a saber: “são capazes de mudança ou de movimento (ao
contrário dos objetos da matemática) e existem ‘separadamente’ ou tem
existência independente” (BARNES, p. 45). Cabe ressaltar que:
(...) ainda que
a física aristotélica tenha por objeto salvar as aparências sensíveis e afirmar
racionalmente que o movimento é o fato capital da nossa experiência do mundo,
isso não quer dizer que parta delas nem que se funde nelas. Já dizia Monsenhor
Mansion “as análises conceituais da física se apresentam ilustradas por dados
empíricos e não fundados neles” (MANSION, A. Intr, à la Phys. Art., p. 211 apud ECHANDÍA, p. 49).
Nos estudos da Física, Aristóteles
tem como objetivo
analisar os fenômen
os físicos. Entretanto a palavra “fenômeno” apresenta um duplo sentido nos
textos aristotélicos (ECHANDÍA, p. 48 e 49). Em um primeiro sentido, phainómenon
refere-se “àquilo que aparece”, significando, portanto, um dado sensível, aquilo que se nos
afigura mediante a sensibilidade. Em um segundo sentido, Aristóteles t eria
empregado phainómenon como endoxa, ou seja, como um conjunto de
conclusões que teria m sido tomadas por verdadeiras segundo filósofos
anteriores, ou simplesmente por a queles considerados sábios ou também a
reunião das ideias consideradas verdadeiras pela ma ioria. (Cf. OWEN, G. L., “ Tithenai ta phainomena”, en
Articles on Aristotle I, p. 114 apud ECHANDÍA, p. 49). Ainda tomando por base ECHANDÍA, p. 49,
cabe ressaltar que as análise de aporias presentes na Física parecem
tomar a palavra “fenômeno” mais nesse segundo senti do.
Em suas investigações, convém lembrar, Aristóteles não parte dos fatos,
mas do conjunto de estudos dos filósofos anteriores. Esse ponto de vista
confere à Dialética um significado maior do que o de um mero apanhado de
opiniões anteriores, pois seria não somente um método para organizar os
problemas mas também, e com muito mais ênfase, um modo de conhecer os
princípios. (ECHANDÍA, 45.). Conforme o próprio texto de Aristóteles:
Buscar sem haver
explorado antes as aporias em todos os sentidos é como caminhar sem saber para
aonde ir, com isso nos expomos a não rec onhecer se em algum momento tenhamos
encontrado ou não o que buscávamos; pois otérmino só é manifesto àquele que
tenha estabelecido bem as aporias. Ademais, forçosa mente estará em melhores
condições para julgar o que tenha ouvido, como litigantes opostos, todos os
argumentos em conflito (Met.
995a34-b4 apud ECHANDÍA, p. 45).
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Fonte:
FÁBIO GAI PEREIRA: “SOBRE A CRIAÇÃO DO MUNDO: UM ESTUDO BASEADO EM TOMÁS
DE AQUINO E ALGUNS DOS SEUS PRESSUPOSTOS GREGOS”. (Dissertação apresentada ao
Programa de Pós-Graduação em Filosofia do Instituto de Filosofia e Ciências
Humanas da Universidade Federal do Rio Grande do Sul como requisito parcial
para a obtenção do título de Mestre em Filosofia. ORIENTADOR: PROFESSOR DR.
ALFREDO CARLOS STORCK). Porto Alegre, 2012.
Notas:
A imagem inserida no texto não se inclui na referida tese.
As notas e referências bibliográficas de que faz menção o autor estão devidamente catalogadas na citada obra.
O texto postado é apenas um dos muitos tópicos abordados no referido trabalho.
Para uma compreensão mais ampla do tema, recomendamos a leitura da tese em sua totalidade.
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