
FEITICEIRO/CE
Feiticeiro é um distrito do Estado Ceará,
pertencente ao município de Jaguaribe, estando localizado a 300 quilômetros da
capital Fortaleza.
O NOME
Segundo dizem, o nome Feiticeiro tem origem no riacho de mesmo nome, localizado na
região. Em tempos de seca, o riacho (também chamado de Jatubarana) permanecia
com água e cercado por uma área verde, levando os moradores a afirmarem que o
riacho possuía "feitiço".
A HISTÓRIA
De acordo com Valdir Uchoa Ribeiro, no livro
Jaguaribe: minha terra, Feiticeiro teria surgido a partir de aglomerado
residencial localizado às margens do riacho Jatubarana (ou Feiticeiro), na
primeira metade do século XVIII. De fato, o autor registra que, em 1722,
Antonio Gonçalves de Sousa possuía o Sítio Poço da Pedra no riacho Jatubarana,
e, em 1735, já havia documentos onde era possível encontrar informações sobre a
existência de um Sítio Feiticeiro, localizado onde atualmente está o distrito
de Feiticeiro. No século XIX, Feiticeiro permaneceu como uma localidade
habitada, próximo ao Jatubarana. Durante o reinado de D. Pedro II, no ano de
1874, a localidade possuía matrículas da Guarda Nacional para o Serviço da
Reserva, distribuído no 21º Quarteirão, no sítio Feiticeiro, e no 22º
Quarteirão, no sítio Cajazeiras. A Guarda Nacional era uma força paramilitar
brasileira, que foi extinta em 1922.
A história recente de Feiticeiro está relacionada à
construção do açude Joaquim Távora, em 1932 . A construção possuía tamanha
importância que, no dia da inauguração, contou com a presença do então
Presidente da República, Getúlio Vargas. O açude foi um dos mais relevantes
atrativos para a instalação de moradores no distrito, que se apresentava como
uma localidade propícia para escapar das secas, comuns na região. Nesta época,
foi construído o conjunto de casas do DNOCS (Departamento Nacional de Obras
Contra as Secas, chamado, na época, de IFOCS ou Instituto Federal de Obras
Contra as Secas), para servir de residência aos funcionários responsáveis pela
administração do açude. O conjunto do DNOCS continua preservado na Avenida
Joaquim Távora. A agricultura irrigada e a piscicultura foram sendo
desenvolvidas com a inauguração do açude. Além disso, houve a expansão do setor
mercantil, com a implantação de mercearias, lojas de tecido e armazéns. Um dos
primeiros comerciantes a se instalar em Feiticeiro foi o sírio-libanês João
Félix (em homenagem a ele, existe, em Feiticeiro, a Avenida João Félix,
conhecida como "O Dez").
A IGREJA
Igreja de Santa Terezinha, exemplo da arquitetura
brasileira da década de 1930. Em 1936, foi construída a capela de Santa Terezinha,
cujos festejos paroquiais são comemorados no dia 5 de outubro. A Igreja de
Santa Terezinha é um exemplo da produção arquitetônica brasileira da década de
1930, tendo sido construída de forma a representar uma cruz cristã. Desde 1963,
a igreja de Santa Terezinha é paróquia, desmembrada da de Jaguaribe e
pertencente à Diocese de Limoeiro do Norte. O primeiro vigário foi o padre João
Eudes da Silveira, pároco em Feiticeiro de 1966 a 1970. A partir de 1970, a paróquia
de Santa Terezinha voltou a ter como pároco o vigário da paróquia de Jaguaribe,
padre Mauro Monteiro da Silva. Esta situação perdurou até 2003, ano em que foi
nomeado o segundo vigário de Feiticeiro, o italiano Alighiero Dalle Pezze. Em
2011, padre Alighiero aposentou-se e voltou a viver na Itália, sendo
substituído pelo padre José Airton, natural de Jaguaretama e atual pároco de
Feiticeiro. É interessante notar que a paróquia em Feiticeiro surgiu num
período histórico no qual o distrito era cidade, tendo sido desmembrado de
Jaguaribe em 1963 (a emancipação, no entanto, só durou dois anos, sendo
revertida em 1965).
O DISTRITO
A vila de Feiticeiro foi alçada à condição de
distrito no dia 4 de dezembro de 1933, através do decreto estadual nº 1156,
tendo sido anexada ao município de Jaguaribe-Mirim (atual Jaguaribe).
Entretanto, Feiticeiro nem sempre foi conhecido pelo nome que possui hoje em
dia: de 1936 a 1943, o distrito foi oficialmente nomeado como distrito Joaquim
Távora, em homenagem ao jaguaribano nacionalmente famoso.
JOAQUIM TÁVORA
Joaquim do Nascimento Fernandes Távora (1881-1924)
foi engenheiro e militar, nascido na fazenda do Embargo, município de
Jaguaribe, irmão do tenente revolucionário Juarez Távora. Estudou na Escola
Militar de Porto Alegre e, em 1922, comandava o 17º Batalhão de Caçadores, com
sede em Corumbá (MT). Em Mato Grosso, liderou rebelião em solidariedade ao
levante realizado no Rio de Janeiro, no Forte de Copacabana, em 1922, contra o
governo de Artur Bernardes. A Revolta dos 18 do Forte de Copacabana, à qual
Joaquim Távora deu apoio, deu início ao movimento tenentista. Além disso,
Joaquim Távora foi um dos líderes da Revolta Paulista de 1924, na qual foi
gravemente ferido. De fato, em 1924, enquanto estava à frente do ataque ao 5º
Batalhão de Polícia, em São Paulo, recebeu o ferimento que o mataria dias
depois. O general Mário Alves Monteiro Tourinho, que ocupou o cargo de Governador
do Paraná quando se deu a vitória dos revolucionários de 1930, afirmou, no
decreto estadual paranaense n. 332, de 5 de novembro de 1930, que Joaquim
Távora era "um dos maiores paladinos de campanha de civismo que culminou
na vitória fragorosa da causa revolucionária". Em homenagem a Joaquim
Távora, existe no Paraná a cidade de Joaquim Távora, assim como o açude e uma
importante avenida em Feiticeiro.
O CURTO PERÍODO DE EMANCIPAÇÃO POLÍTICA
Um fato pouco conhecido pelos moradores locais é o
de que Feiticeiro já foi cidade. De fato, o distrito foi considerado
independente de Jaguaribe durante dois anos: de 1963 a 1965. Na década de 1960,
o Brasil vivia um período de efervescência da esquerda, estando a Presidência da
República nas mãos de João Goulart. Em 1964, no entanto, os militares tomaram o
poder, inaugurando o período que ficou conhecido como o do Regime militar no
Brasil (1964–1985). Em Feiticeiro, a população viveu um breve período de
emancipação política. O distrito foi declarado como município independente de
Jaguaribe no dia 21 de maio de 1963, embora a independência não tenha
perdurado: no dia 14 de dezembro de 1965 (quando o Brasil já estava sob o
domínio dos militares), Feiticeiro voltou a ser considerado distrito de
Jaguaribe.
Atualmente, existem discussões acerca da
possibilidade de que o distrito seja emancipado de Jaguaribe, formando,
juntamente com o distrito de Nova Floresta, uma nova cidade. Há, no entanto,
fortes controvérsias para o projeto, que pretende unir duas localidades
culturalmente diferentes e com ânsias específicas de conseguirem, cada uma,
constituírem-se como sede de um novo município.
ASPECTOS
GEOGRÁFICOS
A área do distrito é de 387,28 Km². De acordo com
dados do IBGE (Censo 2000)[6] , a população feiticeirense é de 5.536. Ao sul,
Feiticeiro faz fronteira com o município de Orós; ao leste, com o distrito de
Mapuá e, ao oeste, com o distrito de Nova Floresta.
A estação chuvosa é curta, compreendendo os meses de
janeiro a maio, e as temperaturas são altas ao longo de todo o ano. Há um baixo
teor de água subterrânea, devido à predominância do terreno cristalino.
O bioma que se apresenta em Feiticeiro é o da
caatinga, sobretudo a arbustiva aberta e a arbustiva densa. Apenas na parte sul
do distrito é possível encontrar uma pequena porção de caatinga arbórea. A área
de Feiticeiro está vulnerável à desertificação.
ASPECTOS ECONÔMICOS
A pesca, a pecuária e a agricultura são as
principais atividades econômicas.
Açude Joaquim Távora, visto a partir da galeria. O
açude é importante fonte de renda e abastecimento.
A pesca é realizada sobretudo no açude Joaquim
Távora, no qual é possível encontrar, inclusive, o camarão de água doce, além
de tilápia, corró, traíra, tucunaré, entre outros. Na pecuária, têm destaque a
caprinocultura e a bovinocultura, havendo grande relevo na comercialização de
leite. A agricultura é voltada, principalmente, para o plantio de milho e
feijão. Feiticeiro possui um comércio relativamente bem desenvolvido, e
apresenta produção e venda de artesanato e de queijo coalho. Apesar disso, o
desemprego no distrito é amplo,
O AÇUDE
Açude Joaquim Távora, propício para atividades como
pesca e recreação, foi construído entre os anos de 1932 e 1933, no período do
Governo de Getúlio Vargas, uma época em que os açudes floresceram em todo
Nordeste, como alternativa à seca que tanto assolou a região.
O açude Joaquim Távora é caracterizado como uma das
principais barragens da bacia do Médio Jaguaribe, com capacidade de acumular
26,772 milhões de metros cúbicos, sendo o quarto reservatório em capacidade
desta bacia hidrográfica e responsável pelo abastecimento do distrito de
Feiticeiro. Foi construído no ano de 1932, pelo Governo Federal, através do
DNOCS e, em 1994, através de convênio, passou a ser monitorado pela COGERH.
As suas águas são usadas para abastecimento humano,
uso doméstico, dessedentação de animais, culturas irrigadas, lazer, pesca
artesanal. O açude apresenta problemas como desmatamento da mata ciliar,
animais pastando na área de preservação. No seu entorno, existem organizações
da sociedade civil como Sindicato dos Trabalhadores Rurais, Pescadores filiados
à colônia Z e uma Comissão de Usuários, que participa da Alocação Negociada de
água com a COGERH.
Por estar situado no semiárido, onde ocorrem longas
estiagens, sua água é de grande valor para os usos diversos, tanto na bacia
hidráulica, quanto na região a jusante do reservatório, isso leva os usuários
desse reservatório a entrarem em constante conflito pelo uso da água desse
açude.
O CONFLITO PELO USO DA ÁGUA DO AÇUDE JOAQUIM TÁVORA
Para entender o conflito pelo uso da água do açude
Joaquim Távora, precisa-se voltar no tempo. A problemática do conflito teve
início a partir de 1993, quando o açude passou por grande crise de aporte
hídrico, chegando a secar totalmente.
Em julho de 2004, os moradores de Feiticeiro
realizaram uma manifestação onde estiveram presente mais de 200 pessoas do
distrito, entre moradores, irrigantes, estudantes e outros, reivindicando junto
a COGERH a não liberação da água pela estrutura de saída do reservatório.
A partir desse período, a comunidade de Feiticeiro
soldou a estrutura de saída do reservatório impedindo possíveis liberações de
água.
No dia 29 de abril de 2004, ano em que o açude
alcançou um volume na ordem de 26.297.652m³, a COGERH de Limoeiro do Norte
tentou realizar uma Reunião de Alocação Negociada do Açude, não obtendo
sucesso, pois o período compreendido entre os anos de 1990 a 2003 deixou o
reservatório sem aporte, fazendo com que o atendimento à demanda (abastecimento
humano, irrigação, dessedentação de animais, uso doméstico e atendimento de
serviços) ficasse comprometido.
Esse fato deixou a população apreensiva quanto a
liberação das suas águas e com receio do risco futuro de novo esvaziamento,
dessa forma a comunidade de Feiticeiro não permitiu a liberação da água a
partir da estrutura de saída para o canal de irrigação do DNOCS e riacho
Feiticeiro, para manter uma reserva estratégica que atendesse, pelo menos, ao
consumo humano e dessedentação animal.
A partir daí, passam a existir conflitos pontuais,
especialmente no entorno do açude, nos distritos de Feiticeiro e Sistêmico, e
ao longo do riacho Feiticeiro, aonde se dá início a utilização de obstáculos no
curso d’água ao longo do riacho, por pequenos barramentos e campineiras
plantadas no leito do riacho, para retenção da água.
Com a formação da Comissão Gestora do Açude no ano
de 2006, coordenada pelo DNOCS e, em seguida acompanhada pela COGERH, o
conflito em Feiticeiro começa a ser monitorado, devido a necessidade da água do
reservatório ser utilizada para pequenas retiradas e para o consumo humano ao
longo do seu entorno e para a perenização visando o atendimento à agropecuária
em 38 km de leito do rio.
Com a chegada da água do sistema Orós-Feiticeiro ao
Distrito em novembro de 2011, figura 4, o diálogo com a comunidade tornou-se
factível, já que agora era real a garantia de que o sistema iria manter um
nível mais seguro de água no reservatório e também com aplicação do Termo de
Ajustamento de Conduta – TAC, assinado no dia 3 de outubro de 2012 na
Promotoria de Justiça da Comarca de Jaguaribe, do Ministério Público Estadual,
foi elaborado juntamente com os irrigantes que estavam obstruindo o leito
natural do riacho. Nele, os irrigantes se comprometiam a realizar a limpeza e a
desobstrução do mesmo, para possibilitar a passagem normal do fluxo d´água do
açude, permitindo o atendimento de toda demanda instalada. Esse acordo foi
cumprido por todos os atores envolvidos, o que permitiu a conciliação do
conflito.
Nesse mesmo ano, no mês de novembro, a Comissão
Gestora do Açude Joaquim Távora permitiu que a COGERH liberasse uma pequena
vazão para atender aos irrigantes instalados na área do DNOCS, já que o
reservatório estava recebendo água do açude Orós e que a Companhia estava se
mostrando eficiente no acompanhamento do processo de fiscalização e,
consequentemente, do sistema que manteria o açude com garantias para o futuro.
No dia 4/5/2012 no Distrito de Feiticeiro, ocorreu à
primeira reunião de Alocação Negociada de Água após dez anos de conflitos.
Nesta reunião foram apresentadas as vazões médias aduzidas em novembro/2011
pelo sistema Orós-Feiticeiro para o açude Joaquim Távora, as quais chegaram um
volume de 1.477.440 m³ num período de trinta dias.
Durante a discussão da assembleia, foi reivindicada
uma liberação de água para atender a irrigação do canal do DNOCS e ao riacho,
com uma vazão máxima, já que essa medida beneficiaria os rebanhos dos
proprietários a jusante da parede do açude. Dentro dos cenários discutidos,
ficou deliberada pelos usuários presentes a liberação de uma vazão de 165L/s,
conforme a simulação de esvaziamento para atender todo segundo semestre do ano
de 2012.
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Fonte:
1 - Wikipédia: a Enciclopédia livre
Fonte:
1 - Wikipédia: a Enciclopédia livre
2- Hermilson
Barros de Freitas: “O conflito de uso da água do açude Joaquim Távora (Jaguaribe)
– CE. (Dissertação apresentada à coordenação do curso de Pós-Graduação em
Engenharia Hidráulica e Ambiental, da Universidade Federal do Ceará, como
requisito parcial para obtenção do título de mestre em gestão dos recursos
hídricos. Profª. Orientadora: Renata Mendes Luna). Fortaleza – CE, 2013.
As fotografias, a seguir, foram tiradas sem nenhum critério profissional, num automóvel, numa passagem ligeira pela cidade, e são aqui publicadas para manter viva a memória da região, além de servirem "para matar a saudade" de quem nasceu e viveu por lá, mas que hoje se encontra em terras distantes.
Sistema Orós-Feiticeiro (GOGERH, 2013)
Feiticeiro/CE: Aspecto do distrito, em 2015

Feiticeiro/CE: Aspecto do distrito, em 2015 (arredores)

Feiticeiro/CE: Aspecto do distrito, em 2015 (arredores)
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Fotografias: Iba Mendes
Acervo Pessoal, 2015
sinto muitas saudades deste lugar e de mina familia que mora air gostei de ver
ResponderExcluirFoi realmente fantástico encontrar essa história de minha terra.
ResponderExcluirNo momento estamos recebendo água do Açude Óros,por via Adutora.
ExcluirMoramos em Feiticeiro. A Cidade está diferente, naturalmente
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