Eu li isso... (Stephen Jay Gould)

"O mito do Beagle - o de que Darwin tornou-se um evolucionista por meio da observação simples e imparcial de um mundo inteiro estendido à sua frente durante uma viagem de cinco anos ao redor do mundo — ajusta-se a todos os nossos critérios românticos para a melhor das lendas: um jovem, livre dos empecilhos da sociedade inglesa e dos seus pressupostos limitadores, face a face com a natureza, exercitando a sua mente formidável e inexperiente com todos os desafios oferecidos por plantas, animais e rochas do globo todo. Ele parte da Inglaterra em 1831, com planos de se tornar um pároco de aldeia ao voltar. Retorna em 1836, tendo visto a evolução em estado bruto, compreendendo (embora vagamente) as suas implicações e comprometido com uma vida científica de pensador evolucionista. O catalisador principal: as ilhas Galápagos. Os atores principais: tartarugas, tordos-dos-remédios e, acima de tudo, treze espécies de tentilhões de Darwin — o melhor laboratório evolutivo que a natureza nos ofereceu....

Resumindo, Darwin chegou às Galápagos e delas saiu como criacionista, e o seu estilo de coleta durante toda a visita refletiu essa posição teórica. Vários meses depois, compilando as anotações em alto-mar, durante as longas horas da travessia do Pacífico, ele flertou brevemente com a evolução enquanto pensava nas tartarugas e nos tordos, não nos tentilhões. Mas ele rejeitou essa heresia e atracou na Inglaterra em 2 de outubro de 1836 na condição de criacionista que nutria dúvidas nascentes."


Fonte:
Stephen Jay Gould. “O Sorriso do Flamingo”. Editora Martin Fontes. 1ª edição, 1990. Tradução: Luís Carlos Borges. paginas: 323 e 330

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