Ciência e Religião: o mito do conflito


Um teste simples para saber se um religioso ou um ateu são intolerantes, fanáticos e ameaçadores à uma boa convivência social.

1 - Ao religioso, pergunte-lhe qual a opinião dele acerca de um ateu; ao ateu, indague-lhe acerca do que ele pensa do um religioso. Caso obtenha como resposta do primeiro algo como: um endemoninhado, um ser imoral, um satanista que vai arder eternamente no fogo do inferno; e, do segundo, alguma cousa como: um ignorante, um ser estúpido, o “câncer da humanidade” e a raiz de todos os males, saiba que você está lidando com alguém de caráter fortemente ameaçador!

2 - Ao religioso, ofereça Nietzsche, preferencialmente "O Anticristo"; ao ateu, presenteie-o com uma Bíblia ou o Alcorão, e veja que acontece! ((rs))

Considero a tolerância (que não é igual a concordância) e o respeito (que não é o mesmo que compartilhar) entre as pessoas como o referencial básico que as identificam como sociáveis, pacíficas e de boa índole.

Bem, lendo “Pilares do Tempo”, do “meu darwinista preferido”, Stephen Jay Gould (se já o admirava por sua postura contra o racismo e o preconceito, elevei-o em estima após uma primeira leitura deste interessante livro). Já de início, diz ele, para decepção de alguns ultradarwinistas tão visceralmente compromissados com o naturalismo filosófico a la Darwin:

“Escrevo este pequeno livro para apresentar uma solução maravilhosamente simples e totalmente convencional para uma questão tão sobrecarregada por emoções e pelo peso da história que um caminho fácil acaba geralmente obstruído por um emaranhado de brigas e confusão. Falo do suposto conflito entre a ciência e a religião, um debate que só existe na mente e nas práticas sociais das pessoas, e não na lógica ou na utilidade correta desses dois assuntos inteiramente diferentes e igualmente vitais” (p. 11).

E ele é taxativamente sincero:
“Não vejo como a ciência e a religião podem ser unificadas, ou mesmo sintetizadas, sob qualquer esquema comum de explicação ou análise; mas tampouco entendo por que as duas experiências devem ser conflitantes. A ciência tenta documentar o caráter factual do mundo natural, desenvolvendo teorias que coordenem e expliquem esses fatos. A religião, por sua vez, opera na esfera igualmente importante, mas completamente diferente, dos desígnios, significados e valores humanos - assuntos que a esfera factual da ciência pode até esclarecer, mas nunca solucionar. De modo semelhante, enquanto os cientistas devem agir segundo princípios éticos, alguns específicos à sua profissão, a validade desses princípios nunca pode ser deduzida das descobertas factuais da ciência” (p. 12).

Vale lembrar que Gould (um agnóstico) tem a religião como a 4º item de maior relevância em sua vida. Declara ele:

“Não sou crente. Sou um agnóstico no sentido sábio de T. H. Huxley, que cunhou o termo ao identificar ceticismo tolerante como a única posição racional porque, na verdade, não há como saber ao certo.Mesmo assim, afastando-me das opiniões de meus pais (e livre, por minha própria criação, das razões de sua rebelião), tenho grande respeito pela religião. O assunto sempre me fascinou, talvez mais do que todos os outros (com poucas exceções, como a evolução, a paleontologia e o beisebol)” (p. 15).

Fonte:
Stephen Jay Gould. “Pilares do tempo: ciência e religião na plenitude da vida”. Tradução: F. Rangel. Rocco Editora, 2002.

Embora pareça ilógico, a verdade é que a ciência e a religião sempre estiveram de mãos dadas. A religião somente interferiu na ciência quando teve amplo apoio do poder secular. A medicina foi grandemente beneficiada pela religião. Sabe-se, por exemplo, que os primeiros médicos tinham formação religiosa e muitos eram monges. Quem conhece, por exemplo, a história da odontologia há de notar a importância que tais monges desempenharam nos seus primórdios. Não esquecendo, é claro, dos barbeiros! ((rs)) A religião e ciência somente estão em conflito para pessoas como Dawkins e Dennett, entre outros, os quais por seu alto grau de compromisso com a ideologia naturalista, vêem a religião apenas como vírus, esquecendo-se de que eles mesmos de algum modo trilham pelo mesmo caminho daqueles que outrora perseguiram a ciência. Lamentavelmente!

É isso!

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